26 setembro 2005


Antuérpia, Bélgica: edificios historicos.

Antuérpia, Bélgica: eu, a Katrien (esquerda) e a Annelies (direita), com a catedral em fundo.

Lovaina, Bélgica: a Annelies e o João, prestes a começarem o novo ano escolar.

Gent, Bélgica: vista oposta à da fotografia seguinte.

Gent, Bélgica: jazz, com muito swing, para todos.
EUROPA OCIDENTAL – Semana de 19 a 25 de Setembro

Segunda-feira, vou até ao leste da Holanda, passando por Nijmegen, cidade onde eu e a Ana estivemos há bastantes anos atrás, para visitar amigos que na altura lá residiam.
A razão desta minha deslocação é visitar uma dessas amigas, Brigitte, que há poucos anos perdeu o seu companheiro, Jan, por doença semelhante à que vitimou a Ana. A Brigitte decidiu mudar-se para a Alemanha, a algumas dezenas de quilómetros da cidade de Nijmegen. Ela, que é de origem alemã, está satisfeita com a mudança, pela casa que agora tem, melhor que a anterior, e pelo local aprazível em que vive, de características campestres.
Entretanto, a Brigitte encontrou um novo parceiro, Hugo Eisso, amigo de longa data.
Este foi um encontro simultaneamente feliz e triste, pela “presença” da Ana.
Jantámos num restaurante de uma povoação vizinha, e regressei a Roterdão.

Terça-feira, empreendi a viagem entre Roterdão e Bruxelas, cerca de duas horas de carro.
Em Bruxelas, dirigi-me ao escritório do meu amigo Bert Broes, companheiro profissional do tempo do Image Bank, e um dos poucos resistentes à mudança imposta pelos actuais proprietários daquela empresa.
O Bert reside a norte de Bruxelas, em Hove, nos arredores de Antuérpia. Chegados a casa dele sou recebido calorosamente pela Lieve, companheira do Bert, e pelas três filhas, Annelies, Katrien e Astrid.
Hoje é o dia de aniversário da Astrid (15 anos) e vamos jantar a um restaurante nas imediações da casa. O Restaurante Den Conijnsberg nasceu da reconstrução de um moinho antigo, sendo um espaço bastante interessante, ao que corresponde a cozinha ao mesmo nível.
Para além da família Broes e de mim, estão também presentes os namorados das duas filhas mais velhas.

Quarta-feira, tenho a companhia do Bert, da Annelies e da Katrien, e vamos a Antuérpia, onde passamos o dia a visitar a cidade.
Antuérpia é a maior cidade da região da Flandres, onde a língua oficial é a holandesa. Situada próximo da foz do rio Schelde, tem um dos maiores e mais movimentados portos marítimos da Europa.
A parte antiga da cidade, próxima do rio, desenvolve-se à volta da Praça da Grote Markt (Câmara Municipal), bordejada por belos edifícios históricos. Próxima, encontra-se a majestosa catedral e as áreas envolventes preenchidas por inúmeros restaurantes e cafés, sempre com esplanadas exteriores, onde residentes e visitantes se deliciam com as magnificas condições atmosféricas que temos por esta altura do ano, e por uma grande oferta de produtos, com destaque para a cerveja. Aparentemente, a Bélgica tem a maior variedade de cerveja no mundo, na ordem das centenas de marcas.
Estando em Antuérpia, temos que visitar a casa onde o pintor flamengo Rubens viveu uma boa parte da sua vida, no século XVII. A casa é espaçosa, e tem um jardim privado, com uma árvore interessantíssima, que me encantou.
Várias obras do mestre estão expostas, bem como outras de discípulos e contemporâneos de Rubens.
Regressados a casa, passamos o serão em casa, em família.

Quinta-feira, tenho um encontro marcado com o João, amigo de Portugal, estudante de Comunicação/Jornalismo, recém chegado à Bélgica, para aqui viver durante um ano lectivo, em Lovaina, cidade próxima de Bruxelas, conhecida sobretudo pela sua Universidade, a mais antiga da Bélgica.
A Annalies, também ela estudante universitária, acompanha-me, e juntos vamos até Lovaina, onde encontramos o João, a quem entrego a bagagem dele, transportada desde Portugal.
O João alugou um pequeno apartamento, juntamente com um colega e amigo de Portugal, no centro de Lovaina. Com entusiasmo, fala-nos dos seus projectos para este ano especial. Há jovens que me fazem ter esperança num futuro melhor para a espécie humana, e o João é um deles.
O ano lectivo vai começar oficialmente na próxima semana, o que faz com que a cidade ainda não esteja com o ambiente normal, pela ausência da maioria dos estudantes, belgas. No entanto, já se sente a presença de muitos outros estudantes, de variadíssimos países. Segundo o João, este ano, estarão em Lovaina cerca de 600 estudantes estrangeiros, ao abrigo do programa da Europa Comunitária, Erasmus.
Ao fim da tarde regressamos a casa e saio com a Lieve e o Bert, para jantar, numa povoação vizinha, Lier, conhecida sobretudo pela obra de um relojoeiro de nome Louis Zimmer, que legou à cidade onde viveu um património invulgar.
O jantar de bom nível, com vinho português do Douro, ocorreu no Restaurante De Werf.

Sexta-feira, vou a Bruxelas. Depois de passar pelo escritório do Bert, apanho um autocarro para o centro da cidade, desconhecida para mim, onde passeio a pé.
Começo pela Grand-Place, praça faustosa, a lembrar os tempos áureos da Bélgica, país hoje dividido, qual auto-flagelo, por duas culturas (a francesa e a flamenga) que teimam em não cooperar.
A Grand-Place está a abarrotar de gente, dos quatro cantos do mundo. Não me apetece participar nesta orgia do turismo e por isso afasto-me, percorrendo áreas menos movimentadas.
Apercebo-me da presença de muitas casas dedicadas ao chocolate, outra tradição belga. Não resisto a entrar numa, com estilo contemporâneo, e com produtos feitos à base de chocolate, que me deixam os olhos em bico e com água na boca. A Pierre Marcolini – Chocolatier deve ser famosa, pois está cheia de visitantes, sobretudo estrangeiros, particularmente japoneses e norte-americanos. Depois de me deliciar com um gelado de chocolate, saio e regresso ao mundo real.
Ao fim da tarde, apanho um autocarro para me dirigir para casa da Beatriz, filha da minha querida amiga e vizinha Ingrid, e do seu companheiro Mathias, alemão, e dos três filhos, Cristina, Joana e Armando. Gosto da casa deles, fruto da recuperação de um edifício antigo. Após o jantar, regresso à minha casa belga, próxima de Antuérpia.

Sábado, a Lieve e o Bert saem de manhã para passarem o fim-de-semana fora.
Eu decido seguir viagem para sul, em direcção a Paris. Antes de deixar a Bélgica, vou visitar a cidade de Gent, a conselho da Lieve e do Bert.
Gent tem um centro histórico de interesse arquitectónico, e uma vida dedicada ao lazer, com bastante animação. Passeio a pé sem rumo, até ser atraído por música de jazz tocada ao vivo por um grupo de cinco músicos e uma cantora. O local era apropriado para uma paragem de almoço, e aproveitei para entrar num dos vários restaurantes próximos do palco musical,
o Chez Leontine, casa antiga e pitoresca. Não resisti a provar uma das especialidades regionais, waterzooi, sopa rica de peixe e marisco, com legumes, que existe também na versão de carne, com galinha.
Este foi um dos momentos da viagem que merecia ter sido partilhado convosco. Não sendo possível, brindei a todos os meus amigos, com uma boa cerveja belga.
Saí de Gent para Paris, onde cheguei ao fim da tarde, a casa do António, que continua sem a Elisa, a qual ainda está em Portugal.

No domingo, saímos de manhã para fazer compras para o almoço, e passear um pouco.
Regressados a casa, banqueteamo-nos com ostras da costa ocidental de França, queijos da terra e uma tarte de morangos. Tudo acompanhado por um vinho branco da região de Loire.
Como o tempo contínua aprazível, dormimos uma sesta nas cadeiras do jardim.
Mais tarde, vamos a Paris, com o propósito de visitarmos um parque público recente, designado André Citroën, localizado à beira do rio Sena, na área sudoeste da cidade. Estamos perante mais uma boa intervenção de requalificação urbana, que fazem desta cidade um exemplo positivo. Uma das curiosidades deste parque é a de ter um balão de ar quente, que sobe a 150 metros de altura, de onde se desfruta um panorama magnifico sobre a cidade.
Decidimos ir jantar a St. Germain-Des-Prés, área sempre fervilhante de vida.
As possibilidades gastronómicas são muitas, e escolhemos uma casa de crepes.

Com três semanas de viagem, sinto-me bem fora de Portugal, e nem sequer posso dizer que tenha saudades de minha casa.
No entanto, por razões pessoais e profissionais, deverei regressar a Portugal até ao final da primeira semana de Outubro.

Roterdão, Holanda: o bairro de Delfshaven.

Roterdão, Holanda: hora do almoço, para mim e para o Xico.

Gouda, Holanda: na capital do queijo da Holanda, com um exemplar de 22 Kg nas mãos.

Amesterdão, Holanda: final de Verão num dos canais.

Amesterdão: na Holanda, existem bicicletas para todas as necessidades.

20 setembro 2005

EUROPA OCIDENTAL – Semana de 12 a 18 de Setembro

Na Holanda, na segunda-feira, volto a encontrar-me com a Jantien, Betito e filhos, em casa deles. O Leonardo faz anos (5), e está rodeado de prendas e outros mimos. Jantamos em casa deles e depois vou com o Betito ao escritório dele, a dois passos de casa, para eu trabalhar e publicar as primeiras notícias desta viagem n’O MEU MUNDO.
Aproveito para aprender com o Betito a utilizar o SKYPE (www.skype.com), serviço de comunicação de voz, vulgo telefone, através da Internet. O Betito utiliza há já vários meses este serviço gratuito para comunicar com colegas e clientes, em qualquer parte do mundo.
Eu registo-me e, passados poucos minutos, recebo uma chamada inesperada do meu amigo Luís Veiga, brasileiro com costela portuguesa, residente em Florianópolis, Brasil, que entretanto já tinha sido notificado da minha adesão ao SKYPE.
A voz do Luís soa cristalina, como se estivesse em pessoa connosco.
Este é um caso exemplar de como a Internet está a revolucionar o mundo. Aqueles de vós que ainda não conhecem o SKYPE, apressem-se. O único investimento que terão de fazer para o utilizarem, para além do computador, e de cerca de 5 minutos para se registarem, é um auricular com microfone, para poderem ouvir e falar com quem quiserem.
Se quiserem falar comigo por este meio, a minha identificação é, fimouramachado.

Aproveitando a deslocação a Wassenaar para visitar a Jantien e o Betito, passo por Haia, capital da Holanda, onde passeio pela área comercial mais antiga.
Numa tarde de um dia de trabalho, é surpreendente a calma que se vive nesta cidade. Muitas ruas pedonais, bicicletas, carros eléctricos, e verdadeira educação cívica fazem com se esteja bem aqui.
Por acaso, descubro uma “pérola”: a Livraria Stanley & Livingstone, que “só” vende produtos para viajantes. No que respeita ao Mundo, de A a Z, têm quase tudo.
O proprietário, também ele viajante, merece a melhor atenção, pela sua simpatia e conhecimentos que partilha com os clientes.

Na terça-feira, fico em Roterdão. Passeio de bicicleta pela cidade e vou ter com o Xico ao final da tarde.
Saímos de carro para visitar Roterdão, sobretudo as partes adjacentes ao Rio Maas. Gosto particularmente da pequena ilha de Noordereiland, área residencial com uma forte identidade arquitectónica. Frente à ilha, situa-se uma pequena península que se encontra em renovação urbanística, na qual existem alguns edifícios de construção recente, de qualidade. Estes coexistem com edifícios antigos, com destaque para o do Hotel New York, onde antes exercia actividade a empresa de navegação Holland América Line.
Vamos jantar ao Restaurante/Café Stobbe, local frequentado pelo Xico, onde comemos bem, num ambiente agradável.

Quarta-feira, fico em casa para controlar a instalação dos equipamentos necessários para aceder à Internet.
Tal como em Portugal, a qualidade do serviço da empresa contratada pelo Xico deixa muito a desejar. Neste caso, os dois “técnicos” deixaram o trabalho por terminar, prometendo voltar ainda hoje, o que não aconteceu. Na verdade, até ao final da semana, nenhum contacto foi feito com o Xico, para explicarem o sucedido.

Quinta-feira, apetece-me sair de bicicleta e vou passear pela cidade, começando pelo Museu Boijmans Van Beuningen, o mais importante de Roterdão no que respeita a pintura da escola flamenga, tendo no entanto muitas outras obras de arte de outros períodos e escolas, nomeadamente a de pintura italiana.
Este museu, edificado na primeira metade do século XX, segundo o estilo modernista, está inserido num parque público juntamente com outros equipamentos culturais.
Para almoçar, escolho uma casa especializada em peixe e marisco, que não é um restaurante, embora lá se possa comer. Na Schmidt Zeevis, vendem os produtos frescos e também confeccionados nas cozinhas da casa, qual restaurante. A apresentação é excelente, e deixo-me tentar pelo arenque, que normalmente é comido à mão, e por umas ostras nacionais.
Entretanto, a chuva caía e eu apanhei “uma molha”, já que não quis abandonar a bicicleta. A minha experiência neste meio de transporte fica muito aquém da dos holandeses, que utilizam as bicicletas sejam quais forem as condições climatéricas. Muitos andam de bicicleta com um chapéu-de-chuva aberto.
Ao fim da tarde, eu e o Xico voltámos a Delft. Debaixo de chuva, encontrámos a cidade mais tranquila que no passado fim-de-semana. Escolhemos o Restaurante Mij para jantar, em primeiro lugar pela simpatia da empregada que nos recebeu à porta, e pelo ambiente contemporâneo cuidado. A Céline foi inexcedível na forma como nos recebeu, e a refeição foi a melhor que tive aqui na Holanda.

Sexta-feira, de manhã, fui passear de bicicleta para um outro parque público, o Het, junto ao rio Maas.
Percebi que aqui na Holanda, começou o Outono, já que houve uma descida brusca da temperatura do ar.
Aproveitei o passeio para visitar aquele que é considerado o melhor restaurante de Roterdão, Park Heuvel, galardoado pela Michelin com o máximo de estrelas (3). Aqui, uma refeição, sem vinho, vale entre 70 a 100 €.
De tarde, já que o Xico termina a sua semana de trabalho à hora de almoço de sexta-feira, saímos para visitar a cidade de Gouda, capital do queijo na Holanda.
Cidade antiga, aprazível, com uma ampla praça central onde pontificam vários edifícios de valor histórico, sempre muito bem preservados, parece ter uma elevada percentagem de residentes estrangeiros, ou holandeses de outras origens, sobretudo de países do dito terceiro mundo.
Ao fim da tarde, dirigimo-nos para Utrecht, cidade importante cujo centro histórico nos impressiona de imediato. Entrecortado por canais, possui um património arquitectónico notável, em volta de uma torre antiga e alta, de estilo invulgar, cujos sinos repicavam copiosamente.
Surpreende-nos a vida nesta parte da cidade, fervilhante, sobretudo de jovens, provavelmente estudantes universitários, que estão por todo o lado. Vimos jovens mascarados, um grupo a cantar à porta de uma casa, e muitas outras manifestações de alegria de viver.
Jantámos razoavelmente, num restaurante sugerido por um residente, de nome Eggie.

Sábado, saio com o Xico para visitarmos um subúrbio de Roterdão, Schiedam, onde existem vários moinhos de vento, construídos no século XVIII, em excelente estado de conservação.
Depois, reentramos em Roterdão e paramos numa área pitoresca, Delfshaven , onde coabitam comunidades de diversos países cujos imigrantes aqui se estabeleceram. O resultado é uma miscelânea étnica e cultural que caracteriza o mundo actual.
Entretanto, saímos da cidade em direcção a Haia, e vamos visitar a praia mais popular desta região, Scheveningen, que me faz lembrar um pouco a Costa da Caparica, a sul de Lisboa, pelo desenvolvimento urbanístico incorrecto. A localidade tem uma frente de mar com cerca de mil metros, transformada numa área comercial dedicada ao turismo balnear de baixo nível.
Dali saímos para visitar a Jantien e o Betito, que continuam dedicados à empreitada de arrumarem as suas coisas, para se mudarem para a nova casa, no início de Outubro.

Domingo, eu e o Xico vamos de comboio, com duas bicicletas, para Amesterdão. Chegamos lá em cerca de uma hora, e ao sairmos da estação ferroviária, vemo-nos no meio de milhares de pessoas que se preparam para uma prova de atletismo. Trata-se de uma prova anual, de 16 km, entre Amesterdão e uma povoação vizinha, na qual participam este ano cerca de 30.000 atletas.
Nós esgueiramo-nos por entre a multidão, com as bicicletas, e seguimos um trajecto para ciclistas, através da cidade velha, que está distribuída numa malha radial, à volta da estação ferroviária, entrecortada por inúmeros canais. Talvez por ser domingo, nestes circula um grande número de embarcações de lazer, de tamanhos e categorias muito diversas, com pessoas que convivem alegremente.
Comparando o usufruto que os holandeses dão aos espaços aquáticos, com o dos portugueses, podemos dizer que em Portugal, somos principiantes e eles profissionais.
De entre as muitas paragens que fizemos neste percurso feito em duas rodas, destaca-se a visita ao Jardim Botânico de Amesterdão, De Hortus, edificado no século XVII.
Ao final do dia, depois de muito pedalar, e de eu ter ficado sem travões na bicicleta, acabámos por jantar num dos muitos restaurantes indonésios, para conhecermos melhor a gastronomia deste país, antiga colónia da Holanda.

Ontem, segunda-feira, não pude aceder à Internet, e por isso não publiquei esta informação mais cedo. As fotografias desta semana serão publicadas na próxima. Como sempre na vida, é melhor sermos flexíveis.
Na terceira semana desta viagem irei sair da Holanda, para sul, para a Bélgica. Lá esperam-me outros amigos, e novas experiências.

12 setembro 2005


Tordesilhas, Espanha: Praça Maior da cidade, local histórico para Espanha e Portugal.

Paris, França: momentos de descanso no Jardim das Tulherias.

Roterdão, Holanda: rua em festa, com táxis/bicicleta, numa nova versão dos riquexó.

Delft, Holanda: o Xico e eu, à beira de um dos canais.

Leiden, Holanda: Marta, Betito e Xico, num passeio de barco pelos canais da Holanda.
EUROPA OCIDENTAL

Nota preliminar: tentarei redigir as minhas impressões, em estilo de diário, embora as publique no blog semanalmente, à segunda-feira, em hora incerta.
Irei destacar as datas, nomes de países e localidades a negro/bold, e os locais (estabelecimentos comerciais, culturais, e outros) a itálico.
Tentarei obter referencias e sugestões de residentes nos locais por onde passar, partilhando-as convosco.

5 de Setembro de 2005: saí de casa pelas 8 da manhã, para iniciar o meu passeio pela Europa Ocidental, aperitivo para outra viagem a realizar pelo menos em 2006, com destino a outras regiões do Mundo.
Parti sozinho (fisicamente), mas acompanhado por muitos dos amigos/amigas que me estimulam e acarinham. Para vós, o meu sincero agradecimento!
Na bagagem, para além das minhas coisas, sempre em excesso, levo pertences de dois amigos, um deles o João, filho da Paula e do Maurício, que vai em breve estagiar na Bélgica, preparando o seu futuro, que eu antevejo e desejo, muito positivo.

Casualmente, faz hoje seis meses que a “nossa” Ana partiu.
É impossível não recordar o facto, todo o sofrimento por que ela passou, para além da nossa vida em comum.
Naturalmente, a tristeza apoderou-se de mim. Chorei enquanto conduzia.

A viagem foi feita com tempo ameno, e muitas viaturas pesadas na estrada. Em Portugal, a paisagem está ferida por incêndios que a têm devastado. Em Espanha, sobressai a ocupação ordenada dos campos, por culturas agrícolas.
Andei depressa, e só parei em Tordesilhas, ao final da manhã, para desentorpecer as pernas, abastecer o depósito com combustível (menos caro que em Portugal), e satisfazer a curiosidade, prestando uma singela homenagem aos nossos antepassados que, de modo visionário, celebraram em 1494, com o Reino de Castela, o Tratado das Tordesilhas. Esta foi, provavelmente, a intervenção estratégica mais importante de Portugal, até hoje.
É fácil concluirmos que, se não fosse aquele acordo, o Mundo teria hoje fronteiras, e talvez culturas, diferentes.

De tarde, mantive o ritmo e cheguei ao País Basco, onde também a morfologia do terreno é muito diferente do resto de Espanha.
Pela primeira vez, desde que saí de casa, a paisagem é maioritariamente verde, e o tempo está encoberto. Sabe bem, depois da seca que assola o resto da península.
Percorridos quase mil quilómetros, decido pernoitar em Donostia/San Sebastian.
A cidade fervilha de vida, e parece-me interessante. Passo a noite numa residência universitária (Olarain) que também aluga quartos a turistas. As instalações são boas e recentes.
Pela excelente reputação da cozinha basca, não resisto a jantar num bom restaurante (Portuetxe). Comi bem, e paguei um valor elevado, cerca de 50 €. A fama tem o seu preço!

6 de Setembro: saio de San Sebastian, a caminho de Paris. Faço cerca de 850 km, com uma única paragem, até me encontrar com o António Domingues, amigo de longa data, residente nos arredores de Paris, numa localidade simpática chamada Mandres Les Roses.
A companheira do António, Elisa, teve que viajar para Portugal, por dever profissional, e está em minha casa.
Saímos para jantar, num restaurante que só serve peixe e marisco. Pusemos a conversa em dia, e regressámos a casa para descansar.

7 de Setembro: o António saiu cedo para o trabalho. Eu, vou para Paris, utilizando os transportes públicos, autocarro e comboio.
Paris é uma das poucas grandes metrópoles do mundo onde me sinto bem. Atrai-me o equilíbrio da cidade, tal como se desenvolveu ao longo dos séculos, e os muitos locais agradáveis onde podemos fruir da cidade. Também me agrada a elegância francesa, para além da língua, que falo com prazer.
Para desfrutar da cidade, começo por me dirigir ao Arco do Triunfo, um dos símbolos de Paris, descendo depois a avenida dos Campos Elíseos. Aqui, encontro-me com as mais diversas etnias do mundo, e ouço falar muitas línguas, entre elas o português nas duas versões mais conhecidas. Esta área de Paris alberga muitas das marcas comerciais de luxo que conhecemos, atraindo a sua clientela. Contudo, mesmo aqui, sente-se a presença dos desfavorecidos da sociedade, pessoas e animais que vivendo no mundo dos ricos são pobres.
Depois das duas maratonas automóveis dos dias anteriores, as minhas pernas reclamam por exercício.
A caminho da Praça da Concórdia, usufruo da sombra (o dia está quente, e estou farto do sol) dos plátanos esculpidos por jardineiros talvez influenciados pelas casas de moda parisienses, e dos castanheiros que já perdem folhas, prenunciando o Outono que se avizinha.
Cruzo a Praça em direcção ao jardim das Tulherias, onde indígenas e forasteiros se deliciam com o calor tardio do Verão. Chegado ao Louvre, casa de muitos tesouros artísticos da humanidade, aprecio a modernidade da intervenção do arquitecto Pei, simbolizada pelas pirâmides em vidro. Volto à cidade das grandes avenidas, subindo a da Ópera, encimada pelo belíssimo edifício que lhe dá nome.
De volta a casa, onde me espera o António, vamos jantar a um restaurante vizinho.

8 de Setembro: hoje tenho uma missão profissional a cumprir. Trata-se de uma reunião em Paris, no escritório da empresa CORBIS, com a qual trabalho há cerca de três anos, em Portugal.
Não se trata de uma reunião ordinária, já que vou assinar um documento que me desvinculará deste meu compromisso profissional. Isto significa que dentro em pouco estarei livre de qualquer responsabilidade profissional, reformando-me prematuramente.
Aconteça o que acontecer, poderei encarar a próxima grande viagem pelo mundo, a partir de 2006, com maior liberdade.
Concluída a reunião, passeio-me pela área onde se encontra a empresa, servida pela estação de metropolitano Cour St. Émillion, próxima da mais conhecida Bercy. Conheço esta parte da cidade, mais um bom exemplo de como Paris evolui urbanisticamente, respeitando o passado mas avançando para o futuro, com qualidade.
Aproveito ainda para revisitar outro centro de modernidade, o Instituto do Mundo Árabe, local onde confluem as várias culturas árabes.
Regressando a casa, saímos para jantar com o Miguel, filho do António e da Elisa, casado com a Karine, francesa.
Recém chegados de uma viagem de férias à Tunísia, aproveitamos para falar de viagens, prazer maior para todos nós.

9 de Setembro: de volta à estrada, dirijo-me para Bruxelas, onde tenho um breve encontro com o Mathias, genro da Ingrid, a quem entrego as bagagens que transportei.
Sigo para Roterdão, onde me espera o meu primo Xico, aqui residente. Chegados a casa, no centro da cidade, conheço duas amigas do Xico, Ângela e Susana, mãe e filha, residentes na Suiça, que também estão de visita.
Antes do jantar, saímos a pé, sendo evidente que os residentes de Roterdão, comunidade multicultural, aproveitam o ainda tempo de Verão para conviverem ao ar livre.
Jantamos no Restaurante Oliva, que pelo nome se dedica à cozinha italiana, na companhia de alguns colegas portugueses do Xico, na empresa Unilever, igualmente aqui residentes.
A rua em que se situa este restaurante encontra-se em festa durante este fim-de-semana, havendo muita gente, música, copos a circular, e outras manifestações de alegria.

10 de Setembro: para iniciar a minha estada na Holanda, país onde já tinha estado anteriormente, fomos visitar a cidade de Delft, burgo com mais de 750 anos de vida, situada a cerca de meia hora de carro, ou de comboio, de Roterdão.
Esta bela cidade, tem inúmeros atractivos, desde a tradição de azulejaria azul e branca - da qual temos em Portugal um espólio importante, no Museu da Figueira da Foz, devido a um naufrágio de um navio - passando pela “Dutch East Índia Company” que aqui se estabeleceu há cerca de 400 anos atrás, para explorar as riquezas do mundo oriental, particularmente as especiarias - em concorrência com Portugal e outras nações europeias - até ao pintor flamengo Johannes Vermeer (séc. XVII), sobre a vida do qual foi apresentado há poucos anos o filme “A rapariga do brinco de prata”, natural e residente em Delft.
Hoje, a cidade fervilhava de vida, também pela presença de inúmeros visitantes. Para além dos muitos locais de interesse permanente, havia mercados de rua onde se expunham bens alimentares, flores e velharias, entre outros, e uma feira colorida e ruidosa que, estranhamente, ocupava uma das praças principais da cidade, retirando-lhe a beleza habitual.
Regressados a Roterdão, fomos jantar ao Restaurante De Pijp, que julgo ser o preferido do Xico.
É um local curioso, por ter algumas características originais, pela história do local, e pela comida merecedora de crédito.

11 de Setembro: as outras duas residentes em casa do Xico, Ângela e Susana, regressam hoje à Suiça, viajando de carro.
Nós vamos visitar outros amigos queridos, a Jantien e o Betito, e os dois filhos, Carolina e Leonardo (em português), que vivem também próximo, em Wassenaar, nas imediações de Den Haag (Haia). Acompanha-nos a Marta, jovem portuguesa, colega do Xico, também residente em Roterdão.
Nós que vivemos em Portugal, temos a noção de estarmos num território pequeno. Aqui, acentua-se essa noção já que, quase todos os pontos de maior interesse estão ao nosso alcance, de carro, no limite de uma hora.
Wassenaar é uma área residencial para pessoas abastadas, com uma elevada percentagem de estrangeiros residentes.
Chegados a casa da Jantien e do Betito, constatamos que estão a preparar uma mudança para uma nova casa, maior que esta, na mesma área. Por este motivo, estão atarefados mas, o Betito convida-nos a irmos dar um passeio rápido no tempo, mas lento no ritmo, no barco a motor deles que está num dos muitos portos de recreio que fazem deste país um dos melhor equipados para a prática da navegação de recreio. Creio aliás, que a Holanda é o segundo país do mundo, a seguir à Nova Zelândia, no que respeita ao número médio de barcos de recreio por habitante.
A Jantien ficou em casa, nas arrumações.
Saímos do porto, interior, e percorremos alguns canais que nos levaram à povoação de Leiden, encantadora na sua escala humana e arquitectura tradicional, e cuidada por pessoas que prezam verdadeiramente o seu habitat e património.
Percorridos os canais que cruzam a localidade, lanchámos a bordo, e regressámos ao cais.
De volta a terra, dirigimo-nos para uma povoação vizinha onde nos encontrámos com a Jantien, para jantar num restaurante italiano.
No carro, o Betito colocou no leitor de CD um disco do grupo Duo Ouro Negro, angolanos, bastante populares no panorama musical português e angolano, sobretudo nos anos 60, do século passado.
A Marta que é demasiado nova para conhecer este estilo musical, ainda pôde apreciar uns passos de dança do Betito e do Xico, recordando os tempos da nossa juventude em Angola.
Curiosamente, os filhos do Betito parecem gostar bastante destas músicas, de terras distantes, para eles.
O jantar foi bastante agradável e divertido, até pelas intervenções de alguns empregados do restaurante, e sobretudo pelo proprietário, italiano de gema, tipo galã latino, que fez uma demonstração daquilo pelo que os italianos são conhecidos, interessando-se pela Marta.

No final desta primeira semana de viagem, começo a sentir-me descontraído e a apreciar o facto de poder viver sem os constrangimentos de cumprir formalidades e obrigações que normalmente nos limitam.
Esta semana, pelo menos, ficarei na Holanda. Até à próxima segunda-feira.