06 julho 2007















Cabo Foulwind, West Coast, Ilha do Sul, Nova Zelândia.
A VOLTA AO MUNDO EM 366 DIAS

Dedico a minha primeira viagem à volta do Mundo ao meu pai, Eduardo, e à minha companheira, Ana, os quais teriam apreciado muitas das experiências que vivi durante esta viagem.

366 dias, 1 ano, foi quanto durou esta volta ao Mundo.
Por ter sido a primeira, ficará na minha memória, e na história da minha vida, como um marco especial.

Antes de começar, fiz muitos planos, para que a viagem decorresse de acordo com as minhas expectativas, e sem percalços maiores.
Agora, concluída que está a viagem, depois de visitar 13 países, 6 dos quais já meus conhecidos de viagens anteriores, faço um balanço pessoal desta experiência invulgar de vida.

Em primeiro lugar, realço o facto de ter estado em viagem durante um ano consecutivo, o mais prolongado que tive até hoje, o que me obrigou a esforços invulgares, para manter um ritmo de viagem correspondente ao plano inicialmente traçado, e a alterações de hábitos de vida incompatíveis com o estilo nómada entretanto adoptado.
As alterações verificadas permitiram-me não apenas optimizar o modelo de vida escolhido para viajar, mas também compreender que não preciso de tantos bens materiais como aqueles de que dispus no passado, para viver confortavelmente.

Desde o período de preparação desta viagem que defini alguns objectivos importantes, que condicionaram as minhas escolhas, e sobre os quais faço os seguintes comentários:
- A possibilidade de visitar amigos(as) que já não via há bastante tempo, alguns deles há vários anos, assim como familiares residentes no Brasil que nunca havia visitado.
Foi muito agradável ter tido a oportunidade de estar durante alguns meses, no total do ano em que estive a viajar, com amigos(as) e os meus familiares, com os quais partilhei muitos e bons momentos, tendo sido muito bem acolhido por todos.
- Muitos dos locais visitados são referências naturais e culturais da humanidade, o que me permitiu aprofundar a minha relação com o mundo natural, e compreender melhor a importância de algumas culturas com as quais convivi.
No que à natureza diz respeito, para além da infinita beleza e bem-estar que me proporcionou, pude observar os riscos e danos, muitas vezes irreparáveis, quase sempre provocados pela espécie humana, principal responsável por muitos dos problemas ambientais que o mundo enfrenta.
Hoje, penso compreender melhor a importância do equilíbrio ambiental para a sobrevivência de muitas espécies, e a insignificância da vida humana, enquanto factor gerador de desequilíbrios que, em última instancia, poderão colocar em perigo a sobrevivência da própria espécie humana em várias regiões do mundo.
Para mim, a mãe natureza merece o maior respeito, e a ela dedico a minha vida.
- Quando à partida defini a Nova Zelândia como o país de maior interesse na minha rota, fi-lo com base numa anterior visita, e em muita informação entretanto compilada.
Hoje, depois de lá ter vivido durante 74 dias, não tenho dúvidas em afirmar que a Nova Zelândia é o meu país preferido no mundo, por um conjunto de razões já anteriormente expostas, e que com ela pretendo manter uma relação tão próxima quanto possível, seja como visitante ou como residente.

Para além dos aspectos anteriormente identificados, refiro a fortuna de ter vivido como um nómada durante um ano, sem ter tido problemas sérios que pudessem afectar negativamente o desenrolar da minha vida, e a felicidade de ter conhecido muitas pessoas interessantes, em todos os países onde estive, que me enriqueceram, por ter tido a oportunidade de com elas partilhar tempo e experiências de vida valiosas.
Com muitas destas pessoas, agora amigos(as), mantenho contactos mais ou menos regulares, sobretudo graças à facilidade de comunicação pela Internet, meio prodigioso que se encontra ao alcance de quase todos, em quase todos os cantos do mundo.

Por último, o estado geral do mundo que conheci. À parte raras excepções, das quais a Nova Zelândia está à cabeça, o mundo que visitei está em situação de crise profunda.
Desde profundos desequilíbrios sociais e económicos, a baixos níveis culturais e de educação, a preocupantes problemas ambientais, a um consumo absurdo de recursos naturais e bens materiais, tudo transformou vastas regiões do mundo num estado de caos permanente, que não augura nada de positivo para as sociedades.

Quanto ao meu futuro, agora que já passou um mês desde que voltei a Portugal, prevejo continuar a viver como um nómada, enquanto não tiver responsabilidades que me obriguem a alterar este estilo de vida.
Em Portugal ficarei nos próximos meses, podendo entretanto efectuar algumas viagens para países não muito distantes, sobretudo para visitar amigos(as).
Mais tarde, talvez no primeiro Trimestre de 2008, poderei iniciar uma nova longa viagem, com programa por enquanto em análise.
As diversidades do Mundo estimulam-me a viajar.

15 junho 2007

AS MELHORES FOTOGRAFIAS

Depois de terminada a viagem à volta do Mundo, estão já publicadas no PICASA WEB ALBUMS as minhas melhores fotografias de doze dos treze países visitados, sendo a excepção o Uruguai, sobre o qual não publicarei qualquer série de fotografias.

Para verem estas séries de fotografias, poderão utilizar o link,
http://picasaweb.google.com/fmouramachado
através do qual poderão ver a página onde se encontram identificadas todas elas, ou os links individuais, para cada país, que poderão encontrar na área superior direita do blog.

Espero que apreciem.

14 junho 2007






Karoo: nas imediações de Nieu Bethesda.







Cidade do Cabo:
vista panorâmica, a partir do topo da Table Mountain.
















Cidade do Cabo: o Bruce, no topo da Table Mountain.














Table Mountain National Park: a praia Dias,
em honra de Bartolomeu Dias, e ao fundo, o Cabo da Boa Esperança.














Eu e o Bruce, em Cape Point, no Table Mountain National Park.
No Western Cape, em viagem, da Cidade do Cabo para Knysna.














No Karoo, em viagem, de Nieu Bethesda para Joanesburgo.














Graaff-Reinet: Karoo Taxidermy.
















Graaff-Reinet: Karoo Taxidermy.














Tulloh Farm: da esquerda para a direita,
Ashley, Lynton, Bruce, Annette e Margie.
ÁFRICA DO SUL

De Singapura até Joanesburgo é um voo de quase 12 horas, quase sempre sobrevoando o Oceano Indico. Por ser um voo nocturno, é apenas mais uma noite longa. Chegado a Joanesburgo, de manhã cedo, com 6 horas de diferença horária, aguarda-me no aeroporto o meu amigo Bruce, sul-africano, que já não via há sete anos.
O Bruce é casado com a Margie, que nos aguarda em casa. Hoje, dia 1 de Maio, é feriado, pelo que a Margie está em casa.
Neste meu primeiro dia em Joanesburgo, a Margie e o Bruce pretendem visitar um amigo que comemora o seu aniversário. Depois de eu dormir um pouco, saímos para irmos a casa desse amigo.
De carro, percorremos ruas desconhecidas, desta cidade onde estive diversas vezes na primeira metade da década de 70. Desse tempo, o do “apartheid”, da segregação racial, pouco resta. Hoje, a África do Sul vive uma realidade diferente, teoricamente mais igualitária. O país tem hoje onze línguas oficiais, entre as quais estão o inglês e o africanse, e cerca de 45.000.000 de habitantes, dos quais 3.500.000 são imigrantes ilegais.
As primeiras impressões que sobressaem, de Joanesburgo, são as duma cidade fortificada. Depois de ter visitado várias das grandes metrópoles da América Latina, posso dizer que conheço o ambiente de cidades onde as pessoas vivem enclausuradas em espaços fechados, com receio de que os seus próprios vizinhos coloquem em perigo a sua privacidade e segurança.
Assim, estando agora numa cidade que tem a fama, e muito provavelmente o triste proveito, de ser perigosa, não me espanta encontrar guardas fortemente armados, e edifícios protegidos com todo o tipo de elementos dissuasores de intrusão. No entanto, Joanesburgo, ou melhor, esta área da cidade, onde vivem maioritariamente pessoas de posses económicas acima da média, tem uma grande percentagem de áreas residenciais verdadeiramente fortificadas, onde só se entra após sermos identificados.
Voltando ao encontro dos amigos da Margie e do Bruce, tenho a oportunidade de conhecer várias famílias aqui residentes, em casa dos nossos anfitriões, uma vivenda também ela fortificada, com um muro alto à volta do jardim, encimado por uma vedação electrificada.
À nossa espera temos um “braai” (palavra da língua africanse), nome pelo qual aqui se identifica um churrasco.
Todos os presentes, de etnia branca, me manifestam as mesmas esperanças e receios, relativamente ao futuro do seu país. Todos eles estão dispostos a viver no país onde nasceram, apesar das mudanças e dos riscos.

Esta minha visita à África do Sul foi previamente programada com o Bruce, que planeou várias deslocações pelo país, de modo a que eu o possa conhecer melhor. Assim, pela confiança que me merece o Bruce, pela primeira vez no decurso desta viagem pelo mundo, não me preocupo com o planeamento da minha visita a um país, limitando-me a seguir as suas indicações.
De acordo com o plano previsto, estaremos em Joanesburgo durante três dias, após o que sairemos da cidade.
Nestes primeiros dias, acompanho o Bruce a vários locais onde ele se desloca, quase sempre por razões profissionais. O Bruce, é hoje um pintor artístico com nome credenciado no mercado sul-africano, depois de ter dedicado parte da sua vida a outras actividades profissionais.
Recentemente, teve os seus trabalhos expostos numa galeria que visitamos, David Krut Arts Resource (http://www.davidkrutpublishing.com/), trabalhando agora para uma outra exposição que irá ocorrer no início de 2008, numa outra galeria, Everard Read (http://www.everard-read.co.za/) que também visitamos. Esta última está instalada num excelente edifício, projectado para o efeito, e é de nível internacional.
Próximo destas duas galerias encontra-se uma outra especializada em artesanato africano, Kim Sacks Gallery (http://www.kimsacksgallery.com/), com trabalhos de grande qualidade.

Ao quarto dia, de manhã cedo, deixamos Joanesburgo, os três, para viajar cerca de 600 km até à costa oriental, na região de Kwazulu-Natal.
Pouco depois de sairmos de Joanesburgo assisto ao primeiro amanhecer em África. A estrada é de boa qualidade, e as paisagens são extensas, mas sem nada de relevante.
A segunda metade do percurso leva-nos através da região de Kwazulu-Natal (o nome Natal, dado a esta região, a 25 de Dezembro de 1497, deve-se a Vasco da Gama, aquando da sua primeira passagem por esta área, a caminho da India), com paisagens mais interessantes, passando por Pietermaritzburg, a capital da região, onde o Bruce nasceu e o seu pai reside. Depois de o visitarmos, continuamos em direcção a Durban, para atingirmos a costa, viajando para norte em direcção a Stanger. Esta é uma pequena cidade, desinteressante, onde ressalta a importante comunidade de descendentes de indianos, que aqui vivem há várias gerações.
A principal razão da presença de indianos, e dos seus descendentes, nesta região, deve-se à exploração da cana-de-açúcar, que ainda hoje ocupa a quase totalidade dos campos desta área do país.
Próximo de Stanger, frente ao Oceano Indico, entramos num condomínio de luxo, Prince’s Grant, onde a família do Bruce tem uma casa. Não fora o facto do condomínio estar cercado por uma vedação electrificada, mesmo no lado que confina com o mar – para se ter acesso à praia temos que passar por um portão com passagem restrita – e a presença de alguns animais africanos, poderíamos imaginar estar num outro continente.
Prince’s Grant tem um campo de golfe de excelente nível, com o respectivo clube, com restaurante, bar e um pequeno hotel, para além de moradias de férias, nesta altura quase todas vazias, embora umas poucas sejam habitadas em permanência. A casa da família do Bruce está situada na primeira linha duma colina, com vista panorâmica para o mar. Este tem uma forte ondulação, pelo que temos a companhia do ruído das ondas que rebentam constantemente na praia.
Para passar o tempo, como não jogo golfe, entretenho-me a passear na praia, que se estende por dezenas de quilómetros para cada lado, com pena de não poder nadar, devido à força do mar, e também por raramente se ver alguém.
Aproveito também para trabalhar com o computador, tendo acesso “wireless” à internet no clube de golfe. Num dos dias em que para lá me desloquei, juntamente com o Bruce, que estava a pintar um quadro, fomos informados da presença de duas cobras que se encontravam numa árvore próxima. Por sugestão do Bruce, fomos vê-las. Ao chegar ao local, constatei que tinha passado por baixo daquela árvore há menos de meia hora atrás. As duas cobras, longas e verdes, estavam entrelaçadas, num exercício sexual que durou horas. Os mirantes, rapidamente identificaram os répteis como sendo “mambas”, cobras extremamente venenosas. Segundo eles, os mirantes, uma mordidela duma daquelas cobras significa que, no prazo duma hora a pessoa mordida morre, a não ser que lhe seja injectado o antídoto adequado.
A partir daquele momento, passei a ter um pouco mais de cuidado nos meus passeios.
Para além dos répteis descritos, em Prince’s Grant vivem macacos de porte médio, os quais aproveitam qualquer oportunidade para se apropriarem de comida, mesmo que esta esteja no interior de uma casa.
Também vislumbrámos alguns animais herbívoros, de pequeno porte.

Connosco, esteve durante alguns dias um amigo de infância do Bruce, Lynton, que reside mais a norte, no limite sul do Kruger Park.
O Lynton é agricultor, proprietário duma fazenda com cerca de 800 hectares, que produz praticamente só citrinos, particularmente laranjas e “grapefruit”, vendidos para exportação.
O Lynton nasceu e cresceu na região onde nos encontramos, onde ainda residem dois dos seus irmãos. O Anthony e o Lloyd, vivem em duas propriedades agrícolas distintas, ambas da família, há várias gerações, explorando a cana-de-açúcar. Visitámos ambos, sendo alvo de grande hospitalidade.
Em conversa com o Lloyd, este manifestou a sua apreensão pelas dificuldades comerciais que enfrenta, e pelo facto das suas terras, assim como outras da região onde se encontra, serem reclamadas pelo rei da tribo Zulu, indígena desta área. Por hora, o processo decorre de forma pacífica mas, estamos em África, onde os antecedentes não são positivos.
A propriedade do Lloyd está situada nos arredores duma pequena cidade, Eshowe, localizada algumas dezenas de quilómetros a norte do local onde passámos estes dias.
Aproveitámos a oportunidade de lá passar para visitar uma loja de artesanato local, que nos impressionou, não tanto pela qualidade dos produtos expostos mas, pelo facto de quase todas as pinturas que lá estavam expostas fazerem referencia ao SIDA. Infelizmente, a África do Sul tem uma elevada percentagem de seropositivos, que nalgumas comunidades chega aos 25%. Depois de sairmos da loja de artesanato, percorrendo as ruas da cidade, observei a existência de muitas lojas de serviços funerários, o que poderá estar relacionado com a difícil situação atrás referida.
Ainda em Eshowe, visitámos um parque natural, Aerial Boardwalk/Dlinza Forest, cuidado, com vários percursos pedestres sinalizados, para uso dos visitantes.

Após uma semana de estada em Prince’s Grant, viajámos de regresso a Joanesburgo. Pelo caminho, passámos em Durban, uma das principais metrópoles da África do Sul, e fizemos um desvio a meio caminho, para visitar a região montanhosa de Drakensberg, uma parte da qual é considerada Património Natural da Humanidade.
A área de Drakensberg, bastante árida, apresenta elevações montanhosas intercaladas por extensos vales onde se encontram pequenos grupos de cavalos selvagens. O nosso programa inclui uma noite num pequeno hotel, Vergezient (http://www.vergezient.co.za/), localizado no topo duma montanha, próximo duma encosta, com vista magnifica sobre um vale e, para além deste, um fundo de outras montanhas. Chegámos ao hotel quase ao pôr-do-sol, aproveitando o momento para desfrutar da vista panorâmica, tendo então observado também um grupo de babuínos que se deslocava na encosta da montanha.
A noite passada neste local revelou-se bastante agradável, não apenas pelas condições do hotel, mas também pela presença do proprietário, David, que nos brindou com histórias da sua vida, e particularmente da saga de quase 20 anos dedicados à construção deste projecto.
De regresso a Joanesburgo, apenas por três dias, tive a oportunidade de visitar um mercado semanal de artesanato, Rooftop Market, que se realiza num parque de estacionamento dum centro comercial. Este mercado, interessante, deve a sua localização original, imagino eu, ao facto de não haver condições de segurança na via pública para a realização de manifestações populares como esta.
Na área de alimentação encontrei uma família portuguesa que aqui reside há muito, vendendo comida de Portugal. Aproveitei para comer uns bons rissóis de camarão e pastéis de bacalhau.
Posteriormente, tive também a oportunidade de visitar uma outra feira de produtos artesanais, que se realiza duas vezes por semana (às quintas e sábados), no recinto duma escola em que se pratica o método pedagógico Waldorf. Esta feira pareceu-me mais interessante que a anterior, apesar de mais pequena, sobretudo pelas condições do espaço em que se realiza.
Foi aqui que, observando um conjunto de trabalhos em madeira, originários de Moçambique, fui surpreendido por uma mulher loira, atraente, que imaginei ser sul-africana. Depois de nos apresentarmos, a Rita, de ascendência alemã, disse-me ter nascido em Moçambique, onde mantém residência, deslocando-se regularmente à África do Sul para comercializar trabalhos de artesanato do seu país natal. A nossa conversa decorreu em português.

Hoje, eu e o Bruce viajamos para a Cidade do Cabo, de avião. Manhã cedo, vamos de táxi para o aeroporto. Cumpridas as habituais formalidades, o avião da companhia local 1Time leva-nos sem sobressaltos, em pouco mais de duas horas, até à Cidade do Cabo.
No aeroporto, temos um carro alugado previamente, à nossa espera, com o qual iremos viajar de regresso a Joanesburgo. Do aeroporto, vamos ao apartamento onde ficaremos alojados, propriedade duma amiga do Bruce, para deixar a nossa bagagem, após o que, aproveitando as boas condições climatéricas, decidimos sair da cidade para sul, percorrendo a estrada costeira, ao longo do lado ocidental da península onde se encontra a Cidade do Cabo.
O Bruce já viveu durante alguns anos nesta região, pelo que estamos à vontade.
As primeiras impressões da cidade e da região são bastante favoráveis. Desde logo, não se nota a fobia da segurança que tomou conta de Joanesburgo.
A Cidade do Cabo é frequentemente referenciada como privilegiada em termos de localização, com toda a justiça. Voltada para o Oceano Atlântico, a cidade espraia-se entre duas grandes baías, tendo de permeio algumas formações montanhosas. Para sul, uma estreita península, montanhosa, com pequenas povoações, e praias para todos os gostos, com águas frias (devido à corrente fria de Benguela, que percorre a costa Atlântica até ao Cabo da Boa Esperança, a partir do sul de Angola).
No extremo sul da península, situa-se o Parque Nacional Table Mountain, onde se encontra o Cabo da Boa Esperança, referência histórica para Portugal.
No primeiro dia passado na Cidade do Cabo, percorremos apenas uma parte da estrada costeira ocidental, nomeadamente o percurso conhecido como Chapmans Peak Drive (http://www.chapmanspeakdrive.co.za/), obra de engenharia importante, e uma das estradas costeiras mais belas que percorri.
De regresso à cidade, aproveitámos o bom tempo para visitar um dos símbolos da Cidade do Cabo, Table Mountain. Para lá chegar, ao cimo da montanha, existe um teleférico que nos leva montanha acima, ou abaixo. Este teleférico tem a particularidade de girar à medida que efectua o seu percurso, permitindo aos passageiros observar o panorama a 360º, sem terem que se deslocar.
No topo, os visitantes podem percorrer um caminho bem desenhado que lhes permite o acesso a muitos miradouros, com vistas panorâmicas espectaculares, quer sobre a cidade, quer para lá dela. No aspecto fotográfico, o final da tarde é a melhor altura para se visitar a Table Mountain,

No segundo dia, mantendo-se as boas condições climatéricas, decidimos visitar o Parque Nacional Table Mountain. Desta vez, percorremos o lado oriental da península, por uma estrada sinuosa, até entrarmos na área do parque.
Este parque atrai muitos visitantes, sobretudo pela oportunidade de estar numa área remota do continente africano, sendo que muitos dos visitantes imaginam que tal visita lhes permite ver a junção dos Oceanos Atlântico e Indico, o que é falso. Tal local, situa-se mais a sudeste, no Cabo Agulhas, onde se encontra o ponto mais austral do continente.
Para mim, para além da visita a uma área natural, esta tem o particular interesse de me permitir ver um local que os meus ilustres antepassados, navegadores, visitaram, quando viajaram entre Portugal e o Oriente. O primeiro, em 1487, Bartolomeu Dias, por ter aqui passado debaixo de uma tempestade, que quase o fez naufragar, chamou a esta ponta do continente Cabo das Tormentas, mais tarde rebaptizado, por D. João II, como Cabo da Boa Esperança.
No interior do Parque Nacional Table Mountain existem dois monumentos, separados por algumas centenas de metros, em honra de dois dos mais conhecidos dos navegadores portugueses que navegaram por estas águas: Bartolomeu Dias e Vasco da Gama. Junto ao primeiro, agradeci a todos os que contribuíram para que o nome de Portugal seja respeitado, sobretudo pelos feitos destes nossos antepassados, e fiz votos de esperança para que os valores morais e a capacidade de concretizar objectivos ambiciosos, entretanto perdidos, possam voltar às mentes dos portugueses.
A ponta sul da península é duma beleza cénica invulgar, com várias formações rochosas que se despenham num oceano selvagem, com sinais de vida marinha exuberante. Nesta área, particularmente entre os meses de Junho e Novembro, são vistas com frequência várias espécies de baleias.
Aqui, deixámos o carro e apanhámos um transporte funicular que nos levou encosta acima, até ao nível dum farol situado no cume desta elevação, do qual se tem uma vista panorâmica a 360º, com o Cabo da Boa Esperança a ocidente. Deste ponto, caminhámos ao longo da falésia por um trilho sinalizado, até chegarmos ao extremo sul da península, com vista sobre um outro farol, que sinaliza o Cape Point.
Este parque natural tem uma fauna rica, na qual se destacam os babuínos, por se aproximarem facilmente dos visitantes, sobretudo para obterem comida. De acordo com as regras do parque, é expressamente proibido aos visitantes alimentar os babuínos, por razões óbvias, entre as quais a de poderem suscitar comportamentos violentos da parte destes.
Para os afastar das pessoas nos locais onde estas circulam em maior número, os guardas usam fisgas.

De regresso à Cidade do Cabo, tivemos a oportunidade de visitar vários amigos do Bruce que aqui residem.
Destes, convivemos mais com o casal Louise e Russel, que têm uma filha adorável, Angie. A Louise e o Russel são proprietários duma excelente unidade de turismo de habitação na cidade, Abbey Manor (http://www.abbey.co.za/), localizada no sopé da Table Mountain.
Na encosta oriental desta, encontra-se outra das atracções da Cidade do Cabo, o Jardim Botânico – Kirstenbosch (http://www.sanbi.org/). Quer pela localização privilegiada, quer pela sua riqueza histórica, e pela beleza, é um dos mais interessantes jardins botânicos do mundo.
Para além dos muitos atributos naturais que fazem da Cidade do Cabo um local atraente, ela oferece aos visitantes uma arquitectura tradicional de qualidade, com influências europeias, e restaurantes de bom nível, dos quais pudemos atestar a boa qualidade do Hildebrand, situado na área portuária reconvertida para actividades comerciais, designada Waterfront, o Tank, e numa visita à área vinícola do Cabo, a mais prestigiada da África do Sul, o Terroir, localizado na propriedade Kleine Zalze, uma das muitas casas produtoras de vinhos da região.
Esta propriedade situa-se nas imediações de Stellenbosch, uma pequena cidade, exemplar pela qualidade da sua arquitectura.
Nesta mesma região, mais tarde, ao deixarmos a Cidade do Cabo, para regressarmos a Joanesburgo, visitámos a também pequena Franschhoek, fundada por colonos franceses, de cuja cultura mantém influencias, igualmente interessante, e reconhecida como a capital gastronómica da região.

De Franschhoek, num dia de tempo incerto, frio, a nossa estrada leva-nos através duma zona montanhosa, subitamente agreste, contrastando com os campos de vinhas dos vales a ocidente, até atingirmos uma outra região agrícola, onde predomina a cultura da maçã.
Ainda antes de voltarmos ao litoral – estamos a viajar para oriente, atravessamos uma outra vasta área agrícola, de produção cerealífera.
Regressamos à costa junto à cidade de Mossel Bay, por entre fortes aguaceiros, com vários arco-íris pelo meio, para percorrermos então a estrada litoral designada como Garden Route.
Antes de chegarmos ao nosso destino diário, Knysna, fazemos uma curta paragem em Victoria Bay, estreita baía, espremida entre rochedos, com uma pequena comunidade residente – não mais de vinte casas, distribuida ao longo da linha de água, num dos lados da baía. Hoje, o mar está tempestuoso, com forte ondulação, para gáudio dum grupo de surfistas que se delicia em busca das melhores ondas, quase entrando pelas casas adentro.
Ao fim do dia, chegamos a Knysna. Entretanto, o tempo piorou e estamos desejosos de encontrar um local seco e quente para passar a noite. Nesta região, bastante popular entre os sul-africanos, existe uma grande quantidade de pequenos estabelecimentos hoteleiros pelo que, com as actuais condições meteorológicas, não teremos dificuldades.
Como o Bruce conhece a área, dirigimo-nos para uma parte limítrofe de Knysna, designada The Heads. A cidade de Knysna distribui-se ao longo duma enorme laguna que comunica com o oceano num ponto estreito – não mais que cem metros de largura. Lá chegados, debaixo de chuva copiosa e frio, encontramos abrigo no Hotel Augusta Bay (http://www.augustabay.com/), onde somos os únicos hóspedes naquela noite. Talvez por isso, a empregada que nos recebe oferece-nos dois excelentes quartos.
Depois de nos instalarmos, saímos a pé, para chegar num minuto ao Restaurante Paquita’s, situado frente ao canal que liga a laguna ao oceano, onde comemos um bom peixe, e ostras locais, não tão saborosas, mesmo que frescas.
Aqui, encontramos dois casais com crianças, jantando juntos, e dou-me conta que, pela primeira vez desde que estou na África do Sul, vejo pessoas brancas e negras juntas, numa situação de convívio social.

No dia seguinte, as más condições meteorológicas mantém-se, pelo que decidimos avançar para o próximo destino. O Bruce garante-me que Knysna mereceria mais atenção, se o tempo estivesse melhor.
Debaixo de muita chuva, continuamos pela estrada litoral quase até chegar a Port Elizabeth, passando por Plettenberg Bay, cidade de maior prestigio da região, entenda-se mais cara, numa área densamente arborizada, para então virarmos para norte, seguindo para o interior.
Em pouco tempo, a paisagem se altera, desaparecendo as árvores de grande porte, sendo estas substituídas por vegetação característica de terrenos áridos. Entretanto, a chuva parou, pelo que nos damos por satisfeitos com a mudança.
Estamos a entrar na região do Karoo, caracterizada por ser vasta, agreste e pouco povoada.
Temos cerca de 200 km para chegar a Graaff-Reinet, o que nos leva um pouco mais de duas horas, percorrendo uma estrada com pouco movimento.
Graaff-Reinet é a cidade mais importante desta região, sendo pequena, com aspecto provinciano.
No contexto urbano da África do Sul, Graaff-Reinet é uma cidade com uma história feliz já que, um dos homens mais abastados do país, A. Rupert, cuja mãe aqui nasceu, decidiu investir na preservação do património cultural e arquitectónico desta localidade, o que se reflecte na qualidade de alguns edifícios, e na existência de espaços museológicos promovidos por si.
Os museus de Graaff-Reinet promovidos pela família Rupert são, o Hester Rupert Art Museum, nomeado em honra da matriarca da família aqui nascida, onde se encontram expostas obras de arte de autores sul-africanos, que fazem parte duma colecção da família, e o Pierneef Museum, que expõe um conjunto de pinturas do artista sul-africano J. H. Pierneef, um dos nomes mais destacados das artes sul-africanas do século XX.

Aqui, ficamos hospedados na Andries Stockenström Guest House (http://www.stockenstrom.co.za/), pequena unidade hoteleira, reconhecida pela excelência da cozinha.
A principal responsável pela fama da cozinha da casa é a proprietária, Beatrice, que desde muito nova se dedicou às artes culinárias, sendo uma excelente cozinheira, produzindo obras de grande qualidade, de inspiração francesa.
A Beatrice já visitou Portugal diversas vezes, tendo muito boas recordações do país, inclusive da culinária.

No dia que passámos em Graaff-Reinet, caminhando pela cidade, atentei numa montra daquilo que à primeira vista parecia ser um estabelecimento comercial.
Ao aproximar-me, encontrei no interior do espaço uma enorme quantidade de animais africanos sob a forma de troféus de caça ou seja, estava perante uma empresa de taxidermia.
Era a primeira vez que presenciava tal actividade, pelo que solicitei autorização para ver e fotografar o trabalho da casa. Os proprietários não colocaram qualquer entrave à minha curiosidade, informando-me que a empresa existe há menos de dez anos, tendo começado apenas com a família fundadora, para ter hoje cerca de sessenta funcionários permanentes. A actividade de reconstrução de animais que são abatidos por caçadores é de grande qualidade, sendo o resultado final de um realismo surpreendente.
As centenas de exemplares que se encontravam em produção, das mais variadas espécies, inclusive alguns leões, eram propriedade de caçadores de muitos países, que após matarem os animais, encomendavam os troféus, os quais depois de produzidos são expedidos em caixas de madeira para os destinos finais.
Segundo os proprietários, o principal grupo de clientes é constituído por norte-americanos, apesar de outros países terem uma importância crescente, particularmente a Rússia.

Ao deixarmos Graaff-Reinet, em direcção a Nieu Bethesda, a cerca de uma hora de distância, fizemos um desvio para visitar um local nas imediações da primeira, que dá pelo nome de Valley of Desolation, integrado no Camdeboo National Park.
O principal interesse do Valley of Desolation é o da existência de estranhas formações geológicas que aparecem aos nossos olhos como pilares rochosos, alguns com 120 metros de altura, moldados pela erosão provocada pelos ventos e chuva. Para lá desta barreira rochosa, estende-se uma planície imensa, entrecortada aqui e ali por montanhas isoladas, para no horizonte, a norte, se vislumbrarem as montanhas Sneeuberg, cujo pico mais elevado tem 2.504 metros de altura, com neve nos cumes. Mais próximo dos miradouros do Valley of Desolation avista-se facilmente a cidade de Graaff-Reinet.

Seguimos então para Nieu Bethesda, primeiro numa estrada asfaltada, para depois entrarmos numa outra em terra, com cerca de duas dezenas de quilómetros.
Nieu Bethesda aparece-nos à entrada dum extenso vale, entre montanhas, algumas das quais se apresentam também com neve nos cumes e flancos voltados a sul.
Rapidamente me apercebo, mesmo que avisado pelo Bruce, que Nieu Bethesda é uma pequena localidade perdida no mapa da África do Sul. Por motivos que desconheço, tem sido procurada nos últimos anos por pessoas que ali buscam condições de vida diferentes das que tiveram noutros centros urbanos. É o caso do proprietário duma casa agradável onde ficamos alojados, num dos extremos da povoação, que tendo vivido anteriormente na Cidade do Cabo, onde trabalhou como psiquiatra, decidiu mudar-se para aqui.
Caso análogo encontrei num estabelecimento comercial, um misto de livraria, discoteca e galeria de arte, cujo proprietário, pessoa jovem, também me disse ter “fugido” da Cidade do Cabo, com a companheira, para aqui se radicarem.
Depois de nos termos instalado, fomos à procura de almoço, tendo comido numa pequena quinta vizinha da casa onde iríamos pernoitar, onde se produz pão, queijo e cerveja. Numa cozinha, que deixava muito a desejar em limpeza, comemos o que havia, e saímos, para tentar encontrar outro local onde poderíamos mais tarde, jantar.
A primeira tentativa, no que parecia ser o único local de restauração digno do nome, foi frustrada, perante a informação de que a casa estaria encerrada nos próximos dias, para que os proprietários fossem assistir a um jogo internacional de râguebi que iria ser disputado noutra região do país. Faço aqui um aparte para dizer que na África do Sul, tal como na Austrália e na Nova Zelândia, o râguebi é uma paixão nacional. Aliás, dias antes, duas equipas sul-africanas tinham disputado a final do principal campeonato de clubes dos três países citados, conhecido como Super 14.
Voltando à busca de jantar, encontrámos na mesma rua uma casa de turismo de habitação, Outsider’s, que anunciava no exterior serviço de refeições. Ao entrar, na companhia de dois cães agitados e gatos mais tranquilos, vimo-nos num espaço de loja, com produtos de artesanato local, onde existe uma lareira acesa, ao lado do qual estava a cozinha da casa, aberta para a loja, com uma grande mesa onde se encontrava o proprietário, homem corpulento, envolto em agasalhos, a trabalhar com um computador portátil.
Questionado acerca do jantar, respondeu-nos que ele e a companheira iriam sair ao fim da tarde, mas uma empregada poderia servir-nos jantar, se quiséssemos comer às 18.30 horas. Mais informou, dizendo que a empregada teria que sair às 19.00 horas, pelo que nós fecharíamos a porta depois de jantar, e para pagar, voltaríamos lá na manhã seguinte.
Perante as circunstancias, resolvemos aceitar e lá fomos mais tarde, para jantar – a qualidade do mesmo deixava bastante a desejar mas, a alternativa seria passar uma noite sem comer. No dia seguinte, cedo, antes de deixarmos a povoação, lá fomos de novo ao local, para pagar.

Nesta manhã, encontrámos o nosso carro, que tinha pernoitado no exterior, totalmente coberto de gelo. Durante a noite a temperatura desceu abaixo de zero, e em casa valeram-nos os cobertores eléctricos nas camas.
Saímos de Nieu Bethesda, com sol radioso, para fazermos uma longa jornada até Joanesburgo.
Na parte inicial do trajecto, em estrada de terra, avistámos uma cadeia montanhosa com bastante neve, para mais tarde a atravessarmos. Depois, até chegarmos ao fim da tarde a Joanesburgo, foi um percurso sem história.

No dia seguinte, voltamos à estrada, novamente com a companhia da Margie, para viajar em direcção ao Kruger Park, mas para pernoitarmos numa quinta de amigos da Margie e do Bruce, o Lynton (com quem já tínhamos estado há algumas semanas, em Prince’s Grant), a Annette e a Ashley, filha deles.
A viagem faz-se em cerca de cinco horas, numa estrada com bastante movimento, que contínua em direcção à fronteira com Moçambique, pelo que chegámos ao início da noite à Tulloh Farm. Depois duma calorosa recepção, com jantar, fomos dormir, com a promessa de visitarmos a quinta na manhã seguinte.
Assim, de manhã cedo, saímos de carro para percorrer caminhos no interior da quinta dos nossos amigos. Tulloh Farm ocupa uma área de 760 hectares, dos quais 270 estão cultivados com cana-de-açúcar, e 150 com citrinos (laranjas e toranjas). A produção de citrinos é quase na totalidade para exportação, sobretudo para a Europa e Japão.
Esta propriedade situa-se a poucos quilómetros da cidade de Malelane, a cerca de 100 km da fronteira com Moçambique, e tem como limite norte o Rio Crocodile, que é o limite sul do Kruger Park.
Assim, não nos surpreendemos quando, ao percorrermos o caminho paralelo ao rio, vimos alguns animais, nomeadamente hipopótamos.
Depois de visitarmos a propriedade da Annette e do Lynton, despedimo-nos para avançarmos até Crocodile Bridge, quase no limite do território da África do Sul, para entrarmos no Kruger Park. O acesso a este faz-se através de portas distribuídas no seu perímetro, estando o resto do mesmo protegido por vedações que visam evitar a saída de animais, e a entrada de caçadores furtivos.
O Kruger Park, inaugurado em 1926, é um vasto território de 20.000 km quadrados, o equivalente ao País de Gales. Nele estão identificadas 147 espécies de mamíferos, 507 de aves, 114 de répteis, 49 de peixes, 34 de anfíbios e 336 de árvores.
Actualmente, o Kruger Park integra um projecto transfronteiriço, que envolve outras áreas vizinhas localizadas em Moçambique e no Zimbabué, que dá pelo nome de Great Limpopo Transfrontier Park.
O nosso destino no Kruger Park é o Hotel Berg-en-Dal, localizado na região sul, um de vários existentes neste parque, gerido pela entidade sul-africana responsável pelos parques nacionais.
Até lá chegarmos, percorremos algumas dezenas de quilómetros de estradas, umas asfaltadas e outras em terra, no interior do parque. Aqui, a condução de viaturas automóveis está sujeita a regras específicas, não podendo os passageiros sair das mesmas, a não ser em locais específicos.
Ao longo deste percurso, vemos muitos animais, particularmente impalas, mas também macacos, javalis, girafas, zebras, elefantes, rinocerontes e muitas aves.
No último dia passado no parque, ao cair da noite, passeando no terreno do hotel onde nos encontrávamos, fui alertado por um empregado da presença dum leopardo nas imediações. Caminhando até ao local indicado, onde se encontravam outras pessoas, observei o corpo duma impala morta pendendo duma árvore, a cerca de cem metros de distância. Aí se encontrava o leopardo referenciado, oculto pela folhagem da árvore.
Passado alguns minutos, o leopardo desceu pelo tronco inclinado da árvore, parando por alguns segundos sobre o mesmo, olhou claramente para nós, continuando a descer da árvore até desaparecer no mato.
No dia seguinte, de manhã, antes de partirmos do parque, lá voltámos ao local, para constatar que o leopardo continuava o seu banquete empoleirado na mesma árvore.
Entretanto, após ter presenciado a cena do leopardo, próximo deste local apareceu um elefante isolado, caminhando a poucas dezenas de metros das pessoas que se encontravam no interior do terreno do hotel, protegido por uma vedação electrificada. Naturalmente, a presença deste elefante despertou também a curiosidade das pessoas. No meu caso, aproveitei para tirar algumas fotografias, e ao meu lado um outro homem filmava com uma câmara de vídeo. Subitamente, ouvi um barulho seguido duma exclamação do homem que se encontrava a filmar, que acabara de apanhar um choque eléctrico, por ter tocado na cerca eléctrica. Com o choque, largou a câmara, que caiu no lado exterior da vedação, para desespero do incauto caçador de imagens.

Regressados a Joanesburgo, ali fiquei mais alguns dias, preparando-me para o final da minha primeira viagem à volta do mundo.
Durante este período, tive ocasião de rever alguns dos amigos da Margie e do Bruce que havia conhecido durante esta minha estada, num encontro que decorreu na casa dos meus anfitriões.
Na última noite passada em Joanesburgo, o Bruce e a Margie fizeram um “braai” para celebrar a minha visita, e a despedida.
Enquanto o peixe estava a grelhar no jardim, iluminado pela lua cheia, fizemos um brinde à vida, e ao futuro de África.
No dia seguinte, 2 de Junho, de madrugada, saí de casa para ir para o aeroporto. Quem me transportou foi o Israel, motorista particular, africano negro, nascido e criado no Soweto, onde ainda vive com a esposa e os filhos.
Ainda de noite, ao percorrermos as ruas de Joanesburgo, sem trânsito, os muros altos, vedações e avisos de segurança eram menos visíveis, pelo que imaginei estar numa cidade normal.
Entretanto, o Israel dizia-me que há certas áreas urbanas que ele e a família não visitam, por serem demasiado perigosas.

Cumpridas as formalidades no aeroporto, embarquei no avião Fernão Mendes Pinto, da TAP, tendo sido alvo das maiores atenções, mais uma vez graças aos cuidados do Alfredo.
A viagem decorreu com tranquilidade e, depois duma escala em Maputo, seguimos para Lisboa.
366 dias depois de ter iniciado a minha primeira volta ao mundo, dou a mesma por concluída. Em breve publicarei um texto, no qual expressarei a minha reflexão sobre esta experiência de vida.
Singapura: vista parcial do centro da cidade,
a partir da área
The Esplanade.














Singapura: vista parcial do complexo cultural The Esplanade.
Singapura:
Raffles Hotel Arcade.














Jardim Botânico de Singapura: orquídeas para todos os gostos.
SINGAPURA

A viagem de Sidney para Singapura é longa, cerca de oito horas, e é a primeira de duas que faço com a Singapore Airlines. Esta é habitualmente considerada a melhor de todas as companhias aéreas, no que concerne ao serviço de bordo oferecido aos passageiros.
Como eu viajo em classe económica, “cattle class” como dizem na NZ, não espero nada de extraordinário mas sim, apenas um serviço atencioso. É exactamente aquilo que a Singapore Airlines proporciona aos passageiros. Num voo quase cheio, no ainda maior avião de passageiros, o Boeing 747, somos atendidos com a maior deferência por hospedeiras elegantes, com uma apresentação irrepreensível. As hospedeiras da Singapore Airlines são um dos símbolos desta empresa, pelos atributos atrás referidos, e pelo profissionalismo no desempenho da sua missão.

Depois de sobrevoarmos a Austrália, o que leva algumas horas, dada a dimensão do território, e o imenso arquipélago da Indonésia, aterramos no extremo sul da Península da Malásia, onde se encontra Singapura.
Os procedimentos de saída do aeroporto são rápidos, o que aliado a outros factores, faz com que este aeroporto seja considerado um dos melhores, senão o melhor do mundo.
Como dias depois voltei ao mesmo aeroporto, para viajar para a África do Sul, pude aquilatar melhor as qualidades, tais como uma área comercial de grandes dimensões, com excelentes lojas, dois belos jardins interiores, um com palmeiras e outro com orquídeas, e ambos com lagos com peixes, para além de inúmeros serviços gratuitos ao dispor dos passageiros – computadores com acesso à Internet, sala de cinema, etc.

Do aeroporto até à cidade começo a aperceber-me da justeza da imagem de Singapura, como estado organizado e seguro, o que nos tempos correntes são qualidades raras e valiosas.
Singapura é um país recente, dissidente da Malásia, pelo que culturalmente tem laços importantes com o vizinho do norte. Em termos étnicos, para além da população de origem malaia, tem importantes comunidades de origem chinesa e indiana, para além de muitas outras, que fazem deste pequeno país com cerca de 4.000.000 de habitantes (tantos como a NZ) quase um milagre.
Apesar das diferenças culturais e religiosas da sociedade, todos vivem em comunhão, respeitando-se mutuamente, num país com uma ordem social exemplar e baixos índices de criminalidade.

Para lá das características sociais assinaladas, sobressai a vida comercial de Singapura. De todas as cidades que conheço, nenhuma tem tanta quantidade, e poucas têm a qualidade da oferta comercial de Singapura.
Os centros comerciais, segundo o conceito moderno, sucedem-se, particularmente no centro da cidade. Existem áreas comerciais para todos os gostos, como por exemplo, centros comerciais especializados em produtos electrónicos, ou lojas tão particulares como a da Lacoste, que só vende acessórios, mas não roupa, ou da Calvin Klein, apenas de roupa interior.
Num passeio que fiz, percorri vários centros comerciais sem ter que utilizar as ruas da cidade, já que os mesmos estão interligados por passagens subterrâneas.
Mas, nem só os modernos centros comerciais atraem a atenção dos visitantes de Singapura.
Aqui existe um dos hotéis mais famosos do mundo, pela sua história, qualidade e elegância. É o Hotel Raffles, construído por quatro imigrantes arménios, irmãos, em 1887. Ao longo da sua história, o Raffles tem recebido inúmeras personalidades, e proporcionado histórias que o tornaram lendário.
Hoje, poucos anos depois de ter sido renovado, o Raffles oferece também aos visitantes uma magnífica galeria comercial, a Raffles Hotel Árcade, com lojas de qualidade, na qual existe um museu dedicado à história do hotel.

À parte a intensa vida comercial, Singapura dispõe de outros atractivos, como excelentes restaurantes, particularmente de gastronomias asiáticas.
Nos três dias que lá passei, visitei dois deles, um especializado em cozinha da região de Sichuan, na China, e um outro no Jardim Botânico.
Este jardim, belíssimo, está organizado por áreas temáticas, interligadas por equipamentos culturais e comerciais. De todas as áreas do jardim, aquela que merece maior destaque é o Jardim de Orquídeas, absolutamente deslumbrante, tal é a variedade e qualidade das plantas desta espécie em exposição. Para além das inúmeras variedades de orquídeas tradicionais, este jardim desenvolve espécies híbridas que são posteriormente baptizadas com nomes de personalidades destacadas que visitam Singapura. Estas encontram-se em exposição numa área identificada como VIP.

A minha estada em Singapura serviu sobretudo para me preparar para a viagem para a África do Sul, onde estarei durante cerca de um mês.
Tendo nascido em África, em Angola, onde vivi os meus primeiros dezoito anos, e partido para a Europa há trinta e três anos, é com alguma emoção que me preparo para regressar à região que me viu nascer.

29 abril 2007

Bondi Beach, Sidney, Austrália - Abril de 2007

VIAGENS, AMIGOS E SAUDADES



Prevejo chegar a Lisboa no início de Junho próximo. Estando há quase um ano ausente de Portugal, naturalmente, sinto falta de muitos(as) amigos(as) que lá vivem.
Assim, para matar saudades desses(as) amigos(as), proponho que nos encontremos no dia 3 de Junho, Domingo, a partir das 16.00 horas, em casa da Paula e do Maurício, na região de Palmela, a sul de Lisboa (ver mapa anexo).
Nesse fim de tarde, iremos conversar sobre viagens, as minhas e as de distintos viajantes que estarão presentes, jantar e celebrar a alegria de viver.

A participação neste encontro implica uma contribuição voluntária de comida e/ou bebida por parte de todos os presentes. Cada um levará o que achar mais conveniente.
Para que possamos coordenar as necessidades do grupo, solicito que os interessados se inscrevam, por e-mail, até ao próximo dia 20 de Maio.
Como ainda me encontro ausente de Portugal, solicitei a ajuda da querida amiga Susana Felizardo para tratar deste assunto. Assim, peço o favor de se dirigirem à Susana, para efectuarem as vossas inscrições. Os contactos dela são os seguintes:

E-mail: susanafelizardo@gmail.com
Telefone de casa: + 351 21 485 08 00
Telemóvel: + 351 93 524 73 05

Vemo-nos então no dia 3 de Junho!

28 abril 2007











Sidney: Opera House.













Sidney: vista da área de Circular Quay,
a partir da escadaria de acesso à Opera House.
Sidney: área central da cidade.














Sidney: observando o mar,
entre as praias de Bronte, ao fundo, e Bondi.
Sidney: Piscina Icebergs, em Bondi Beach.














Sidney: vista para a cidade, a partir da Baía de Watsons.














Sidney: A Tara e o Joshua,
em South Head, à entrada da Baía de Sidney.







Katoomba: vista panorâmica sobre as Blue Mountains,
com as Three Sisters à esquerda,
a partir do miradouro de Echo Point.
AUSTRÁLIA – SIDNEY E AS MONTANHAS AZUIS

Cerca de três horas e meia depois de deixar Auckland, o avião em que viajo aterra em Sidney. No aeroporto, esperam-me a Tara e o Joshua, jovens amigos australianos, aqui residentes.
A Tara e o Joshua, conheci-os há cerca de dez meses, no início desta minha viagem, em Atins, no Brasil. Desde então, mantivemos contactos e sabia que seria bem-vindo para ficar em casa da Tara e do Joshua, em Sidney.
Eles habitam agora, desde que terminaram a sua viagem à volta do mundo, no final de 2006, em Sidney, de onde a Tara é nativa, sendo o Joshua de Melbourne. Há pouco tempo instalaram-se num pequeno apartamento alugado, no bairro de Bronte, uma das áreas urbanas localizadas na costa oceânica.

Sidney, a maior cidade da Austrália, tem hoje uns 5.000.000 de habitantes, que se distribuem por uma vasta área geográfica. O centro da cidade, onde a mesma nasceu, está situado junto ao mar, frente a uma imensa baía, bastante recortada. Esta baía comunica com o oceano através duma passagem relativamente estreita, e divide a cidade nas áreas Sul e Norte. Actualmente, com o crescimento urbano e demográfico, a cidade desenvolveu-se tanto pelo litoral, como para o interior, sendo os bairros situados mais próximo da costa aqueles que gozam de melhor reputação, e os mais valiosos para o mercado imobiliário.
Os primeiros contactos com a cidade, onde havia estado há treze anos, revelam uma população multicultural, com grande diversidade étnica, particularmente representativa de países asiáticos.
Sidney, sobretudo pelas suas características geográficas e humanas, revela-se atraente para os visitantes, que se integram com facilidade na vida urbana.
Na verdade, poucas são as grandes metrópoles que conheço, onde desde os primeiros contactos, me sinto tão à vontade como aqui.
No dia seguinte à minha chegada, na companhia do Joshua, que por enquanto está desempregado, caminho até à praia de Bronte – cerca de dez minutos de distância – numa manhã ensolarada e quente, observando uma multitude de aves coloridas e ruidosas que habitam nesta região.
Chegados à praia, com um amplo parque ajardinado ao lado, onde predominam os surfistas, ou não estivéssemos na Austrália, onde o surf é uma paixão, o Joshua propõe um passeio ao longo da costa, para Sul. Numa das extremidades da praia de Bronte descubro uma excelente piscina oceânica, perto do mar, com as ondas a rebentarem ali mesmo ao lado. A utilização desta piscina, como de outras que existem ao longo desta costa, é gratuita. Noutro dia, aproveitando o resto do Verão que por aqui se faz sentir, dei uns mergulhos nesta piscina.
Observo com curiosidade as formações rochosas multicolores que definem a linha de costa. Logo após deixarmos a área de Bronte, cruzamos o terreno dum cemitério antigo, local de eleição para quem nele está sepultado, com vista panorâmica para o mar.
Pouco depois, passamos frente ao Clovelly Bowling Club, onde algumas dezenas de homens e mulheres de idade avançada jogam uma espécie de bowling, ao ar livre, em piso relvado, magnifico. Reparamos que todos falam italiano, pelo que supomos tratar-se dum grupo de imigrantes italianos que há muito aqui residem, mantendo a tradição linguística. A localização deste clube é soberba, num promontório, com vista ampla, sem obstáculos, sobre o mar.
Depois de cruzarmos várias pequenas baías, com praias e piscinas, sempre limpas, chegamos à baía de Coogee, bastante maior que as anteriores. Aqui, para além da praia e da área adjacente ajardinada, existe bastante comércio nas ruas mais próximas, para além de áreas residenciais, como aliás ao longo de toda esta costa.
A descrição deste meu primeiro passeio matinal pelo litoral de Sidney, serve também para referir que, ao longo de toda a costa da área urbana da cidade, existem dezenas de quilómetros de percursos pedestres bem definidos, e bem construídos, que permitem às pessoas fruírem dos espaços exteriores com facilidade.
Mais tarde, tive ocasião de caminhar, também a partir de casa, para Norte, em direcção a Bondi, a praia mais popular de Sidney.
Bondi goza de bastante fama, pelo que não é de estranhar que a praia, ampla, tenha mais público que as outras, e que as ruas mais próximas estejam repletas de comércio. No extremo Sul da praia, existe uma excelente piscina oceânica, de dimensões olímpicas, que pertence ao Bondi Icebergs Club, fundado na primeira metade do século XX, quando a praia de Bondi se tornou num pólo de atracção para os habitantes da cidade.
Esta piscina, embora possa ser utilizada por visitantes ocasionais, mediante entrada paga, é sobretudo frequentada pelos sócios do clube, que têm que efectuar um número mínimo de banhos por ano, mesmo no Inverno, sob pena de perderem o direito de utilização da piscina. Ao observar as pessoas que ali nadavam, apercebi-me que na maioria, eram excelentes nadadores, provavelmente alguns deles ex-atletas olímpicos.
No mesmo edifício onde está sedeado o clube, existem dois restaurantes, ambos com magnificas vistas para a praia. Um deles, Icebergs, é um excelente restaurante, como pude comprovar numa visita posterior, para jantar, na companhia da Tara e do Joshua.

Noutra ocasião, também com a Tara e o Joshua, fomos de carro até Watsons Bay, para então daí fazermos um passeio a pé até ao ponto mais a norte desta costa, South Head, onde a baía de Sidney comunica com o oceano.
Nesta área, situa-se uma de duas praias para a prática de nudismo na área de Sidney.
Frente a South Head, no outro lado da entrada da baía, situa-se North Head, continuando para norte a área urbana litoral da cidade.
Noutro dia, com o Joshua, fizemos o Hermitage Foreshore Scenic Walk, passeio pedestre que liga Rose Bay a Shark Beach, uma bela praia protegida por uma rede, para evitar a aproximação de tubarões. Este passeio, percorre uma área residencial de luxo, com grandes mansões, e vistas magnificas para o centro da cidade e a Harbour Bridge. Rose Bay serve de pista para hidroaviões que efectuam voos turísticos pelo que, à medida que caminhámos, observámos os aviões a amararem e a levantarem das águas da baía.

A minha primeira deslocação ao centro de Sidney é feita de barco, a partir dum ponto da costa, Rose Bay, onde param os barcos de transporte público que servem toda a área da baía.
No percurso até Circular Quay, centro nevrálgico dos barcos que servem as áreas litorais da cidade, passamos frente ao conjunto arquitectónico mais famoso de Sidney, designado como Sidney Opera House. Este símbolo da cidade edificado há pouco mais de trinta anos, está localizado num local fronteiro à baía, ao lado do Jardim Botânico, magnifico espaço de lazer.
As áreas envolventes da Opera House foram requalificadas nos últimos anos, denotando uma qualidade equiparada à do mais significativo símbolo da cidade, proporcionando aos milhares de visitantes diários daquela área urbana uma experiência bastante agradável.
Quanto ao Jardim Botânico, amplo e repleto de espécies botânicas interessantes, tem um bom restaurante “Botanic”, situado numa área central, onde também habitam milhares de morcegos que, durante o dia, podem ser facilmente observados pendendo das árvores que circundam o restaurante.
Voltando à Opera House, caminhando no sentido oposto ao do Jardim Botânico, em poucos minutos se chega ao terminal de barcos, Circular Quay, assim como a uma estação ferroviária, e a um terminal de autocarros, a partir dos quais podemos aceder a qualquer outra área da cidade.
Aqui ao lado, encontra-se o Museu de Arte Contemporânea, com uma boa cafetaria, e a área designada The Rocks, na qual a cidade foi fundada no final do século XVIII, sendo então o primeiro aglomerado populacional europeu, permanente, na Austrália.
Hoje, a área The Rocks é uma das mais populares atracções turísticas de Sidney, com os seus edifícios originais restaurados, ocupados na maioria por estabelecimentos comerciais. Logo a seguir, encontramos outro dos símbolos de Sidney, a ponte Harbour Bridge, famosa pelos espectáculos de fogo de artifício que nela são apresentados no final de cada ano.
De Circular Quay, caminhando, é um curto passeio até ao centro financeiro e comercial da cidade, onde também se encontra o município, Town Hall.
Nesta área, repleta de vida durante o dia, abundam os restaurantes das mais diversas culturas, particularmente asiáticas. Num final de tarde, passeando pelas ruas desta parte de Sidney, penetrei numa área definida por alguns edifícios de escritórios, bastante altos, para me encontrar na World Square, onde me sentei num banco. Observando os sinais de vida em meu redor, tive a sensação de estar numa grande metrópole asiática, provavelmente no Japão, Coreia ou China, tantas eram as pessoas originárias destes países que ali se encontravam, e tantos os restaurantes asiáticos existentes nas redondezas.
Naquela noite, jantei num restaurante espanhol, onde trabalham dois portugueses, da Ilha da Madeira.
A propósito de portugueses, aqui em Sidney existe uma comunidade portuguesa importante, que ocupa particularmente a área de Petersham, com os habituais estabelecimentos comerciais. Não visitei esta área da cidade mas, pude observar que, na Austrália existem vários sinais da gastronomia portuguesa tais como, os pastéis de nata, que se encontram frequentemente nas pastelarias, e os frangos assados, em casas de comida rápida, com nomes portugueses como “O Galo” e “OPorto”.
Mas, no que a comida diz respeito, o que mais me agradou nesta estada na Austrália foi a área alimentar do estabelecimento comercial David Jones. Este centro comercial, com tradição na vida da cidade, tem o melhor serviço de produtos alimentares que conheço no mundo, neste tipo de casas comerciais.
É uma área ampla, infelizmente subterrânea, onde podemos comprar tudo o que pretendemos de comida, com uma qualidade irrepreensível. Para além dos produtos para consumo caseiro, neste mesmo local podemos escolher entre inúmeros bares, tais como, Sushi, Ostras e Mariscos, Queijos, Massas, Noodles, e o meu preferido, o bar de Sumos e Frutas, onde servem saladas de fruta com o melhor iogurte que me lembro de ter comido.
Ainda nesta área urbana, merece destaque o edifício Queen Victoria, por certo um dos centros comerciais mais elegantes do mundo.

Aproveitei a minha estada em Sidney para visitar a região das Blue Mountains, situada a menos de duas horas de carro da cidade. Por se tratar duma vasta área natural, projectei alugar um automóvel para ter maior liberdade de movimentos. Num dos centros de informações turísticas de Sidney, solicitei a reserva duma viatura por três dias, tendo pago o serviço.
No dia previsto para viajar, lá fui com a minha mala até ao escritório da empresa de aluguer de automóveis, para receber o carro. Apresentei os documentos habituais, passaporte e licença internacional de condução, para ser surpreendido quando me pediram a minha carta de condução de Portugal. Não a tenho comigo, deixei-a em Portugal, pensando que seria inútil.
Segundo os empregados da empresa, a lei australiana obriga os clientes estrangeiros a apresentarem, para além da licença internacional, a do país de origem.
Desiludido, resolvi viajar de comboio. Da estação central de Sidney até Wentworth Falls são quase duas horas de viagem, com muitas paragens.
Chegado a Wentworth Falls, encontro-me com a Katherine, sobrinha da Cecilie, amiga residente em Hamilton, NZ. A Katherine reside há vários anos nesta pequena localidade, com o Garth, seu companheiro.
Nessa noite, jantamos em casa deles, na companhia dum casal amigo e vizinho, Roslynn e Brian, e lá durmo.
Como não tenho carro, a Roslynn fez o favor de nos emprestar o dela, para eu e a Katherine podermos dar um passeio pela região. Assim, no dia seguinte, percorremos algumas dezenas de quilómetros à volta de Wentworth Falls, para poder ver um pouco da área das Blue Mountains. Esta está hoje classificada como Património Natural da Humanidade, pela Unesco, e compreende o território de vários Parques Naturais, com uma área total de cerca de 1.000.000 de hectares.
O nome da região, Blue Mountains, é atribuído à tonalidade azul que normalmente se observa na luz, reflectida pelas copas dos eucaliptos que cobrem a maioria do terreno.
A topografia do terreno é definida por montanhas não muito altas, com ravinas íngremes que se despenham em vales extensos, cobertos por densas florestas.
De referir que há poucos anos, foi aqui descoberta uma espécie arbórea que se julgava extinta há milhões de anos, o pinheiro Wollemi.
As paisagens são magníficas, podendo os visitantes caminhar em muitos locais, por percursos construídos para o efeito.
Na companhia da Katherine, visitámos as áreas de Wentworth Falls, Blackheath, na qual se encontravam encerrados muitos dos caminhos pedestres, devido a um grande incêndio ocorrido no final de 2006, que devastou milhares de hectares de vegetação, e a área de Katoomba, o principal centro habitacional da região.
É aqui que eu fico, despedindo-me da Katherine. Depois de instalado num motel, caminho até ao Echo Point, estupendo miradouro, não apenas pela localização, mas também pela adaptação efectuada há poucos anos para melhorar as condições dos visitantes.
Deste local, podemos observar um panorama grandioso, que inclui umas formações rochosas chamadas Three Sisters, provavelmente a maior atracção natural da região. As Three Sisters podem também ser observadas mais de perto, caminhando por um trilho, o que eu faço.
A pouca distância de Echo Point, situa-se uma outra atracção chamada Scenic World. Este é um empreendimento privado, que permite aos visitantes descerem ao vale, utilizando dois meios de transporte: um comboio que começou por ser utilizado no final do século XIX, para transporte de mineiros que trabalhavam numa mina de carvão que ali funcionou, tendo mais tarde evoluído para o transporte de caminhantes que desciam ao vale, por um trilho precário, solicitando então aos mineiros que os transportassem de regresso ao topo, para evitar o esforço físico.
Hoje, para além desse comboio, que reclama para si ter o desnível mais acentuado no mundo, superior a 50%, existe um teleférico sofisticado, que desce cerca de 300 metros em poucos minutos, sendo este o meio de transporte que eu escolho. Chegado ao vale, percorro um caminho bem desenhado e construído, em plataformas elevadas, de madeira, com cerca de 2 km de extensão, que me permite observar de perto a floresta e vida animal. Este passeio passa também pelo local onde antigamente funcionou a mina, agora encerrada, com informação histórica interessante.
Para além dos dois meios de transporte mencionados, existe um terceiro que efectua um percurso horizontal, entre dois pontos elevados, suspenso por cabos, que permite observar na vertical a floresta situada no vale, sendo o piso da cabina em vidro.
Nos dois dias passados em Katoomba, merece ainda destaque o Restaurante Mes Amis, situado num edifício inicialmente construído para uma igreja, propriedade dum chefe de cozinha francês.

Agora é tempo de me concentrar na próxima etapa da minha viagem, que me vai levar a Singapura por três dias, para então seguir para Joanesburgo, na África do Sul.
A visita à África do Sul será também especial, porque nasci em África, em Angola, próximo da África do Sul, onde estive por diversas vezes, quando vivi em Angola, que deixei há 33 anos.
A minha estada na África do Sul, até ao meu regresso a Portugal, será passada na companhia de amigos sul-africanos, a Margie e o Bruce, que planearam uma viagem pelo país, percorrendo várias regiões, que aguardo com bastante expectativa.
Por ser a última etapa desta viagem, que prevejo seja bastante activa, penso não publicar qualquer crónica nas próximas semanas, mesmo que tenha acesso à Internet.

14 abril 2007















O navio Waimarie, a navegar no Rio Whanganui.














Monte Ruapehu, Parque Tongariro.
Silica Rapids,
Monte Ruapehu,
Parque Tongariro.














Gentiana Bellidifolia-Variedade Australis, minúscula flor,
no Parque Tongariro.
Orakei Korako/
/The Hidden Valley.
Craters of the Moon, Taupo.
Huka Falls, Taupo.














Lago Tarawera, próximo de Rotorua,
com o Vulcão Tarawera em fundo.
A ILHA DO NORTE – DE WELLINGTON A AUCKLAND

No último dia de Março, regresso à Ilha do Norte, fazendo o percurso de barco entre Picton e Wellington.
Chegado a Wellington a meio da tarde, com tempo chuvoso, sigo viagem, pelo lado ocidental da ilha, a caminho de Wanganui, onde chego já de noite.
Wanganui é uma cidade interessante, localizada junto à foz do Rio Whanganui, que desagua no Mar da Tasmânia.
Uma das atracções de Wanganui é um barco antigo, movido a carvão, recuperado há alguns anos, após ter sido utilizado, como outros do mesmo estilo, durante muitos anos, como navio de carga e transporte de passageiros, no Rio Whanganui.
Hoje, o “Waimarie” navega de novo no rio, passeando visitantes a um ritmo de outrora. O leito do rio é tranquilo, o que possibilita uma viagem calma, apenas ensombrada por uma forte chuvada que fustigou o navio na parte final do percurso.
Outras das atracções de Wanganui são os seus belos jardins, espaços de lazer propícios a passeios agradáveis e à contemplação da natureza, bem como às muitas aves que por aqui habitam.

De Wanganui dirijo-me para o interior, para norte, em direcção ao Parque Tongariro, o mais antigo de todos os Parques Naturais da NZ.
Para lá chegar, percorro mais uma bela estrada, sinuosa, primeiro ao longo do leito do Rio Whanganui, e mais tarde por entre florestas de pinheiros, subindo em direcção ao planalto central da ilha, onde se situa o Parque Tongariro.
Este parque tem um duplo estatuto de Património da Humanidade, como área natural e também cultural. Do ponto de vista da natureza, sobressaem três cumes montanhosos, vulcânicos, Tongariro, Ngauruhoe e Ruapehu.
Este último, um vulcão activo, teve recentemente, há poucas semanas, uma manifestação de vida que foi amplamente noticiada. O Monte Ruapehu, tinha a sua cratera repleta de água e detritos, sendo aguardada uma descarga parcial, mediante a ruptura duma parte da parede da cratera. Para prevenir tal acontecimento, designado como “lahar”, que em meados do século passado provocou uma tragédia, quando a torrente de lama e detritos colheu um comboio de passageiros, vitimados pela enxurrada, as autoridades procederam a uma série de trabalhos, no sentido de controlar os elementos da natureza, quando acontecesse a “lahar”.
E foi precisamente isso que aconteceu há pouco, quando mais de um milhão de metros cúbicos de lama e detritos, derramados pela cratera do vulcão Ruapehu, correram encosta abaixo, levando consigo tudo o que estava no seu caminho, mas sem qualquer prejuízo significativo, nem perdas humanas.

É pois na base do vulcão Ruapehu que eu vou passar as próximas duas noites, numa pequena povoação chamada Whakapapa, onde para além de alguns hotéis, existe um excelente centro de informações do DOC (Department of Conservation).
Neste parque, existem inúmeros passeios pedestres disponíveis, literalmente para todos os gostos e capacidades físicas dos caminhantes. Provavelmente o mais popular de todos, por muitos designado como “o mais belo passeio dum só dia da NZ”, seja o “Tongariro Crossing”, longo percurso pelo planalto, com vistas soberbas para os três vulcões e lagos de águas cristalinas.
Mas, o “Tongariro Crossing” é demasiado exigente para mim, pelo que me contento em fazer, no mesmo dia, dois outros belos passeios, cada um com cerca de tês horas de duração.
Pela manhã, comecei pelo “Sílica Rapids”, que começa numa espécie de estepe, na encosta do Ruapehu. Em determinada altura, chego ao local onde confluem dois pequenos rios que correm velozes montanha abaixo. Um deles, tem a água cristalina, o que não surpreende, mas o outro, Waikare, cujo leito dista do anterior apenas algumas dezenas de metros, apresenta uma cor amarela clara, como se alguém tivesse pintado o leito do rio, embora a água seja igualmente cristalina.
A coloração do leito deste rio deve-se ao facto da água conter minerais (em inglês, alumino-silicate) que vão sendo depositados no fundo, à medida que a água desliza pela encosta da montanha. Mesmo depois da junção dos dois rios, durante algumas centenas de metros, permanece a situação.
Continuando o passeio, ao longo deste rio, o trilho entra numa área florestal onde mais uma vez, encontro as aves mais engraçadas que conheço na NZ. Refiro-me aos pequenos “Fantails”, pouco maiores que pardais, que devem o nome ao facto de terem uma cauda que, em determinadas ocasiões abrem, como se dum leque se tratasse. Como se isto já não fosse suficientemente interessante, ainda se dão ao prazer de se aproximarem dos caminhantes, normalmente em áreas com bastante vegetação, fazendo um voo errante, como se fossem borboletas, à nossa volta. Habitualmente, os “Fantails” apresentam-se em pares, provavelmente casais.
Depois de cruzar alguns outros cursos de água, sempre por pontes de madeira, o percurso termina junto à estrada que sobe para a estância de esqui que se encontra alguns quilómetros acima de Whakapapa.
Após o almoço, avanço para o segundo passeio do dia, “Taranaki Falls”, que começa à porta do hotel onde me encontro. Também este começa numa área de vegetação rasteira, para depois passar por uma floresta, voltando aos espaços amplos, rochosos, até alcançar o topo duma elevação, do qual se despenha a água dum pequeno rio, até alcançar a base, onde um pequeno lago de águas transparentes convida no mínimo à contemplação, prosseguindo então o leito do rio, já sereno.
Esta parte do percurso, ao longo do rio, por entre uma bela floresta, faço-a na companhia duma família irlandesa, o casal Paula e John, e os filhos Sadhbh (este nome irlandês pronuncia-se “Saive”) e Finn, residentes em Tóquio, Japão.
Eles estão pela primeira vez na NZ, aproveitando um curto período de férias, duma semana. Naturalmente, estão encantados.

No dia seguinte, parto do Parque Tongariro, seguindo para norte, abordando o Lago Taupo, o maior lago da NZ, por sul, percorrendo então o seu lado oriental, até chegar à cidade de Taupo.
Nesta parte do percurso, observo várias referências à abundância de trutas, nas águas do lago e nos cursos de água mais próximos. Aliás, esta região é considerada das melhores do mundo para a pesca de trutas, não apenas pela abundância destas, mas também pelo tamanho.
Infelizmente, a única forma de podermos apreciar este peixe, como comida, na NZ, é pescando-o, já que não se encontra à venda, sendo interdita a sua comercialização.
A cidade de Taupo, situada no lado norte do lago, goza das mesmas regalias doutras cidades da NZ: excelente localização, uma frente de lago com magnificas condições para passeios, piqueniques, ou simplesmente para praia, belos jardins (particularmente a Reserva Botânica Waipahihi) e, como valor acrescentado, locais próximos onde se podem observar manifestações secundárias de vulcanismo.
Estes sinais de vulcanismo, estão ligados a diversos vulcões activos que se encontram na Ilha do Norte, mas também a um vulcão extinto que existiu onde hoje está o Lago Taupo, que se formou quando aqui ocorreu a maior erupção vulcânica registada no planeta nos últimos milhares de anos. Esta erupção terá sido tão violenta que, toda a Ilha do Norte ficou coberta pelas cinzas emanadas pelo vulcão.
Das muitas áreas de interesse abertas a visitas, onde se podem observar manifestações secundárias de vulcanismo, próximas de Taupo, pude visitar “Craters of the Moon”, onde, numa área de dezenas de hectares, caminhamos quase sobre brasas, tantas são as erupções de gazes e líquidos que surgem de todos os lados.
Estas manifestações de energia provenientes do interior da terra resultam em constantes mutações à superfície, já que a NZ se encontra num ponto de confluência de duas placas tectónicas que se movimentam, colidindo.
Um pouco mais distante de Taupo, situa-se a área de “Orakei Korako”, também conhecida como “Hidden Valley”. A entrada nesta área faz-se através dum lago, que se percorre de barco, para então caminharmos por um trilho que nos leva a diversos locais onde ocorrem grande quantidade, e maior variedade, de manifestações secundárias de vulcanismo, que no local anteriormente descrito.
Ainda nos arredores de Taupo, merece destaque o local designado “Huka Falls”, onde o leito do Rio Waikato, um dos mais importantes da Ilha do Norte, estreita subitamente, fazendo com que as águas percorram um longo canal rochoso, com cerca de 15 metros de largura, ganhando velocidade e força, para então se despenharem numa pequena mas vigorosa queda de água.

De Taupo, viajo um pouco para norte, para Rotorua, também ela situada junto a um grande lago, com o mesmo nome, cidade importante, sobretudo pela cultura Maori, que tem nesta região a sua presença mais significativa, e também pelas abundantes manifestações secundárias de vulcanismo.
A minha curta estada em Rotorua permite-me apenas visitar os arredores localizados a sudeste, onde se encontram vários outros lagos. Um destes, o maior, Lago Tarawera, de grande beleza cénica, tem ao seu lado o Monte Tarawera, vulcão inactivo, que em 1886 teve uma violenta erupção, a qual destruiu uma área então designada de Terraços Brancos e Rosa, que pela beleza e dimensão era uma atracção turística importante nesta região.
Infelizmente, a erupção vulcânica de 1886 do Vulcão Tarawera fez com que os Terraços fossem submersos pelas águas do Lago Tarawera mas, mesmo assim, a área atrai a atenção de muitas pessoas, como atestam as centenas de casas que bordejam o lado ocidental do lago.

De Rotorua sigo para Hamilton, para me despedir da minha amiga Cecilie, que me acolhe com muita alegria e carinho, para então fazer o último percurso de estrada até Auckland.
Aqui, antes de sair da NZ, fico duas noites, para tratar de alguns aspectos logísticos, e para me despedir da NZ.
No último dia passado em Auckland, almoço no Mercado de Peixe, deliciando-me com uma dúzia de ostras de Bluff, e admiro mais uma vez os magníficos iates que se encontram no Porto de Recreio mais próximo do centro da cidade.

Setenta e quatro dias passados na NZ, quase 7.000 km percorridos nas suas estradas, e duas mil seiscentas e trinta e quatro fotografias aqui tiradas, resultam numa experiência inolvidável, que me fará cá voltar, logo que possível.

Agora, sigo para a Austrália, com três objectivos: visitar amigos lá residentes, conhecer melhor a cidade de Sidney, e descansar.