23 fevereiro 2008


Passageiros em trânsito, no aeroporto de Frankfurt, Alemanha.
ANO NOVO, CASA NOVA

Depois de quase dois anos a viver com amigos e em hotéis, decidi voltar a ter uma casa para habitar, enquanto estiver em Portugal.
Por gosto, escolhi o concelho de Cascais, área que me é familiar, onde tenho agora um apartamento com vista panorâmica para o mar.
Há muito tempo que não dispunha de tanto espaço e privacidade, o que me permite viver de modo diferente.

Entretanto, aproveito este período para organizar melhor a minha vida e, fazer planos para o futuro. Para já, preparo várias viagens para os próximos meses, das quais falarei oportunamente.
Dezembro de 2007: Londres, Soho,
Carnaby Street.

Visita de uma semana a Londres, da qual não publico impressões,
por razões pessoais.















Singapura: The Fullerton Hotel,
com o rio Singapura em primeiro plano.














Singapura: The Gateway - Conjunto arquitectónico de escritórios.
SINGAPURA – A ALDEIA GLOBAL

Setembro de 2007

No hotel onde me encontro, em Singapura, todas as manhãs, ao abrir a porta do meu quarto, encontro o jornal diário The Straits Times dentro dum saco, pendurado na porta do quarto.
Hoje, uma das notícias de primeira página, tem uma fotografia de alguém que me é familiar, José Mourinho, o treinador de futebol, português.
A razão deste destaque prende-se com a saída de José Mourinho do Chelsea, clube que treinou nos últimos anos.
Em Singapura, como em muitos outros países que conheço, o futebol é um desporto extremamente popular. Com a acessibilidade da televisão e da internet, em Singapura como no resto do mundo, os adeptos acompanham em tempo real os acontecimentos do mundo futebolístico, e em particular dos principais campeonatos europeus.
Talvez pelo facto de Singapura ter sido uma colónia britânica, aqui o futebol inglês é vivido com paixão. Dias depois de José Mourinho ter saído do Chelsea, este clube defrontou o Manchester United, um jogo acompanhado em directo pela televisão em Singapura, num domingo à noite. Nesta noite, tendo jantado num local público, Chijmes (antigo mosteiro, entretanto reconvertido para espaços de restauração), observei a presença de muitos residentes e visitantes (muitos dos quais vestindo camisolas dos clubes intervenientes), que ali se deslocaram propositadamente para verem o jogo de futebol, em grandes ecrãs. Parecia que estávamos em Inglaterra.
Ainda sobre o fenómeno do futebol, refiro que, em Singapura, quando me identifico como português, quase todos aqueles com quem falo reagem com referencias elogiosas à qualidade do futebol português, identificando facilmente algumas das estrelas portuguesas deste desporto, com Cristiano Ronaldo à cabeça.

Estes aspectos futebolísticos exemplificam o que o Mundo hoje é: uma aldeia global.
No caso de Singapura, por ser um pequeno estado, simultaneamente uma ilha, talvez as influências globais sejam mais perceptíveis.
No plano económico, as duas áreas nas quais Singapura se identifica facilmente como importante praça internacional, a financeira e a comercial, são uma grande montra do mundo actual. Todas, ou a grande maioria das mais importantes marcas internacionais, aqui estão presentes.
Na indústria financeira, os maiores bancos e outras empresas do sector, ocupam espaços privilegiados, particularmente no centro da cidade.
Na principal sala de espectáculos musicais de Singapura, Esplanade, algumas das instituições financeiras têm camarotes privativos, onde proporcionam momentos de prazer aos seus melhores clientes.
Na área comercial, impressiona a quantidade e qualidade dos centros comerciais, que atraem residentes e visitantes, oferecendo o que de melhor, e também o oposto, que se produz no mundo.
Dos muitos casos curiosos de oferta comercial em Singapura, recordo o de um dos centros mais visitados no qual existe uma loja da Lacoste, prestigiada marca francesa de roupa, situada a poucos metros de distância duma outra loja, duma marca que me é desconhecida, Alligator. Esta tem também como símbolo o crocodilo, e produz roupa, com algumas semelhanças com a da Lacoste.
De resto, na área comercial, observo a oferta de produtos nalgumas áreas, como a das águas de mesa, onde as marcas francesas e italianas dominam, com a curiosidade de se encontrar também uma água mineral de marca Fiji, originária precisamente das ilhas Fiji.
Já no que respeita aos vinhos servidos em restaurantes, para além dos tradicionais países produtores, França e Itália, estão hoje presentes com regularidade os novos países produtores de vinho, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, E.U.A., Chile e Argentina.
Vinhos portugueses raramente se encontram nas cartas, com a excepção dos vinhos do Porto.
Já agora, mais uma curiosidade na área alimentar: num dos dois hotéis onde residi durante a minha estada de duas semanas em Singapura, os iogurtes servidos ao pequeno-almoço são suíços, e a manteiga, francesa.

Um dos aspectos mais atraentes de Singapura, para mim, é a diversidade e qualidade da oferta alimentar, incluindo restaurantes.
Sendo este pequeno estado composto por inúmeras comunidades internacionais, com as chinesa, malaia e indiana em maioria, aqui encontramos muitos e bons restaurantes de culturas diversas.
Numa das minhas experiências gastronómicas, visitei o restaurante iraniano, Shiraz, situado numa das áreas mais populares de vida nocturna da cidade, Clarke Quay.
Este restaurante oferece a genuína cozinha persa, num ambiente sofisticado, com espectáculos de dança do ventre, executados por uma dançarina russa. Aliás, este pormenor exemplificativo do mundo sem fronteiras onde vivemos, faz-me lembrar o dum outro restaurante, em Tanger, Marrocos, no Hotel El Minzah, onde uma das dançarinas que lá trabalha é argentina.

A minha estada em Singapura coincidiu com um período festivo com o nome de Mid-Autumn Festival, que, de acordo com a tradição chinesa, celebra a lua cheia de Setembro.
Segundo a Zhou, amiga que reside em Singapura desde o início deste ano, nascida e criada na China, esta festa anual é bastante importante para os chineses, que nela celebram os laços familiares e de amizade.
Um dos aspectos mais populares do Mid-Autumn Festival é o dos “mooncakes” – em tradução livre, bolos da lua – que nesta época do ano proliferam nos restaurantes, pastelarias e outras áreas comerciais. Tal é a popularidade deste doce tradicional chinês que, as pessoas procuram incessantemente os melhores exemplares para os degustarem, e as casas comerciais promovem fortemente os seus produtos, apresentando-os ao público em embalagens sofisticadas.
No âmbito do Mid-Autumn Festival, decorreu no principal Centro Cultural de Singapura, Esplanade, o Moonfest 2007, festival de actividades culturais chinesas, que apresentou espectáculos muito diversos.
Um deles, a que assisti, The Butterfly Lovers, é uma peça tradicional de teatro musical, interpretada ao estilo da Ópera Yue. Este género de ópera chinesa tem a particularidade de ser sempre interpretado por mulheres, mesmo para os papéis masculinos.
A obra teve uma excelente interpretação, complementada por magnífica cenografia.

Num dos últimos dias passados em Singapura, caminhando na Orchard Road, a avenida com maior concentração de áreas comerciais da cidade, com os passeios amplos sempre repletos de gente, apercebi-me do som de música do Brasil, de uma bateria de samba.
Naturalmente, pensei que um grupo de músicos brasileiros estaria a exibir os seus talentos musicais em Singapura. Procurando a origem desta música vibrante, encontrei uma pequena multidão que rodeava o grupo de músicos.
Surpreendentemente, aproximando-me do local da festa musical, encontrei um grupo de algumas dezenas de jovens, munidos de pandeiros e outros instrumentos tradicionais da música brasileira, sendo que todos tinham feições orientais, o que me levou a reconsiderar a origem étnica dos membros deste grupo.
Seguramente que, estes jovens músicos não são brasileiros, embora interpretem os ritmos do samba de forma calorosa. Já a plateia, estática, embora interessada, não tem no sangue o fulgor e a espontaneidade dos brasileiros que, perante estímulos musicais como este, dança compulsivamente.

De regresso a Portugal, via Alemanha, recordo as experiências multiculturais vividas, que fazem de Singapura um local fascinante.