30 maio 2005


2004, Algarve: Ana e Fernando.

2004, Azenhas do Mar: Ana, Clara e Jack.

2004, Algarve, Quinta do Lago: da esquerda para a direita, Joca, Ana, Ana Isabel, Romy e Eduardo Jorge.

2003, Albufeira de Alqueva, próximo da Adeia da Luz: Ana e Paula.

2003, Albufeira de Alqueva, próximo da Aldeia da Luz: Ana, Maurício e Paula.

2002: a Ana e o Moha em nossa casa, prontos para comer uma sopa de peixe, preparada pela Ana.

S. João do Estoril: Vista de minha casa para poente.

Viagem a Marrocos - Maio de 2005

As fotografias que se seguem foram feitas no decurso de uma viagem recente a Marrocos, excepto as últimas, de anos anteriores.
Desta recente viagem redigi um diário, publicado a seguir às fotografias, seguindo um hábito que a Ana cumpriu nas viagens que fizemos juntos.

Maio 2005, Espanha, Tarifa: ventos de mudança, para a minha vida.

Maio 2005, Marrocos, Tanger: o Thor e eu, com a costa do sul de Espanha em fundo.

Maio 2005, Marrocos, Tanger: o Thor e o Olivier, na Legação Americana, da qual o Thor é o Director residente.

Maio 2005, Marrocos, Meknes: o sector da pastelaria marroquina, no mercado.

Maio 2005, Marrocos, Meknes: o esplendor da pastelaria marroquina.

Maio 2005, Marrocos, Meknes: o Olivier, no reino das azeitonas.

Maio 2005, Marrocos, Meknes: o império das azeitonas (zitoun), e outras iguarias, no mercado.

Maio 2005, Marrocos, Marraquexe: Moha e os filhos, Luca e Antoine, no Bled.

Maio 2005, Marrocos, Essaouira (antiga Mogador): vista parcial das muralhas da Skala.

Maio 2005, Marrocos, Essaouira: uma gata exótica.

Maio 2005, Marrocos, Oualidia: paraíso natural, com ostras. Um regalo para a vista, e para o estômago do Olivier.

Maio 2005, Marrocos, El Jadida: a cisterna portuguesa, na antiga cidade de Mazagão.

Maio 2005, Marrocos, Tanger: um brinde à vida, entre o Thor e o Olivier, na Legação Americana.

Marrocos: Painel de azulejos (zellij).

2002, Marrocos, Casablanca: Bairro Habous.

2002, Marrocos, Casablanca: Bairro Habous.

2002, Marrocos, Marraquexe: Escola religiosa (Medersa) Ben Youssef.

2003, Marrocos, Marraquexe: Alma, Moha e Luca no "Bled", nos arredores da cidade.

2003, Marrocos, Marraquexe, Praça Jemaa-el-Fna: José Maria Teixeira.

2003, Marrocos, Marraquexe, Praça Jemaa-el-Fna: uma festa para os sentidos.

27 maio 2005

VIAGEM A MARROCOS - MAIO DE 2005

12 de Maio de 2005: viajei no meu carro, sozinho, até Tarifa (pouco mais de 600 kms.), no sul de Espanha, para me encontrar com o OLIVIER, amigo equatoriano, que reside em Málaga.
Esta foi a primeira vez que viajei sem a companhia da Ana, após a sua morte, há cerca de dois meses atrás. A sua ausência faz com que me sinta só e triste, não apenas pela ausência, mas também e sobretudo por saber que ela não voltará a desfrutar do prazer de viver.
Após cerca de sete horas de viagem, sem nada de significativo a assinalar, cheguei a Tarifa, onde já se encontrava o Olivier. Aí, fomos informados que já não haveria nenhuma travessia de barco rápido, naquele dia, para Tanger, supostamente devido ao estado do mar. Para não passarmos a noite na Europa, fomos para Algeciras (cerca de 20 km.), de onde saem barcos mais lentos mas, fiáveis. Aí, tivemos acesso a um navio que nos transportou para Tanger, em cerca de três horas, com mar calmo.
Chegados a TANGER e a África, saímos do porto sem grandes demoras, coisa sempre imprevisível, dada a irregularidade dos procedimentos alfandegários. Seguimos imediatamente para o hotel Dawliz, onde o meu amigo THOR, residente em Marrocos há catorze anos, havia reservado dois quartos para nós.

13 de Maio: de manhã, fomos visitar o Thor, na Legação Americana, instituição norte-americana de carácter museológico e cultural. Aí encontrámos o Thor, recém-chegado dos E.U.A., onde ainda se encontra a sua esposa, Elizabeth.
Fomos recebidos com muita simpatia, e o Olivier, que está em Marrocos, e em África pela primeira vez, teve logo uma primeira situação para recordar, visitando as instalações da Legação Americana, na companhia do Thor. Ao final da manhã, fomos os três almoçar, num restaurante recomendado pelo Thor, Laachiri, em Ksar Seguir, vila piscatória a leste de Tanger (cerca de meia hora de carro). Nesta localidade, em plena praia, encontra-se um forte português, em ruínas.
Após o almoço, avançámos mais alguns quilómetros para leste, para observar o local onde se encontra em construção o futuro porto de Tanger, projecto de grande envergadura.
De volta a Tanger, fomos visitar a casa do Moha (amigo de Marraquexe) que está em reconstrução. A casa é vizinha da Legação Americana e apraz-me registar que o Thor e o Moha têm uma boa relação pessoal. A obra em curso deverá terminar dentro de poucas semanas, e creio que o Moha irá colocar a casa à disposição de visitantes, como turismo de habitação.
Saímos para dar um passeio a pé, pela Medina de Tanger. O Olivier cedo se encantou com a riqueza de produtos artesanais à venda nas lojas. Levei-o à loja do Majid, Boutique Majid, amigo do Thor, que tem uma filha a residir no Algarve (Lagos). Trata-se de uma excelente loja, com uma variedade de produtos de boa qualidade. Aqui o Olivier fez as suas primeiras compras em Marrocos, ajudado pelo próprio Majid, que pacientemente o aconselhou.
Antes do jantar, ainda fomos à Perfumaria Madini, provavelmente a melhor de Marrocos, onde se encontram, para além de perfumes originais, réplicas de perfumes de dezenas de marcas internacionais, por uma fracção do preço destas.
Fomos então os dois jantar ao Restaurante Korsan, no Hotel Minzah, onde o Olivier pôde cumprir um desejo, que era o de ver uma interpretação da dança do ventre. Neste local, a particularidade é que a dançarina é … argentina.

14 de Maio: saímos de Tanger de manhã, tendo como destino Marraquexe. Eu tinha decidido fazer um percurso que havia feito há anos atrás, e que passa por áreas de grande beleza paisagística. Não calculei correctamente a distancia a percorrer, o que fez com que no final do dia, tivéssemos feito cerca de 850 kms, tendo chegado a Marraquexe cerca das 23 horas.
Pelo caminho, passámos em MEKNES, onde parámos para visitar o mercado de bens alimentares, no centro da Medina, que eu considero um dos mais interessantes de Marrocos, particularmente no que respeita a azeitonas e doçaria (patisserie marrocaine). Para o Olivier foi uma experiência memorável. Ambos comprámos coisas diversas, depois de comermos quase tudo o que os vendedores nos ofereceram.
As paisagens observadas no percurso de hoje corresponderam às expectativas, embora já predominem os tons de Verão (castanhos). Para o meu gosto, é melhor fazer estes percursos nos meses de Inverno, nos quais impera o verde.
Entretanto, constatámos que existe um controlo policial frequente nas estradas de Marrocos, quer seja por razões de segurança rodoviária, ou outras. Em muitos casos, os polícias utilizam radares portáteis para medir a velocidade das viaturas. Como ultrapassámos frequentemente o limite, acabámos por ser multados em 400 dirhames, na auto-estrada, próximo de Meknes.
Ao chegarmos a MARRAQUEXE, passámos pelo Dar Moha, onde estava a trabalhar o meu amigo MOHA, proprietário e chefe de cozinha do restaurante. Apesar da hora, o restaurante ainda estava quase cheio, e a recepcionista, Sanaa, disse-nos que tinham tido cerca de 120 clientes naquela noite, para jantar. Como o Moha estava ocupado, fomos conduzidos pelo Rachid até ao local onde iríamos pernoitar, também propriedade do Moha.
Chegados ao Le Bled, propriedade rural a poucos quilómetros de Marraquexe, fomos brindados por um jantar/ceia opíparo, feito pela cozinheira, Malika.

15 de Maio: de manhã ficámos a descansar no Bled, e recebemos a visita do MOHA e da ALMA, acompanhados pelos filhos, ANTOINE, LEO e LUCA. Fomos almoçar a um restaurante, L’Abyssin, situado na Palmerie, que é um exemplo do que está a acontecer em Marraquexe em termos de desenvolvimento de espaços comerciais híbridos, destinados a satisfazer uma clientela internacional, que não se interessa tanto pelos aspectos culturais marroquinos, mas mais pelas modas sociais.
No almoço, fomos acompanhados por uma amiga da Alma e do Moha, FRANÇOISE ATLAN, cantora de música antiga, e do seu filho, ELIAS. A Françoise nasceu na Argélia e actualmente vive em Marraquexe. Já actuou em Portugal há alguns anos atrás, e tem conhecimentos avançados da nossa cultura e história.
Após o almoço, visitámos as casas da Françoise e da Alma e do Moha, após o que me encontrei com o AZIZ, a quem dei a notícia da morte da Ana. O Aziz vive com a mãe e tem uma irmã que vive em Faro, Portugal.
Jantámos num dos meus restaurantes preferidos de Marraquexe, Al Fassia, onde apesar de já não me verem há mais de dois anos, algumas das empregadas me reconheceram, e inclusive uma delas me identificou pelo nome. Comemos o que eu considero o melhor prato de borrego, que é “Épaule d’agneau dorée”. O Olivier deliciou-se.
Já tarde, fomos dar um pequeno passeio pela Praça Jemaa el Fna, onde os restaurantes ainda estavam a trabalhar mas, as outras actividades já não. A área da Praça está agora mais cuidada, sendo interdito o acesso de automóveis.

16 de Maio: de manhã estive a conversar com o Moha, no Bled. A segunda-feira é o dia em que ele está mais livre, já que o restaurante está fechado. Falámos de projectos que ele tem, e da possibilidade de concretizarmos um restaurante de cozinha marroquina em Lisboa. Ele mostrou-se disponível para avançar com este projecto, quando eu quiser.
Ao final da manhã, eu e o Olivier fomos à cidade. Estivemos na parte Sul da Medina, e pude confirmar a vontade do Olivier em comprar o máximo de coisas possível. Frente aos Túmulos Saadianos, comemos num local simpático chamado Nid’ Cigogne.
Enquanto o Olivier foi visitar os Túmulos Saadianos, eu fui espreitar um Hotel/Riad, La Sultana, situado nas imediações. O exterior é magnífico, e o interior deve corresponder mas, não me permitiram visitá-lo.
À noite, convidámos o Moha e a Alma para jantar, atenção mínima para com eles, já que nos receberam com extrema atenção e amizade, oferecendo-nos a estada no Bled. Juntou-se a nós a Françoise Atlan, e fomos a um local recente, gigantesco, que inclui dois restaurantes, bares e uma discoteca, que só ela parece ter capacidade para 2.000 pessoas. O restaurante em que jantámos chama-se Jana, tem capacidade para 250 clientes, e foi desenhado pelo Arquitecto português Câncio Martins, que é conhecido no mundo da decoração de interiores, sobretudo de espaços de entretenimento, como por exemplo o Buda Bar, em Paris. O espaço do restaurante é elegante, ao estilo marroquino, a comida é razoável (comi o mesmo que na véspera, no Al Fassia, mas com menor satisfação), mas o mais interessante do local, foi o músico que actuou a solo, um jovem negro natural de um ponto perdido no sul de Marrocos, que toca com um instrumento chamado qanún, originário do médio oriente, da família da citara. Foi absolutamente magnífico, e até a Françoise, cantora profissional ficou impressionada com a voz do jovem, já que ele também canta, com uma voz de falsete (?).
De referir que, a área na qual se encontra este mega-complexo, está em desenvolvimento urbanístico acelerado, sobretudo com a construção de condomínios residenciais de luxo (também aqui chega esta moda). A Alma disse-nos que um dos que se encontra em construção começou por vender as casas a cerca de 120.000 €, e menos de um ano depois, ainda por terminar a construção, o preço já subiu para 270.000 €.

17 de Maio: começámos o dia visitando o restaurante do Moha, para eu descarregar umas fotografias que fiz em Tanger, no computador dele. Tive o prazer de rever os empregados que já conheço de visitas anteriores, alguns dos quais me reconhecem pelo nome. Tocante foi o facto de alguns me terem apresentado condolências pela morte da Ana.
Entretanto, o Olivier foi com o Moha, de motocicleta, visitar umas lojas para fazer mais compras. No percurso, pararam num restaurante incógnito da Medina, para o Moha comer, tendo pago um preço ridículo, para os nossos padrões.
A Alma e o Moha partiram hoje para Tanger, para visitarem a casa que lá têm, e controlarem o final das obras.
O Olivier foi sozinho fazer mais compras, e eu fui passear pela Medina, o que me dá sempre muito prazer. Para além do comportamento dos residentes, sempre interessante, pude confirmar que, nesta época do ano Marraquexe está cheia de turistas, sobretudo europeus, particularmente franceses, e que a presença comercial de residentes estrangeiros na Medina é cada vez maior.
À noite, jantámos no Dar Moha. Sentámo-nos numa mesa ao lado da piscina, e fomos servidos pelo Rachid, excelente profissional, como todos os outros empregados de mesa deste restaurante. O Moha havia deixado instruções precisas acerca do nosso jantar, pelo que fomos regalados com um banquete opíparo. Começámos com as saladas marroquinas, para mim as melhores de Marrocos, seguidas por três pequenas pastillas, após o que nos serviram um prato especial (indisponível para os clientes normais) que é um couscous com paté e óleo de argão. Continuando, vieram cinco tagines (peixe, frango, borrego, vaca e trid de pombo). Tivemos ainda direito a quatro doces e a chá de hortelã, este servido numa das salas interiores, já que a noite estava fria. Tal como eu suspeitava, e apesar de ter pedido naquela manhã ao Moha para nos deixar pagar o jantar, o Rachid e a Sanaa (recepcionista) disseram-nos que éramos convidados do Moha. Três horas durou esta maratona gastronómica, que comprovou a elevada qualidade do restaurante do Moha, mesmo quando ele está ausente.

18 de Maio: feitas as despedidas no Bled, guardo na memória sobretudo a extrema simpatia da Malika, cozinheira e responsável pelo serviço de quartos. Saímos de Marraquexe em direcção a Essaouira, cerca de 180 quilómetros de paisagens áridas, excepto na parte final, quando os campos ondulados se apresentam repletos de oliveiras e árvores do argão (arganier em francês).
Chegados a ESSAOUIRA, comprovámos de imediato a reputação que a cidade tem de ser a capital do vento em Marrocos. Mar encapelado, windsurfistas a planarem sobre a água, graças ao vento forte e constante que varre esta área.
Fomos comer ao Café Taros, propriedade de franceses, que passa por ser o ponto de encontro dos visitantes estrangeiros. Aqui voltámos mais tarde para jantar um bom peixe.
Depois de termos passado pelo posto de turismo, pouco útil, fomos visitar um B&B recente chamado Madada Mogador, nas imediações do posto de turismo. Não tinham quartos para nós mas, a proprietária (monegasca) simpática e lesta, tratou de telefonar para outros locais, e encontrou quartos disponíveis num chamado Les Terraces d’Essaouira. Alguém nos conduziu até este, e decidimos ficar. Fui ao carro buscar a bagagem, na companhia de um jovem empregado do hotel, Younes, muito simpático. Em Essaouira os automóveis têm que ficar no exterior da Medina, o que se traduz num benefício para todos os que lá vivem e circulam.

19 de Maio: dia passado a pé, na Medina de Essaouira. Contrariamente ao dia anterior, este apresentou-se apenas com uma leve brisa, o que o tornou mais agradável.
De manhã, passeámos pela área dos Souk, e visitámos um Hotel que nos havia sido recomendado pela Françoise Atlan, chamado L’Heure Bleu, próximo da Bab (porta) Marraquexe. Para quem queira e possa pagar entre 200 a 300 € por noite, este é o local certo para ficar em Essaouira.
Almoçámos numa casa de crepes, Crêperie Mogador, propriedade de uma jovem bretã, Morgane, amabilíssima, casada com um marroquino.
Há tarde continuámos a passear, e aproveitei para entregar uma fotografia a um artesão de trabalhos em madeira (especialidade de Essaouira), que tinha sido feita há cerca de cinco anos atrás, quando aqui estive pela primeira vez, na companhia da Lyin Martin. Ele ficou muito satisfeito, e ofereceu-me dois pequenos camelos de madeira.
Jantámos no Restaurante La Licorne cujo espaço interior é interessante mas, não tem o mesmo nível na cozinha.

20 de Maio: saída para Casablanca onde nos espera o José Maria Teixeira, aí residente. Tomámos a estrada costeira, da qual se alcançam muitos quilómetros de praia deserta. A primeira paragem é em SAFI, maior porto pesqueiro de Marrocos, e centro de cerâmica artesanal.
Seguimos em direcção a OUALIDIA, vila piscatória à beira do oceano e de uma ria, que formam um conjunto de rara beleza natural. Para além disto é um centro reputado de produção de ostras, pelo que almoçámos no restaurante da empresa produtora de ostras (Ostéa). Infelizmente eu só as vi em cima da mesa, para o Olivier, já que estava com um desarranjo intestinal, pelo que não quis arriscar. Comi um bom peixe grelhado e o Olivier regalou-se com uma dúzia de ostras, pela qual pagámos pouco mais que 5 €.
Voltando à estrada, subimos em direcção a EL JADIDA, antiga Mazagão, ocupada durante alguns séculos pelos portugueses. Assim, existe uma parte fortificada, chamada Cité Portugaise, onde encontramos várias referências a Portugal, como por exemplo placas toponímicas em português. Embora o conjunto arquitectónico seja interessante, está bastante degradado, salvando-se a cisterna de água, monumental.
A parte final desta etapa foi até CASABLANCA, com bastante tráfego. Chegados a casa do JOSÉ MARIA TEIXEIRA, fomos recebidos pela Habiba, a Khadija e o Aziz. Jantámos em casa.

21 de Maio: de manhã encontrei-me com a Fatima-Zhora, proprietária da loja La Maison du Lin et du Coton, de quem me sinto próximo pelo seu gosto estético. Ela empenhou-se no projecto SOUK, e eu quis explicar-lhe as razões do insucesso do projecto, e do meu silêncio nos últimos dois anos.
Passámos na pastelaria Traiteur Tazi, onde comprei doces da chamada “patisserie marrocaine”, tendo pago a 120 dirhams o kg, cerca do dobro do preço pago no mercado de Meknes, onde aliás há maior variedade.
Entretanto, a Rosa de Vito, minha vizinha, está cá em Marrocos, de visita a uma amiga marroquina, Anisa, que tem um irmão arquitecto, Rachid Ouazzani, residente em Casablanca, numa boa vivenda, na área da Corniche, com vista para o mar. Fomos muito bem recebidos em sua casa, onde apesar de termos dito que não nos demoraríamos, por termos ainda que fazer cerca de 300 km até Tanger e fazer a viagem de barco para a Europa, acabámos por almoçar. Contrafeitos, deixámos os novos amigos que nos receberam de modo tão caloroso, e dirigimo-nos para Tanger, onde chegámos ao final da tarde.
Fomos visitar o Thor, à Legação Americana, que nos recebeu de braços abertos. Quis saber como tinha decorrido a nossa estada em Marrocos, e falou-nos de um almoço que tinha ocorrido hoje na Legação, para um grupo de pessoas ligadas a uma empresa francesa com actividade em Marrocos. Ofereceu-nos champanhe francês e pastelaria marroquina, que tinham sobrado do almoço. Brindámos ao nosso reencontro e à vida.
Com alguma tristeza, por estarmos a terminar a nossa estada em Marrocos, dirigimo-nos para o porto, afim de embarcarmos. Encontrámos várias viaturas de competição todo o terreno, que estavam a chegar a Marrocos, provavelmente para participarem no Rali de Marrocos. Quanto ao barco que nos transportou para a Europa, calhou-nos na sorte o IBN BATOUTA, nome do grande viajante do mundo árabe, nascido em Tanger no século XIV. A travessia marítima fez-se sob o luar de uma lua quase cheia, numa noite cálida e mar chão.
Já de madrugada, chegámos a Torremolinos, onde o Olivier vive com a família.

22 de Maio: levantámo-nos tarde. Tive a oportunidade de reencontrar a BEGOÑA, companheira do Olivier, e de conhecer os filhos deles, Roberto, Nicolas e Isabel.
Feitas as despedidas, ao fim da manhã voltei à estrada para fazer o percurso até Portugal. Após ter passado Sevilha, optei por uma estrada que havia percorrido há três anos, no mesmo sentido, na companhia do Ana e do Jack, quando regressámos de Tanger. Entrei em Portugal perto de Mourão e da albufeira do Alqueva. Nesta área estive há pouco mais de um ano com a Ana, onde passámos dois dias, naquele que foi o nosso último passeio, com ela já em dificuldades. Apesar da luminosidade deste final de tarde, sinto-me novamente triste pela ausência da Ana.
No caminho para minha casa, vazia mas cheia de memórias da Ana, passei por casa da Paula e do Maurício, para partilhar algumas das histórias deste passeio a Marrocos. Como sempre, receberam-me de braços abertos, o que me fez sentir melhor.

Conclusões: este meu regresso a Marrocos permitiu-me revisitar um canto do mundo tão próximo de Portugal, que eu muito aprecio. Pude confirmar que os sentimentos humanos são comuns às pessoas, independentemente de onde vivem, qual a sua cultura, extracto social e inclinação religiosa.
Continuo a pensar que Portugal subestima as relações com este vizinho africano, com quem teve laços de sangue durante tantos séculos. Marrocos é hoje um país sedento de progresso, aberto a influências externas, e os sinais de Portugal são escassos.
De passagem por Espanha, que conheço mal, pude confirmar a qualidade das suas estradas, e sinalização das mesmas, comparativamente com as de Portugal, e que os combustíveis são substancialmente mais baratos lá do que cá.
Quanto a mim, reencontrei o prazer de viajar. É cada vez mais provável que eu vá percorrer outros caminhos do mundo, em busca de estímulos para viver com prazer, e para rever alguns amigos. Por enquanto, as memórias da Ana, que ainda são muitas e pesadas, condicionam a minha vida.