17 dezembro 2006















Granada: vista parcial do centro urbano, com destaque para a Catedral.
Em fundo, o Lago Nicarágua.
Granada: arquitectura de inspiração colonial.














Granada: Festas da Purissima, em honra de Nossa Sra. da Conceição.
Granada, centro de actividades Carita Feliz: Peder Kolind com algumas das crianças que frequentam o centro.














Granada: Mercedes León Medrano e Francisca Miranda León, respectivamente mãe e filha, no interior da sua casa.
Manágua, Mercado Roberto Huembes: Marcelina Rodriguez, 88 anos de idade, vendedora de artesanato.
NICARÁGUA – CURTA VISITA

De autocarro, chegamos à fronteira entre a Costa Rica e a Nicarágua, um dos países mais pobres das Américas.
Ali chegados, saímos todos para nos apresentarmos individualmente às autoridades da Costa Rica, após o que reentramos no autocarro, para avançar alguns metros, pagar uma taxa de entrada na Nicarágua, e apresentar toda a bagagem transportada à alfandega, para inspecção. Aqui, valeu-nos a sorte, já que as peças de bagagem inspeccionadas são escolhidas aleatoriamente, através dum semáforo. A nós, saiu a luz verde, pelo que voltámos a levar a bagagem para o autocarro, sem ser necessário abrir os muitos volumes transportados.
Na totalidade, na fronteira, permanecemos cerca de uma hora e meia. Durante aquele tempo, observámos a vida local.
Para além dos trabalhadores estatais de ambos os países, das muitas viaturas pesadas que ali permanecem por muito tempo, até conseguirem autorização para prosseguir viagem, chamaram-nos a atenção os muitos cambistas que transaccionam moeda dos dois países, na via pública. Aqui, pela primeira vez, recorri aos serviços destes agentes, para vender o excedente de Colones, moeda da Costa Rica, comprando Córdobas, moeda da Nicarágua. Na verdade, só utilizei este meio porque o banco da Nicarágua presente na fronteira, não compra Colones.
Para além dos cambistas, surgem muitas mulheres que vendem produtos diversos, sobretudo de alimentação, o que mais tarde, noutros locais, se revela recorrente, denotando a existência de uma forte classe de comerciantes domésticos que vendem de tudo um pouco, muitas vezes envolvendo vários membros de cada família.
Mas, nesta fronteira, no lado nicaraguense, o que mais me despertou a atenção foi a presença dum miúdo de idade inferior a dez anos, que vagueava por entre os presentes com um saco plástico na mão, onde guardava latas de refrigerantes vazias. Quando apanhava uma, colocava-a no chão, na vertical, e com o sapato calcava-a com força para a comprimir, após o que a guardava no saco.
Elucidativo acerca das necessidades económicas deste país, que tem uma elevada percentagem de jovens.

Retomada a viagem para Granada, lá chegamos ao início da noite. Saímos do autocarro, em local inóspito, para apanharmos um táxi que nos levou a uma morada, onde reside uma ex-colega minha, Lilly, norte-americana, que gentilmente nos ofereceu a sua casa.
Só então nos apercebemos que a cidade estava às escuras, por ter faltado a luz.
Assim, chegados à rua da Lilly, encontrámos a casa dela perguntando a algumas pessoas onde vive a senhora americana …
A Lilly vive na Nicarágua há um pouco mais de dois anos, tendo tomado essa decisão na sequência duma primeira visita ao país, e a Granada. Aqui comprou uma propriedade, na qual empreendeu uma série de reformas, ampliando-a, trabalhos que estão em fase de conclusão.
Uma das componentes do seu investimento é um bar, Santa Lucia Social Club, que ainda não está aberto ao público, devido a questões formais.
De resto, a Lilly está satisfeita pela mudança dos EUA para a Nicarágua, onde encontrou uma sociedade mais humana.

A Nicarágua encontra-se actualmente num período de expansão económica, também graças ao interesse de muitos estrangeiros que decidiram investir no país, e nalguns casos aqui residir. Em Granada, provavelmente a cidade com mais interesse arquitectónico do país, pela preservação de muitos dos seus edifícios coloniais, é notória a presença duma comunidade estrangeira residente.
No decurso dum pequeno-almoço, travámos conhecimento com um outro membro desta comunidade, Howard, também norte-americano, residente na América Central há vinte anos. O Howard, mudou-se há alguns anos da Costa Rica para a Nicarágua, e agora, devido à alteração politica anunciada para o inicio de 2007, com a eleição de Daniel Ortega para presidente do país, antevê tempos difíceis, para ele e outros residentes estrangeiros.
Como não pensa voltar a residir nos EUA, admite a possibilidade de se mudar para o Panamá.
Posição distinta, mais optimista, foi-nos manifestada por um outro estrangeiro aqui residente, Peder, dinamarquês, que conhecemos casualmente quando passámos frente a um edifício de sua propriedade, onde está instalado um museu que alberga a sua colecção de cerâmica antiga da região centro-americana.
Só por si, o museu e o seu conteúdo seriam suficientes para destacar esta figura da cidade de Granada. Mas, desde o primeiro contacto com Peder, o que mais me interessou foram sinais de intervenção social relevante dele nas comunidades locais desfavorecidas.
De forma discreta mas objectiva e convincente, Peder falou-nos de dois projectos que lidera, um dos quais visa apoiar o desenvolvimento intelectual, cultural e moral de crianças nicaraguenses, de famílias pobres.
O projecto “Carita Feliz” ( http://www.caritafeliz.org/ ) permite que centenas de crianças desfavorecidas acedam a recursos diversos, de modo a que possam crescer em plano de igualdade com outras crianças. O projecto é tão ambicioso que Peder acredita que futuramente alguns dos seus protegidos serão pessoas influentes na sociedade da Nicarágua.
Sensibilizados pelo alcance desta obra social, eu e a Dina visitámos as instalações da “Carita Feliz”, onde reencontrámos Peder, e confirmámos as melhores expectativas. Ali encontrámos dezenas de crianças empenhadas na prática de actividades tão distintas como costura, informática, artes visuais, cosmética e outras.
Embora não tenha sido solicitada qualquer contribuição financeira nossa, eu propus fazê-lo, pelo que irei em breve, apadrinhar algumas das crianças da “Carita Feliz”.

A estada em Granada coincidiu com as festas da Puríssima, em honra de Nossa Senhora da Conceição. Estas celebrações decorrem na primeira semana de Dezembro, culminando no chamado “dia da gritaria”, no qual os nicos (designação dos naturais da Nicarágua) se manifestam ruidosamente nas ruas das cidades, e em simultâneo exercem a sua fé religiosa. Na verdade, durante todo o período destas festas, foguetes e música ecoam no ar, dia e noite.
Durante as festas da Puríssima, realizam-se diariamente procissões nocturnas, que percorrem algumas das principais ruas das cidades. Em Granada, pudemos assistir a estas manifestações religiosas, participadas por milhares de pessoas, que desfilam pelas ruas, enquanto os moradores das mesmas observam os passantes sentados no exterior de suas casas, que se apresentam engalanadas, de portas e janelas escancaradas.
De referir que as casas de Granada se desenvolvem normalmente ao redor dum pátio interior, e que cada casa dispõe de várias cadeiras de baloiço, muito apreciadas nesta região.
Voltando às festas da Puríssima, paralelamente às procissões, constatamos a presença de inúmeros vendedores ambulantes que seduzem o público com produtos alimentares e outros alusivos ao Natal.

Granada, a cidade mais antiga nesta região, fundada pelos espanhóis no primeiro quartel do século XVI, está situada à beira do Lago Cosivolca, também chamado Nicarágua, um dos dez maiores lagos do planeta.
O lago encontra-se numa região vulcânica, cuja actividade proporcionou a existência de muitas ilhas, a maioria das quais de pequena extensão, chamadas “isletas”.
Uma curiosidade deste grande lago, não muito profundo, é a de ser o único lago de água doce no mundo no qual vivem tubarões. Estes, chegaram aqui através de rios que comunicam com o oceano Atlântico.

Com a estada da Dina quase no final, partimos de Granada para Manágua, num percurso curto de menos de uma hora, feito num pequeno autocarro a abarrotar de passageiros, conduzido por um motorista com espírito competitivo.
Em Manágua, cidade mais populosa da Nicarágua, ficámos alojados num pequeno hotel recomendado pela Lilly, Los Robles ( http://www.hotellosrobles.com/ ).
Situado numa área tranquila da cidade, num edifício antigo de boa traça arquitectónica, com um pátio ajardinado interior, no qual pontificava uma fonte engalanada por algumas lanternas marroquinas, revelou-se o local ideal para uma curta estada nesta cidade incaracterística, cujo centro foi parcialmente destruído por um sismo, há cerca de 30 anos atrás.
Já depois da partida da Dina para Portugal, ainda tive a oportunidade de visitar o mercado Roberto Huembes, um dos mais importantes locais de comércio de Manágua.
Este mercado tradicional, o maior que visitei nos oito países que percorri nos últimos seis meses, oferece de tudo, desde bens alimentares a roupa, artesanato a serviços de beleza, num ambiente caótico, semelhante ao dos “souk” de Marrocos.

Concluída a etapa da América Latina neste meu périplo pelo mundo, vou agora fazer um desvio na rota prevista, para regressar ao Brasil, onde passarei o Natal na companhia da minha mãe e familiares que lá residem, no estado de Minas Gerais.
Logo a seguir ao Natal, retomarei a rota prevista, viajando para os E.U.A., apenas com o objectivo de visitar amigos que lá residem, e dali partir para a Nova Zelândia.

09 dezembro 2006

Feira na praia de Manuel Antonio.














Praia Potrero ao final do dia.














Monteverde: uma das pontes suspensas do Parque Selvatura.
Colibri.














Iguana.
Parque Manuel Antonio.














A Dina, contemplando a praia Potrero.
COSTA RICA – A MÃE NATUREZA AMEAÇADA PELO BICHO HOMEM

Chegado a Puerto Viejo, despeço-me dos três companheiros de viagem de hoje, e decido explorar outras áreas desta região.
Quero encontrar um local tranquilo, à beira-mar, para descansar, e explorar o mundo natural da região Atlântica da Costa Rica.
7 Km a Sul de Puerto Viejo, decido ficar num hotel confortável, frente à baía de Punta Uva. Esta distancia parece muito maior, devido ao péssimo estado da estrada, asfaltada, mas que nalgumas partes, tem mais buracos que asfalto. Dias depois, o principal jornal diário da Costa Rica, La Nación, publicou um artigo onde referia que, segundo um estudo técnico recentemente efectuado à rede de estradas do país, 70% destas se encontram em mau estado de conservação.

Esta região litoral da Costa Rica é, em termos geográficos, a continuação da que visitei anteriormente no Panamá. No entanto, aqui, em vez dos mangais que ocupam quase toda a linha de costa no Panamá, temos areais extensos, que separam o oceano Atlântico de florestas densas.
Desde os meus primeiros passos nesta região, apercebo-me da existência de muita vida animal. Sem querer ser exaustivo, só ao redor do hotel onde me hospedo, vejo macacos, que emitem sons fortes, iguanas e muitos outros lagartos, esquilos que saltitam nas folhas dos coqueiros, e muitas aves, sobretudo marinhas. No grupo das aves, destacam-se pelo porte os pelicanos, que voam incessantemente sobre o mar, a curta distância da areia, mergulhando amiúde, para apanhar peixe.

Durante a minha estada nesta região, para além de usufruir da praia que está à porta do hotel, pretendo visitar algumas áreas naturais protegidas.
Começando pela praia, tenho vários quilómetros para explorar: se caminhar para o lado direito do hotel, a povoação mais próxima, Manzanillo, está a cerca de uma hora de distância, sem obstáculos. Para o lado esquerdo, o trajecto pela praia é mais difícil, havendo vários obstáculos naturais que fazem com que o litoral se estenda por baías mais pequenas.
Como a densidade de pessoas nestas praias é muito baixa, posso estar isolado, para me banhar nu, o que me agrada mais que a versão tradicional.
De resto, o mar nestas praias é bastante agitado, com correntes e ondulação fortes.

Quanto aos atractivos naturais, próximo de Manzanillo, caminhando à beira-mar, percorro várias pequenas praias, maioritariamente com fundo rochoso e por isso, mais adequadas a mergulho que a banhos. Esta área, designada como Refúgio Gandoca, pode também ser visitada por caminhos pedestres, através da floresta. Percorrendo estes, apercebo-me da existência de algumas casas cujo estilo denuncia serem propriedade de estrangeiros.
Junto a uma delas, com excelente localização, encontro uma “tica”, designação corrente que identifica as mulheres da Costa Rica, que confirma que a casa que eu aprecio é propriedade duma norte-americana, e pode ser alugada.
Para quem queira passar uma temporada nesta região, ficando num belíssimo local, isolado mas próximo duma localidade, Manzanillo, este é o local certo. Os interessados podem consultar o site duma agência imobiliária que aluga a referida casa: www.viviun.com/AD-14776/

A poucas dezenas de quilómetros a noroeste de Punta Uva, no litoral, situa-se o Parque Natural Cahuita, do qual se diz ser a área do mundo mais rica em biodiversidade.
Para o visitar, contratei os serviços duma empresa local que organiza passeios guiados pelo parque, com inicio no mar, junto a uma pequena península que delimita o parque, para mergulho e observação da vida marinha, que no dia em que lá estive era de difícil observação dadas as más condições de mar.
Posteriormente, desembarcámos numa praia do parque, para então iniciarmos uma caminhada de cerca de 5 km, através dum trilho plano, quase sempre a poucos metros de distância do mar, até ao ponto de partida, a povoação de Cahuita.
O meu grupo tinha, para além do guia, um jovem local que se mostrou bastante familiarizado com o parque, e os seus habitantes naturais, um casal norte-americano e um outro casal austríaco, que se fazia acompanhar por um jovem tico, que fazia de intérprete. O curioso do grupo foi que, o companheiro austríaco é um especialista profissional em … répteis.
Assim, o principal objectivo dele era o de observar exemplares de répteis, particularmente cobras, que habitam naquela área.
Ao longo do percurso efectuado, encontrámos, ou melhor, o austríaco e o guia encontraram duas cobras, uma pequena e fina e a outra de maior envergadura, com as quais ambos interagiram fisicamente. Segundo o nosso especialista em répteis, nenhum dos dois exemplares observados era venenoso. Sorte a nossa.
Escusado seria dizer que, mais ninguém do grupo quis tocar nas cobras, e eu limitei-me a observá-las e fotografar.
Para além das cobras, pudemos observar muitos lagartos, aves, preguiças e macacos de cara branca, sempre à procura de alimentos.

Antes de partir desta região, pude ainda visitar a vila de Puerto Viejo, principal centro populacional da área, conhecido pela comunidade residente de origem afro-caribenha, que tem os seus hábitos culturais, onde se destaca a influencia “rasta”. Desta, apenas sei que tem o centro principal na Jamaica, e que a música reggae é bastante apreciada.
De resto, o aspecto geral de Puerto Viejo é pouco cuidado, pelo que constituiu para mim, apenas um local de passagem.

Para viajar até San José, contratei o serviço duma empresa que efectua o transporte de passageiros por estrada, em pequenos autocarros, recolhendo-os nos hotéis onde se encontram, e levando-os até ao local desejado.
Tive a sorte de me calhar um carro vazio de passageiros, pelo que viajei apenas com o motorista, que também foi boa companhia.
Ao fim de quatro horas de viagem, e depois de apanharmos uma chuvada torrencial na parte final do percurso, chegámos a San José, a capital do país.
Esta não tem fama de ser uma cidade atraente, e não é. A qualidade urbanística e arquitectónica é medíocre, com raras excepções.
Uma destas é o Teatro Nacional, edificado no final do século XIX, por iniciativa de empresários da indústria de café, os quais escolheram um projecto de arquitectos belgas, inspirado no edifício da Ópera de Paris, executado em grande parte por artesãos italianos, com materiais importados da Europa.
De resto, a cidade de San José está dotada de várias salas para espectáculos culturais, assim como museus, o que também justifica uma das prioridades do país: a educação. Esta, aliada à simpatia e cordialidade, sobressaem nos contactos com os ticos, em geral.
A Costa Rica constitui aliás, uma excepção, enquanto sociedade da América Central, também porque o país não tem exército, desde há mais de cinquenta anos, por opção própria.

No decurso da minha estada em San José, antes da chegada da Dina, aproveitei para consultar médicos de duas especialidades, por pequenos problemas de saúde.
Por indicação dum residente, elegi a Clínica Católica, instituição privada, onde fui recebido com extrema atenção pelos médicos escolhidos, sem demoras, tendo pago valores inferiores aos de serviços equivalentes em Portugal.

Com a chegada da Dina, que teve que esperar dois dias pela bagagem de porão, a minha viagem entrou numa fase distinta, pelo facto de ter companhia, do que já me desabituara.
Planeámos viajar de carro, alugado, a partir de San José, até à fronteira com a Nicarágua, para depois seguirmos até Manágua em transporte público.
Ao sairmos de San José, pela estrada que passa pelo aeroporto, existe uma área de portagem. Aproveitando a paragem momentânea dos veículos naquele local, algumas dezenas de vendedores ambulantes ganham a vida em plena estrada, oferecendo um leque de produtos deveras variado: bebidas diversas, fruta fresca pronta a comer, em sacos plásticos engenhosamente pendurados num instrumento metálico, guloseimas diversas, óculos de sol, capas para telemóveis, mapas da Costa Rica para pendurar em paredes e, porque se aproxima o Natal, pais Natal insufláveis, para além doutros produtos não identificados.
O primeiro dia de viagem leva-nos para Sul, até à costa do Pacífico, à área do Parque Manuel Antonio ( http://www.manuelantonio.com/ ), um dos mais antigos e populares da Costa Rica.
Para lá chegar, atravessamos várias pontes precárias, dignas de qualquer país atrasado, e não dum que se apresenta como modelo para a região da América Central.

O Parque Manuel Antonio é pequeno, com uma área de cerca de 7 km quadrados, da qual apenas uma parte reduzida, junto ao mar, pode ser visitada.
O que ali atrai mais os visitantes são as praias que se encontram no interior do parque, de grande beleza natural, com muita vegetação até à areia, e águas convidativas. Para além destas, a fauna do parque também atrai a atenção dos visitantes, predominando iguanas, macacos, “racoons” (nome dum animal em língua inglesa) e aves diversas.
O parque pode ser visitado sem guia, ou com o mesmo, mediante pagamento adicional. Os guias parecem ser bastante profissionais, estando equipados com binóculos potentes, que permitem uma observação minuciosa dos animais.
Algumas das espécies que ali vivem, têm hoje hábitos de vida que dependem da presença das pessoas no parque, nomeadamente os macacos e os “racoons”, que aproveitam qualquer oportunidade para se apoderarem de alimentos transportados pelas pessoas.
Connosco aconteceu que, estando numa das praias, dentro de água, vimos um “racoon” a furtar-nos um saco que continha umas bananas, e posteriormente, uns macacos que se apoderaram doutro saco com restos de comida.
Nada disto retira interesse ao local, pelo que ali permanecemos durante dois dias, no último dos quais fomos provavelmente os últimos a abandonar o parque, tendo aproveitado a praia até ao pôr-do-sol.

Deixámos a área de Manuel António para nos dirigirmos para noroeste, para o interior, onde se encontra a Reserva Biológica de Monteverde, área natural protegida, criada por iniciativa privada.
Estávamos avisados de antemão que a parte final do percurso seria de mau piso. Na verdade, o que encontrámos suplantou, pela negativa, as expectativas. Os últimos 30 km de estrada, ou melhor, de picada, são um calvário para percorrer, apesar de dispormos duma viatura todo-o-terreno.
Lamentavelmente, todos os acessos rodoviários a esta região, assim como as ruas locais, se encontram em péssimo estado. Ao que parece, aqui conjugam-se a incúria governamental e o desinteresse dos habitantes locais que, pensam ser melhor manter os caminhos rodoviários quase intransitáveis, para evitar maior afluxo de visitantes, o que poderia prejudicar o equilíbrio ambiental da região.
Quanto a mim, existem outras formas de controlar os riscos de degradação ambiental, sem retirar qualidade às necessidades de residentes e visitantes.
Esta região montanhosa está situada a cerca de 1.500 metros de altitude, e possui características climatéricas invulgares. Os ventos dominantes de nordeste, vindos do litoral Atlântico, ao atingirem esta região arrefecem repentinamente, provocando a formação de neblinas e elevada percentagem de humidade no ar.
Com estas condições atmosféricas, de elevada humidade e pluviosidade, as áreas florestais apresentam características tropicais húmidas, pelo que a vegetação é pródiga em espécies que apreciam climas húmidos.
As árvores apresentam-se repletas de musgo e outras plantas parasitas, como bromélias e orquídeas.
No que à fauna diz respeito, sobressaem as aves, para regalo dos ornitólogos, com o quetzal, ave exótica de grande beleza e difícil de observar, como “troféu” mais cobiçado.

Chegados à região de Monteverde, tratámos de procurar alojamento. Escolhemos o Cloud Forest Lodge (http://www.monteverdecloudforestlodge.com/), situado nos arredores da povoação de Santa Elena, numa encosta montanhosa, rodeado por florestas, cursos de água e vista panorâmica para ocidente, com o oceano Pacifico ao longe.
Neste hotel, os empregados, começando pelo gerente, são duma simpatia invulgar, o que nos faz sentir muito bem.
De manhã, tomamos o pequeno-almoço na companhia de dezenas de colibris, de cores exuberantes e tamanhos diversos, alimentados pelas flores do jardim, e pelos bebedouros que lhes proporcionam água com açúcar.
Os dois dias passados nesta região permitem-nos longos passeios pelas florestas, primeiro na Reserva Biológica de Monteverde onde, depois de caminharmos vários quilómetros, satisfeitos com o que a natureza nos proporcionara, mas com a sensação de termos visto poucas aves (não estávamos correctamente equipados para a observação de aves), a poucos metros de terminarmos o passeio do dia, fomos brindados com a observação dum quetzal macho.
Este exemplar, foi detectado por um dos guias que estavam a trabalhar naquela área da reserva que, estando equipado com um monóculo sofisticado, proporcionou a todos os que por ali passaram momentos de satisfação e beleza.
Segundo o guia, aquele quetzal tinha comido recentemente o seu petisco preferido, abacate, que engole inteiro, após o que fica pousado numa árvore durante algum tempo, até digerir o alimento.
De facto, tivemos a fortuna de poder observar aquela belíssima ave, com penas de cores fortes, e longas plumas na cauda, durante mais de meia hora, até que, por acaso, reparei que o nosso alvo cuspiu algo, que caiu alguns metros à minha frente. Rapidamente, apanhei o objecto cuspido, que estava quente, para apurar tratar-se do caroço dum abacate. Na verdade, os abacates que servem de alimento a estas aves são de tamanho pequeno, diferentes dos que nós encontramos nas lojas.
Felizes pela sorte suprema de vermos um quetzal, decidimos fazer novo passeio pelas florestas húmidas, desta vez num outro parque, conhecido sobretudo pela característica de possuir pontes suspensas, através das quais os visitantes caminham, a várias dezenas de metros de altura, observando a floresta dum nível superior, algumas vezes acima das copas das árvores.
O Parque Selvatura (http://www.selvatura.com/) tem um percurso pedestre com cerca de 3 km de extensão, com oito pontes suspensas, a mais longa das quais tem 170 metros de comprimento.
Para além deste atractivo, o parque tem ainda ao dispor dos visitantes uma enorme estufa de borboletas, outra com repteis, um jardim com colibris, no qual centenas destas pequenas aves voavam incessantemente, e um museu de insectos.

No dia em que deixámos a região de Monteverde, por acaso, passámos em frente a uma casa que vende artesanato, Souvenir Rosewood, que decidimos visitar.
A especialidade desta loja é o trabalho em madeiras exóticas da Costa Rica, feito pelo proprietário, Jose Luís, que tem a oficina no local.
Ao entrarmos, fomos calorosamente acolhidos pela Danis, casada com o Jose Luís, e pela Mónica, a filha mais nova. Para além das peças expostas, a Danis proporcionou-nos orgulhosamente, uma visita guiada ao seu jardim, no qual cultivam inúmeras espécies de plantas, principalmente árvores de frutos e uma colecção de orquídeas. Numa das árvores, está um pequeno ninho de colibris, com duas aves recém nascidas.
O que seria à partida uma simples visita a mais uma loja de artesanato, revelou-se uma experiência humana rica, pela extrema simpatia das pessoas.
O destino deste dia foi a vila de Sámara, situada à beira do oceano Pacífico, onde chegamos depois de mais um percurso por más estradas.
Aqui, ficamos alojados no Hotel Belvedere ( http://www.belvederesamara.net/ ), propriedade dum casal de alemães que reside na Costa Rica há quinze anos.
Da vila de Sámara não há nada a dizer, pobre como todas as outras localidades destas paragens. Já as praias merecem nota de realce, particularmente a de Puerto Carrillo, com uma extensa baía em forma de ferradura, bordejada por coqueiros, e areia cinzenta muito macia.
De Sámara, partimos para norte, passando a área de Tamarindo, reduto popular para os norte-americanos, na América Central chamados vulgarmente de “gringos”, o que significa excesso de construção no litoral.
Seduzidos pela beleza da praia Conchal, decidimos ficar nas imediações desta, na Praia Potrero, no Hotel Bahia del Sol ( http://www.bahiadelsolhotel.com/ ) situado sobre a mesma. Entretanto, satisfeitos com o local, decidimos aqui ficar alguns dias, até viajarmos para a Nicarágua.
Neste hotel, para além de alguns hóspedes que se revelaram pessoas interessantes, pudemos apreciar o trato da quase totalidade dos empregados, com destaque para o Guillermo, empregado de mesa do restaurante, mas acima de tudo um ser humano pensante, com vocação para filósofo, consciente do mundo em que vivemos.
Durante este tempo, dedicamo-nos a conhecer as praias da região, constatando que aqui, como em Portugal e muitos outros países, as áreas costeiras são alvo de operações imobiliárias e outras actividades, que visam objectivos económicos, prejudicando o ambiente.
Neste caso, o litoral desta região é de uma beleza invulgar mas, tem o destino traçado, pela forma como as pessoas estão a interferir com o ambiente, a troco dos interesses do turismo.
Por exemplo, a praia Conchal, de invulgar beleza, próxima duma reserva natural onde as maiores tartarugas marinhas ainda vêm a terra para desovarem, é devassada por viaturas motorizadas que percorrem o areal, e barcos que deslizam pelas águas, para além da existência de construções a poucos metros da praia.
A própria Reserva da Praia Grande, onde as tartarugas marinhas desovam, está devassada por construções edificadas a poucos metros da praia, para além da existência de loteamentos recentes que promovem futuras construções.

Chegado o dia de partirmos para a Nicarágua, viajámos no carro alugado até à cidade de Liberia, onde o entregámos, depois de percorridos cerca de 1.000 km, desde o início do aluguer.
No mesmo dia, a partir de Liberia, viajámos num autocarro público para a cidade de Granada, já na Nicarágua.