03 setembro 2009

A equipa familiar do Restaurante Casa Vita:
Elvio (pai), Elvio (filho, ao fundo), Juan Carlos, Maria Carmen, Belén, Cristal e Maria.

CASA VITA

MOMENTO DE VIDA PARTICULARMENTE SABOROSO

O final do dia estava cálido e, também por isso, apetecia jantar ao ar livre. Por sugestão da nossa anfitriã, poderíamos encontrar um restaurante de boa comida, com uma esplanada com vista para Ourense (Galiza, Espanha), a curta distância da casa onde iríamos pernoitar.

De carro, lá encontrámos o lugar, Casa Vita, à porta do qual se encontravam dois homens à conversa.

Eram 21 horas quando chegámos ao restaurante e, um dos homens que estavam à porta saúda-nos e convida-nos a entrar. Lá dentro, não vimos ninguém, nem clientes nem empregados.

Na sala em que nos encontramos, vemos uma série de travessas com comida, por confeccionar, alinhadas por detrás de um balcão de vidro, que separa a área pública da cozinha, à vista.

Pela conversa, rapidamente percebemos que o homem que nos acompanha, Elvio, é o proprietário do restaurante. Pela forma apaixonada e graciosa como fala do restaurante e da sua actividade profissional, suspeito que o Elvio é também a alma deste lugar.

Feitas as escolhas gastronómicas, amêijoas, empada galega, pimentos de Arnoia (grandes e saborosos, mas não picantes, contrariamente aos seus parentes de Padrón, estes mais populares), e petingas fritas (aqui chamadas de xoubas ou parrochas), procuramos em vão a esplanada com vista para Ourense.

Intrigados, inquirimos o nosso guia, que nos aponta para o outro lado da rua, onde existe de facto um amplo terraço, propriedade da casa, com mesas e cadeiras, e uma vista panorâmica para a cidade de Ourense.

Lá, somos os primeiros a sentar-nos e, vamos descobrindo os pormenores da Casa Vita, pela boca do Elvio e, logo a seguir, também por um dos seus colaboradores e filho, Juan Carlos.

O Elvio diz-nos que a sua taberna (o termo é dele …) nasceu ali mesmo, do zero, há mais de 40 anos. Na altura, tudo era feito por ele e pela esposa, Maria Carmen (esta na cozinha). Com o passar do tempo, chegaram cinco filhos, que à medida que foram crescendo, foram aprendendo as artes de bem servir e cozinhar, tornando-se membros activos da equipa do restaurante.

Hoje, todos os filhos têm outras actividades profissionais, o que não os impede de ajudar os pais nas horas vagas. Esta noite, para além dos dois fundadores da casa, estão também presentes dois filhos (no serviço de mesas) e duas filhas e uma nora (na cozinha).

À medida que o tempo passa, as mesas vão sendo ocupadas por clientes que parecem ser habituais, e o ambiente é descontraído e festivo.

Estando nós no lado oposto da rua àquele onde se encontra a cozinha do restaurante, observamos o trajecto feito pelos empregados da casa que, com travessas nas mãos, cruzam a rua com naturalidade, apesar do movimento esporádico de carros.

A comida vai chegando à nossa mesa, e deliciamo-nos com tudo, boa matéria-prima e excelente confecção, repetindo ainda os pimentos e as petingas. Acompanhamos a refeição com um vinho tinto da casa, de produção própria.

No final, somos brindados com um prato de doces, gentil oferta da casa.

Pela hospitalidade com que fomos recebidos, e pelo excelente jantar que nos foi servido, não podíamos partir sem antes agradecer este serão inesquecível.

Ainda para mais, o Elvio confessou-nos que muito provavelmente ele e a esposa irão reformar-se em breve e, quando isso acontecer, a Casa Vita fechará as portas para sempre, já que os descendentes não querem continuar com a actividade de restauração.

É uma pena se tal acontecer. Como não sabemos se teremos outra oportunidade de cá voltar a tempo de rever a família Vita, convoco todos os presentes, pessoal da cozinha incluído, para uma fotografia.

Afinal, a vida tem momentos de felicidade.