27 agosto 2006

Salta: Igreja de São Francisco.














Salinas Grandes.














Quebrada de Humahuaca: a aldeia de Purmamarca, com o Cerro das Sete Cores em fundo.














A Quebrada de Humahuaca, próximo de Purmamarca.














Tilcara: o vale e a "Pucará", antiga povoação inca, com as montanhas da Quebrada de Humahuaca em fundo.
Chicoana: Laura, "mãe adoptiva" de dois cabritos.
San Lorenzo: jovem amazona em traje gaúcho.
A ARGENTINA ANDINA – DE HUMAHUACA A TUCUMÁN

A chegada a Salta, capital de uma das províncias do noroeste da Argentina, revela de imediato uma outra realidade da Argentina: as culturas andinas.
Em Salta, as influencias europeias tão evidentes em Buenos Aires, quase não se sentem, tão fortes são as características dos modos de vida indígenas desta região dos Andes.
Salta é hoje a cidade que oferece o maior leque de serviços destinados aos visitantes da região. Apesar de estarmos no Inverno, é notória a presença de muitos visitantes, quer estrangeiros quer nacionais.
Há dias, o principal jornal diário da Argentina, La Nacion, noticiava que o Turismo tem uma importância crescente na economia nacional e que, este ano o país receberá mais de 4.000.000 de visitantes, beneficiando com a desvalorização da moeda argentina, o peso.

A cidade de Salta, popularmente chamada “La Linda”, tem um centro urbano que conjuga a maioria dos principais monumentos, com muito comércio de rua. Quase tudo converge para a Praça 9 de Julho, espaço amplo quadrangular, com um jardim central, na qual se situa a Catedral da cidade, ampla construção do final do século XIX.
Ao passear pela praça, num dos dias, observei que um grande número de jovens, em traje estudantil, se aglomerava à porta da Catedral. Tendo estabelecido contacto com eles, fiquei a saber que ali estavam para participar numa missa dedicada a duas figuras da religião católica, muito queridas pelos residentes de Salta. Tendo entrado na igreja para observar a missa, constatei que a mesma se encheu com largas centenas de jovens, de várias escolas da região. Cada escola, entrou na igreja de forma ordenada, com dois porta-estandartes à cabeça: um com a bandeira da Argentina, e o outro com a da escola.
Para além da Catedral, merece destaque a Igreja e Convento de São Francisco, edifício de fachada exuberante, ricamente iluminado, tal como outros imóveis importantes da cidade.

No que respeita a locais de interesse cultural, visitei o recente Museu de Arqueologia de Alta Montanha – MAAM (http://www.maam.org.ar/), também situado na Praça 9 de Julho, dedicado a um achado arqueológico que ocorreu em 1999 na mais alta montanha vulcânica existente na Argentina, Llullaillaco, junto à fronteira com o Chile.
A 6.700 metros de altitude, uma expedição internacional descobriu três corpos de jovens, sepultados juntamente com inúmeros objectos, há cerca de 500 anos atrás, supondo tratar-se de um sacrifício de acordo com rituais da civilização Inca, que na altura se estendia até ao norte da Argentina.
O museu está soberbamente organizado, e a exposição, constituída sobretudo pelos objectos encontrados juntamente com os corpos, embora restrita a um acontecimento, é muito interessante. De referir que, as múmias dos jovens encontrados, em excelente estado de conservação, não estão ainda expostas, o que deverá acontecer a partir do final do presente ano, numa nova sala.

Apesar da cidade de Salta ter atractivos para me manter activo por vários dias, saio da cidade ao terceiro, para conhecer a região andina, no norte da Argentina.
Das várias possibilidades que se me oferecem, opto por alugar um carro, com o qual me vou deslocar durante uma semana, primeiro para norte de Salta, e mais tarde para sul, até chegar a Tucumán, de onde terei um voo para Córdoba.
No primeiro dia de viagem de carro, saio de Salta (situada a cerca de 1.200 metros de altitude) de manhã cedo, com tempo frio e encoberto. Dirijo-me para noroeste, para percorrer um desfiladeiro chamado Quebrada del Toro, que acompanha o leito do rio Toro, largo mas, quase seco, como aliás todos os rios desta região. Pelo que li, nesta região, a pluviosidade é baixa, particularmente nesta época do ano, e os rios são instáveis, provocando enxurradas nalgumas ocasiões.
Esta característica faz-me lembrar os “oueds” (rios) de Marrocos.
A estrada que percorro acompanha uma via-férrea, durante muitos quilómetros, famosa por nela transitar um dos comboios que viajam a altitude mais elevada no mundo. Trata-se do “Tren a las Nubes”, que agora está parado, para renovação.
A meio da manhã, o tempo muda radicalmente, aparecendo um sol radioso, e o céu apresenta-se com um azul intenso.
As primeiras paisagens montanhosas são impressionantes, quer pela escala das montanhas, pela quantidade, e pela riqueza cromática das encostas, bastante rochosas, quase desprovidas de vegetação, à parte cactos de grandes dimensões (aqui chamados de “cardones”) e uma erva baixa, de cor amarela.
Ao fim da manhã, passo pelo primeiro cume a mais de 4.000 metros de altura, pouco antes de chegar a uma vila mineira de aparência fantasmagórica, chamada San António de los Cobres.

Antes de iniciar esta parte da viagem, em Salta, informei-me acerca de possíveis efeitos e riscos de subir a altitudes elevadas, às quais não estou habituado.
Foi-me dito que, se sentisse o “apunamiento”, termo local que identifica os sintomas de má adaptação a locais muito elevados, poderia aplicar as seguintes fórmulas:
- Mastigar folhas de coca
- Beber chá de coca
- Cheirar dentes de alho
Na verdade, para além desta informação, não tomei nenhuma medida preventiva, e foi com algum alívio que constatei que, para além da minha respiração se ter alterado ligeiramente, provavelmente devido à menor percentagem de oxigénio no ar, não senti qualquer outra reacção.
Quanto ao consumo humano de folhas de coca nesta região, é comum.

Voltando à minha curta visita a San António de los Cobres, depois de comer num dos restaurantes mais pobres que conheci, volto à estrada, para percorrer um troço de cerca de 100 km de extensão, em terra, com muita pedra. Estou num planalto, a mais de 3.000 metros de altura, e os únicos seres vivos que vejo são, um rebanho de ovelhas e lamas, e as escassas pessoas que ali vivem, em casas modestas de barro.
Neste percurso, cruzo-me apenas com dois automóveis.
Duas horas depois, avisto as salinas, ou lagos salgados, designados como “Salinas Grandes”. São as maiores da Argentina, e não muito distantes das que se encontram no Chile e Bolívia, países próximos.
Aliás, aproveito para revelar um eventual erro de planeamento desta minha viagem, relacionado com esta área geográfica.
Ao decidir visitar o Chile, país que se segue no meu itinerário, escolhi a região do deserto de Atacama, pelo qual sempre me interessei, situado a poucas centenas de quilómetros da área em que agora me encontro.
Em Salta, fiquei a saber que existe uma viagem de autocarro que une as cidades de Salta, na Argentina, com San Pedro de Atacama, no Chile. Esta viagem dura cerca de doze horas, e é diurna. Parte do trajecto é aquele que fiz até chegar a Salinas Grandes. Se eu soubesse o que sei hoje …
A área das salinas é estranha. O terreno é plano, liso, branco, com camadas variáveis de sal. Faz frio e muito vento. Dizem-me que o vento é normal nesta época do ano.
Depois de apreciar o local, volto à estrada para percorrer o último bocado de estrada do dia, felizmente asfaltada, e em bom estado.
Inicio mais uma subida, de grande beleza paisagística, para passar mais um cume alto, El Quemado, com cerca de 4.200 metros de altura. Aqui começa a maior atracção natural desta região, a Quebrada de Humahuaca, conjunto de desfiladeiros que se prolongam por dezenas de quilómetros, que é património natural da humanidade.
A descida que se segue, Questa de Lipán, é absolutamente deslumbrante.
As paisagens são majestosas, as montanhas parecem enfrentar-se fisicamente, é uma enciclopédia de geologia que está á minha volta.
Esta é a estrada de montanha mais impressionante que já percorri!

Ao final da tarde, chego a Purmamarca, aldeia localizada numa área privilegiada da Quebrada de Humahuaca, a cerca de 2.200 metros de altura.
Cansado, escolho o melhor hotel da aldeia, e provavelmente da região, para pernoitar. É o Hotel El Manantial del Silencio (http://www.hotelmanantial.com.ar/), acolhedor e requintado, no qual pago uma diária correspondente a 50 euros.
Acabo por permanecer três noites neste local, a partir do qual visito a área da Quebrada de Humahuaca.
As localidades que visito não são particularmente interessantes, a não ser em aspectos pontuais, como sejam as praças principais, sempre cheias de vida, e algumas igrejas edificadas no período colonial, ou já no século XIX.
Para além das povoações, interessa-me conhecer os modos de vida dos indígenas, sobretudo os descendentes dos incas, e a gastronomia.
Pela primeira vez, como carne de lama, que faz parte dos cardápios da maioria dos restaurantes locais.

Mas, o que mais me interessa aqui, é o contacto com a natureza, particularmente as grandes montanhas dos Andes, e as formas e cores com que elas se apresentam.
As paisagens são verdadeiramente deslumbrantes, e difíceis de descrever. Mas, para terem uma ideia da riqueza geológica, cito como exemplo a localidade de Purmamarca, onde tenho a minha base, que está rodeada por elevações de altura e cores variáveis. É como se a natureza tivesse construído um cenário envolvente à aldeia, de modo a torná-la mais interessante do que na realidade é.
Uma destas formações geológicas, que se encontra atrás da aldeia, é chamada de “Cerro das Sete Cores”, tantas são as cores que nela se podem identificar.
Para os amantes da natureza, e particularmente das montanhas, este é um templo importante, para conhecer.

Nesta mesma área, existem inúmeros vestígios de ocupação humana anterior à chegada dos europeus, no século XVI, chegando a remontar a 10.000 anos A.C.
Aquele que está em melhores condições para ser visitado, é o povoado pré-inca “Pucará” (palavra que na língua Quechua, que era utilizada na região, no período Inca, significa fortaleza) de Tilcara.
Localizado no topo de uma colina situada no vale da Quebrada de Humahuaca, junto ao rio, o que lhe confere uma localização excepcional, tem inúmeras ruínas de construções em pedra, das quais uma parte foi reconstruída, com absoluto rigor.

Passados três dias nesta área inesquecível, inicio o percurso para sul, passando por Jujuy, uma das principais cidades da região, e por uma área montanhosa que contrasta com as que visitei nos dias anteriores, pelo facto de ser densamente arborizada. Aliás, quer pela vegetação (floresta “Yunga”), quer pela estrada que a percorre, estreita e sinuosa, faz-me lembrar a Serra de Sintra, nos arredores de Lisboa, só que esta na Argentina, tem uma escala muito maior.
Pernoito em San Lorenzo, localidade nos arredores de Salta.
Esta é uma área residencial de luxo, e em conversa com a proprietária (Josefina) da casa/pousada em que pernoito, Posada Don Numas (http://www.donnumas.com.ar/), fico a saber que aqui existem muitos investimentos imobiliários da Bolívia, para escapar ao poder politico reinante naquele país.
Apesar das amabilidades dispensadas pela Josefina, proprietária da casa em que fiquei, e dos seus colaboradores, parto na manhã seguinte para fazer uma etapa que me vai levar a uma povoação remota da região, Molinos, através de uma estrada que é maioritariamente de terra, que atravessa os chamados Vales Calchaquíes.
A parte inicial da estrada acompanha um rio até que sobe vertiginosamente (Cuesta del Obispo) até ao cume da montanha com o mesmo nome, a mais de 3.300 metros de altura.
Atingido o planalto, entro na área do Parque Nacional Los Cardones, repleta de cactos gigantes, alguns com mais de 5 metros de altura, os quais têm um crescimento lento, de apenas alguns centímetros por ano.
Antes de alcançar a aldeia de Cachi, a estrada dirige-se perpendicularmente para uma autêntica parede de montanhas, que se apresentam em três níveis de altura crescente. A mais afastada e alta, com alguma neve no topo, é o Nevado del Cachi, com 6.380 metros de altura.
Após uma paragem para recuperar energias, em Cachi, onde reencontro duas conhecidas, uma espanhola e uma italiana, com quem tinha tido um primeiro contacto há alguns dias atrás em Tilcara, sigo viagem para Molinos, percorrendo mais umas dezenas de quilómetros por uma pista sinuosa, que no entanto tem a classificação de estrada nacional, de piso impróprio para o pequeno carro que conduzo. Lembro-me várias vezes, com saudades, do meu antigo Land Rover. Como ele seria útil nestes caminhos!
Ao fim da tarde, chego a Molinos, mais uma povoação desinteressante, com a excepção de um conjunto arquitectónico constituído por uma igreja e o casario fronteiro, edificados no século XVIII.
É numa parte deste conjunto arquitectónico que está localizado o Hostal Provincial de Molinos, no qual me hospedo.
O local é muito agradável e acolhedor, sendo predominantemente rústico. Os quartos e áreas de serviço distribuem-se à volta de um pátio quadrangular, no centro do qual está uma árvore magnífica (aguaribay), cuja copa ocupa na totalidade a área do pátio.
Naquela noite conheço os responsáveis pela gestão do hotel, Marcelo e Ana, com quem tenho o prazer de jantar, e passar um agradável serão.
Na manhã seguinte, parto para nova etapa de pista dura, mas antes, vou visitar uma propriedade vizinha da povoação, na qual são criadas vicunhas, que são agora uma espécie protegida, depois de ter sido quase extinta, por caça indiscriminada.
A vicunha é um animal parente da lama, alpaca e guanaco, elegante na sua forma, de comportamento sensível. A sua lã, a mais fina de todas as espécies animais do mundo, muito apreciada para trabalhos têxteis, é de difícil tratamento. Para além do mais, a produção da lã é escassa já que, cada animal só pode ser tosquiado em cada dois anos, permitindo uma recolha de apenas 250 gramas de lã.
Ao sair de Molinos, encontro duas jovens mulheres a pedirem boleia. Contrariamente ao meu hábito, paro para saber quem são e para onde vão.
A Alfonsina e a Belen, argentinas, residentes na cidade de Paraná, a norte de Buenos Aires, são estudantes de Sociologia e, estão a viajar nesta região com o intuito de conhecerem melhor as culturas nativas, particularmente no que aos têxteis diz respeito.
O que acontece é que, viajam à boleia, por opção pessoal. Ao vê-las naquele local ermo, senti necessidade de as ajudar, pelo que as transportei até ao meu destino desse dia, Cafayate.
Nesse dia, por um dia, viajei acompanhado, coisa a que já não estou habituado.
A estrada manteve o mesmo nível do dia anterior, mau, o que nos obrigou a um esforço maior, até porque o espaço interior tinha diminuído.
De resto, percorremos novas paisagens impressionantes, nomeadamente na Quebrada de las Flechas, cujo nome ilustra bem as formas estranhas com que os penhascos aqui estão moldados.
Antes de entrarmos em Cafayate, ainda percorremos alguns quilómetros de uma outra estrada, que não a que nos leva à cidade a que nos dirigimos, que percorre
uma área natural fascinante mas, o final do dia obriga-nos a retroceder.

No decurso deste dia, observei que as minhas duas companheiras de viagem consomem erva-mate, na forma de chá, hábito muito comum aqui na Argentina, como no Uruguai, e no sul do Brasil.
Os consumidores fazem-se acompanhar por um conjunto de objectos que lhes permite satisfazer o gosto, onde quer que estejam. Assim, é comum verem-se pessoas na rua, com uma garrafa termos nas mãos, na qual transportam água quente, e o copo com uma palhinha, especiais, para poderem usufruir do prazer de beber mate, como vulgarmente é chamado.
Esta tradição mantém-se, mesmo nas gerações mais jovens, e na Argentina, para além da água, é a bebida mais consumida.

Chegados a Cafayate, deixo as minhas companheiras de hoje num dos Parques de Campismo da cidade, cujo conforto deixa muito a desejar.
Quanto a mim, hospedo-me no Hotel Killa (http://www.killacafayate.com.ar/) ou melhor, Casa de Hóspedes, como a Martha, sua proprietária, a identifica.
A Martha, ex-professora, argentina de origem local, explica-me no seu tom didáctico e amável, que o nome Killa é de origem Quechua, e significa “lua”.
Aprecio bastante o local, a casa e o quarto que me dão, e decido ficar duas noites.
No dia em que chego a Cafayate, na casa onde estou, conheço um casal de hóspedes, Justine e Adriano, ela de Hong Kong e ele de Itália, residentes em Paris. Decidimos jantar juntos, e sigo-os na escolha de um hotel recente nos arredores da cidade, do qual tinham boas referencias.
O hotel está instalado numa das várias propriedades vinícolas da região, famosa por aí serem produzidos vinhos, ao que parece de boa qualidade, das castas cabernet e torrontés, a quase 2.000 metros de altitude.
Chegados ao hotel, gerido pela empresa Starwood, com a marca Sheraton, descobrimos que os proprietários do hotel são uruguaios, e os da exploração vinícola, suíços. Mais um exemplo da aldeia global em que o mundo está transformado.

Cafayate revelou-se um local agradabilíssimo, onde encontrei alguns dos melhores artesãos da região, com trabalhos notáveis, tendo tido a felicidade de conhecer alguns deles, com os quais estabeleci uma relação pessoal afectuosa.
A Andrea e o Alfredo, casados, ambos em segundas núpcias, dedicam-se a criar e produzir trabalhos artesanais, em áreas distintas, embora complementares.
A Andrea trabalha com flores, pequenas, algumas minúsculas, que eterniza com resina, produzindo peças de uma beleza e delicadeza extraordinárias.
O Afredo, depois de ter tido uma carreira como cabeleireiro, dedicou-se à criação e produção de peças em metal, normalmente prata e alpaca, que também combina com minerais e madeira.
Trabalham e vivem no mesmo local, e cada um deles tem os seus colaboradores, em oficinas separadas.
Numa outra visita, em condições idênticas, conheço o trabalho do Oscar Hipaucha, provavelmente o artesão mais conhecido da região, devido à qualidade extraordinária do seu trabalho. Este é desenvolvido com madeiras da região, combinadas com metal, com as quais desenha e produz sobretudo caixas, de muito bom gosto e originalidade.
Encontrei o Oscar acompanhado pelos seus dois colaboradores de longa data, a trabalharem no atelier/oficina.
Entre nós, criou-se de imediato uma relação empática, até porque descobrimos que temos pelo menos um outro gosto comum, o da música de jazz. Aliás, um dos dois filhos do Oscar é músico profissional desta área, vivendo actualmente em Barcelona, Espanha.
Nesse mesmo dia, mais tarde, voltei a visitá-lo, para conversarmos com mais disponibilidade, no jardim de sua casa, anexa ao local de trabalho. Aí, tive o prazer de conhecer também a companheira do Oscar, Susana.
São pessoas deste nível que me fazem sentir bem, pensando que nem tudo está perdido para a espécie humana.

Ainda em Cafayate, tenho outra prova de gelados, que comprova o altíssimo nível dos mesmos na Argentina.
Uma das várias gelatarias de Cafayate produz um gelado a partir dos vinhos da região, com os sabores Torrontés e Cabernet.
Parece ser um caso único no mundo dos gelados, pelo que a proprietária da casa me disse. O criador é o seu marido Miranda, simultaneamente nome da casa, o qual é também artista plástico, pintor, expondo o seu trabalho no mesmo local onde os gelados são vendidos.
Como o vinho não me é particularmente querido, provei as novidades, mas deliciei-me com outros sabores.

Saio de Cafayate, em direcção a Tucumán, onde vou deixar o carro com que ando.
A primeira paragem ocorre em Quilmes, local onde viveu uma comunidade indígena, extinta, depois da colonização espanhola.
Esta é mais uma triste história do que aconteceu no passado com muitas comunidades indígenas, pelas acções dos colonizadores/invasores. Hoje, restam as ruínas de uma povoação que chegou a ter mais de 3.000 habitantes.

A estrada volta a empinar, subindo até aos 3.042 metros de altura, e aí, num ponto chamado Infiernillo, paro para admirar a paisagem, tal como outros viajantes. Chama-me a atenção um jovem casal, que viaja de bicicleta.
Dirijo-me a eles e apresento-me. Eles são a Lucia e o Daniel, argentinos, de Buenos Aires, e estão a viajar há cerca de sete meses, tendo visitado muitos dos países da América do Sul.
Já percorreram nesta viagem, cerca de 12.000 km, metade dos quais a pedalar.
Agora, já cansados, confessam, estão de regresso a Buenos Aires, para retomarem uma outra vida.
Talvez nos vejamos lá, quando eu estiver de saída da Argentina!

Chegado a Tucumán, à entrada da cidade, percorro uma avenida larga, e reparo num facto insólito: em ambos os lados da avenida, dezenas de pessoas acenam aos automobilistas que passam, para oferecerem serviços de lavagem dos automóveis, que são efectuados ali mesmo, na via pública.
Instalo-me por uma noite, num hotel no centro da cidade, na Praça da Independência.
Esta é de secção quadrada, com jardim central, e como sempre, fervilha de vida.
Observando os edifícios que a ladeiam, chamam-me a atenção os mais nobres: o palácio do governo provincial, a catedral, a Igreja Universal do Reino de Deus (instalada num antigo cinema, … onde é que eu já vi este filme?), e começo a reparar nas gelatarias. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis gelatarias, só aqui na praça central da cidade, para além de várias outras casas comerciais que também vendem gelados industriais.
Há noite, depois do jantar, não resisto e vou a duas delas. A lista de sabores é, como habitualmente extensa, e criativa. Numa das que visitei, há um gelado chamado “portuguesa”. Provei-o mas, não me cativou.
Em Tucumán, apercebo-me daquilo que me parece ser poluição atmosférica proveniente de chaminés que se encontram na periferia da cidade.
Esta região tem grandes extensões de campos cultivados com cana-de-açúcar, sendo a mesma posteriormente utilizada para a produção de açúcar para consumo interno e exportação.
Disseram-me que, nas imediações da cidade, estão actualmente em laboração dezasseis fábricas para tratamento de cana-de-açucar.

Aqui deixo o carro com que durante oito dias, percorri cerca de 1.500 km pelas más estradas do noroeste da Argentina.
Próxima paragem, Córdoba, a segunda maior cidade da Argentina.

Notas: creio que esta é a crónica mais extensa que escrevi até agora, nesta viagem.
Os dias aqui passados foram vividos intensamente, sobretudo pelo que a natureza deslumbrante me proporcionou, e também pelos contactos com algumas pessoas especiais que aqui conheci, que não só aquelas de que falei.
A natureza já anuncia a chegada da Primavera. Vêem-se cada vez mais árvores floridas, e outras com folhas novas.
Para além destes sinais, também as temperaturas estão em alta.





16 agosto 2006















Montevideu: Teatro Solís.
Montevideu: edifício de estilo "Art Deco".
Colonia del Sacramento: Ruben, empregado de mesa do Restaurante Viejo Barrio, e o seu fantoche.

14 agosto 2006

URUGUAI – BREVE VISITA

Entre o Brasil e Argentina, respectivamente os quinto e oitavo maiores países do mundo, em termos de dimensão territorial, situa-se o Uruguai, pequeno país, com menos de 4.000.000 de habitantes.
A fronteira entre a Argentina e o Uruguai, na área de Buenos Aires, é o larguíssimo rio da Prata, pelo que o atravessei de barco rápido, em menos de uma hora, para chegar à pequena cidade de Colonia del Sacramento.
Esta travessia fluvial fez-me lembrar a que se faz entre o sul de Espanha, Tarifa ou Algeciras, e o norte de Marrocos, Tanger, com idêntica duração.
De resto, as semelhanças ficam por aí já que, enquanto que aqui na América do Sul impera a ordem, quer no que respeita aos procedimentos de embarque e desembarque, quer na vida a bordo, entre a Europa e África, é a confusão generalizada.
Diferentes culturas, diferentes modos de vida!

A escolha de Colonia del Sacramento tem a ver com o facto de ser uma cidade fundada por portugueses, no último quartel do século XVII, onde existe património arquitectónico português, e cujo centro histórico é hoje património da humanidade.
Chego a Colonia com frio e chuva, e é esse o tempo que me acompanha durante a minha estada de dois dias.
A cidade parece triste, as ruas estão semidesérticas, alinhadas por grandes plátanos que foram radicalmente podados, o que me faz pena.
Aliás, no que ao povo uruguaio diz respeito, a ideia com que fico, depois de breves dias de visita, é de que é um povo simpático, despretensioso, triste, e descrente nas suas capacidades. No geral, faz-me lembrar os portugueses.
A estada em Colonia é passada em passeios solitários, a fugir da chuva e do frio, visitando alguns museus, pequenos e modestos. Destes, destaco o Museu Português, condignamente instalado numa pequena construção do século XVIII, graças ao apoio expresso da Fundação Calouste Gulbenkian.
No que ao património arquitectónico do período colonial diz respeito, a comparação com o que vi no Brasil, remete Colonia para um plano secundário.
Num dos restaurantes onde comi, encontrei um empregado de mesa com uma personalidade e comportamento verdadeiramente invulgares. O Restaurante Viejo Barrio é pequeno, e a comida que serve não é de guardar na memória. No entanto, o Ruben, o único empregado de mesa da casa, apresenta-se aos clientes com uma indumentária extravagante, composta por um avental repleto de “pins”, e com chapéus de estilos diversos, que vai mudando ao longo do serviço.
Para além desses acessórios, quando apresenta a conta aos fregueses, ainda utiliza um fantoche com o qual fala, com muita graça.
Enfim, uma forma diferente de estar e trabalhar, que diverte os clientes.
Neste mesmo restaurante, travei conhecimento com a Carmen e o Raul, espanhóis de Madrid, que emigraram recentemente para a Argentina, por estarem cansados da vida europeia. A Carmen está a frequentar um curso de cinema, e o Raul é actor de teatro.
Vivem em Buenos Aires, e ficamos de nos encontrar lá, quando eu regressar à capital argentina, antes de partir para o Chile.

Com nevoeiro, deixo Colonia de autocarro, em direcção a Montevideu, viagem que dura cerca de 3 horas, com muitas paragens.
No percurso, numa das paragens, senta-se ao meu lado uma jovem, com a qual converso. A Ana, é professora primária, e trabalha numa escola pública nos arredores de Montevideu, que dista mais de 100 km de sua casa, pelo que faz esta viagem todos os dias.
Fala-me da vida no Uruguai, da família e da área em que vive, eminentemente rural.
Quando lhe pergunto qual o salário que tem, a resposta é de ser baixo, o equivalente a cerca de 200 euros, pelo que a gestão do orçamento familiar exige bastantes sacrifícios. A Ana é casada com um padeiro, têm casa própria, e um computador em casa, onde ainda não têm ligação à Internet, por ser demasiado cara.

Montevideu, situada também à beira do Rio da Prata, apresenta-se como uma cidade capital de um país em crise não apenas económica mas, também social. Ouço vários habitantes expressarem os seus lamentos pelas dificuldades vividas, e também pela degradação do clima social, com o consequente aumento da delinquência urbana.
A cidade parece sombria, até porque está em vigor uma restrição ao consumo de energia eléctrica, ao que me dizem devido a uma seca, que provoca uma diminuição da capacidade de produção nacional de energia eléctrica.
Calcorreio as ruas do centro urbano, e particularmente da chamada cidade velha, pequena área situada junto ao porto, e ao rio.
Aqui, nota-se uma revitalização urbana, com consequências positivas, quer pela recuperação de património degradado, quer pelo acréscimo da oferta comercial.
É próximo desta área que se situa a principal sala de espectáculos de Montevideu. Refiro-me ao Teatro Solís, inaugurado precisamente há 150 anos, efeméride que agora é comemorada com dignidade, depois de uma correcta recuperação do imóvel, que se encontrava fechado há já vários anos.
Uma visita ao interior do Solís permite descobrir um espaço elegante e acolhedor, cuja sala de espectáculos, com capacidade para mais de 1.000 espectadores, me pareceu pequena, comparativamente com a grandiosa sala do Colón, de Buenos Aires.
Aproveitando o tempo disponível em Montevideu, assisto a um espectáculo de música, integrado no Festival designado como Encontro da Guitarra Uruguaia.
Realizado no auditório da Biblioteca Nacional, permite-me descobrir um pouco da música uruguaia, através de dois dos seus intérpretes, os guitarristas Adriana Balboa e Ramiro Agriel.
No que à gastronomia diz respeito, no Uruguai impera a parrilla, com carnes variadas, tal como na Argentina. A qualidade das carnes servidas é igualmente excelente.
Dos restaurantes visitados, e carnes à parte, merece triplo destaque o Restaurante La Corte, onde jantei por duas vezes. Na primeira, fui recebido à porta pela recepcionista, Eugenia, que me brindou com o sorriso mais bonito que vi nos últimos tempos.
O espaço do restaurante é muito interessante do ponto de vista estético, e a comida é de muito boa qualidade, sendo da responsabilidade do Chefe de Cozinha Tomas, uruguaio, que teve a gentileza de falar comigo no final do seu trabalho.
Quanto ao preço do meu jantar, constituído por um prato, sobremesa e uma água, foi de cerca de 12 euros.

Quando deixo Montevideu de barco, está finalmente um dia bonito, luminoso.
Regresso a Buenos Aires, só para apanhar um voo para o norte da Argentina, para Salta, 1.600 km distante da capital.
Finalmente, vou ver montanhas de grande envergadura, na cordilheira dos Andes.

08 agosto 2006















Buenos Aires: casal "estátua", na Calle Florida.
Buenos Aires: Parque das Nações Unidas, com a escultura Floralis Genérica.
BUENOS AIRES – BONS ARES E BOA VIDA

Na etapa anterior, em Iguaçu, estava um tempo quase de verão, com temperaturas diurnas próximas dos 30º centígrados.
De repente, ao chegar a Buenos Aires, bastante mais a sul, encontro os “porteños” (assim são chamados os naturais de Buenos Aires) a tiritar de frio.
Pela primeira vez, desde que estou na América do Sul, sinto o rigor do Inverno. Há uma massa de ar frio vindo da Antárctica, que alcança a região de Buenos Aires, onde as temperaturas nocturnas rondam os 0º. Nada comparado com os mais de 20º negativos registados no sul do país.

Buenos Aires é hoje uma das grandes metrópoles da América do Sul, e do mundo, com mais de 13.000.000 de habitantes.
Localizada na margem sul do rio da Prata, que aqui tem cerca de 45 km de largura, e a mais de 100 km da foz do rio, a cidade espraia-se por uma vasta área, essencialmente plana.
Tendo decidido permanecer na cidade um mínimo de uma semana, optei por alugar um pequeno apartamento (http://www.alsolbaires.com/departamentos.asp?codigo=rec099), situado no bairro Recoleta, uma das áreas residenciais mais credenciadas de Buenos Aires. O custo diário é inferior a 40 €.
Depois de me instalar, saio para conhecer a cidade. A área onde resido é claramente ocupada pelas classes sociais mais abastadas, e as casas comerciais destinam-se a essa freguesia endinheirada.
Mais tarde, tomo conhecimento de que, o antigo presidente da Argentina Juan Perón, e a sua mulher Eva, mais conhecida como Evita, residiram na mesma rua em que eu me encontro.
No primeiro jantar em Buenos Aires, decido testar a famosa carne de bovino argentina. Procuro um restaurante de qualidade, Piegari – Vitello e dolce, situado a cerca de 10 minutos a pé de casa, e ao ser atendido, informo o empregado que aquele era o meu primeiro jantar em Buenos Aires e que, não conhecendo a famosa carne argentina, gostaria de ter essa experiência.
O empregado respondeu-me que, se assim era, ele se encarregaria de me proporcionar esse prazer, não me dizendo o que me iria servir.
Passado o tempo necessário para a confecção do meu jantar surpresa, depois de me servir uma boa salada verde com queijo, traz-me um magnífico naco de carne bovina, com cerca de 400 gramas, que dá pelo nome de bife de “chorizo”.
Deliciei-me com o bife, o melhor que os meus dentes trincaram até hoje.
Quanto ao custo desta refeição, servida num bom restaurante, foi de cerca de
15 €. Esta informação serve apenas para aferir quão baixo é, para nós, “pobres” portugueses, o custo de vida actual na Argentina.
Esta situação favorável a visitantes de origens diversas, devida a uma recessão económica extrema, acompanhada de uma forte desvalorização do peso argentino, faz com que a Argentina esteja na moda, em termos turísticos.
A presença de visitantes é sentida com facilidade, sobretudo os vizinhos brasileiros que, mesmo dizendo mal dos argentinos, aqui vêm em grande número.

Ainda no que à gastronomia diz respeito, sabendo de antemão que aqui se fazem alguns dos melhores gelados do mundo, dediquei-me a comprová-lo, apesar do frio.
Ao longo da minha estada na cidade, experimentei quatro casas de marcas diferentes. As minhas preferidas são a
Freddo (http://www.freddo.com.ar), e a
Un’Altra Volta (http://www.unaltravolta.com.ar/).
Para além de cada uma destas marcas oferecer dezenas de sabores de gelado, com predominância para os chocolates e doces de leite, este último um doce muito popular na Argentina, têm casas atraentes e confortáveis, sobretudo a Un’Altra Volta. Hoje, sábado, estive numa destas, onde comi dois gelados.
Tendo conversado com alguns dos empregados, perguntei a que horas é que iriam encerrar a casa. A resposta foi, … às quatro horas da madrugada.
Recordo apenas que estamos no Inverno.

À parte a oferta de restauração que é excelente, Buenos Aires tem igual nível no comércio em geral.
Particularmente, chamou-me a atenção a grande quantidade de livrarias, nos vários bairros por onde andei. Há-as para todos os gostos, grandes e pequenas, e todas são bastante frequentadas, por adultos e crianças, o que denuncia um hábito de leitura generalizado.
De todas as livrarias da cidade, uma merece destaque especial, pela localização, dimensão e qualidade. Refiro-me à El Ateneo, situada na Avenida Santa Fe.
Esta livraria ocupa um edifício do primeiro quartel do século XX, construído na época para servir de cine-teatro, com o nome Grand Splendid. Na época, com capacidade para cerca de 500 espectadores, recebeu muitos nomes importantes da cena musical argentina. Mais tarde, entrou em decadência e foi abandonado. Resgatado para a sua nova função, o espaço é magnífico. A livraria/discoteca é constituída por cinco pisos, sendo três deles galerias que circundam o piso térreo. No espaço que antigamente serviu de palco, existe um café confortável, do qual se tem uma vista soberba sobre a plateia e galerias, repletas de prateleiras com livros e música.
Esta é seguramente, uma das livrarias mais bonitas do mundo!

A minha estada em Buenos Aires foi também marcada pelo reencontro com a Anna, amiga e ex-vizinha de São João do Estoril, que está agora a residir no Rio de Janeiro, onde já nos tínhamos encontrado. Casualmente, a Anna veio passar uns dias a Buenos Aires, pelo que passeámos juntos num dos dias.
Outros dois encontros casuais merecem destaque: um dia, passeava eu num parque, onde se encontra uma escultura invulgar, metálica, que representa um flor, de escala gigantesca, chamada Floralis Genérica, quando me cruzei com uma jovem mulher brasileira que, tal como eu, passeava sozinha. Naturalmente, aproveitámos a presença de ambos para nos fotografarmos frente à escultura.
Após as fotografias, ao apresentarmo-nos, deu-se a casualidade da Cristina estar a regressar ao Brasil, depois de ter estado a viver e trabalhar durante cerca de meio ano na, … Nova Zelândia.
Esta coincidência foi suficiente para estimular a minha curiosidade, pelo que passámos algum tempo juntos, aproveitando para visitar algumas áreas de Buenos Aires.
A Cristina, nascida e criada em São Paulo, a grande metrópole do Brasil, depois de se licenciar em Engenharia Alimentar, descontente com a sua vida profissional no Brasil, partiu para a Nova Zelândia, para lá trabalhar numa empresa vinícola.
Embora tivesse apreciado a experiência, resolveu regressar agora ao Brasil, e a São Paulo. A Cristina sabe que, depois de ter vivido num país como a Nova Zelândia, regressar à sua cidade natal envolve alguns riscos, pelo que considera outras alternativas externas ao Brasil.
O segundo encontro que merece destaque deu-se num restaurante popular que se situa em frente ao edifício onde residi em Buenos Aires, numa noite em que lá jantei.
Ao meu lado sentou-se um casal de idade avançada, vestido de modo elegante. Rapidamente começámos a falar, apresentando-nos mutuamente.
A Vilma e o Oscar residem no bairro em que estamos, e são clientes habituais da casa.
O Oscar refere uma viagem que fez a Portugal, com os pais e irmãos, em 1941. Mostra-se muito interessado na minha presença na Argentina, e oferece-se para me acompanhar num passeio a combinar.
Por interesse mútuo, voltamos a encontrar-nos, primeiro em casa do casal, e depois para um passeio que o Oscar conduz pelo bairro em que vivemos, Recoleta, durante o qual ele se revela não só um guia interessante mas, também um amante das artes visuais, particularmente de pintura, que também pratica, como amador.
O Oscar, com 77 anos de idade, é professor de educação física aposentado, e tem uma saúde física invejável.
O bairro Recoleta, como outros que visitei, tem vários jardins com árvores magníficas, algumas centenárias, e muitas estátuas, maioritariamente dedicadas a personalidades importantes da nação.
Nestes espaços, particularmente neste bairro, habitado por pessoas abastadas, vemos com frequência pessoas que passeiam cães, aos molhos. Na verdade, são profissionais que cumprem um programa de passeios higiénicos com os cães dos seus clientes, pessoas atarefadas. A curiosidade é que, cada pessoa circula normalmente com vários cães (cheguei a ver um que conduzia, sem se atrapalhar, uma dúzia deles).
Estes sinais de vida desafogada coincidem com outros de sinal contrário, que denunciam as dificuldades económicas sentidas por muitos dos residentes. Os mais significativos são, os pedintes, particularmente crianças e mulheres, e os “cartoneiros”, pessoas que percorrem as ruas, vasculhando nos caixotes de lixo, para apanharem papel e derivados, para reciclagem.
Apesar destes contrastes sociais e económicos, a vida em Buenos Aires é bastante segura, pelo menos se comparada com o que sucede nas principais metrópoles do Brasil.

Um dos símbolos culturais de Buenos Aires, e da Argentina, é o Tango, estilo musical enraizado na cidade, mas com muitos adeptos estrangeiros.
Não sendo eu um apreciador particular deste género musical, e muito menos um bom dançarino, quis sentir o pulsar musical do Tango em Buenos Aires.
Para isso, fui a um local onde se efectuam as chamadas milongas, que são bailes destinados a quem quer dançar, havendo muitos professores disponíveis, e onde também actuam músicos.
O local, a Confiteria Ideal, é um café tradicional do século XIX, actualmente em decadência. Na noite em que o visitei, pude apreciar excelentes dançarinos, tal como principiantes (de várias nacionalidades), que dançavam ao som de música gravada até que, já depois da meia-noite, a música passou a ser tocada por uma orquestra de tango.
Numa outra noite, dei-me à extravagancia de ir ao famoso Teatro Colón, que em breve irá cumprir o seu primeiro centenário, para assistir a um espectáculo comemorativo do cinquentenário da orquestra do maestro, e executante de “bandoneon”, Leopoldo Federico, um dos nomes mais importantes da história do Tango.
A sala estava quase cheia, sobretudo de argentinos, e ao meu lado sentou-se, casualmente, um casal de italianos, de Milão, que se mostrou impressionado com a grandeza do Colón, maior que o La Scala. A sala tem um pé direito altíssimo, onde cabem sete níveis de galerias, maioritariamente com camarotes.
O espectáculo foi de grande qualidade musical e sobretudo, emocionante, pelo carinho partilhado entre os músicos participantes, incluindo o maestro homenageado, e o público.

Depois de nove dias passados em Buenos Aires, deixo a cidade e o país, ao qual regressarei dentro de uma semana, para fazer uma curta visita ao Uruguai, país vizinho, que está na margem norte do Rio da Prata.
A Buenos Aires ainda regressarei antes de deixar definitivamente a Argentina, no inicio de Setembro, o que acontecerá com muito prazer, já que apreciei bastante esta minha primeira visita à capital da Argentina.




02 agosto 2006

Cataratas do Iguaçu.
(Fotografia tirada do lado do Brasil)
O rio Iguaçu, depois das cataratas, vendo-se ao fundo a Garganta do Diabo.
(Fotografia tirada do lado do Brasil)
Parque das Aves: tucano.
Agustin, jovem argentino,
com uma borboleta.