12 fevereiro 2007

AUCKLAND – A CIDADE DAS VELAS

A viagem de São Francisco até Auckland é longa. Segundo as informações prestadas a bordo do Boeing 747 da Air New Zealand, de nome Christchurch, são cerca de 10.600 km, a percorrer em 12.30 horas.
Individualmente, esta é a viagem mais longa de todas as efectuadas desde a minha saída de Lisboa. Sendo uma viagem nocturna, como sempre, quase não consigo dormir. O avião estava cheio mas, apesar disso, o voo foi bastante tranquilo. A maioria dos passageiros ficou “agarrada” aos inúmeros programas audiovisuais do avião, com ecrãs individuais.
Uma particularidade desta viagem, é a de atravessar a linha imaginária que separa os Hemisférios Ocidental e Oriental, que fica próxima da Nova Zelândia (NZ), a oriente. Assim, de uma assentada, viajo do Hemisfério Norte para o do Sul, e do Hemisfério Ocidental para o Oriental, avançando repentinamente um dia no tempo.
Ao chegar à NZ, atinjo também o ponto mais distante de Portugal, já que a NZ se encontra nos antípodas, relativamente a Portugal.

Chegamos a Auckland de manhã muito cedo, ainda de noite. As formalidades alfandegárias são rápidas, apesar de rigorosas, particularmente no que respeita à chamada bio-segurança.
Como a NZ é um território isolado de outras áreas povoadas por espécies animais e vegetais, tem um ecossistema com características muito específicas, que as autoridades neozelandesas tentam preservar a todo o custo.
Assim, qualquer produto que possa interferir no equilíbrio ambiental da NZ, é expressamente proibido de entrar no seu território. Neste grupo, estão incluídos produtos alimentares crus, plantas, madeiras, e animais.
Todos os passageiros que chegam à NZ têm que preencher um documento, com o qual se responsabilizam pelo que transportam. Como toda a bagagem é inspeccionada por aparelhos de raios-X, à chegada, qualquer infracção é severamente punida.

Cansado, saio do aeroporto para me dirigir de imediato a um hotel onde me apresento para receber a chave dum apartamento que aluguei no centro da cidade.
Depois de descansar um pouco, saio para fazer o reconhecimento de Auckland.
Gostaria de referir que, em 1994, estive com a Ana na NZ durante uma semana. Nessa ocasião, não estivemos na cidade de Auckland, tendo apenas utilizado o aeroporto para entrar e sair do país.
Os primeiros contactos com a cidade revelam de imediato uma população heterogénea, do ponto de vista étnico e cultural, com uma percentagem elevada de asiáticos.
Só para ilustrar o que digo, ao sair do aeroporto, dirigi-me à paragem dos táxis, onde estavam vários motoristas a conversar, todos indianos. No hotel, o empregado que me transportou ao edifício onde fiquei alojado, é etíope. O edifício em que estou, com cerca de 150 apartamentos, parece fazer parte duma cidade da China, já que quase todos os residentes são chineses. Aliás, nas redondezas deste edifício, quase todas as lojas são controladas por chineses.
Duas dessas lojas, cafés-internet, estão abertas permanentemente.
De memória, nos restaurantes e cafés onde estive nestes dias passados em Auckland, já conversei com empregados(as) da Roménia, Polónia, Rússia, Escócia, África do Sul, EUA (esta descendente de mãe portuguesa), Argentina, Chile, Filipinas, Afeganistão e outros de que já não me lembro.
Este “melting pot” de Auckland espelha bem a realidade dum país que tem uma população escassa, pouco mais que 4.000.000 de habitantes, e uma densidade populacional muito baixa.
Só para ilustrar melhor a situação demográfica da NZ, refiro que o país tem uma área semelhante às das Ilhas Britânicas e do Japão. Sem precisar quantos habitantes têm estes dois países, é imensa a diferença populacional com a NZ.

A minha chegada a Auckland coincidiu com o fim-de-semana em que se comemora o aniversário da cidade (apenas 167 anos de existência), pelo que algumas festividades estavam em curso.
Logo no segundo dia da minha estada, realizaram-se na baía de Auckland regatas destinadas a todo o tipo de embarcações à vela. Esta cidade é conhecida como a cidade das velas, pelo facto de ter uma grande quantidade de barcos à vela, e pelos seus habitantes serem apaixonados por esta actividade.
Diga-se desde já que, a NZ é o país do mundo que tem o maior número de barcos de recreio per capita.
Assim, para melhor apreciar as regatas comemorativas do aniversário da cidade, atravessei a baía, de barco, até Devonport, e aí caminhei até um promontório chamado North Head, de um dos muitos vulcões extintos desta região.
Devonport, situada a 15 minutos de barco do centro de Auckland, faz parte da área urbana desta, designada de North Shore, e é extremamente agradável, pelo equilíbrio entre a arquitectura e o ambiente.
O percurso até North Head é feito a pé, pelo que observo a grande quantidade de pessoas que se posicionam ao longo da linha de costa para melhor apreciarem os barcos que passam. Contudo, muitas dessas pessoas não se limitam a ver os barcos, mas confraternizam entre si, fazendo piqueniques, como em Portugal já não se faz.
Este é um hábito social perfeitamente enraizado na sociedade neozelandesa, como mais tarde poderei confirmar, noutras ocasiões.
Para além disso, muitas pessoas, adultos e crianças, caminham descalças nos espaços naturais, o que lhes confere uma imagem estranha, a que na Europa não estamos habituados. A meu ver, este gosto por caminhar descalço, tem a ver também com o facto dos neozelandeses terem muito respeito pelo ambiente, e como tal, a natureza está limpa, logo pode ser usufruída de modo mais intimo.
Também, a NZ tem pouquíssimas espécies animais agressivas para o ser humano. Apenas se conhecem duas espécies de aranhas que são venenosas, ambas raras. Uma delas, foi “importada” da Austrália.
Voltando às regatas, North Head é um miradouro privilegiado para observação dos barcos (GE), tendo também uma vista deslumbrante da região.
Depois de me deliciar com a observação das centenas de veleiros que competiam nas regatas, e com os hábitos sociais dos espectadores, regressei ao centro de Auckland, para me dirigir ao local nas docas, onde a equipa de vela da NZ que irá competir na Taça América, está sedeada.
Hoje, a equipa designada Emirates Team New Zealand abriu as portas do seu centro náutico ao público, para se despedir de Auckland, já que todos irão partir para Espanha, para Valência, onde em breve vão começar as regatas da Taça América.
A confiança da equipa nas suas capacidades é tal que, o lema das festas é, “Vamos trazer a Taça América para casa!”.
Milhares de pessoas visitaram o centro náutico da equipa, onde entre muitas informações sobre o projecto, estavam presentes os dois exemplares do novo modelo de barco com o qual a equipa vai competir em Espanha.
Para evitar espionagem das equipas concorrentes, o casco e a quilha das duas embarcações estava oculto.
A cerca de 100 metros de distância das instalações da equipa da NZ, situa-se o centro duma das suas principais concorrentes, a equipa dos EUA, designada como Oracle/BMW.
Esta área portuária é quase exclusivamente dedicada a grandes embarcações de recreio. Não sendo um especialista na matéria, fiquei verdadeiramente impressionado com a qualidade de alguns barcos que ali se encontram acostados.
Dos vários grandes veleiros ali presentes, não posso deixar de destacar o Kokomo (http://www.kokomo.com.au/Superyacht170ft/tabid/62/Default.aspx), lançado à água em 2006, imponente nos seus quase 52 metros de comprimento, com apenas um mastro, de mais de 60 metros de altura. Ao vê-lo, sonhei com uma viagem a bordo.

Para melhor conhecer a cidade (GE x 2), embarco numa visita guiada, que confirma a ideia de que Auckland é uma cidade atraente, maioritariamente horizontal, organizada, com muitas áreas verdes, bem tratadas.
Contrariamente ao modelo de comércio dominante noutros continentes, aqui ainda é o mais importante, o comércio de rua.
No decurso da visita guiada à cidade, tive a oportunidade de visitar o “Kelly Tarlton’s Antarctic Encounter and Underwater World”, local de entretenimento onde podem ser observadas várias espécies animais marinhas, particularmente peixes e pinguins.
Um outro local popular de Auckland, facilmente referenciado, é a Sky Tower, uma torre com 328 metros de altura, que é a construção mais alta do Hemisfério Sul.
Esta torre, que tem várias plataformas acessíveis ao público, duas das quais com restaurantes, sendo um deles giratório, faz parte dum complexo que inclui hotéis e um casino, para além doutros equipamentos.
Uma subida à torre é recomendável, para quem não tenha vertigens, e queira ter uma visão aérea da cidade. Na plataforma onde estive, algumas áreas de pavimento são em vidro transparente, o mesmo acontecendo nos elevadores.

Quanto a museus de arte, a oferta não é grande mas, o Museu de Auckland, de construção clássica, imponente, é uma referência, sobretudo pelo espólio de arte Maori (o povo indígena da NZ), e de outras ilhas do Pacifico Sul.
Aliás, no museu, acontecem diariamente apresentações de cultura maori, feitas por grupos locais.
Este museu está situado num imenso parque urbano, chamado Auckland Domain, onde existem outros equipamentos destinados à população da cidade, tais como áreas relvadas para a prática de alguns desportos, um coreto para espectáculos musicais, no qual actuou, no dia em que lá estive, um grupo de jazz. Tratava-se dum espectáculo gratuito, num domingo, presenciado por muitas centenas de espectadores que, não tendo qualquer estrutura de apoio ao coreto para se sentarem, não se fizeram rogados para se sentarem, ou deitarem na relva, muitas vezes acompanhados por comida e bebida (mais um exemplo do gosto dos neozelandeses por piqueniques), em perfeita comunhão com a natureza e com os músicos.
Neste mesmo parque, existe também um magnífico jardim, com estufas, designado Jardim de Inverno.
Voltando aos museus de Auckland, visitei a Art Gallery, situada numa área central, adjacente ao magnífico Albert Park, pelas suas árvores majestosas, que concentra a colecção de arte (pintura e escultura) mais importante da NZ.

Dos restaurantes visitados, destaco o Soul, um dos restaurantes da moda em Auckland, situado na área portuária mais procurada pelos residentes e visitantes, junto aos iates mais imponentes.
Também interessante é o Mercado de peixe da cidade, bastante limpo, se comparado com os congéneres de Portugal, dentro do qual existem dois restaurantes de peixe e marisco, sendo um deles dedicado à gastronomia japonesa.

Durante a minha estada em Auckland, tive a oportunidade de conhecer um casal neozelandês, residente na cidade, por intermédio duma amiga que reside na cidade de Hamilton, a Cecilie, com quem me encontrarei mais tarde.
A Lisa e o Richard, que já viveram na Europa, em Inglaterra, são apaixonados por viagens. Há poucos anos, quando resolveram regressar à NZ, fizeram-no de modo distinto: viajaram de motocicleta, a partir de Londres, atravessando a Europa e a Ásia. Durante 18 meses, percorreram 70.000 km e visitaram 22 países, coleccionando histórias que guardaram num diário publicado na Internet (http://www.horizonsunlimited.com/tstories/richardandlisa/)
O nosso primeiro encontro decorreu em casa deles, onde jantámos, também na companhia dum sobrinho deles. Naturalmente, as conversas que tivemos abordaram sobretudo as experiências de viagens que temos tido.
Posteriormente, voltámos a encontrar-nos, para viajarmos para a Ilha de Waiheke, que se encontra ao largo de Auckland, para nela passarmos umas horas.
Esta ilha tem uma população residente considerável, parte da qual trabalha na cidade Auckland, que dista apenas 35 minutos de barco.
A ilha é reputada pelas culturas vinícolas e de oliveiras, e pelas actividades artísticas e culturais. Nesta altura, decorria uma interessantíssima manifestação artística denominada “Sculpture on the Gulf” (http://www.sculptureonthegulf.co.nz/), com periodicidade bienal.
Este projecto é destinado a escultores neozelandeses, que apresentam trabalhos expostos ao público em espaços naturais situados numa área costeira da ilha. Este ano, foram apresentadas 26 esculturas, que eram observadas pelo público ao longo dum percurso pedestre de grande beleza paisagística (GE).
Curiosamente, no início do percurso, estava instalado um centro de informações para o público que, para além das informações respeitantes à exposição, oferecia protector solar a quem quisesse. Como dizia o Richard, mais vale gastar algum dinheiro em protector solar, que tratar cancro de pele.
Neste passeio à Ilha de Waiheke participou também a Rachel, amiga da Lisa e do Richard. Todos transportavam grandes mochilas, pesadas, as quais serão utilizadas dentro em pouco para um passeio especial que os três irão fazer à Ilha do Sul. Este chama-se Milford Track, e é o passeio pedestre mais famoso da NZ, também considerado um dos mais bonitos do mundo.
O Milford Track é feito em grupos organizados, seguindo um percurso obrigatório, ao longo de quatro dias e três noites, no sudoeste da Ilha do Sul.
Com grande pena minha, não irei ter esta experiência na íntegra, por receio de não ter capacidade física suficiente, mas mesmo assim, espero poder caminhar durante algumas horas no início do primeiro percurso. Esse grande momento surgirá mais tarde, quando estiver na Ilha do Sul.

A outra ilha da região de Auckland que visitei, foi Tiritiri Matangi (http://www.tiritirimatangi.org.nz/), que é uma de várias ilhas santuário na NZ. Estas destinam-se a proteger espécies animais e vegetais que de outro modo, dificilmente escapariam à extinção.
Tiritiri Matangi (GE) fica a cerca de uma hora de barco a norte de Auckland, e tem uma história recente interessante: Durante muitos anos foi uma ilha explorada por residentes, tanto para actividades agrícolas, como para criação de gado.
As consequências para o ambiente foram nefastas, o que motivou uma conjugação de esforços públicos e privados que levaram à criação da actual reserva/santuário, há pouco mais de vinte anos.
Neste período, foram plantadas na ilha cerca de 300.000 árvores nativas, por voluntários, e introduzidas espécies de aves que se encontravam em vias de extinção, depois de eliminadas as espécies animais predadoras para as aves.
Hoje, vivem em permanência, ou temporariamente na ilha, cerca de 80 espécies de aves, que podem ser observadas mediante visitas guiadas ou não.
No dia em que eu visitei Tiritiri Matangi, terão estado na ilha aproximadamente cem visitantes. As visitas guiadas são conduzidas por guias voluntários, maioritariamente mulheres, normalmente de idade avançada, que se deslocam para a ilha propositadamente.
No meu caso, acompanhado por duas outras pessoas, fomos guiados pela Sue, professora reformada, que conhece muito bem a ilha, tendo participado na reflorestação da mesma.
Para além das aves, e da paisagem, também podem ser observados com frequência, pinguins azuis, espécie de pequena estatura que habita regularmente na ilha.

Não escondo a minha admiração pela NZ, e o desejo de poder um dia, aqui viver.
Assim, aproveitei a oportunidade de estar na maior cidade do país para consultar algumas fontes que me pudessem fornecer informações acerca dos procedimentos para obtenção de autorização de residência na NZ.
Depois de abordar os Serviços de Imigração e uma empresa privada que trabalha na área da imigração, confirmei a ideia de que, caso pretenda obter autorização de residência no país, terei que conseguir um vinculo profissional com uma empresa nacional, após o que poderei solicitar autorização de residência.
Para já, vou prosseguir o meu plano de viagem, no sentido de melhor conhecer o país, após o que tomarei as decisões que melhor me sirvam.
Sendo a NZ um país especial para mim, preparei antecipadamente esta viagem pelo país, antes de iniciar a minha volta ao mundo. Seleccionei um total de 111 locais que tentarei visitar no decorrer dos próximos dois meses, período em que estarei na NZ.
Vou pois iniciar a minha volta à NZ, com as melhores expectativas.

GE - Cinco fotografias publicadas no GOOGLE EARTH.

4 comentários:

Anónimo disse...

Fernando!
Parece estar tudo a correr Bem por aí. Claro que uma mudança nunca é fácil mas parece que a NZ e tu foram feitos para qualquer coisa de Especial. Espero que aconteça!
Um abraço,
José Manuel

Anónimo disse...

Fernando;

Desejo-te a maior sorte para essa aventura que é percorrer o país dos teus sonhos.

Um beijinho,
Ana

Anónimo disse...

Fernando,

Eu perdi o endereço para este Web site! Mas... I found it again this morning. It was lovely to accidently meet you in Auckland at NZ Trade & Enterprise building. I hope you found Singapore Airlines.
I will keep reading your blog as you write very well... so well that i can almost understand Portuguese!

bom viagem
Jada McPhee

EmeCe disse...

Morgado, si finalmente vivirás en NZ, iré por ti.
Beijo
MCarmen