10 setembro 2006

A ARTE DE VIAJAR, NO SÉCULO XXI

Fez agora três meses que o meu périplo pelo mundo começou.
É uma boa oportunidade para fazer um balanço do que tem sido esta minha experiência.

Em primeiro lugar, estou a fazer uma maratona, ou seja, o facto de estar há vários meses a viver com uma mala e uma mochila, com o total de cerca de 40 kg, faz com que tenha que ponderar bem os passos que dou, e como os dou.
No geral, tenho que dosear bem os meus esforços, para que não me falte o fôlego, que a corrida promete ser longa.
Já agora, os pertences que me acompanham foram criteriosamente escolhidos antes de iniciar a viagem, e estou satisfeito com quase todas as escolhas que fiz.
À parte alguns objectos não essenciais para a viagem que já regressaram a Portugal, e outros que irão em breve, graças à ajuda de amigos que viajando para o Brasil e Argentina se prontificaram a colaborar, tenho o que é necessário para viver com qualidade.
De tudo o que transporto, destaco a roupa confortável, sem atender a estilos ou etiquetas. O mesmo é fundamental para os sapatos, já que as caminhadas são uma constante. No meu caso, confio os meus pés, com satisfação, a dois pares de sapatos da Timberland, que têm comprovado o nível publicitado pela marca.
Depois, atendendo ao facto de estar a viajar com um computador, máquina fotográfica e telemóvel, faz com que a necessidade de acesso a corrente eléctrica seja frequente. Assim, para não estar sujeito a surpresas, tenho uma caixa que contem adaptadores para tomadas eléctricas de todos os modelos existentes no mundo, espero eu. Claro que os transformadores dos equipamentos têm que ser adequados a dupla voltagem.
Tudo o que está comigo é transportado numa mala e uma mochila, da marca Samsonite, de geração recente. Estou bastante satisfeito com a qualidade destas duas peças, embora admita que a mala poderá vir a não resistir ao tratamento pouco cuidado que lhe é dado nos aeroportos. A ver vamos!

Neste início de século, o acto de viajar é vulgar, havendo no entanto várias formas de o fazer, que definem o perfil dos viajantes.
Ao longo destes três meses, cruzei-me com inúmeros viajantes, tendo falado com algumas centenas. Desde logo ressalvo o facto de ainda não ter encontrado qualquer português, embora já tenha pressentido a presença próxima de alguns, poucos, através de livros de comentários que tenho folheado, particularmente em museus. Já me cruzei e comuniquei com pessoas de muitas etnias e culturas, na maioria europeus e norte-americanos, para além dos residentes nos países por onde passei.
A maioria dos viajantes que encontrei, enquadram-se na categoria que posso designar como dos “turistas”. Muitos deles, para além de terem um tempo muito limitado para conhecerem os locais que visitam, pouco ou nada sabem dos mesmos. Esta categoria é a que menos me interessa.
Depois, existem os viajantes que, para além de disporem de mais tempo, têm interesses específicos que os levam a visitar determinados locais.
Esta categoria tem uma subcategoria maioritária, que é hoje um fenómeno social. Refiro-me aos “mochileiros”, ou seja o que for que chamemos a estes viajantes, que estão em todo o lado.
Maioritariamente jovens, com aparência pouco cuidada, vivem de expedientes diversos, com pouco. Dedicam-se quase sempre à produção e comercialização de trabalhos artesanais, que tendem a ser repetitivos.
Este grupo de viajantes de longa duração raramente se relaciona com outros grupos de viajantes, sendo também alvo de segregação, e nunca se hospeda em hotéis.
O grupo no qual me insiro, viajantes de longa duração, com conforto, é minoritário.

Viajar durante muito tempo hoje, não significa necessariamente ficarmos isolados do mundo, e das pessoas com quem temos laços afectivos.
De facto, os meios de comunicação actualmente ao nosso dispor permitem-nos manter contactos frequentes com quem quer que aos mesmos tenha acesso.
Pelo que se vê, o telemóvel é hoje um instrumento de uso corrente, em todo o lado. Tal como em Portugal, também nos países já visitados o uso do telemóvel tende a ser caótico.
Este fenómeno tecnológico mundial faz com que me pareça que, hoje o melhor amigo do homem (e da mulher) já não é o cão, mas sim o telemóvel.
Muito mais interessante que o telemóvel, para mim, é o acesso à Internet, que também se encontra vulgarizado.
Ao longo destes três meses de viagem, muito poucos foram os locais onde estive nos quais não havia acesso à Internet.
Para além da solução privada, a que eu prefiro já que tenho o meu computador comigo, encontramos o mais diverso leque de possibilidades de acesso à Internet, com predominância para os locais onde podemos alugar um computador, por valores insignificantes.
A maior parte destes locais são pouco cuidados, oferecendo desconforto e nenhuma privacidade.
Mas existem excepções. Recentemente, em Córdoba, pude comprovar o que o futuro nos reserva em matéria de informática: ao passar numa das principais artérias da cidade observei um edifício contemporâneo, que à primeira vista me pareceu albergar uma empresa de comércio de equipamentos informáticos, Empiretech (http://www.empiretech.com.ar/).
Estranhei o facto de ver muitas pessoas no seu interior, e decidi espreitar. Constatei tratar-se dum centro de informática, com centenas de computadores prontos a serem alugados para acesso à Internet, ou para outros fins. São quatro andares totalmente preenchidos pelos computadores, muito bem instalados, com um elevado nível de conforto para os utilizadores. Estes, de todas as gerações, frequentam o local até altas horas da madrugada, tendo ainda ao seu dispor um bar e serviços técnicos habilitados.

Viajar, no meu caso, também significa conviver com a solidão.
Ao longo destes três meses, muitas experiências vivi sozinho, que gostaria de ter partilhado com alguém.
Felizmente que não me deixo abater pelo facto de estar a viajar só, sentindo-me um ser privilegiado por poder observar o mundo em directo.
De qualquer modo, mais vale viajar só que, não viajar!

Nota: aproveito para anunciar a primeira alteração de rota na minha viagem.
Depois de visitar o Chile, irei para o Peru, país que inicialmente havia excluído do meu itinerário.
Não quero perder esta oportunidade para visitar o território onde a civilização inca teve o seu epicentro.

7 comentários:

Anónimo disse...

Afinal hoje domingo havia mais estas linhas no teu blog.
Optimo ires tambem ao Peru, país que não conheço mas mantendo um grande interesse em conhecer Machu Pichu.
Obrigado. Abraço
Orlanda

Anónimo disse...

Fernando,

É bom saber que esta apreciando a viagem.
Já deve ter muitas histórias para contar e experiências vividas das quais não vai esquecer nunca.
O Pedro começou a andar agora, todos mandam um abraço.

Paula

Unknown disse...

Olá, Se vais ao Perú aproveita e mais um pulinho estás no lago Titicaca. Vale a pena. Além do que, se bem me recordo, há por ali alguns monumentos que nos fazem acreditar que houve uma outra civilização (da qual não me lembro do nome) muito anterior aos Incas e bem mais interessante.
Que bom que estás bem.
Beijo

Carla.... írmã da Fata

Anónimo disse...

Olá Fernando,

Cheguei de férias há uma semana e confesso que já tinha saudades de viajar pela América do Sul.Viagem esta, barata e confortável, pois basta ler as tuas crónicas.Não é dificil visualizar situações e paisagens e simultaneamente sentir emoções.
Ainda bem que tudo está a correr como tinhas planeado. Nós continuamos a acompanhar-te.
Um beijo,
Ana

Anónimo disse...

Olá Fernando

Depois de ler esta tua descrição da bagagem 40 Kg (uma mala e uma mochila) a mim assusta-me. Eu que viajo quaze, todas as semana, com uma mala pequena (8 Kg) e um saco com o PC (5 Kg) jà me chateia. Gosto de viajar, mas acontece que não gosto de levar nada nas mãos.
O despachar as malas nos aviões, as vezes e horas que perdemos á espera das mesmas nos terminais, tem-me feito pensar se não poderiamos inventar um tipo de roupa, (cuecas, meias, calças, camisas, descartavéis e de valor baixo que se podesse comprar e deitar fora) jà que como tu dizes os PC´s podemos alugar e aceder a eles em quaze todos os locais do mundo e sobre os PC´s, também não entendo como é que ainda hoje, são peças que pesam entre 2,5 a 4 Kg, pergunto-me porque os PC´s não são como os telemovéis, jà que pela Internet, podemos aceder a programas, guardar as nossas informações e voltar-mos a aceder a elas em qualquer parte do mundo.
Penso, que poderiamos ter uma PDA, que tivesse, acesso a Internet, com o telemóvel e GPS e aí sim viajar seria para mim um grande prazer.
Acredita, que muitas das vezes que leio os teus artigos, penso como tu te podes movimentar por todos esses lugares com tanta bagagem.

Fernando, quando ando pelos aeroportos e caminho pelas ruas, vejo que maior parte das pessoas hoje em dia, anda a puxar uma mala pequena, tem uma mochila (PC) as costas ou um saco (PC) pendurado ao ombro e isso faz-me lembrar em Africa, quando andavamos de carro por aquelas estradas, de vermos os nativos, com saco as costas e as mulheres com a trouxa de roupa a cabeça e pendurado no ombro uma panela.

Um abraço
Continua bem, mas nunca estejas sózinho, pois nós estamos sempre aqui, utiliza a Internet e contacta connosco.
Xico

Anónimo disse...

Olá Fernando,

Pois cá da minha parte também faço um balanço muito positivo da tua viagem! O que eu tenho visto, as conversas com os donos dos hóeteis, os livreiros, as emrpregadas da pastelarias, tudo tudo bisbilhotado. Os bolinhos e gelados que eu tenho comido!...
O frenesim da metrópole e a paisagem bucólica que eu também tanto aprecio.
E depois tenho gostado muito da tua escrita. Tens expressões lindas!!! (achei imensa piada teres confiado os teus pés pés ao Timberland!...)
Continua feliz.
beijinhos
susana

Anónimo disse...

Olá, Fernando,

Como sempre, as tuas descrições são um encanto. Continuo convencida de que vais aproveitar esta experiência para editar um livro de viagens com textos e fotografias maravilhosas.
Um beijo,
Isabel