14 abril 2007

A ILHA DO NORTE – DE WELLINGTON A AUCKLAND

No último dia de Março, regresso à Ilha do Norte, fazendo o percurso de barco entre Picton e Wellington.
Chegado a Wellington a meio da tarde, com tempo chuvoso, sigo viagem, pelo lado ocidental da ilha, a caminho de Wanganui, onde chego já de noite.
Wanganui é uma cidade interessante, localizada junto à foz do Rio Whanganui, que desagua no Mar da Tasmânia.
Uma das atracções de Wanganui é um barco antigo, movido a carvão, recuperado há alguns anos, após ter sido utilizado, como outros do mesmo estilo, durante muitos anos, como navio de carga e transporte de passageiros, no Rio Whanganui.
Hoje, o “Waimarie” navega de novo no rio, passeando visitantes a um ritmo de outrora. O leito do rio é tranquilo, o que possibilita uma viagem calma, apenas ensombrada por uma forte chuvada que fustigou o navio na parte final do percurso.
Outras das atracções de Wanganui são os seus belos jardins, espaços de lazer propícios a passeios agradáveis e à contemplação da natureza, bem como às muitas aves que por aqui habitam.

De Wanganui dirijo-me para o interior, para norte, em direcção ao Parque Tongariro, o mais antigo de todos os Parques Naturais da NZ.
Para lá chegar, percorro mais uma bela estrada, sinuosa, primeiro ao longo do leito do Rio Whanganui, e mais tarde por entre florestas de pinheiros, subindo em direcção ao planalto central da ilha, onde se situa o Parque Tongariro.
Este parque tem um duplo estatuto de Património da Humanidade, como área natural e também cultural. Do ponto de vista da natureza, sobressaem três cumes montanhosos, vulcânicos, Tongariro, Ngauruhoe e Ruapehu.
Este último, um vulcão activo, teve recentemente, há poucas semanas, uma manifestação de vida que foi amplamente noticiada. O Monte Ruapehu, tinha a sua cratera repleta de água e detritos, sendo aguardada uma descarga parcial, mediante a ruptura duma parte da parede da cratera. Para prevenir tal acontecimento, designado como “lahar”, que em meados do século passado provocou uma tragédia, quando a torrente de lama e detritos colheu um comboio de passageiros, vitimados pela enxurrada, as autoridades procederam a uma série de trabalhos, no sentido de controlar os elementos da natureza, quando acontecesse a “lahar”.
E foi precisamente isso que aconteceu há pouco, quando mais de um milhão de metros cúbicos de lama e detritos, derramados pela cratera do vulcão Ruapehu, correram encosta abaixo, levando consigo tudo o que estava no seu caminho, mas sem qualquer prejuízo significativo, nem perdas humanas.

É pois na base do vulcão Ruapehu que eu vou passar as próximas duas noites, numa pequena povoação chamada Whakapapa, onde para além de alguns hotéis, existe um excelente centro de informações do DOC (Department of Conservation).
Neste parque, existem inúmeros passeios pedestres disponíveis, literalmente para todos os gostos e capacidades físicas dos caminhantes. Provavelmente o mais popular de todos, por muitos designado como “o mais belo passeio dum só dia da NZ”, seja o “Tongariro Crossing”, longo percurso pelo planalto, com vistas soberbas para os três vulcões e lagos de águas cristalinas.
Mas, o “Tongariro Crossing” é demasiado exigente para mim, pelo que me contento em fazer, no mesmo dia, dois outros belos passeios, cada um com cerca de tês horas de duração.
Pela manhã, comecei pelo “Sílica Rapids”, que começa numa espécie de estepe, na encosta do Ruapehu. Em determinada altura, chego ao local onde confluem dois pequenos rios que correm velozes montanha abaixo. Um deles, tem a água cristalina, o que não surpreende, mas o outro, Waikare, cujo leito dista do anterior apenas algumas dezenas de metros, apresenta uma cor amarela clara, como se alguém tivesse pintado o leito do rio, embora a água seja igualmente cristalina.
A coloração do leito deste rio deve-se ao facto da água conter minerais (em inglês, alumino-silicate) que vão sendo depositados no fundo, à medida que a água desliza pela encosta da montanha. Mesmo depois da junção dos dois rios, durante algumas centenas de metros, permanece a situação.
Continuando o passeio, ao longo deste rio, o trilho entra numa área florestal onde mais uma vez, encontro as aves mais engraçadas que conheço na NZ. Refiro-me aos pequenos “Fantails”, pouco maiores que pardais, que devem o nome ao facto de terem uma cauda que, em determinadas ocasiões abrem, como se dum leque se tratasse. Como se isto já não fosse suficientemente interessante, ainda se dão ao prazer de se aproximarem dos caminhantes, normalmente em áreas com bastante vegetação, fazendo um voo errante, como se fossem borboletas, à nossa volta. Habitualmente, os “Fantails” apresentam-se em pares, provavelmente casais.
Depois de cruzar alguns outros cursos de água, sempre por pontes de madeira, o percurso termina junto à estrada que sobe para a estância de esqui que se encontra alguns quilómetros acima de Whakapapa.
Após o almoço, avanço para o segundo passeio do dia, “Taranaki Falls”, que começa à porta do hotel onde me encontro. Também este começa numa área de vegetação rasteira, para depois passar por uma floresta, voltando aos espaços amplos, rochosos, até alcançar o topo duma elevação, do qual se despenha a água dum pequeno rio, até alcançar a base, onde um pequeno lago de águas transparentes convida no mínimo à contemplação, prosseguindo então o leito do rio, já sereno.
Esta parte do percurso, ao longo do rio, por entre uma bela floresta, faço-a na companhia duma família irlandesa, o casal Paula e John, e os filhos Sadhbh (este nome irlandês pronuncia-se “Saive”) e Finn, residentes em Tóquio, Japão.
Eles estão pela primeira vez na NZ, aproveitando um curto período de férias, duma semana. Naturalmente, estão encantados.

No dia seguinte, parto do Parque Tongariro, seguindo para norte, abordando o Lago Taupo, o maior lago da NZ, por sul, percorrendo então o seu lado oriental, até chegar à cidade de Taupo.
Nesta parte do percurso, observo várias referências à abundância de trutas, nas águas do lago e nos cursos de água mais próximos. Aliás, esta região é considerada das melhores do mundo para a pesca de trutas, não apenas pela abundância destas, mas também pelo tamanho.
Infelizmente, a única forma de podermos apreciar este peixe, como comida, na NZ, é pescando-o, já que não se encontra à venda, sendo interdita a sua comercialização.
A cidade de Taupo, situada no lado norte do lago, goza das mesmas regalias doutras cidades da NZ: excelente localização, uma frente de lago com magnificas condições para passeios, piqueniques, ou simplesmente para praia, belos jardins (particularmente a Reserva Botânica Waipahihi) e, como valor acrescentado, locais próximos onde se podem observar manifestações secundárias de vulcanismo.
Estes sinais de vulcanismo, estão ligados a diversos vulcões activos que se encontram na Ilha do Norte, mas também a um vulcão extinto que existiu onde hoje está o Lago Taupo, que se formou quando aqui ocorreu a maior erupção vulcânica registada no planeta nos últimos milhares de anos. Esta erupção terá sido tão violenta que, toda a Ilha do Norte ficou coberta pelas cinzas emanadas pelo vulcão.
Das muitas áreas de interesse abertas a visitas, onde se podem observar manifestações secundárias de vulcanismo, próximas de Taupo, pude visitar “Craters of the Moon”, onde, numa área de dezenas de hectares, caminhamos quase sobre brasas, tantas são as erupções de gazes e líquidos que surgem de todos os lados.
Estas manifestações de energia provenientes do interior da terra resultam em constantes mutações à superfície, já que a NZ se encontra num ponto de confluência de duas placas tectónicas que se movimentam, colidindo.
Um pouco mais distante de Taupo, situa-se a área de “Orakei Korako”, também conhecida como “Hidden Valley”. A entrada nesta área faz-se através dum lago, que se percorre de barco, para então caminharmos por um trilho que nos leva a diversos locais onde ocorrem grande quantidade, e maior variedade, de manifestações secundárias de vulcanismo, que no local anteriormente descrito.
Ainda nos arredores de Taupo, merece destaque o local designado “Huka Falls”, onde o leito do Rio Waikato, um dos mais importantes da Ilha do Norte, estreita subitamente, fazendo com que as águas percorram um longo canal rochoso, com cerca de 15 metros de largura, ganhando velocidade e força, para então se despenharem numa pequena mas vigorosa queda de água.

De Taupo, viajo um pouco para norte, para Rotorua, também ela situada junto a um grande lago, com o mesmo nome, cidade importante, sobretudo pela cultura Maori, que tem nesta região a sua presença mais significativa, e também pelas abundantes manifestações secundárias de vulcanismo.
A minha curta estada em Rotorua permite-me apenas visitar os arredores localizados a sudeste, onde se encontram vários outros lagos. Um destes, o maior, Lago Tarawera, de grande beleza cénica, tem ao seu lado o Monte Tarawera, vulcão inactivo, que em 1886 teve uma violenta erupção, a qual destruiu uma área então designada de Terraços Brancos e Rosa, que pela beleza e dimensão era uma atracção turística importante nesta região.
Infelizmente, a erupção vulcânica de 1886 do Vulcão Tarawera fez com que os Terraços fossem submersos pelas águas do Lago Tarawera mas, mesmo assim, a área atrai a atenção de muitas pessoas, como atestam as centenas de casas que bordejam o lado ocidental do lago.

De Rotorua sigo para Hamilton, para me despedir da minha amiga Cecilie, que me acolhe com muita alegria e carinho, para então fazer o último percurso de estrada até Auckland.
Aqui, antes de sair da NZ, fico duas noites, para tratar de alguns aspectos logísticos, e para me despedir da NZ.
No último dia passado em Auckland, almoço no Mercado de Peixe, deliciando-me com uma dúzia de ostras de Bluff, e admiro mais uma vez os magníficos iates que se encontram no Porto de Recreio mais próximo do centro da cidade.

Setenta e quatro dias passados na NZ, quase 7.000 km percorridos nas suas estradas, e duas mil seiscentas e trinta e quatro fotografias aqui tiradas, resultam numa experiência inolvidável, que me fará cá voltar, logo que possível.

Agora, sigo para a Austrália, com três objectivos: visitar amigos lá residentes, conhecer melhor a cidade de Sidney, e descansar.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá, Fernando,

Não tenho dado notícias porque tenho tido imenso trabalho, mas vou recuperar o tempo perdido e acompanhar-te na tua viagem. Beijos,
Isabel

Anónimo disse...

Fiquei anónima... Isabel Veríssimo

Anónimo disse...

Olá Fernando,

Completei agora leitura das crónicas da NZ. A riqueza das descrições e a beleza das fotografias deixam uma enorme vontade de visitar esse paraíso.

Agora vou saltar para a Austrália.

bjs
susana