28 abril 2007

AUSTRÁLIA – SIDNEY E AS MONTANHAS AZUIS

Cerca de três horas e meia depois de deixar Auckland, o avião em que viajo aterra em Sidney. No aeroporto, esperam-me a Tara e o Joshua, jovens amigos australianos, aqui residentes.
A Tara e o Joshua, conheci-os há cerca de dez meses, no início desta minha viagem, em Atins, no Brasil. Desde então, mantivemos contactos e sabia que seria bem-vindo para ficar em casa da Tara e do Joshua, em Sidney.
Eles habitam agora, desde que terminaram a sua viagem à volta do mundo, no final de 2006, em Sidney, de onde a Tara é nativa, sendo o Joshua de Melbourne. Há pouco tempo instalaram-se num pequeno apartamento alugado, no bairro de Bronte, uma das áreas urbanas localizadas na costa oceânica.

Sidney, a maior cidade da Austrália, tem hoje uns 5.000.000 de habitantes, que se distribuem por uma vasta área geográfica. O centro da cidade, onde a mesma nasceu, está situado junto ao mar, frente a uma imensa baía, bastante recortada. Esta baía comunica com o oceano através duma passagem relativamente estreita, e divide a cidade nas áreas Sul e Norte. Actualmente, com o crescimento urbano e demográfico, a cidade desenvolveu-se tanto pelo litoral, como para o interior, sendo os bairros situados mais próximo da costa aqueles que gozam de melhor reputação, e os mais valiosos para o mercado imobiliário.
Os primeiros contactos com a cidade, onde havia estado há treze anos, revelam uma população multicultural, com grande diversidade étnica, particularmente representativa de países asiáticos.
Sidney, sobretudo pelas suas características geográficas e humanas, revela-se atraente para os visitantes, que se integram com facilidade na vida urbana.
Na verdade, poucas são as grandes metrópoles que conheço, onde desde os primeiros contactos, me sinto tão à vontade como aqui.
No dia seguinte à minha chegada, na companhia do Joshua, que por enquanto está desempregado, caminho até à praia de Bronte – cerca de dez minutos de distância – numa manhã ensolarada e quente, observando uma multitude de aves coloridas e ruidosas que habitam nesta região.
Chegados à praia, com um amplo parque ajardinado ao lado, onde predominam os surfistas, ou não estivéssemos na Austrália, onde o surf é uma paixão, o Joshua propõe um passeio ao longo da costa, para Sul. Numa das extremidades da praia de Bronte descubro uma excelente piscina oceânica, perto do mar, com as ondas a rebentarem ali mesmo ao lado. A utilização desta piscina, como de outras que existem ao longo desta costa, é gratuita. Noutro dia, aproveitando o resto do Verão que por aqui se faz sentir, dei uns mergulhos nesta piscina.
Observo com curiosidade as formações rochosas multicolores que definem a linha de costa. Logo após deixarmos a área de Bronte, cruzamos o terreno dum cemitério antigo, local de eleição para quem nele está sepultado, com vista panorâmica para o mar.
Pouco depois, passamos frente ao Clovelly Bowling Club, onde algumas dezenas de homens e mulheres de idade avançada jogam uma espécie de bowling, ao ar livre, em piso relvado, magnifico. Reparamos que todos falam italiano, pelo que supomos tratar-se dum grupo de imigrantes italianos que há muito aqui residem, mantendo a tradição linguística. A localização deste clube é soberba, num promontório, com vista ampla, sem obstáculos, sobre o mar.
Depois de cruzarmos várias pequenas baías, com praias e piscinas, sempre limpas, chegamos à baía de Coogee, bastante maior que as anteriores. Aqui, para além da praia e da área adjacente ajardinada, existe bastante comércio nas ruas mais próximas, para além de áreas residenciais, como aliás ao longo de toda esta costa.
A descrição deste meu primeiro passeio matinal pelo litoral de Sidney, serve também para referir que, ao longo de toda a costa da área urbana da cidade, existem dezenas de quilómetros de percursos pedestres bem definidos, e bem construídos, que permitem às pessoas fruírem dos espaços exteriores com facilidade.
Mais tarde, tive ocasião de caminhar, também a partir de casa, para Norte, em direcção a Bondi, a praia mais popular de Sidney.
Bondi goza de bastante fama, pelo que não é de estranhar que a praia, ampla, tenha mais público que as outras, e que as ruas mais próximas estejam repletas de comércio. No extremo Sul da praia, existe uma excelente piscina oceânica, de dimensões olímpicas, que pertence ao Bondi Icebergs Club, fundado na primeira metade do século XX, quando a praia de Bondi se tornou num pólo de atracção para os habitantes da cidade.
Esta piscina, embora possa ser utilizada por visitantes ocasionais, mediante entrada paga, é sobretudo frequentada pelos sócios do clube, que têm que efectuar um número mínimo de banhos por ano, mesmo no Inverno, sob pena de perderem o direito de utilização da piscina. Ao observar as pessoas que ali nadavam, apercebi-me que na maioria, eram excelentes nadadores, provavelmente alguns deles ex-atletas olímpicos.
No mesmo edifício onde está sedeado o clube, existem dois restaurantes, ambos com magnificas vistas para a praia. Um deles, Icebergs, é um excelente restaurante, como pude comprovar numa visita posterior, para jantar, na companhia da Tara e do Joshua.

Noutra ocasião, também com a Tara e o Joshua, fomos de carro até Watsons Bay, para então daí fazermos um passeio a pé até ao ponto mais a norte desta costa, South Head, onde a baía de Sidney comunica com o oceano.
Nesta área, situa-se uma de duas praias para a prática de nudismo na área de Sidney.
Frente a South Head, no outro lado da entrada da baía, situa-se North Head, continuando para norte a área urbana litoral da cidade.
Noutro dia, com o Joshua, fizemos o Hermitage Foreshore Scenic Walk, passeio pedestre que liga Rose Bay a Shark Beach, uma bela praia protegida por uma rede, para evitar a aproximação de tubarões. Este passeio, percorre uma área residencial de luxo, com grandes mansões, e vistas magnificas para o centro da cidade e a Harbour Bridge. Rose Bay serve de pista para hidroaviões que efectuam voos turísticos pelo que, à medida que caminhámos, observámos os aviões a amararem e a levantarem das águas da baía.

A minha primeira deslocação ao centro de Sidney é feita de barco, a partir dum ponto da costa, Rose Bay, onde param os barcos de transporte público que servem toda a área da baía.
No percurso até Circular Quay, centro nevrálgico dos barcos que servem as áreas litorais da cidade, passamos frente ao conjunto arquitectónico mais famoso de Sidney, designado como Sidney Opera House. Este símbolo da cidade edificado há pouco mais de trinta anos, está localizado num local fronteiro à baía, ao lado do Jardim Botânico, magnifico espaço de lazer.
As áreas envolventes da Opera House foram requalificadas nos últimos anos, denotando uma qualidade equiparada à do mais significativo símbolo da cidade, proporcionando aos milhares de visitantes diários daquela área urbana uma experiência bastante agradável.
Quanto ao Jardim Botânico, amplo e repleto de espécies botânicas interessantes, tem um bom restaurante “Botanic”, situado numa área central, onde também habitam milhares de morcegos que, durante o dia, podem ser facilmente observados pendendo das árvores que circundam o restaurante.
Voltando à Opera House, caminhando no sentido oposto ao do Jardim Botânico, em poucos minutos se chega ao terminal de barcos, Circular Quay, assim como a uma estação ferroviária, e a um terminal de autocarros, a partir dos quais podemos aceder a qualquer outra área da cidade.
Aqui ao lado, encontra-se o Museu de Arte Contemporânea, com uma boa cafetaria, e a área designada The Rocks, na qual a cidade foi fundada no final do século XVIII, sendo então o primeiro aglomerado populacional europeu, permanente, na Austrália.
Hoje, a área The Rocks é uma das mais populares atracções turísticas de Sidney, com os seus edifícios originais restaurados, ocupados na maioria por estabelecimentos comerciais. Logo a seguir, encontramos outro dos símbolos de Sidney, a ponte Harbour Bridge, famosa pelos espectáculos de fogo de artifício que nela são apresentados no final de cada ano.
De Circular Quay, caminhando, é um curto passeio até ao centro financeiro e comercial da cidade, onde também se encontra o município, Town Hall.
Nesta área, repleta de vida durante o dia, abundam os restaurantes das mais diversas culturas, particularmente asiáticas. Num final de tarde, passeando pelas ruas desta parte de Sidney, penetrei numa área definida por alguns edifícios de escritórios, bastante altos, para me encontrar na World Square, onde me sentei num banco. Observando os sinais de vida em meu redor, tive a sensação de estar numa grande metrópole asiática, provavelmente no Japão, Coreia ou China, tantas eram as pessoas originárias destes países que ali se encontravam, e tantos os restaurantes asiáticos existentes nas redondezas.
Naquela noite, jantei num restaurante espanhol, onde trabalham dois portugueses, da Ilha da Madeira.
A propósito de portugueses, aqui em Sidney existe uma comunidade portuguesa importante, que ocupa particularmente a área de Petersham, com os habituais estabelecimentos comerciais. Não visitei esta área da cidade mas, pude observar que, na Austrália existem vários sinais da gastronomia portuguesa tais como, os pastéis de nata, que se encontram frequentemente nas pastelarias, e os frangos assados, em casas de comida rápida, com nomes portugueses como “O Galo” e “OPorto”.
Mas, no que a comida diz respeito, o que mais me agradou nesta estada na Austrália foi a área alimentar do estabelecimento comercial David Jones. Este centro comercial, com tradição na vida da cidade, tem o melhor serviço de produtos alimentares que conheço no mundo, neste tipo de casas comerciais.
É uma área ampla, infelizmente subterrânea, onde podemos comprar tudo o que pretendemos de comida, com uma qualidade irrepreensível. Para além dos produtos para consumo caseiro, neste mesmo local podemos escolher entre inúmeros bares, tais como, Sushi, Ostras e Mariscos, Queijos, Massas, Noodles, e o meu preferido, o bar de Sumos e Frutas, onde servem saladas de fruta com o melhor iogurte que me lembro de ter comido.
Ainda nesta área urbana, merece destaque o edifício Queen Victoria, por certo um dos centros comerciais mais elegantes do mundo.

Aproveitei a minha estada em Sidney para visitar a região das Blue Mountains, situada a menos de duas horas de carro da cidade. Por se tratar duma vasta área natural, projectei alugar um automóvel para ter maior liberdade de movimentos. Num dos centros de informações turísticas de Sidney, solicitei a reserva duma viatura por três dias, tendo pago o serviço.
No dia previsto para viajar, lá fui com a minha mala até ao escritório da empresa de aluguer de automóveis, para receber o carro. Apresentei os documentos habituais, passaporte e licença internacional de condução, para ser surpreendido quando me pediram a minha carta de condução de Portugal. Não a tenho comigo, deixei-a em Portugal, pensando que seria inútil.
Segundo os empregados da empresa, a lei australiana obriga os clientes estrangeiros a apresentarem, para além da licença internacional, a do país de origem.
Desiludido, resolvi viajar de comboio. Da estação central de Sidney até Wentworth Falls são quase duas horas de viagem, com muitas paragens.
Chegado a Wentworth Falls, encontro-me com a Katherine, sobrinha da Cecilie, amiga residente em Hamilton, NZ. A Katherine reside há vários anos nesta pequena localidade, com o Garth, seu companheiro.
Nessa noite, jantamos em casa deles, na companhia dum casal amigo e vizinho, Roslynn e Brian, e lá durmo.
Como não tenho carro, a Roslynn fez o favor de nos emprestar o dela, para eu e a Katherine podermos dar um passeio pela região. Assim, no dia seguinte, percorremos algumas dezenas de quilómetros à volta de Wentworth Falls, para poder ver um pouco da área das Blue Mountains. Esta está hoje classificada como Património Natural da Humanidade, pela Unesco, e compreende o território de vários Parques Naturais, com uma área total de cerca de 1.000.000 de hectares.
O nome da região, Blue Mountains, é atribuído à tonalidade azul que normalmente se observa na luz, reflectida pelas copas dos eucaliptos que cobrem a maioria do terreno.
A topografia do terreno é definida por montanhas não muito altas, com ravinas íngremes que se despenham em vales extensos, cobertos por densas florestas.
De referir que há poucos anos, foi aqui descoberta uma espécie arbórea que se julgava extinta há milhões de anos, o pinheiro Wollemi.
As paisagens são magníficas, podendo os visitantes caminhar em muitos locais, por percursos construídos para o efeito.
Na companhia da Katherine, visitámos as áreas de Wentworth Falls, Blackheath, na qual se encontravam encerrados muitos dos caminhos pedestres, devido a um grande incêndio ocorrido no final de 2006, que devastou milhares de hectares de vegetação, e a área de Katoomba, o principal centro habitacional da região.
É aqui que eu fico, despedindo-me da Katherine. Depois de instalado num motel, caminho até ao Echo Point, estupendo miradouro, não apenas pela localização, mas também pela adaptação efectuada há poucos anos para melhorar as condições dos visitantes.
Deste local, podemos observar um panorama grandioso, que inclui umas formações rochosas chamadas Three Sisters, provavelmente a maior atracção natural da região. As Three Sisters podem também ser observadas mais de perto, caminhando por um trilho, o que eu faço.
A pouca distância de Echo Point, situa-se uma outra atracção chamada Scenic World. Este é um empreendimento privado, que permite aos visitantes descerem ao vale, utilizando dois meios de transporte: um comboio que começou por ser utilizado no final do século XIX, para transporte de mineiros que trabalhavam numa mina de carvão que ali funcionou, tendo mais tarde evoluído para o transporte de caminhantes que desciam ao vale, por um trilho precário, solicitando então aos mineiros que os transportassem de regresso ao topo, para evitar o esforço físico.
Hoje, para além desse comboio, que reclama para si ter o desnível mais acentuado no mundo, superior a 50%, existe um teleférico sofisticado, que desce cerca de 300 metros em poucos minutos, sendo este o meio de transporte que eu escolho. Chegado ao vale, percorro um caminho bem desenhado e construído, em plataformas elevadas, de madeira, com cerca de 2 km de extensão, que me permite observar de perto a floresta e vida animal. Este passeio passa também pelo local onde antigamente funcionou a mina, agora encerrada, com informação histórica interessante.
Para além dos dois meios de transporte mencionados, existe um terceiro que efectua um percurso horizontal, entre dois pontos elevados, suspenso por cabos, que permite observar na vertical a floresta situada no vale, sendo o piso da cabina em vidro.
Nos dois dias passados em Katoomba, merece ainda destaque o Restaurante Mes Amis, situado num edifício inicialmente construído para uma igreja, propriedade dum chefe de cozinha francês.

Agora é tempo de me concentrar na próxima etapa da minha viagem, que me vai levar a Singapura por três dias, para então seguir para Joanesburgo, na África do Sul.
A visita à África do Sul será também especial, porque nasci em África, em Angola, próximo da África do Sul, onde estive por diversas vezes, quando vivi em Angola, que deixei há 33 anos.
A minha estada na África do Sul, até ao meu regresso a Portugal, será passada na companhia de amigos sul-africanos, a Margie e o Bruce, que planearam uma viagem pelo país, percorrendo várias regiões, que aguardo com bastante expectativa.
Por ser a última etapa desta viagem, que prevejo seja bastante activa, penso não publicar qualquer crónica nas próximas semanas, mesmo que tenha acesso à Internet.

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