BULGÁRIA
UMA AMOSTRA DA CHAMADA EUROPA DE LESTE
Começo por explicar as razões desta minha viagem à Bulgária. Há alguns anos, em Portugal, conheci uma família búlgara, que lá viveu durante alguns anos, como emigrante.
Hoje, já não vivem em Portugal, embora o pai da família ainda esteja emigrado. A mãe, Ayshe, já regressou à Bulgária, onde vive com as duas filhas, Julia e Aiylin. A elas liga-me uma forte amizade e tenho pelas filhas em particular, uma ternura especial. Diria que, não tendo filhos, estas duas meninas poderiam ser as minhas filhas, se tal se proporcionasse.
Pois bem, tendo combinado com a Carmen viajarmos para a Turquia, aproveitei para passar uns dias na Bulgária, na companhia destas minhas amigas.
De Lisboa sigo para Frankfurt, na Alemanha, e daqui para Sofia, já na Bulgária. Enquanto o aeroporto de Frankfurt fervilha de vida, com pessoas dos quatro cantos do Mundo, no de Sofia circulam poucas pessoas e o ambiente é tranquilo.
Dos poucos estrangeiros que por lá andavam, cruzo-me com a Yuri, japonesa, residente em Viena de Áustria. A Yuri é maestrina de música clássica, e viaja também para Bourgas, onde irá dirigir uma orquestra, que irá em breve actuar na principal sala de espectáculos da cidade.
Este concerto irá decorrer em data posterior à minha estada em Bourgas, pelo que não poderei aceitar o convite que a Yuri me dirige, para a ele assistir.
O voo de Sofia para Bourgas é um pouco mais longo do que seria desejável, porque tem uma escala em Varna.
Chegado a Bourgas, tenho à minha espera as minhas amigas. A Ayshe, já não a via há cerca de um ano e meio, quando ela esteve em Portugal para tratar de assuntos pessoais, e as filhas, essas já não as via há cerca de três anos.
Naturalmente, sendo crianças, observo que cresceram. A Julia está em plena adolescência, e a Aiylin para lá caminha. De resto, continuam a ser duas belas meninas!
Do aeroporto a casa das minhas amigas, é uma curta viagem.
Sou convidado a ficar em casa delas, pelo que estaremos mais próximos durante a minha estada em Bourgas.
Esta minha vista à Bulgária é curta – pouco mais de quatro dias – pelo que tenho alguma dificuldade em caracterizar um país que me era desconhecido.
Durante a minha estada, tenho a oportunidade de conhecer familiares e amigos das minhas amigas, que me dispensam bastante atenção e afecto.
A cidade de Bourgas, a segunda mais populosa da costa do Mar Negro, na Bulgária, a seguir a Varna, tem nesta época do ano, inicio da Primavera, um aspecto pacato, sendo poucos os visitantes.
Em geral, a cidade é pouco atraente, apesar da relação de proximidade com o Mar Negro.
A arquitectura urbana, salvo raras excepções, é de fraca qualidade, com predominância de edifícios do período de influência soviética, que não são propriamente do meu agrado, em termos de estética.
Nalgumas das árvores da cidade, em flor, descubro umas pequenas fitas bicolores, sempre vermelhas e brancas, penduradas nos ramos floridos das árvores. Estes adornos despertam a minha curiosidade, pelo que a Ayshe me conta a história dos mesmos.
Trata-se de uma tradição búlgara, chamada “Baba Marta” (avó Marta, em português), celebrada no primeiro dia de Março. Neste dia, as pessoas oferecem entre si pulseiras de cores branca e vermelha, em lã (?), chamadas “martenitsa”. Estas são usadas pelas pessoas, até que, quando se observa uma cegonha, de regresso do seu refúgio de Inverno, a pulseira é então pendurada no ramo de uma árvore em flor, como desejo de fertilidade.
Um amigo da família, proprietário de uma empresa de transportes para turistas (autocarros), prontifica-se a levar-nos a duas localidades próximas de Bourgas, reconhecidas pela sua beleza, e pelo património histórico e cultural.
Sozopol, a sul de Bourgas, é uma vila piscatória que se encontra quase deserta no dia em que a visitamos. O tempo húmido e frio que se faz sentir não convida a passeios à beira-mar.
Caminhando pelas ruas da povoação, apercebo-me da arquitectura característica da região, constituída por casas em madeira.
De qualquer forma, sendo esta a primeira vez que saio de Bourgas, começo a aperceber-me da construção desenfreada que alastra pelo litoral do Mar Negro e, a avaliar pelas fachadas dos edifícios, a esmagadora maioria das construções recentes é de má qualidade.
Vêem-me à memória casos análogos de especulação imobiliária desenfreada que conheço, no litoral de Portugal, particularmente no Algarve, e na costa mediterrânica de Espanha.
A natureza e os objectivos dos promotores imobiliários é a mesma, cá como lá.
No fundo, o sonho de uma casa próxima do mar, se possível com vista, é universal.
A norte de Bourgas, situa-se Nesebar, cidade balnear, cujo centro histórico, alcandorado sobre o mar, está classificado pela Unesco como Património Mundial.
Sendo esta região povoada há milhares de anos, e tendo aqui vivido gente de várias civilizações, Nesebar tem um património arquitectónico e cultural rico, e um museu de muito interesse.
Esta minha viagem leva-me agora para sul, até Istambul, na Turquia.
Como as minhas amigas se mostram interessadas em visitar Istambul, apenas por um fim-de-semana, decidimos viajar juntos, de autocarro, já que existem ligações diárias a partir de Bourgas.
Assim, partimos numa bela manhã de sol, para percorrer os 340 km que separam Bourgas de Istambul. No autocarro, confortável, quase todos os passageiros são búlgaros e turcos.
Aliás, no caso das minhas amigas, elas são búlgaras, de origem turca. Este caso não é raro, já que a Bulgária pertenceu no passado, ao Império Otomano, que posteriormente deu origem à Turquia. Por esta razão, e porque são dois países vizinhos, a Bulgária tem uma percentagem importante de cidadãos de origem turca.
Voltando à viagem para Istambul, as primeiras duas horas são passadas em território búlgaro, em estradas antigas, por entre campos agrícolas e florestais, e poucas povoações.
Chegados à fronteira, em zona montanhosa e isolada, somos controlados em primeiro lugar pelas autoridades búlgaras, procedimento rápido, e logo a seguir pelas autoridades turcas, muito mais demorado.
Primeiro saímos do autocarro para ir pagar um imposto/visto de entrada no país, apenas para pessoas de algumas nacionalidades (portuguesa incluída), após o que voltamos ao autocarro para retirar toda a bagagem, que é então espalhada e aberta no exterior, para ser inspeccionada pelas autoridades turcas. Os agentes encarregues desta operação, metem literalmente as mãos no interior das malas, à procura sabe-se lá do quê.
Cá por mim, observo o espectáculo invulgar, e lembro-me de como funcionavam as fronteiras entre Portugal e Espanha, há 30 anos atrás.
Uma hora após a chegada à fronteira, porque havia pouco movimento de viajantes, seguimos viagem, agora já na Turquia.
Passados poucos quilómetros, a estrada transforma-se em auto-estrada, a paisagem também muda, passando a predominar vastos campos agrícolas, e cruzamos mais povoações, e algumas cidades. Em termos populacionais, existe uma grande diferença entre estes dois países: enquanto a Bulgária tem menos de 10.000.000 de habitantes, a Turquia tem mais de 70.000.000.
Ao fim da tarde, em plena hora de ponta, entramos em Istambul, num monumental engarrafamento. Como passámos a andar a passo de caracol, damo-nos conta de estar numa grande metrópole, imensa na sua extensão.
A cidade de Istambul tem hoje quase 15.000.000 de habitantes, e cresce a um ritmo elevado.
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