22 junho 2009




















Julia e Aiylin, em Sozopol.

BULGÁRIA

UMA AMOSTRA DA CHAMADA EUROPA DE LESTE

Até hoje, do leste da Europa apenas conhecia a Grécia mas, na chamada Europa de Leste nunca havia estado.

Agora, surgiu a oportunidade de visitar a Bulgária, um dos ex-membros do Bloco Soviético, recém-chegado à União Europeia.

Começo por explicar as razões desta minha viagem à Bulgária. Há alguns anos, em Portugal, conheci uma família búlgara, que lá viveu durante alguns anos, como emigrante.

Hoje, já não vivem em Portugal, embora o pai da família ainda esteja emigrado. A mãe, Ayshe, já regressou à Bulgária, onde vive com as duas filhas, Julia e Aiylin. A elas liga-me uma forte amizade e tenho pelas filhas em particular, uma ternura especial. Diria que, não tendo filhos, estas duas meninas poderiam ser as minhas filhas, se tal se proporcionasse.

Pois bem, tendo combinado com a Carmen viajarmos para a Turquia, aproveitei para passar uns dias na Bulgária, na companhia destas minhas amigas.

Para chegar a Bourgas, onde vivem, de avião, faço uma viagem longa ou melhor, várias viagens, num total de cerca de 14 horas.

De Lisboa sigo para Frankfurt, na Alemanha, e daqui para Sofia, já na Bulgária. Enquanto o aeroporto de Frankfurt fervilha de vida, com pessoas dos quatro cantos do Mundo, no de Sofia circulam poucas pessoas e o ambiente é tranquilo.

Dos poucos estrangeiros que por lá andavam, cruzo-me com a Yuri, japonesa, residente em Viena de Áustria. A Yuri é maestrina de música clássica, e viaja também para Bourgas, onde irá dirigir uma orquestra, que irá em breve actuar na principal sala de espectáculos da cidade.

Este concerto irá decorrer em data posterior à minha estada em Bourgas, pelo que não poderei aceitar o convite que a Yuri me dirige, para a ele assistir.

O voo de Sofia para Bourgas é um pouco mais longo do que seria desejável, porque tem uma escala em Varna.

Chegado a Bourgas, tenho à minha espera as minhas amigas. A Ayshe, já não a via há cerca de um ano e meio, quando ela esteve em Portugal para tratar de assuntos pessoais, e as filhas, essas já não as via há cerca de três anos.

Naturalmente, sendo crianças, observo que cresceram. A Julia está em plena adolescência, e a Aiylin para lá caminha. De resto, continuam a ser duas belas meninas!

Do aeroporto a casa das minhas amigas, é uma curta viagem.

Sou convidado a ficar em casa delas, pelo que estaremos mais próximos durante a minha estada em Bourgas.

Esta minha vista à Bulgária é curta – pouco mais de quatro dias – pelo que tenho alguma dificuldade em caracterizar um país que me era desconhecido.

Durante a minha estada, tenho a oportunidade de conhecer familiares e amigos das minhas amigas, que me dispensam bastante atenção e afecto.

A cidade de Bourgas, a segunda mais populosa da costa do Mar Negro, na Bulgária, a seguir a Varna, tem nesta época do ano, inicio da Primavera, um aspecto pacato, sendo poucos os visitantes.

Em geral, a cidade é pouco atraente, apesar da relação de proximidade com o Mar Negro.

A arquitectura urbana, salvo raras excepções, é de fraca qualidade, com predominância de edifícios do período de influência soviética, que não são propriamente do meu agrado, em termos de estética.



A tradição das "martenitsa", penduradas nos ramos das árvores, no início da Primavera.


De resto, por estarmos no inicio da Primavera, chama-me a atenção o facto de haver muitas árvores em flor, numa autentica explosão, como que a marcar o renascimento da natureza.

Nalgumas das árvores da cidade, em flor, descubro umas pequenas fitas bicolores, sempre vermelhas e brancas, penduradas nos ramos floridos das árvores. Estes adornos despertam a minha curiosidade, pelo que a Ayshe me conta a história dos mesmos.

Trata-se de uma tradição búlgara, chamada “Baba Marta” (avó Marta, em português), celebrada no primeiro dia de Março. Neste dia, as pessoas oferecem entre si pulseiras de cores branca e vermelha, em lã (?), chamadas “martenitsa”. Estas são usadas pelas pessoas, até que, quando se observa uma cegonha, de regresso do seu refúgio de Inverno, a pulseira é então pendurada no ramo de uma árvore em flor, como desejo de fertilidade.

Um amigo da família, proprietário de uma empresa de transportes para turistas (autocarros), prontifica-se a levar-nos a duas localidades próximas de Bourgas, reconhecidas pela sua beleza, e pelo património histórico e cultural.

Sozopol, a sul de Bourgas, é uma vila piscatória que se encontra quase deserta no dia em que a visitamos. O tempo húmido e frio que se faz sentir não convida a passeios à beira-mar.

Caminhando pelas ruas da povoação, apercebo-me da arquitectura característica da região, constituída por casas em madeira.

De qualquer forma, sendo esta a primeira vez que saio de Bourgas, começo a aperceber-me da construção desenfreada que alastra pelo litoral do Mar Negro e, a avaliar pelas fachadas dos edifícios, a esmagadora maioria das construções recentes é de má qualidade.

Vêem-me à memória casos análogos de especulação imobiliária desenfreada que conheço, no litoral de Portugal, particularmente no Algarve, e na costa mediterrânica de Espanha.

A natureza e os objectivos dos promotores imobiliários é a mesma, cá como lá.

No fundo, o sonho de uma casa próxima do mar, se possível com vista, é universal.

A norte de Bourgas, situa-se Nesebar, cidade balnear, cujo centro histórico, alcandorado sobre o mar, está classificado pela Unesco como Património Mundial.

Sendo esta região povoada há milhares de anos, e tendo aqui vivido gente de várias civilizações, Nesebar tem um património arquitectónico e cultural rico, e um museu de muito interesse.

Esta minha viagem leva-me agora para sul, até Istambul, na Turquia.

Como as minhas amigas se mostram interessadas em visitar Istambul, apenas por um fim-de-semana, decidimos viajar juntos, de autocarro, já que existem ligações diárias a partir de Bourgas.

Assim, partimos numa bela manhã de sol, para percorrer os 340 km que separam Bourgas de Istambul. No autocarro, confortável, quase todos os passageiros são búlgaros e turcos.

Aliás, no caso das minhas amigas, elas são búlgaras, de origem turca. Este caso não é raro, já que a Bulgária pertenceu no passado, ao Império Otomano, que posteriormente deu origem à Turquia. Por esta razão, e porque são dois países vizinhos, a Bulgária tem uma percentagem importante de cidadãos de origem turca.

Voltando à viagem para Istambul, as primeiras duas horas são passadas em território búlgaro, em estradas antigas, por entre campos agrícolas e florestais, e poucas povoações.

Chegados à fronteira, em zona montanhosa e isolada, somos controlados em primeiro lugar pelas autoridades búlgaras, procedimento rápido, e logo a seguir pelas autoridades turcas, muito mais demorado.

Primeiro saímos do autocarro para ir pagar um imposto/visto de entrada no país, apenas para pessoas de algumas nacionalidades (portuguesa incluída), após o que voltamos ao autocarro para retirar toda a bagagem, que é então espalhada e aberta no exterior, para ser inspeccionada pelas autoridades turcas. Os agentes encarregues desta operação, metem literalmente as mãos no interior das malas, à procura sabe-se lá do quê.

Cá por mim, observo o espectáculo invulgar, e lembro-me de como funcionavam as fronteiras entre Portugal e Espanha, há 30 anos atrás.

Uma hora após a chegada à fronteira, porque havia pouco movimento de viajantes, seguimos viagem, agora já na Turquia.

Passados poucos quilómetros, a estrada transforma-se em auto-estrada, a paisagem também muda, passando a predominar vastos campos agrícolas, e cruzamos mais povoações, e algumas cidades. Em termos populacionais, existe uma grande diferença entre estes dois países: enquanto a Bulgária tem menos de 10.000.000 de habitantes, a Turquia tem mais de 70.000.000.

Ao fim da tarde, em plena hora de ponta, entramos em Istambul, num monumental engarrafamento. Como passámos a andar a passo de caracol, damo-nos conta de estar numa grande metrópole, imensa na sua extensão.

A cidade de Istambul tem hoje quase 15.000.000 de habitantes, e cresce a um ritmo elevado.

Às 19.30 horas, oito horas depois de termos iniciado a nossa viagem, chegamos à principal
estação rodoviária de Istambul, enorme e confusa.

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