17 julho 2008

A Ingrid e o Carlo, no pátio da sua casa, em Porto.




















ITÁLIA - ENTRE A UMBRIA E A TOSCANA

O acto de viajar pode ter muitas motivações. Para mim, uma das mais fortes é a possibilidade de conciliar o prazer de viajar com a companhia de amigos, particularmente se estes tiverem um vínculo ao local de destino da viagem.
É o que acontece com a Ingrid e o Carlo. Eles têm uma casa em Itália, na região da Umbria, numa aldeia chamada … Porto, nas proximidades do pequeno Lago de Chiusi, e também do grande Lago Trasimeno.
É aqui que vai ter inicio esta minha viagem, de quase três semanas, a Itália.

Ao chegar ao aeroporto de Roma, sigo de imediato para a cidade, de comboio, chegando à enorme e muito movimentada Estação Termini.
Aqui, apanho um outro comboio, para norte, que me levará até Chiusi, onde me esperam os amigos Ingrid e Carlo.
O percurso, depois de deixarmos a área urbana de Roma, torna-se agradável, com paisagens campestres, verdejantes, com frequentes manchas vermelhas de papoilas, e árvores que me são familiares dos campos de Portugal.
Aqui e ali, aparecem pequenas povoações no cimo de pequenas elevações, com aspecto antigo.
Quando o comboio pára em Chiusi, cerca de uma hora e vinte e cinco minutos depois de sair de Roma, saio, e lá estão a Ingrid e o Carlo, de braços abertos, para me acolherem.

O resto do dia da chegada foi passado em Porto, primeiro no hotel onde me instalei, o único da aldeia, Monteluce, que tem quartos modestos (o meu, tem a banheira mais pequena que eu alguma vez utilizei) mas, em contrapartida, tem um amplo jardim, cuidado, com belas árvores, entre as quais muitas tílias, que estão agora a começar a florir, e uma piscina.
O jardim, está ao cuidado da Franca, italiana, ex-professora, que se dedica seriamente a este local, onde também vive.
A Franca, pelo que pude conhecer dela, em conversas que tivemos, tem outras actividades, nomeadamente no campo espiritual.
Ao final do dia, fui visitar a Ingrid e o Carlo. A casa deles fica situada a poucas centenas de metros da aldeia, e está rodeada por campos agrícolas.
Esta casa foi comprada pelo Carlo, em 1985, quando então se mudou da Alemanha, o seu país natal. O Carlo, aqui viveu até há cerca de cinco anos, quando então iniciou uma relação sentimental com a Ingrid, também de origem alemã mas, mais portuguesa que a maioria dos portugueses que conheço.
Hoje, a Ingrid e o Carlo residem a maior parte do tempo em Portugal, onde somos vizinhos.
A casa de Porto, foi transformada pelo Carlo, que trabalhou como Arquitecto, sendo um espaço acolhedor, repleto de memórias de uma vida rica (no sentido positivo do termo).
Em casa, enquanto jantamos – e o Carlo é um gastrónomo – fazemos planos para os próximos dias, ou melhor, os meus amigos informam-me dos seus planos pois, sendo eles profundos conhecedores desta região, tínhamos combinado previamente que estes primeiros cinco dias, o tempo que aqui permanecerei, seriam ocupados do modo que eles desejassem.

Assim, no dia seguinte, saímos de manhã, para irmos visitar um local especial, uma propriedade privada, que o Carlo teve a ocasião de conhecer recentemente.
La Scarzuola, distante das estradas principais, nem sequer vem referenciada no meu guia de viagem – The Rough Guide to Tuscany & Umbria – o que atesta a limitação destas fontes de informação que, por muito boas que sejam (e os guias da Rough Guides, para mim, são os melhores), têm normalmente algumas lacunas.
Chegados ao local, somos recebidos pelo proprietário, que nos irá conduzir numa visita guiada, com mais algumas dezenas de visitantes, quase todos italianos.
Esta propriedade teve origem num convento Franciscano, erigido em 1218, pelo próprio S. Francisco de Assis.
Em meados do século XX, a propriedade foi adquirida por Tomaso Buzzi (familiar, entretanto falecido, do actual proprietário), arquitecto milanês, que empreendeu uma obra de grande envergadura, de carácter pessoal.
Hoje, La Scarzuola, é um vasto conjunto arquitectónico, constituído por muitos edifícios, que se conjugam entre si de modo intrigante, distribuídos num terreno ondulante, com amplas áreas de jardim, com um propósito eminentemente cénico. Os edifícios, representativos de várias épocas e estilos, têm em comum o facto de terem sido construídos com a pedra local, que confere ao conjunto alguma unidade.
De resto, a obra realizada é uma fantasia pessoal, realçada pelas histórias mais ou menos surrealistas contadas pelo nosso guia, com um forte sentido teatral, e pleno de ironia.
Depois desta visita a um mundo quase irreal, era tempo de almoçarmos, o que nos levou ao Agriturismo Gattogiallo (http://www.agriturismogattogiallo.it/), propriedade de turismo rural, situada a poucos quilómetros de distância.
Aqui, no topo de uma elevação, com vistas largas para os campos circundantes, pontilhados de casas campestres, desfrutámos de um bom almoço, preparado pelo proprietário, também chefe de cozinha.

Com o estômago aconchegado, e com as imagens fantasiosas de La Scarzuola na memória, seguimos o passeio diário em direcção a Città della Pieve, pequena povoação de origem Etrusca, conhecida sobretudo por nela ter nascido Perugino (cujo nome de baptismo foi Pietro Vannucci), no século XV, um dos pintores mais talentosos deste período.
Aqui, pude admirar a primeira de muitas obras de arte que teria ocasião de ver durante esta minha visita a Itália, de Perugino, o magnífico mural designado “Adorazione dei magi”.

No dia seguinte, começámos por visitar uma igreja nos arredores de Montepulciano, localidade que visitaria noutro dia.
A Igreja de San Biagio, construída na primeira metade do século XVI, está localizada no sopé da colina onde se encontra Montepulciano.
A igreja aparece majestosa, no enfiamento de uma estrada ladeada por magníficos ciprestes, aquela espécie que em Portugal é conhecida como sendo a árvore dos cemitérios mas que, em Itália, particularmente nesta região, é utilizada com frequência como elemento decorativo, sobretudo em propriedades rurais.
Daqui seguimos para Pienza, uma localidade edificada no século XV, à medida dos desejos do Papa Pio II, que havia nascido numa aldeia que existiu no mesmo local onde posteriormente nasceu Pienza.
Os planos iniciais eram grandiosos, mas a morte de Pio II, poucos anos depois do inicio das obras, comprometeu o desenvolvimento da obra, até porque nenhum dos seus sucessores se interessou pelo projecto.
Assim mesmo, Pienza é uma localidade atraente, tanto pelo património monumental renascentista, como pelo casario circundante, construída no topo de uma elevação, com vistas amplas.
De Pienza, seguimos para Montalcino, conhecida sobretudo pela produção vinícola da região. A qualidade destes é elevada, sobretudo o Brunello, um dos mais prestigiados de Itália.
Aliás, a fama dos vinhos da região é tal que, chegando a Montalcino, me chama a atenção o elevado número de enotecas que existem no perímetro da localidade.
Depois de um passeio a pé pelas ruas de Montalcino, e de uma pausa para almoço no agradável Café Alle Logge di Piazza, continuámos o percurso planeado pelo Carlo, em direcção à Abadia de Sant’ Antimo, por muitos considerada como a mais atraente da região.
Sant’ Antimo (http://www.antimo.it/) foi edificada entre os séculos VIII e IX, embora a igreja que hoje existe seja uma construção do século XII.
Na época em que foi construída, estava situada na proximidade de várias e importantes vias de comércio e peregrinação, do período Medieval, mas com origens que remontam ao período Etrusco. O mais importante desses caminhos era a Via Francigena, que foi durante séculos o mais importante de todos os percursos de peregrinação entre Roma e o norte da Europa.
Hoje, Sant’ Antimo é sobretudo frequentado por turistas, já que apenas nove monges lá habitam.
Ainda tivemos tempo para visitar Bagno Vignoni, outra pequena localidade, que deve a sua existência às águas termais que aqui correm.
Estas, foram aproveitadas pelo menos desde o período Romano, tendo mais tarde, na Renascença, sido construída uma enorme piscina, a mando da família Medici, que ocupa o centro da localidade. Este espaço não está hoje acessível para banhos mas, sendo um espaço público, pode-se caminhar à sua volta, como que, se de uma praça se tratasse.

Novo dia, novo passeio. Hoje, o destino é Cortona, localizado a norte do Lago Trasimeno.
Cortona, é mais uma localidade que se apresenta com o seu casco medieval quase intacto, e cresceu encavalitada numa encosta montanhosa, tendo por isso desníveis acentuados e vistas largas.
Aqui, visitamos o excelente Museu MAEC – Museo dell’Accademia Etrusca e della Città di Cortona, onde se conta a história da vila, anterior à chegada dos Etruscos, e da região, com particular destaque para os períodos Romano e Etrusco.
Almoçámos na Enoteca Enotria, junto à entrada principal de Cortona, que é propriedade de uma amiga do Carlo, a Imola.
Esta preparou-nos um delicioso prato de queijos e enchidos regionais, que acompanhámos com pão, regado com azeite.
De regresso a Porto, tivemos a surpresa de receber a visita do Pedro, filho da Ingrid.
O Pedro reside em Munique, na Alemanha, e viaja frequentemente para Itália, já que trabalha numa empresa italiana. Hoje, esteve em Florença, para visitar a selecção nacional de Itália, de futebol, que está em estágio para o Euro 2008, que se inicia em breve. Este encontro com a selecção italiana deveu-se ao facto desta ser patrocinada pela empresa do Pedro.
Jantámos os quatro, sossegados, no hotel, onde raramente apareciam outras pessoas.

No dia seguinte, despedimo-nos do Pedro, que aqui passou a noite, e fomos a Castiglione del Lago, situada na margem ocidental do Lago Trasimeno.
Sendo quarta-feira, hoje há feira em Castiglione del Lago, pelo que as ruas do centro estão ocupadas pelos feirantes e visitantes.
O centro da localidade está situado no topo de uma pequena colina, de onde se avista o lago, extenso, mas pouco profundo, com três pequenas ilhas.
De regresso a Porto, os meus companheiros decidem ficar a descansar, pelo que me emprestam o carro, para eu aproveitar o resto do dia.
Decido ir a Montepulciano, mais uma localidade de ruas empinadas, hoje conhecida pelo Vino Nobile, um dos mais reputados de Itália.
Pela primeira vez desde que cheguei a Itália estou sozinho, pelo que ocupo o tempo a meu bel-prazer, caminhando calmamente pelas ruas, observando as pessoas e os locais por onde passo.
Almoço no Restaurante Il Cantuccio, para depois comer um bom gelado numa pequena casa situada a curta distancia, na rua principal, Via Gracciano nel Corso.
Regresso a Porto, onde passo a última noite.
Na manhã seguinte, a Ingrid e o Carlo levam-me a Chiusi, onde nos despedimos.
Ficamos de nos encontrar de novo em Portugal, dentro de algumas semanas.

No rescaldo desta primeira parte da viagem, passada entre a Umbria e a Toscana, recordo as palavras da Ingrid, que me disse, ainda em Portugal, que em Itália, só nesta região, existem dezenas de pequenas localidades interessantes, com características medievais, com o casario rodeado por muralhas, e com tesouros artísticos de grande valor, quer em museus, quer em igrejas.
Só para se ter uma ideia da concentração destas localidades, acrescento que, todos os locais visitados nestes primeiros dias, e acima referenciados, estão a menos de uma hora de distância, de carro, da nossa base, a aldeia de Porto. Confirmadas as melhores expectativas, vou prosseguir a minha visita a Itália com os olhos e o espírito cheios de beleza.

1 comentário:

EmeCe disse...

Primera Etapa y de momento, aun seguiré este viaje narrado, que me da la oportunidad de acompañar a un viajero de primera.......veremos las próximas etapas...