17 julho 2008

Siena: vista do centro da cidade, com a Praça Il Campo, e a Torre del Mangia.

SIENA

Chego a Siena após uma curta viagem de autocarro, iniciada em Chiusi.
A minha expectativa é grande, porque se trata da primeira de várias cidades importantes que irei visitar, em Itália.
O meu imaginário leva-me à praça da cidade onde se celebra uma das festas populares mais afamadas de Itália, o Palio de Siena (http://www.ilpalio.org/palioportoghese.htm).

Pois, o meu hotel (definir o meu alojamento como hotel não é correcto, já que se trata de uma casa com quartos, felizmente limpos, sem quaisquer serviços complementares) fica situado nas traseiras da belíssima praça central de Siena, genericamente identificada como Il Campo.
Do quarto que ocupo tenho uma bela vista para uma das encostas da cidade (a área central de Siena está situada numa elevação), que se prolonga para os arredores através duma área verde. Enquanto me preparo para a primeira abordagem à cidade, observo o voo vertiginoso de centenas, talvez milhares de andorinhas que aqui estão nesta época do ano.
Entretanto, repicam os sinos das igrejas mais próximas, como que a lembrar da sua importância.

Saindo para um primeiro passeio pela cidade, dirijo-me para Il Campo. A chegada à praça impressiona-me, pela sua forma invulgar (quase um semi-circulo, em plano inclinado), pela harmonia e escala dos edifícios envolventes, e pela vida fervilhante que ali ocorre, de dia e de noite.
De facto, tendo estado em Siena durante vários dias, pude constatar que Il Campo tem um poder magnético sobre as pessoas, residentes e visitantes, que faz com que quase todos por lá passem diariamente.
As razões desta atracção são diversas, sendo que na parte superior da praça se encontram diversos cafés e restaurantes, todos com amplas esplanadas, e no lado inferior predomina o Palácio Pubblico, com a imponente Torre del Mangia, com quase 100 metros de altura.
É em Il Campo que decorre, duas vezes por ano, a festa do Palio, disputada por bairros de Siena, organizados em Contradas, através de cavalos e cavaleiros que competem num circuito à volta da praça. O vencedor é o cavalo que termina a corrida em primeiro lugar, independentemente do cavaleiro ainda estar no seu posto, ou não.
Um dos aspectos que possibilita às pessoas fruírem desta ampla praça de modo repousante é o de poucas viaturas automóveis perturbarem o ambiente.
Isto deve-se ao facto da área histórica de Siena ter fortes restrições ao trânsito automóvel, há já várias décadas. As únicas excepções são os transportes públicos, e motociclos.
Os dias passados em Siena levaram-me inúmeras vezes a este local, que considero uma das praças mais atraentes e especiais, que conheço.

Saindo de Il Campo pela parte superior, entramos numa área urbana comercial, próxima da qual se encontra a segunda maior atracção da cidade, a catedral (Duomo em italiano).
Esta, imponente, foi construída no inicio do século XIII, e posteriormente ampliada. Este projecto, ambicioso, visava construir a maior igreja em Itália, fora de Roma. A obra foi no entanto interrompida em 1348, quando Siena foi assolada pela peste negra, a qual dizimou a sua população. Em cerca de cinco meses, mais de dois terços da população da cidade (cerca de 100.000 habitantes na época, no que na altura era identificada como uma das cidades mais importantes da Europa) morreu pela acção da peste.
Esta tragédia afectou também o desenvolvimento da República de Siena que no século XIV rivalizava com a vizinha Florença.

Hoje, Siena tem uma população inferior à que teve no século XIV, quando foi atingida pela peste, e é uma cidade interessantíssima, porque mantém a estrutura medieval, onde pontificam os dois elementos atrás referidos.
A catedral, para além da sua imponência, é de uma beleza rara. A quantidade e qualidade do trabalho arquitectónico e decorativo são invulgares, desde a utilização alternada de mármore de cores branca e preta, em linhas horizontais, aos 56 painéis figurativos em mármore policromo, que cobrem todo o pavimento interior, o riquíssimo púlpito, pelo excepcional trabalho escultórico, até à deslumbrante sala da biblioteca (Libreria Piccolomini), com as paredes e tectos faustosamente cobertas por frescos de grande qualidade artística, passando por muitos outros trabalhos executados por mestres contratados para contribuírem para esta obra grandiosa.
Aliás, a quantidade e qualidade das obras de arte sacra que foram produzidas para este templo foi de tal modo elevada que, em edifício anexo à catedral, existe o museu “Dell’Opera del Duomo”, repleto de peças provenientes da catedral.
Aqui, no piso superior, existe uma pequena passagem que dá acesso ao chamado “Panorama dal Facciatone”, através de uma estreita escada que nos conduz a uns terraços, que tiveram origem no projecto de expansão da catedral, entretanto interrompido. As vistas para a cidade e arredores são soberbas, sendo a melhor altura do dia para se aceder a este miradouro, o final da tarde.

Os meus dias em Siena foram bem passados em passeios pela cidade, entrecortados por visitas a alguns dos seus principais monumentos e, claro, também a restaurantes e outras casas de alimentação.
Dos restaurantes, merecem nota positiva o Antica Trattoria Papei e a Osteria Le Logge, ambos situados nas proximidades da Praça Il Campo.
Imperdivel, para quem aprecie enchidos, queijos, vinhos e outros prazeres para a boca, é a Antica Pizzicheria Chigiana (APC), espécie de tasca, minúscula, repleta de produtos tradicionais da região, onde estive com o Xico (meu primo) e a Vera, com quem me encontrei em Siena.
O Xico, que já conhecia esta região, tinha estado a trabalhar durante algumas semanas em Itália, próximo de Roma, pelo que aproveitámos a minha viagem para nos encontrarmos num fim-de-semana, durante o qual o Xico e a Vera passearam por Itália.
Quando entrámos na casa recomendada (APC), demos com outros clientes, com quem estabelecemos conversa, o que é fácil, pela pequena dimensão do espaço.
Para além de dois empregados, que se encarregam do serviço com satisfação, ali estavam algumas mulheres, norueguesas, que fazem parte de um grupo de 20, amigas de infância, que todos os anos fazem uma viagem juntas, sem companheiros.
Uma das norueguesas, particularmente comunicativa, ficou encantada por nos conhecer, ela que aprecia bastante Portugal. Aliás, os comentários elogiosos a Portugal são generalizados, quando falamos com estrangeiros que conhecem o nosso país.
Outra referencia positiva em Siena, para quem aprecia gelados, é a da Gelateria Nannini, uma das melhores casas de gelados, das muitas que conheci em Itália.

De Siena, repleta de turistas, nacionais (porque estava a decorrer um fim-de-semana prolongado) e estrangeiros, parti para Florença, de autocarro.
Outra viagem curta, ainda para norte, num autocarro cheio. Ao meu lado, sentou-se uma jovem asiática, que estava acompanhada por um outro jovem, igualmente asiático.
Sendo a Ásia um território quase desconhecido para mim, arrisquei a pergunta para saber de onde são estes companheiros de viagem. A resposta foi-me agradável, já que a Tian e o Kit são naturais de Singapura.
De Singapura, que conheço bem, só me lembro de pessoas educadas, o que é um bom princípio para uma boa conversa.
A Tian, jornalista, e o Kit, licenciado em Gestão, estão a visitar Itália, e outros países europeus, aproveitando o final de um período anual em que o Kit esteve a residir na Suécia, frequentando uma universidade.
Agora, estão prestes a regressar a Singapura, onde pensam continuar a residir. À chegada a Florença, despedimo-nos, já que os meus novos amigos vão seguir viagem.

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