17 julho 2008

Florença: as pontes Sta. Trìnita e Vecchio, sobre o Rio Arno.

FLORENÇA

A chegada a Florença revela de imediato dois aspectos importantes.
Primeiro, tenho agora pela frente uma cidade plana, o que torna mais fácil o acto de caminhar. Segundo, contrariamente a Siena, onde existem fortes restrições ao trânsito automóvel, aqui em Florença tenho que contar com os inconvenientes inerentes ao mesmo.
De resto, o hotel onde me alojo corresponde ao meu gosto, excepto por se situar num segundo andar de um edifício que tem um elevador minúsculo, com uma porta de difícil acesso, que só utilizei à chegada. Depois, utilizei sempre a escada, para subir e descer.
O Hotel Bretagna (http://www.hotelbretagna.net/) tem uma localização privilegiada, na rua paralela ao Rio Arno, no lado norte da cidade, entre as Pontes Sta. Trìnita e Alla Carraia. É pequeno, tem um ambiente descontraído, sobretudo pela presença de alguns empregados atraentes e simpáticos. Os meus preferidos são o Guilherme, brasileiro, uma espécie de “pau para toda a obra” no hotel, que trabalha a dobrar para sustentar a família que vive no Brasil, e a Martina, italiana, simpática e atenta, dona de um belo sorriso, que me promoveu no segundo dia, para um dos melhores quartos do hotel, o nº 8, enorme, com um tecto decorado com frescos antigos, com anjinhos, que eu admirava quando estava deitado na cama. Este quarto, com uma excelente casa de banho, terá sido utilizado por Napoleão, quando viveu em Florença.

A minha estada em Florença estava programada para ser uma maratona artística, tal é a quantidade e qualidade do património artístico desta cidade, berço do Renascimento.
Foi em Florença que a família Medici teve a sua principal residência pelo que, a sua paixão pelas artes se reflectiu na vida da cidade, mesmo para além do período de influência desta importante família.
Inevitavelmente, sendo a minha primeira visita a Florença, a Galleria degli Uffizi estava no topo das minhas prioridades, sendo este museu reconhecido como um dos mais importantes do mundo, sobretudo pela sua extraordinária colecção de pintura. Pois, esta colecção construída pela família Medici, manteve-se privada até ao século XVIII, quando o último membro da família, Anna Maria Lodovica, deixou toda a colecção de arte ao povo de Florença, na condição de que esta nunca sairia da cidade.
Assim, porque a afluência de visitantes ao Uffizi é enorme, precavi-me, comprando antecipadamente o meu direito de acesso ao museu, numa visita guiada, com a duração de três horas (a alternativa seria a de passar algumas horas numa fila, para comprar um simples bilhete de entrada no museu). Esta, inclui um percurso que é de acesso restrito a pequenos grupos de visitantes, que é o Corredor Vasariano, uma galeria com cerca de mil metros de extensão, que liga os Palácios Vecchio e Pitti, através do Uffizi.
A razão da existência deste corredor deve-se à família Medici que, sendo proprietária do Palácio Vecchio e do Uffizi, adquiriu posteriormente (no século XVI) o Palácio Pitti à família do mesmo nome, entretanto em dificuldades.
Nesta altura, os Medici decidiram que seria conveniente terem uma passagem privada que lhes garantisse a circulação entre estas suas três propriedades de Florença, e encomendaram o projecto ao Arquitecto Vasari, que veio a dar o seu nome à obra.
A visita a este espaço de acesso restrito justifica-se, sobretudo por três motivos. Primeiro, a oportunidade de ver centenas de pinturas e algumas esculturas que ali se encontram expostas, sendo que a maioria das pinturas são auto-retratos de pintores de várias épocas, os mais recentes dos quais já do século XX. É fascinante observar tantos auto-retratos de pintores reputados, e não apenas italianos (também lá estão Rubens, Rembrandt, Velásquez, Delacroix e muitos outros estrangeiros), num espaço único.
A segunda boa razão para se visitar este corredor é a de termos o privilégio de observar a cidade de ângulos diferentes daqueles que existem no exterior, através de inúmeras janelas. De facto, o corredor percorre um trajecto situado alguns metros acima do nível do solo, cruzando o Rio Arno sobre a Ponte Vecchio (a mais famosa das pontes de Florença), e tendo inclusive uma vista privada para o interior da Igreja Santa Felìcita, antes de terminar nos Jardins de Bóboli, anexos ao Palácio Pitti.
A terceira razão justificativa desta visita é a de ser o único local do Uffizi onde os visitantes podem estar isolados do burburinho inevitável, causado por milhares de visitantes que entram diariamente no Uffizi.
De facto, enquanto nas salas abertas ao público em geral estamos permanentemente expostos à presença dos outros visitantes, com os incómodos inevitáveis (nalgumas salas, estive rodeado por grupos de pessoas que, tal como eu, estavam integradas em visitas guiadas, ouvindo-se falar línguas diversas como, Inglês, Alemão, Russo Japonês ou Mandarim), entrando no Corredor Vasariano (através de uma porta que se encontra fechada), passamos para um mundo de silêncio e tranquilidade. Aqui, só estávamos os nove membros do meu grupo (de diversas nacionalidades), acompanhados pela guia que nos conduziu (italiana, competente, simpática e atraente … da qual tenho os contactos, para futuras oportunidades, sem ter que pagar os 89 € à empresa a quem comprei este serviço), e por dois empregados do museu, que nos acompanharam durante todo o percurso.
Voltando ao Uffizi, o que fiz mediante a autorização dos dois empregados que nos acompanharam no corredor, deliciei-me, revisitando algumas salas onde tinha estado anteriormente, e visitando outras que não estavam incluídas na visita guiada.
Para mim, de acordo com o meu gosto, as salas mais impressionantes, quer pelas obras expostas quer pelos espaços físicos e pela decoração, são:
Sala 10 a 14, onde se encontram as obras de Botticelli;
Sala 15, com as obras de Leonardo da Vinci;
Sala 18, uma sala octogonal, com pavimento em mármore, e as paredes e tecto revestidos com conchas;
Sala 25, com as obras de Michelangelo;
Sala 42, chamada Sala Niobe, com as paredes e tecto ricamente ornamentados a ouro, e com estátuas e um túmulo do período Romano.
Para além destas salas, recomendo também as vistas para a cidade, das janelas situadas próximo da entrada para a sala 25, após a qual se situa a porta que dá acesso ao Corredor Vasariano.
Ao final da tarde, saí finalmente do Uffizi, caminhando nas nuvens, depois de ter contemplado tantas obras-primas, e outras que não sendo tão famosas também me encantaram, da pintura europeia e particularmente italiana.
Aliás, ao longo desta estada de 20 dias em Itália, e após ter visitado vários museus e inúmeras igrejas repletas de obras de arte, impressiona a quantidade, para além da qualidade geral, de obras de arte sacra que foram produzidas em Itália, ou melhor, nos vários territórios que existiam nesta região europeia, muito antes de se tornar um país independente chamado Itália.
Aliás, a influencia da religião Católica foi tão forte na criação artística que, encontramos os temas mais diversos desta religião tratados exaustivamente, como que tivesse ocorrido um delírio colectivo ou, uma visão obsessiva do mundo.

No capítulo das artes, em Florença, a minha segunda escolha foi o Palácio Pitti, onde termina o Corredor Vasariano.
O Palácio Pitti, o maior de Florença, está situado no lado sul da cidade, ou seja, no outro lado (chamado Oltrarno) do Rio Arno, relativamente à minha residência na cidade.
O caminho pedestre mais directo, para quem caminha a partir do lado norte da cidade, atravessa a Ponte Vecchio, um dos símbolos de Florença. Esta, construída no ponto mais estreito do leito do Rio Arno, provavelmente no período Etrusco, foi sendo alterada ao longo dos tempos, sendo a versão actual, ainda sem o Corredor Vasariano, do século XIV.
A originalidade desta ponte reside na existência de construções que sempre tiveram funções comerciais, sendo as actuais, maioritariamente de ourivesaria, originárias do final do século XVI.
O Palácio Pitti, outrora uma das propriedades da família Medici, é hoje um conjunto arquitectónico aberto ao público, onde estão instalados vários museus.
Como não tinha a pretensão, nem tempo, para visitar tudo, escolhi a Galleria Palatina e Appartamenti Reali (assim chamado por ter sido a residência da família real italiana, no período de 1865 a 1870, quando Florença foi a capital de Itália), vasto conjunto de salas ricamente mobiladas e decoradas, inclusive com centenas de obras de arte, as quais também faziam parte da colecção de arte privada da família Medici. E não se pense que, pelo facto destas obras não estarem no Uffizi, não têm qualidade para tal, já que são do mesmo nível artístico, estando aqui presentes alguns dos mestres da pintura italiana e flamenga.
Aqui, visitei ainda a Galleria d’Arte Moderna, que apresenta obras de arte executadas entre a segunda metade do século XVIII e a metade do século XX.

No decurso da minha estada em Florença, pela localização do meu hotel, atravessei o rio frequentemente, para passear neste lado da cidade.
Uma das razões por que o fiz, foi a de tentar fugir às multidões de turistas que invariavelmente invadiam as ruas do centro norte da cidade, onde se situa a maioria das principais atracções turísticas.
Embora em Siena já tivesse sentido a força do mercado turístico em Itália, aqui em Florença encontrei a maior quantidade de turistas por metro quadrado que jamais vi em qualquer cidade do mundo, excepto provavelmente no que presenciei alguns dias depois em Roma.
O comportamento dos turistas em geral, salvaguardando as excepções meritórias, é revelador da pobreza cultural das sociedades actuais.
Um dos grupos de visitantes que mais se destaca aqui em Florença, assim como em Roma, é o dos jovens norte-americanos, que aparecem em grande número, e quase sempre em grupos numerosos, parecendo estar completamente perdidos e desfasados do ambiente das cidades italianas. Curioso pela presença de tantos norte-americanos jovens, falando com alguns, constatei que a maioria está em Itália por um período de algumas semanas, ao abrigo de programas escolares.

O lado sul da cidade, Oltrarno, apresenta-se aos visitantes quase como uma cidade normal, com áreas residenciais entrecortadas por espaços comerciais que servem as comunidades locais, e por praças cheias de vida, nas quais não faltam igrejas. Uma delas, das poucas que visitei em Florença, merece destaque particular, pela qualidade do seu interior.
Refiro-me à Igreja de Santo Spirito, projectada e construída na primeira metade do século XV, para substituir uma outra igreja que ocupava o mesmo local, por Brunelleschi, um dos maiores expoentes da arquitectura neste período.
A elegância e o equilíbrio das áreas interiores, numa proporção perfeita de formas e luz, sem os excessos decorativos de muitas outras igrejas católicas, fazem desta igreja uma das mais belas que conheço.
No final da minha visita a este templo, estando eu a ver os postais expostos num canto da igreja, observei, por mero acaso, os pés de uma jovem que se encontrava ao meu lado.
Para minha surpresa, identifiquei num dos pés dela o mapa da Nova Zelândia, tatuado. Não me contive, e confirmei que tinha a meu lado uma nativa da NZ.
A Holly, que ficou surpreendida por eu a ter identificado pela tatuagem nos pés, vive actualmente em Inglaterra, onde estuda numa universidade.
Interrogada sobre os seus planos futuros, disse-me, sem hesitação, que pretende regressar à NZ.

Por último, no que concerne a atracções culturais, em Florença, e para variar de tema, visitei uma exposição temporária sobre a China, concretamente sobre a vida no país, durante o primeiro milénio depois de Cristo, período durante o qual a China teve a sua época dourada, na dinastia Tang (617-907 DC), a qual deu ao país a sua única Imperatriz, Wu Zetian.
Esta exposição de qualidade encontrava-se patente no Palácio Strozzi, edificado no final do século XV para a família do mesmo nome, uma das mais importantes da cidade. Hoje, o palácio pertence ao estado, tendo sido adquirido a um membro da família Strozzi no século XX, por dificuldades financeiras, e é utilizado para exposições temporárias.
Ainda, tive a oportunidade de visitar o recente e bom Museu Nacional Alinari de Fotografia (http://www.alinarifondazione.it/), construído com base na colecção fotográfica da empresa Fratelli Alinari, nascida em Florença, em 1852.

Florença tem uma ampla oferta de restaurantes, gelatarias e um bom mercado alimentar, Mercato Centrale.
Quanto aos primeiros, recomendo os restaurantes La Galleria, Osteria Santo Spirito,e Trattoria Angiolino, todos no lado sul da cidade, muito próximo do rio.
Sobre os gelados que comi em Florença, e a oferta é vasta, encontrei o melhor de todos os que provei em Itália, no Vivoli (http://www.vivoli.it/), em local escondido, próximo da Praça S. Croce.
Como alternativa, embora os gelados do Vivoli sejam os melhores, recomendo os da La Carraia, junto à ponte do mesmo nome, no lado sul.
Sobre os gelados italianos, depois de ter provado algumas dezenas, é forçoso estabelecer uma comparação com os da mesma linhagem, que conheço de Portugal, e da Argentina.
Em Portugal, o mais ilustre dos gelados italianos que conheço é o do Santini, em Cascais, que é bom mas caro, se compararmos o mesmo com os congéneres de Itália, e muito caro, comparando com os da Argentina.
Esta apreciação comparativa tem por base a qualidade, quantidade e preço dos gelados.
Quanto aos gelados da Argentina, também de estilo italiano, são da melhor qualidade, de preço imbatível, e com uma variedade de sabores superior às de Itália e Portugal.
Aliás, como me disse a Paola, argentina, talentosa criadora de jóias (http://www.paolavolpigioielli.com/PaolaVolpi_homepage.html), com loja em Roma, onde reside, os italianos não sabem o que é o “dulce de leche”, o doce mais popular da Agentina, onde é também apreciado como gelado.

De Florença, parto para Perugia, desta vez de comboio. A viagem para sul, decorre com prazer, com vistas campestres interessantes e, pouco antes de chegar a Perugia, contornando o Lago Trasimeno pelo lado norte.

1 comentário:

EmeCe disse...

Fernando te felicito por tu selección al visitar los palacios de Florencia...buen gusto, si señor.....ah y de los helados ya daremos buena cuenta en Cascais.....