31 julho 2006

IGUAÇU – O APELO DA NATUREZA

Do avião em que viajei até Foz do Iguaçu, observo a paisagem, e vejo o leito dum rio largo, o Iguaçu, de trajecto sinuoso, que corre de oriente para ocidente, a sul do qual só se vislumbram campos agrícolas. A norte, como se o leito do rio servisse de fronteira, tudo o que a vista alcança é uma floresta densa.
É este o cenário nas proximidades de Foz do Iguaçu. Na verdade, o que aqui me traz, como à quase totalidade dos visitantes estrangeiros, é a riqueza natural desta região, consubstanciada no Parque Nacional do Iguaçu, no interior do qual se encontram as Cataratas do Iguaçu, património natural da humanidade.

O Parque está dividido entre os territórios do Brasil e da Argentina (na verdade, existem dois parques, cada um gerido por um dos dois países), que aqui se tocam, para além do Paraguai, que não possui qualquer parcela do Parque.
Estes três países aqui vizinhos, estão separados pelos leitos dos dois rios principais que cruzam a região, o Iguaçu, que poucos quilómetros depois de se despenhar nas cataratas se junta ao Paraná.
Gerido pelo IBAMA, o Parque brasileiro tem uma organização modelar: os visitantes são recebidos numa única entrada, que inclui para além das habituais unidades comerciais e serviços de apoio, um centro de informações de carácter pedagógico, com uma excelente exposição sobre a origem do Parque, os seus recursos hídricos, e as espécies vegetais e animais que nele vivem, para além das cataratas, a principal atracção do Parque.
Para se ter uma ideia da riqueza deste território natural, deixo uma informação sucinta sobre a fauna que habita o Parque.
Aves: mais de 300 espécies
Borboletas: 200
Répteis: 40
Peixes: 70

Quanto à floresta nativa que cobre a quase totalidade do Parque, embora majestosa, ela é hoje apenas uma amostra da que no passado cobria a região correspondente ao estado do Paraná, no qual se encontra o Parque.

No parque brasileiro passei um dia. Caminhei no único percurso aberto aos visitantes, que tem cerca de 1.5 km de extensão (recomendado para o período matinal), para o qual somos levados de autocarro. Ao longo deste, seguindo o leito do rio, vamo-nos apercebendo da dimensão das cataratas, em semicírculo, com cerca de 2.700 metros de extensão. Normalmente, toda esta extensão é preenchida com 275 cascatas, com alturas variáveis entre os 40 e os 80 metros.
A origem destas cataratas remonta a cerca de 225.000.000 de anos atrás, por um fenómeno vulcânico que provocou um derrame de lava basáltica.
O nome do rio e das cataratas, Iguaçu, é de origem Guarani, e significa “água grande”. Os Guarani, povo indígena que aqui vive há menos de um milénio, tem uma lenda acerca da origem das cataratas, fantasiosa, como todas as lendas.
Em 1542, um oficial castelhano que na altura percorreu o Rio da Prata em direcção ao Paraguai, terá sido o primeiro europeu a observar esta maravilha da natureza, tendo na ocasião feito um relato empolgado do que viu.
Mas, devido a uma seca, nesta altura as grandiosas cataratas do Iguaçu estão reduzidas a uma expressão mínima. Dizem-me que o caudal actual é o menor registado desde 1978.
Voltando ao percurso no parque brasileiro, por ser bastante panorâmico, apercebo-me da ausência da água nas escarpas do lado da Argentina. Contudo, no limite do percurso está o ponto mais espectacular das cataratas, chamado de Garganta do Diabo. Aqui, a quantidade de água que se despenha do plano superior do rio para o inferior, é ainda suficiente para impressionar os visitantes. A propósito destes, surpreendo-me com a quantidade, explicada pelo facto de, quer no Brasil quer na Argentina, estarem a decorrer férias escolares. Assim, apesar de haver muitos estrangeiros, a maioria dos visitantes neste período do ano são brasileiros e argentinos.
Dos três dias que passei nos parques, aquele em que havia mais gente, no lado argentino, disseram-me que entraram cerca de 5.500 pessoas.
Após a visita ao parque brasileiro, tive ainda a oportunidade para visitar um parque de aves, privado, situado junto à entrada do Parque Nacional.
Embora nos parques das cataratas se encontrem aves com alguma frequência, em liberdade, no Parque das Aves podemos vê-las, em cativeiro, em melhores condições. Aparentemente, as aves aqui expostas são bem tratadas, nos limites possíveis da vida em cativeiro.
Aqui existem inúmeras espécies, quer desta quer doutras regiões. As que mais chamam a atenção são as mais coloridas, como os papagaios, araras e tucanos. Alguns destes deixam-se mesmo acariciar pelos visitantes, o que os torna alvo de mais atenção.

Tendo-me posteriormente mudado para a cidade argentina, Puerto Iguazu, passei dois outros dias a percorrer diversos passeios no parque argentino.
Este está igualmente bem organizado, e os visitantes podem utilizar um pequeno comboio que os transporta a vários pontos do parque, a partir dos quais seguem a pé para os percursos assinalados. Destes, destaco dois: o da Garganta do Diabo, que do lado argentino termina quase em cima da cascata, a uma curta centena de metros de distancia, ao nível superior do rio. Esta perspectiva é muito diferente da que se tem do lado do Brasil, onde o percurso termina a uma distância bastante maior da cascata, e a um nível inferior.
Voltando à plataforma final do percurso da Garganta do Diabo, na Argentina, que deve ser visitado à tarde, e o qual fiz por duas vezes, permite ocasionalmente um espectáculo extraordinário, que tive a felicidade de presenciar, aquando da minha primeira visita: refiro-me à presença de pequenas aves, chamadas em castelhano “vencejos de cascada”, aparentemente só existentes neste parque, parecidas com as andorinhas, tanto na forma como no tamanho. O que estas pequenas aves têm de extraordinário é que, nidificam e vivem quase sempre por detrás das cortinas de água das cascatas, e quando estão próximas, voam vertiginosamente, em bandos (com centenas de indivíduos), como se executassem danças sincronizadas, nas proximidades das cascatas.
O outro percurso feito por mim que relevo, é o Macuco, cujo nome é proveniente de uma outra ave aqui existente. Este é um percurso bastante mais longo que os restantes, com cerca de 3.500 metros para cada lado, cujo piso é em terra, e sem qualquer apoio logístico. Isto significa que, ao entrarmos nele, ficamos por nossa conta e risco no meio da selva. Foi o que fiz, tendo caminhado neste local durante cerca de três horas, tal como algumas dezenas de outros visitantes, com os quais me cruzei, bem como algumas outras espécies animais. Este percurso culmina num ponto elevado, do qual temos uma vista ampla sobre a selva e o rio Iguaçu, já depois das cataratas. Neste ponto, existe uma pequena cascata, agora quase seca, com um lago.
A propósito dos percursos definidos para os visitantes nestes parques, no da Argentina, os principais são em plataformas metálicas, perfuradas, sobrelevadas em relação ao terreno.
Neste ambiente propicio à tranquilidade, para além da pressão humana que nalgumas épocas do ano é grande, identifiquei um factor de desequilíbrio, que é o de helicópteros que aqui voam com visitantes, cujo ruído dos motores é claramente incómodo. De referir que estes apenas existem no território brasileiro.
À parte os passeios descritos, outros existem, organizados por empresas privadas. Os mais atraentes são os de barco, pelo rio mas, devido à seca, quase todos estão cancelados, já que o nível de água do rio está demasiado baixo.

Outra atracção desta região, no Brasil, que não visitei, é a grande barragem hidroeléctrica de Itaipu, situada a poucas dezenas de quilómetros depois das cataratas, no rio Paraná. A produção de energia eléctrica desta barragem satisfaz cerca de 25% das necessidades de todo o Brasil, e mais de 90% do Paraguai, países responsáveis pelo projecto.

Acerca dos dois rios principais da região, o Iguaçu e o Paraná, de referir que são povoados por alguns peixes de grande envergadura. Os mais conhecidos, por serem servidos pelos restaurantes da região, são o Surubi e o Dourado. Qualquer deles atinge frequentemente um peso de várias dezenas de quilos, e mais de um metro de comprimento.
Provei ambos, e o meu preferido é o Surubi, peixe saboroso, de carne consistente, e sem espinhas.
A propósito de gastronomia, tive esta semana o meu primeiro teste de carne argentina: sem que tivesse sido previamente planeado, almocei num dos restaurantes do Parque, em regime de buffet. Dele fazia parte a “parrilla”, churrasco correspondente ao rodízio do Brasil. A qualidade da carne era muito boa, pelo que já estou a pensar em novos testes, esses sim, previamente planeados, em Buenos Aires.

Deixei para último lugar, nesta região, as duas cidades onde estive. Tanto Foz do Iguaçu, no Brasil, como Puerto Iguazu, na Argentina, são cidades sem encanto particular. A primeira é bastante maior e mais populosa que a segunda mas, ambas parecem sobreviver à sombra do que a natureza proporcionou à região, e que aqui traz a maioria dos visitantes: as cataratas.
Ambas as cidades são caracterizadas por estarem em área fronteiriça, com influências culturais óbvias, e com canais comerciais que servem os residentes dos três países vizinhos. Neste aspecto, o Paraguai parece ser o que melhor explora as oportunidades comerciais, por isenções fiscais, o que faz com que exista contrabando de mercadorias nas fronteiras.
Previamente exclui o Paraguai do meu roteiro de viagem, e aqui ouvi várias referências de riscos para aqueles que lá se deslocam, nesta fronteira.
Do Paraguai, apenas vi o que se observa do local onde a Argentina tem o seu marco de fronteira, junto à confluência do rio Iguaçu com o Paraná, do qual também se observa o Brasil. Que me lembre, esta é a primeira fronteira tripla em que estive.

Agora, depois de 52 dias passados no Brasil, deixei o mundo da lusofonia e entrei no do castelhano. Espero melhorar os meus conhecimentos desta língua, já que nos próximos meses a vou utilizar diariamente.
Depois desta imersão na natureza, vou voltar aos ambientes urbanos, desta vez numa metrópole de classe especial:
Buenos Aires, aqui vou eu!


5 comentários:

Anónimo disse...

Olá Fernando,bom dia,
Como estive de férias duas semanas só hoje deu para fazer a consulta às maravilhas que tem para nos mostrar, as fotos estão lindas, e o Fernando está com óptimo aspecto.
Espero continuar a disfrutar dessa viagem que o Fernando tão bem descreve para nós.
Um beijinho e boa continuação de viagem,
Lisete

Anónimo disse...

Olá Fernando!

Curiosamente passaram aqui na TV uma reportagem sobre a seca do Iguaçu, claro que exageraram um bocadinho ou não fosse TV.

Boa viagem para Buenos Aires.

José Manuel

Anónimo disse...

Oi, amigo!
Finalmente acabei o curso e cheguei de uma viagem..pronto, arranjei tempo para vir aqui!
Li seus relatos mais recentes e fiquei feliz ao ver que vc está bem e "curtindo" a sua viagem!
Depois quero ver as fotos de BUE! hahah
As do Corcovado e do chorinho ficaram ótimas...das de Parati, então, um, show!..adorei!
bjs e ...boa viagem!
Angelica

Anónimo disse...

Pois é Fernando,
Infelizmente toda a exuberancia das cataratas foi prejudicada devido à enorme seca que está a prejudicar a região sul do Brasil. É muito preocupante e não temos ainda noção das consequencias de tudo isto..acreditas que pela primeira vez uns rapazes foram fazer rappel nas paredes das cataratas? Com a ausencia total de agua em grande parte das quedas foi possivel para estes atletas praticarem o seu desporto ali.
Aproveita bem a tua passagem por Buenos Aires!
Continuo atenta ao teu blog!
Beijos
Katy

Anónimo disse...

Olá Fernando,

Gostei muito do Brasil por ti viajado e descrito. Decerto que ficam dicas muito sérias para umas férias nesse país.
Agora espero por ti em Buenos Aires.

beijinhos