17 julho 2006

RIO DE JANEIRO – CIDADE MARAVILHOSA

No Rio, esperam-me vários amigos(as) que aqui residem. Hospedo-me em casa da Beatriz e do Renato, cariocas, que não via há mais de 10 anos, quando nos conhecemos no Ceará.
A Beatriz e o Renato acabam de se emancipar pela segunda vez já que, depois de criarem quatro filhos, estão agora a viver sozinhos num bom apartamento na área da Lagoa, uma das melhores áreas residenciais do Rio.

Os primeiros encontros com a cidade identificam vários factores importantes: é uma grande metrópole, já com mais de 10.000.000 de habitantes, a topografia do terreno é bastante acidentada, sendo a cidade entrecortada em vários pontos por morros, o que associado à dimensão populacional faz com que existam várias cidades dentro da cidade, sendo que algumas são bairros clandestinos, as chamadas favelas. Quando refiro que algumas das áreas urbanas são bairros clandestinos, falo de centenas deles.
Aliás, este fenómeno que não é exclusivo do Brasil, foi recentemente estudado pela ONU, que prevê que em 2020, o Brasil terá “só” 55.000.000 de cidadãos a residirem em favelas, ou seja, o equivalente a 25% da população do país. Esta percentagem é hoje bastante mais elevada em grandes cidades, como por exemplo no Rio, onde cerca de 50% dos habitantes vivem em condições precárias.
Esta coexistência de várias comunidades de características tão dispares, sobretudo no que respeita à educação e poder económico, provoca claras tensões sociais, visíveis nas grades que cercam os imóveis dos mais favorecidos, as câmaras de CCTV (vulgarmente chamadas de vídeo-vigilância) que estão em todo o lado, os guardas públicos e privados, alguns dos quais fortemente armados, e o comportamento dos cidadãos em geral, para além das noticias veiculadas pela comunicação social, que denunciam diariamente todo o tipo de delinquência e violência no território urbano.
A mim, todos os amigos e conhecidos recomendam muita cautela.
Na verdade, todos os riscos de violência que pairam sobre a cidade fazem com que as pessoas vivam em permanente sobressalto, como que prisioneiras dos seus medos.

A cidade é bela por natureza, de uma beleza invulgar, com o oceano Atlântico de um lado, formando belas baías, com praias para todos os gostos. Do lado oposto, a mata atlântica, densa, de um verde intenso, cobre terras que ainda não foram ocupadas pelo ser humano. De permeio, a cidade, qual selva urbana, cada vez menos atraente, pela força da especulação imobiliária, das soluções urbanísticas de qualidade duvidosa, e pelos desequilíbrios sociais das comunidades residentes.
Apesar da dimensão do espaço urbano e dos factores negativos atrás citados, o estilo de vida carioca apresenta-se relaxado, como que a querer confirmar que aqui, o que importa mesmo são a praia, a música e o futebol (a ordem varia consoante a época do ano).

Do futebol já falei o suficiente. Dos outros factores não. Na busca de experiências musicais interessantes, a Angélica, nova amiga, por via da Beatriz, fala-me num encontro de músicos numa feira que se realiza todos os sábados numa pequena praça perto de sua casa, no bairro de Laranjeiras.
Sendo que estes encontros musicais espontâneos, ao ar livre, são dedicados ao chorinho (género musical brasileiro pelo qual me apaixonei desde que vim pela primeira vez ao Brasil), aproveitei para visitar o local, na companhia de vários amigos, o que se revelou mágico.
Na pequena praça, à sombra de uma frondosa árvore florida (pata de vaca), encontrámos um grupo heterogéneo de músicos, de ambos os sexos e de gerações muito diversas, que se divertiam a tocar música, para deleite de algumas dezenas de espectadores que os rodeavam. Assim se passa uma bela tarde!

A vida no Rio é naturalmente marcada pelas praias, que parecem estar quase à porta de casa, e que mesmo no Inverno, são bastante frequentadas: na companhia do Marcelo, velho amigo carioca, pude conhecer a orla marítima que vai para ocidente, até à praia de Grumari. Em pleno Inverno, deliciámo-nos com banhos de mar na Prainha, onde o Marcelo também faz surf. Confirmei que o meu corpo continua calibrado para as praias tropicais.
Mas o Rio oferece muito mais que belas praias: na área da Lagoa, onde resido, visito o Jardim Botânico, criado em 1808. Com quase 200 anos de vida o jardim apresenta-se magnífico, com centenas de espécies de plantas, com destaque para altíssimas palmeiras imperiais que demarcam as principais alamedas do jardim.
Deste belo parque, a vista alcança o Corcovado, com a estátua do Cristo Rei a encimá-lo. Claro que não pude deixar de lá subir, sabendo de antemão que seria uma visita a um dos miradouros mais famosos do mundo (a visitar à tarde).
De comboio, percorro os 3.824 metros que vão da base ao topo do Corcovado, situado a mais de 700 metros de altitude. A subida e posterior descida, são vertiginosas. Lá no alto, desfruto, em conjunto com muitos outros visitantes, de muitas origens, de uma vista aérea deslumbrante sobre a cidade e arredores.
Igualmente deslumbrante é a vista do Pão de Açúcar (a visitar de manhã), outro miradouro simbólico do Rio, ao qual se tem acesso por teleférico, em duas etapas. Embora mais baixo que o Corcovado, proporciona uma visão panorâmica, tanto do Rio como da entrada da Baía da Guanabara.

A vida no Rio também oferece outras possibilidades culturais interessantes: pude visitar o Museu de Folclore e Cultura Popular, dedicado às Artes Tradicionais/Artesanato, que oferece uma boa panóplia das artes tradicionais de várias regiões do Brasil.
Realce ainda para o Instituto Moreira Salles (www.ims.com.br), instituição privada, dedicada fundamentalmente a projectos nas áreas da fotografia, cinema, artes plásticas, música brasileira e literatura.
Esta instituição está sediada numa bela propriedade que já foi residência da família Moreira Salles, edificada na década de 50, no século XX, de acordo com o estilo modernista.
Aqui, pude visitar uma excelente exposição fotográfica dedicada à obra de um fotógrafo suíço, radicado no Brasil no século XIX. A mostra aborda fundamentalmente o trabalho executado na segunda metade do século XIX por Georges Leuzinger, sobre a área do Rio de Janeiro. Através destas fotografias podemos imaginar quão bela foi a cidade no século XIX, com arquitectura de qualidade, e uma escala adequada à integração na natureza. Infelizmente, a maior parte do património arquitectónico histórico do Rio desapareceu, com a fúria do desenvolvimento urbanístico.

Frente à cidade do Rio, no lado oriental da Baía da Guanabara, encontra-se a cidade de Niterói. Para lá me dirijo, de barco rápido, para visitar a minha amiga de Luanda, Katy.
À medida que o barco se aproxima da costa, apercebo-me que também Niterói tem a sua dose de favelas, que corroem a malha urbana, qual praga incontrolável.
A Katy e o Bernardo, seu companheiro, residem numa área tranquila, numa casa que quase parece um barco, tantas são as referências marítimas e navais que lá se encontram. A razão principal é a do Bernardo ser marinheiro de profissão ou melhor, oficial da Marinha do Brasil.
De Niterói, muitos cariocas dizem que o melhor que ela tem é a vista para o Rio. Não sei se é uma apreciação correcta mas, que as vistas panorâmicas para o outro lado da Baía, onde se encontra o Rio, são magníficas, é verdade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Fernando,
Foi muito bom ( e estranho) ter estado contigo aqui em Niterói. Quando digo estranho é porque estava fora do contexto... tu e eu nos conheçemos em Luanda, há tantos anos, e agora estavas aqui comigo em Niterói e eu a mostrar-te a cidade... mas foi bom ter estado contigo e eu e o Bernardo gostamos muito de te ter recebido aqui em casa.
Vou acrescentar algo à tua informação: no RJ há 700 favelas, acredite quem quiser e a cada dia aparece uma nova. Infelizmente as autoridades ignoram o facto. Parece mais fácil ir lá depois derrubar tudo com uma retroescavadeira do que impedir que gente construa em zonas perigosas ou reservas florestais. Enfim!
Quanto ao Chorinho, que eu adoro também: o Cavaquinho, principal instrumento, é na realidade muito Luso, mas caiu no ostracismo e foram os Brasileiros que o resgataram. Aparentemente era usado por nossos marinheiros de outrora e ficou por aqui em Terras Brasilis esquecido.
O Rão Kyao tem um disco em que traça o percurso do Cavaquinho. É belissimo por sinal e se tiveres oportunidade tenta ouvir.
Continuação de boa viagem! vou acompanhando os teus passos por aqui e para além daqui, OK?
Ah! Novidade: a gatinha teve filhotes..são 4 e nasceram na nossa cama hoje, 20 Julho, às 4 da manhã!! Madrugada e confusão para nós, claro!

Fernando Moura Machado disse...

Querida Katy:

Agradeço os teus comentários, que valorizam o que escrevi.
Irei corrigir a informação respeitante às favelas.

Parabéns pela tua maternidade indirecta.

Fernando