24 julho 2006

SANTA CATARINA – UM OUTRO BRASIL

À chegada a Florianópolis, aguardava-me o Luis Veiga, amigo, do tempo em que a minha vida profissional dependia da fotografia.
O Luís, fotógrafo profissional, é casado com a Rosana, arquitecta, e vivem em Florianópolis há menos de três anos, depois de terem residido alguns anos na Europa, inclusive em Portugal.
Instalado em casa deles, na parte insular da cidade, saímos para um primeiro passeio pela ilha. O tempo está chuvoso, e a visibilidade má.
Paramos para almoçar no extremo sul da ilha, num restaurante, no interior do qual encontramos bandeiras de Portugal e dos Açores.
Alguém me identifica como português, e logo aparece o proprietário, que nos fala apaixonadamente, da sua relação com Portugal, e particularmente com os Açores, de onde regressou recentemente.
Aqui, começo a perceber um pouco das origens dos povos que vivem nesta região do Brasil. Primeiro, se excluirmos os verdadeiros nativos, também chamados índios, foram portugueses dos Açores que aqui chegaram, começando o povoamento do sul do Brasil. Mais tarde, também vieram outros imigrantes europeus, particularmente italianos e alemães.
Por razões que desconheço, estas comunidades fixaram-se nos estados do sul, mantendo muitas tradições dos seus países de origem.
Assim, ao percorrermos a região, cruzamo-nos com pessoas que parecem europeias, com arquitectura de igual influencia, e com nomes a condizer.

Florianópolis é a capital do estado de Santa Catarina, e uma cidade vista como modelo para o Brasil do futuro. O crescimento demográfico da cidade, nos últimos dez anos, foi claramente superior ao da média das capitais estaduais do país.
Hoje, a maioria da população é constituída por pessoas vindas de outros estados, em busca da ordem e segurança que já não existe noutras urbes.
O progresso tem o seu preço, e dizem-me que o mercado imobiliário é dos mais caros do Brasil.
A cidade apresenta-se como numa crise de crescimento, entre o antigo e o novo. O seu centro ainda parece de uma cidade provinciana, com comércio antiquado e modos de vida relaxados mas, novas construções rodeiam-no, como que a marcarem os novos tempos.
Sendo que a cidade se espraia entre a Ilha de Santa Catarina e o continente, é na ilha que estão os principais pólos de interesse que atraem residentes e visitantes. Estes são sobretudo praias, e tudo o que lhes possa estar associado.
Por estarmos no Inverno, muito brando, não pratiquei aqui a actividade de banhista, mas provei os prazeres de comer e beber à beira-mar.
A propósito, pude comer as ostras locais, cultivadas nalgumas áreas da ilha.
Quanto ao resto, destaco uma visita à Fortaleza de São José da Ponta Grossa, interessante construção militar do século XVIII, edificada em local privilegiado na costa norte da ilha.
Aquando da visita a este local, caminhámos por uma pequena praia nas imediações, até atingirmos um local próximo de um restaurante fronteiro ao mar. Aqui, chamou-nos a atenção um homem que cuidava das redes de pesca de um pequeno barco que se encontrava sobre a areia da praia.
Ao acercarmo-nos dele, fomos recebidos com extrema amabilidade, pelo Luís. Falou-nos da actividade de pescador que exerce há muitos anos, da invulgar fartura de tainha no mar próximo, nas últimas semanas, provavelmente devido a factores climatéricos anormais, e da sua origem portuguesa, dos Açores.
Já depois de muita conversa, o Luís disse-nos, humildemente, ser o proprietário do restaurante anexo.

Apesar de viver próximo do mar, o Luís Veiga é um apaixonado pelo interior do sul do Brasil. Natural do Rio Grande do Sul, desde muito novo calcorreou campos e serras. Como escoteiro, há cerca de 30 anos atrás, cometeu uma proeza: desceu pela primeira vez, a parede do desfiladeiro de Fortaleza, na fronteira dos estados de Santa Catarina e Rio Grande e do Sul.
A aventura, na companhia de dois outros escoteiros, foi atribulada mas, bem sucedida.
O Luís quis mostrar-me um pouco desse mundo: saímos de Florianópolis para sudoeste, até chegarmos à povoação de Urubici, perto da qual se encontra a montanha mais alta do sul do Brasil, em pleno Parque Nacional de São Joaquim. Subimos ao cume do Morro da Igreja, a mais de 1.800 metros de altura, para observar um panorama agreste.
Descendo a montanha, encontrámos o Rio Canoas, ao longo do qual passeámos a pé, num vale ladeado por montes escarpados.
Aqui, tive o meu primeiro contacto com uma árvore característica do sul do Brasil, que se destaca nas paisagens: refiro-me à Araucária Angustifolia, normalmente identificada como pinheiro brasileiro ou, pinheiro do Paraná, que produz umas pinhas enormes e pesadas (cada uma pode atingir vários quilos), dentro das quais se encontram os pinhões, também grandes.
Esta espécie foi quase dizimada durante o século passado, para a indústria da madeira, encontrando-se agora protegida e em recuperação.
Pernoitámos num albergue situado numa propriedade de turismo rural, Rio Canoas – Refúgio de Montanha (wwwriocanoas.com.br), recomendável, não tanto pelo albergue utilizado por nós mas, pelas instalações da Pousada, e pela localização.
À noite, antes de dormir, deleitámo-nos observando o céu estrelado que, pela escuridão da área e a ausência da lua, nos pareceu mais brilhante que nunca.
No dia seguinte, partimos cedo, para nos encontrarmos com um outro amigo comum, o Fernando Bueno, também fotógrafo e gaúcho, tal como o Luís Veiga. O ponto de encontro era o Parque Nacional de Aparados da Serra, já no estado do Rio Grande do Sul.
Infelizmente, deu-se um desencontro, pelo que eu e o Luís visitámos o desfiladeiro de Itaimbezinho, fenda geológica impressionante, com vários quilómetros de extensão, após o que regressámos a Florianópolis.

Despedi-me de Florianópolis e de Santa Catarina, não sem antes rever a Silvana e o Hans, amigos da minha estada em São Luís do Maranhão, que em breve partem para uma estada prolongada na Suiça, terra natal do Hans.
Para concluir a minha estada no Brasil, parto para Foz do Iguaçu, para assistir a um dos grandes espectáculos da natureza: as cataratas de Iguaçu.


3 comentários:

Anónimo disse...

Ola Fernando

Espero que a tua viagem a Foz seja super agradavel e que tenhas uns optimos dias.
As cataratas sao divinas e se podesses andar de Heli, seria espetacular.
Tambem poderias ir a Presidente Staussener, nao sei se e assim que se escreve, mas da igual, no Paraguai, so para te aperceberes do mercado livre.
Um abraco para ti e continuacao de uma optima viagem.

Um abraco
Xico
PS: aqui em Rotterdam temos tido um tempo maravilhoso esta 2 ultimas semanas.

Anónimo disse...

Olá Fernando!

Mais uma vez nos levaste a viajar. Todas as pessoas que se cruzam comigo e te conhecem perguntam por ti. Uma delas, que sei que te é grata, foi a Graciosa. Pediu-me para te enviar um beijinho e desejar-te felicidades.
Sei que vais adorar as cataratas porque devem ser fenomenais. É um dos meus sonhos.
Boa viagem e um beijinho,

Ana

arteplant disse...

Oi Fernando!

Muito legal o teu blog! Parabéns pelos comentários e por tuas belas imagens "em viagem pelo mundo"! Foi pesquisando sobre "Luis Veiga" em "all blogs" (dentro do blogspot do google) que encontrei essa tua postagem; SANTA CATARINA - UM OUTRO BRASIL... com os relatos do teu encontro e viagens com o Luís e Rosana, em Santa Catarina. Esses são lindos e impressionantes passeios mesmo! Aproveito para deixar aqui um link onde falo um pouquinho sobre a "Fotografia de Luís Veiga" : http://dioneveigavieira.blogspot.com/ = "REVISADOS E OUTROS", meu blog.

Um abraço e um Feliz 2007, COM MUITAS REALIZAÇÕES e muitas viagens!

Dione.