ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA – TERRA DA ABUNDÂNCIA (1)
A viagem de São Paulo, Brasil, até Miami, EUA, é longa. No meu caso, consistiu em dois voos, com escala na cidade de Panamá.
Para meu azar, a minha alergia estava particularmente activa no dia desta viagem, o que a tornou mais incómoda.
A aproximação do avião à pista do aeroporto de Miami revela um mar de luzes, característica geral das grandes cidades dos EUA.
Ao sair do avião, já a noite ia longa, estava preparado para uma entrada demorada no território norte-americano, devido às formalidades alfandegárias.
Na área de controlo dos passaportes, encontro centenas de outros passageiros, provenientes de vários países. Individualmente, todos somos identificados, fotografados, e registadas as nossas impressões digitais.
Depois de uma longa espera, chega a minha vez. O agente que me recebe fica claramente confuso quando lhe digo que estou a viajar há quase sete meses, e ainda mais quando o informo que a minha profissão é “viajante”. Esta é a designação que tenho utilizado sempre que me perguntam qual a minha profissão actual.
Perante as informações prestadas, sou levado para uma sala fechada onde encontro outros passageiros que também são alvo duma inspecção mais detalhada. Aqui, depois de mais uma longa espera, sou entrevistado por outro agente que repete as perguntas feitas pelo anterior, e recebe as mesmas respostas. Finalmente, duas horas depois de ter saído do avião, o meu passaporte é carimbado, e posso então recolher a minha mala, que se encontrava sozinha à minha espera.
Fisicamente esgotado, telefono para um hotel situado nas imediações do aeroporto, onde passarei esta noite, para no dia seguinte viajar para Sarasota.
Os hotéis de Miami mais próximos do aeroporto têm um serviço eficaz, gratuito, de transporte dos passageiros.
No dia seguinte, já recuperado da maratona do dia anterior, e na ressaca da alergia, apanho um autocarro que me levará até Sarasota, onde me encontrarei com os meus amigos Milu (portuguesa) e Al (norte-americano).
Esta viagem da costa oriental para a costa ocidental da Flórida (território maior que Portugal) deverá demorar cerca de cinco horas. Para meu azar, o autocarro que me transporta tem uma avaria pouco depois de sair de Miami, pelo que a viagem demora duas horas mais que o previsto.
Depois de ter passado sete meses na América Latina, onde percorri algumas das piores estradas que conheci até hoje, a experiência de viajar nas estradas norte-americanas proporciona-me mais conforto. De resto, ao longo das estradas, são visíveis outros aspectos característicos da cultura dos EUA, como os grandes cartazes publicitários, as áreas comerciais frequentes, e o parque automóvel onde predominam as viaturas de luxo e de grande cilindrada.
Já de noite, chegamos a Sarasota, onde me esperam a Milu e o Al. Este último vive numa pequena cidade localizada cerca de 30 km a sul de Sarasota, chamada Venice, Veneza em inglês.
Alojado em casa do Al, aqui passo uma semana descansada, em boa companhia.
Este é o período em que nos despedimos dum ano, para começarmos outro. O Al, que reside numa área muito tranquila, tem como vizinhos algumas famílias gregas, com as quais passamos o final de 2006, e o início de 2007.
Talvez pelo facto dos vizinhos e amigos do Al serem de origem grega, do sul da Europa, estabeleço uma relação empática com eles.
Venice, a Veneza da Flórida, é uma pequena cidade costeira, junto ao Golfo do México, com praias agradáveis, onde abundam aves marinhas.
Num dos passeios diurnos pelas praias, presenciámos uma incursão de golfinhos até ao limite da rebentação do mar, no que parecia ser uma perseguição dos golfinhos a um cardume de peixes.
Tanto as áreas balneares como a parte urbana denotam uma organização social e cuidados a que já não estava habituado, depois de ter percorrido oito países da América Latina. De facto, nos países visitados antes dos EUA, e não apenas nas áreas urbanas, a vida das populações tende a ser caótica. Aqui, nos EUA, e observando apenas o que se passa no estado da Flórida, onde residem alguns milhões de latino-americanos, as pessoas têm uma vida mais organizada, respeitando regras que, no caso dos imigrantes, desrespeitam nos seus países de origem.
Em termos étnicos e sociais, na Flórida, predominam as comunidades hispânicas, de países latino-americanos, e os cidadãos norte-americanos de idade avançada, muitos dos quais reformados, atraídos pelo clima quente da região. Nesta época do ano, desfrutamos de condições meteorológicas extraordinariamente amenas, que fazem esquecer o Inverno de outras regiões do hemisfério norte.
Quanto à qualidade dos espaços urbanos, para além das naturais situações de especulação imobiliária comuns às áreas costeiras, impera a qualidade.
A arquitectura dos edifícios residenciais é bastante heterogénea, dependendo dos gostos dos proprietários, e o tamanho médio das casas é bastante superior ao de Portugal.
Com frequência, encontram-se habitações opulentas que, no caso das que se encontram à beira-mar, têm inclusive portos privados, com barcos “estacionados” à porta de casa.
A propósito de opulência, nesta região dos EUA, qualquer observador atento constata que os cidadãos norte-americanos estão habituados a viver num mundo de abundância material. Para além das casas, dos automóveis, da presença constante de grandes e pequenos estabelecimentos comerciais, as pessoas vivem com hábitos de consumo muito acima das suas reais necessidades.
A minha querida amiga Milu, uma consumidora apaixonada, levou-me a conhecer algumas das áreas comerciais que frequenta. Numa delas, um enorme supermercado, onde tudo tem uma escala superior ao que estou habituado (desde os carros para transporte dos produtos até às embalagens gigantes), cruzei-me com um cliente que fazia naturalmente as suas compras, e que vestia uma camisola onde sobressaía a seguinte frase: SAVE DARFUR.
Ao vê-lo naquele local onde tudo parece fácil e acessível, dei por mim a pensar se aquele cidadão que apelava publicamente para uma acção humanitária em África, teria alguma noção do que lá se passa ou mesmo, se sabe onde é Darfur.
Em Sarasota, existe um museu invulgar, quer pela qualidade das obras expostas, quer pelas instalações, anteriormente utilizadas como residência da família que deu origem ao museu, quer pelo perfil dos fundadores.
Refiro-me ao Ringling Museum of Art (http://www.ringling.org/), cujo nome provém da família Ringling, proprietária dum circo famoso nos EUA.
O museu foi edificado na primeira metade do século XX, num local admirável, à beira-mar, juntamente com a casa de Inverno da família Ringling. O estilo das construções é de influência veneziana, sendo complementado por belos jardins.
O museu de arte tem um acervo importante de arte europeia antiga, principalmente pintura, para além de muitas outras peças.
Paralelamente, devido à actividade circense da família Ringling, existe um outro museu, dedicado ao circo.
A segunda semana nos EUA, leva-me um pouco mais para Norte, para a região de Tampa, mais precisamente para Belleair, uma área residencial chique de Clearwater.
Num magnífico condomínio residencial, com casas para os mais abastados, um hotel, “country” clube e dois campos de golfe, passei mais alguns dias descansados.
Aqui reside a Milu e, temporariamente, a Mila (filha) e a respectiva família, enquanto a sua futura casa, na mesma localidade, está em construção.
Neste período, procurei fazer algumas alterações ao percurso que havia previsto para os EUA, há quase oito meses atrás, de modo a viajar desde a cidade de Tampa, na Florida, para Dallas, no Texas, e desta para São Francisco, na Califórnia.
Aquilo que poderia ser fácil e rápido, acabou por se revelar complexo e moroso, devido a um erro de avaliação do percurso total desta minha viagem à volta do mundo, cometido originalmente em Portugal. De facto, este tipo de viagem é avaliado em função do total de milhas a percorrer, no conjunto das várias etapas. O que aconteceu foi que, quando comprei o direito a fazer esta viagem, utilizando as companhias aéreas associadas da Star Alliance, paguei um valor correspondente a um número máximo de milhas, que na verdade é inferior ao real.
Apenas agora, ao pretender efectuar algumas alterações ao percurso inicialmente previsto e contratado, esse erro foi detectado e corrigido.
Hoje, 10 de Janeiro de 2007, presenciei o discurso que o Presidente dos EUA, George W. Bush, proferiu à nação.
Tal como previsto, o discurso foi inteiramente dedicado ao envolvimento dos EUA no Iraque e Afeganistão, e serviu para o Presidente dos EUA expor mais uma vez, o seu papel de defensor do “bem”, contra os representantes do “mal”.
Na verdade, depois de vários anos de guerra no Iraque e Afeganistão, a intervenção norte-americana custou, só aos EUA, cerca de trezentos biliões de dólares, mais de três mil mortos, e muitas mais vitimas não mortais, para além dos imensos prejuízos humanos e materiais, provavelmente inquantificáveis, causados ao resto do mundo.
Com este cenário trágico, a credibilidade interna do Presidente dos EUA é muito baixa, sendo agora publicamente ridicularizado pelos meios de comunicação e criticado por inúmeras personalidades e cidadãos anónimos. Para um observador externo, chega a parecer caricato como o Presidente da nação mais poderosa do mundo é visto pelos seus compatriotas.
Antes de deixar a Flórida, tive a oportunidade de assistir à transmissão duma ópera produzida pelo Metropolitan de Nova Iorque. A ópera em causa, O Primeiro Imperador, da autoria do compositor chinês Tan Dun, foi gravada em filme, para ser apresentada em salas de cinema nos EUA, tal como outras igualmente produzidas pelo Metropolitan.
Não sendo um apreciador desta área musical, não pude deixar de apreciar a excelente produção e encenação, para além da actuação dos cantores, com Plácido Domingo à cabeça.
Vou prosseguir a minha viagem para ocidente, e a próxima etapa será Dallas, no Texas, para visitar uma amiga e ex-colega da empresa com a qual trabalhei, cuja sede era precisamente em Dallas. Por este motivo, já lá estive diversas vezes.
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5 comentários:
Ola Fernando
Antes de mais quero te desejar um bom ano.
Agradecia que me mandasses o teu contacto (mail ou telefone)pois gostaria de falar contigo.
Um abraço dos teus amigos Elisa e Antonio
Estimados Elisa e António:
Agradeço a vossa mensagem.
Tenho tentado contactar-vos por e-mail, sem sucesso. Provavelmente, mudaram o vosso endereço.
Se puderem, contactem-me SFF pelo meu e-mail, fmouramachado@gmail.com
Aguardarei o vosso contacto.
Até lá, envio-vos um abraço.
Fernando
Olá Fernando!
Continuo deliciada a seguir a tua viagem através das tuas fotos e palavras.
Espero que este Novo Ano te traga o que buscas.
Um beijo da Luisa
O Paulo tb te menda um grande abraço.
Olá, Fernando,
Continuo a acompanhar-te, agora com menos fotografias. É uma viagem fascinante.
Beijos,
Isabel
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