COSTA RICA – A MÃE NATUREZA AMEAÇADA PELO BICHO HOMEM
Chegado a Puerto Viejo, despeço-me dos três companheiros de viagem de hoje, e decido explorar outras áreas desta região.
Quero encontrar um local tranquilo, à beira-mar, para descansar, e explorar o mundo natural da região Atlântica da Costa Rica.
7 Km a Sul de Puerto Viejo, decido ficar num hotel confortável, frente à baía de Punta Uva. Esta distancia parece muito maior, devido ao péssimo estado da estrada, asfaltada, mas que nalgumas partes, tem mais buracos que asfalto. Dias depois, o principal jornal diário da Costa Rica, La Nación, publicou um artigo onde referia que, segundo um estudo técnico recentemente efectuado à rede de estradas do país, 70% destas se encontram em mau estado de conservação.
Esta região litoral da Costa Rica é, em termos geográficos, a continuação da que visitei anteriormente no Panamá. No entanto, aqui, em vez dos mangais que ocupam quase toda a linha de costa no Panamá, temos areais extensos, que separam o oceano Atlântico de florestas densas.
Desde os meus primeiros passos nesta região, apercebo-me da existência de muita vida animal. Sem querer ser exaustivo, só ao redor do hotel onde me hospedo, vejo macacos, que emitem sons fortes, iguanas e muitos outros lagartos, esquilos que saltitam nas folhas dos coqueiros, e muitas aves, sobretudo marinhas. No grupo das aves, destacam-se pelo porte os pelicanos, que voam incessantemente sobre o mar, a curta distância da areia, mergulhando amiúde, para apanhar peixe.
Durante a minha estada nesta região, para além de usufruir da praia que está à porta do hotel, pretendo visitar algumas áreas naturais protegidas.
Começando pela praia, tenho vários quilómetros para explorar: se caminhar para o lado direito do hotel, a povoação mais próxima, Manzanillo, está a cerca de uma hora de distância, sem obstáculos. Para o lado esquerdo, o trajecto pela praia é mais difícil, havendo vários obstáculos naturais que fazem com que o litoral se estenda por baías mais pequenas.
Como a densidade de pessoas nestas praias é muito baixa, posso estar isolado, para me banhar nu, o que me agrada mais que a versão tradicional.
De resto, o mar nestas praias é bastante agitado, com correntes e ondulação fortes.
Quanto aos atractivos naturais, próximo de Manzanillo, caminhando à beira-mar, percorro várias pequenas praias, maioritariamente com fundo rochoso e por isso, mais adequadas a mergulho que a banhos. Esta área, designada como Refúgio Gandoca, pode também ser visitada por caminhos pedestres, através da floresta. Percorrendo estes, apercebo-me da existência de algumas casas cujo estilo denuncia serem propriedade de estrangeiros.
Junto a uma delas, com excelente localização, encontro uma “tica”, designação corrente que identifica as mulheres da Costa Rica, que confirma que a casa que eu aprecio é propriedade duma norte-americana, e pode ser alugada.
Para quem queira passar uma temporada nesta região, ficando num belíssimo local, isolado mas próximo duma localidade, Manzanillo, este é o local certo. Os interessados podem consultar o site duma agência imobiliária que aluga a referida casa: www.viviun.com/AD-14776/
A poucas dezenas de quilómetros a noroeste de Punta Uva, no litoral, situa-se o Parque Natural Cahuita, do qual se diz ser a área do mundo mais rica em biodiversidade.
Para o visitar, contratei os serviços duma empresa local que organiza passeios guiados pelo parque, com inicio no mar, junto a uma pequena península que delimita o parque, para mergulho e observação da vida marinha, que no dia em que lá estive era de difícil observação dadas as más condições de mar.
Posteriormente, desembarcámos numa praia do parque, para então iniciarmos uma caminhada de cerca de 5 km, através dum trilho plano, quase sempre a poucos metros de distância do mar, até ao ponto de partida, a povoação de Cahuita.
O meu grupo tinha, para além do guia, um jovem local que se mostrou bastante familiarizado com o parque, e os seus habitantes naturais, um casal norte-americano e um outro casal austríaco, que se fazia acompanhar por um jovem tico, que fazia de intérprete. O curioso do grupo foi que, o companheiro austríaco é um especialista profissional em … répteis.
Assim, o principal objectivo dele era o de observar exemplares de répteis, particularmente cobras, que habitam naquela área.
Ao longo do percurso efectuado, encontrámos, ou melhor, o austríaco e o guia encontraram duas cobras, uma pequena e fina e a outra de maior envergadura, com as quais ambos interagiram fisicamente. Segundo o nosso especialista em répteis, nenhum dos dois exemplares observados era venenoso. Sorte a nossa.
Escusado seria dizer que, mais ninguém do grupo quis tocar nas cobras, e eu limitei-me a observá-las e fotografar.
Para além das cobras, pudemos observar muitos lagartos, aves, preguiças e macacos de cara branca, sempre à procura de alimentos.
Antes de partir desta região, pude ainda visitar a vila de Puerto Viejo, principal centro populacional da área, conhecido pela comunidade residente de origem afro-caribenha, que tem os seus hábitos culturais, onde se destaca a influencia “rasta”. Desta, apenas sei que tem o centro principal na Jamaica, e que a música reggae é bastante apreciada.
De resto, o aspecto geral de Puerto Viejo é pouco cuidado, pelo que constituiu para mim, apenas um local de passagem.
Para viajar até San José, contratei o serviço duma empresa que efectua o transporte de passageiros por estrada, em pequenos autocarros, recolhendo-os nos hotéis onde se encontram, e levando-os até ao local desejado.
Tive a sorte de me calhar um carro vazio de passageiros, pelo que viajei apenas com o motorista, que também foi boa companhia.
Ao fim de quatro horas de viagem, e depois de apanharmos uma chuvada torrencial na parte final do percurso, chegámos a San José, a capital do país.
Esta não tem fama de ser uma cidade atraente, e não é. A qualidade urbanística e arquitectónica é medíocre, com raras excepções.
Uma destas é o Teatro Nacional, edificado no final do século XIX, por iniciativa de empresários da indústria de café, os quais escolheram um projecto de arquitectos belgas, inspirado no edifício da Ópera de Paris, executado em grande parte por artesãos italianos, com materiais importados da Europa.
De resto, a cidade de San José está dotada de várias salas para espectáculos culturais, assim como museus, o que também justifica uma das prioridades do país: a educação. Esta, aliada à simpatia e cordialidade, sobressaem nos contactos com os ticos, em geral.
A Costa Rica constitui aliás, uma excepção, enquanto sociedade da América Central, também porque o país não tem exército, desde há mais de cinquenta anos, por opção própria.
No decurso da minha estada em San José, antes da chegada da Dina, aproveitei para consultar médicos de duas especialidades, por pequenos problemas de saúde.
Por indicação dum residente, elegi a Clínica Católica, instituição privada, onde fui recebido com extrema atenção pelos médicos escolhidos, sem demoras, tendo pago valores inferiores aos de serviços equivalentes em Portugal.
Com a chegada da Dina, que teve que esperar dois dias pela bagagem de porão, a minha viagem entrou numa fase distinta, pelo facto de ter companhia, do que já me desabituara.
Planeámos viajar de carro, alugado, a partir de San José, até à fronteira com a Nicarágua, para depois seguirmos até Manágua em transporte público.
Ao sairmos de San José, pela estrada que passa pelo aeroporto, existe uma área de portagem. Aproveitando a paragem momentânea dos veículos naquele local, algumas dezenas de vendedores ambulantes ganham a vida em plena estrada, oferecendo um leque de produtos deveras variado: bebidas diversas, fruta fresca pronta a comer, em sacos plásticos engenhosamente pendurados num instrumento metálico, guloseimas diversas, óculos de sol, capas para telemóveis, mapas da Costa Rica para pendurar em paredes e, porque se aproxima o Natal, pais Natal insufláveis, para além doutros produtos não identificados.
O primeiro dia de viagem leva-nos para Sul, até à costa do Pacífico, à área do Parque Manuel Antonio ( http://www.manuelantonio.com/ ), um dos mais antigos e populares da Costa Rica.
Para lá chegar, atravessamos várias pontes precárias, dignas de qualquer país atrasado, e não dum que se apresenta como modelo para a região da América Central.
O Parque Manuel Antonio é pequeno, com uma área de cerca de 7 km quadrados, da qual apenas uma parte reduzida, junto ao mar, pode ser visitada.
O que ali atrai mais os visitantes são as praias que se encontram no interior do parque, de grande beleza natural, com muita vegetação até à areia, e águas convidativas. Para além destas, a fauna do parque também atrai a atenção dos visitantes, predominando iguanas, macacos, “racoons” (nome dum animal em língua inglesa) e aves diversas.
O parque pode ser visitado sem guia, ou com o mesmo, mediante pagamento adicional. Os guias parecem ser bastante profissionais, estando equipados com binóculos potentes, que permitem uma observação minuciosa dos animais.
Algumas das espécies que ali vivem, têm hoje hábitos de vida que dependem da presença das pessoas no parque, nomeadamente os macacos e os “racoons”, que aproveitam qualquer oportunidade para se apoderarem de alimentos transportados pelas pessoas.
Connosco aconteceu que, estando numa das praias, dentro de água, vimos um “racoon” a furtar-nos um saco que continha umas bananas, e posteriormente, uns macacos que se apoderaram doutro saco com restos de comida.
Nada disto retira interesse ao local, pelo que ali permanecemos durante dois dias, no último dos quais fomos provavelmente os últimos a abandonar o parque, tendo aproveitado a praia até ao pôr-do-sol.
Deixámos a área de Manuel António para nos dirigirmos para noroeste, para o interior, onde se encontra a Reserva Biológica de Monteverde, área natural protegida, criada por iniciativa privada.
Estávamos avisados de antemão que a parte final do percurso seria de mau piso. Na verdade, o que encontrámos suplantou, pela negativa, as expectativas. Os últimos 30 km de estrada, ou melhor, de picada, são um calvário para percorrer, apesar de dispormos duma viatura todo-o-terreno.
Lamentavelmente, todos os acessos rodoviários a esta região, assim como as ruas locais, se encontram em péssimo estado. Ao que parece, aqui conjugam-se a incúria governamental e o desinteresse dos habitantes locais que, pensam ser melhor manter os caminhos rodoviários quase intransitáveis, para evitar maior afluxo de visitantes, o que poderia prejudicar o equilíbrio ambiental da região.
Quanto a mim, existem outras formas de controlar os riscos de degradação ambiental, sem retirar qualidade às necessidades de residentes e visitantes.
Esta região montanhosa está situada a cerca de 1.500 metros de altitude, e possui características climatéricas invulgares. Os ventos dominantes de nordeste, vindos do litoral Atlântico, ao atingirem esta região arrefecem repentinamente, provocando a formação de neblinas e elevada percentagem de humidade no ar.
Com estas condições atmosféricas, de elevada humidade e pluviosidade, as áreas florestais apresentam características tropicais húmidas, pelo que a vegetação é pródiga em espécies que apreciam climas húmidos.
As árvores apresentam-se repletas de musgo e outras plantas parasitas, como bromélias e orquídeas.
No que à fauna diz respeito, sobressaem as aves, para regalo dos ornitólogos, com o quetzal, ave exótica de grande beleza e difícil de observar, como “troféu” mais cobiçado.
Chegados à região de Monteverde, tratámos de procurar alojamento. Escolhemos o Cloud Forest Lodge (http://www.monteverdecloudforestlodge.com/), situado nos arredores da povoação de Santa Elena, numa encosta montanhosa, rodeado por florestas, cursos de água e vista panorâmica para ocidente, com o oceano Pacifico ao longe.
Neste hotel, os empregados, começando pelo gerente, são duma simpatia invulgar, o que nos faz sentir muito bem.
De manhã, tomamos o pequeno-almoço na companhia de dezenas de colibris, de cores exuberantes e tamanhos diversos, alimentados pelas flores do jardim, e pelos bebedouros que lhes proporcionam água com açúcar.
Os dois dias passados nesta região permitem-nos longos passeios pelas florestas, primeiro na Reserva Biológica de Monteverde onde, depois de caminharmos vários quilómetros, satisfeitos com o que a natureza nos proporcionara, mas com a sensação de termos visto poucas aves (não estávamos correctamente equipados para a observação de aves), a poucos metros de terminarmos o passeio do dia, fomos brindados com a observação dum quetzal macho.
Este exemplar, foi detectado por um dos guias que estavam a trabalhar naquela área da reserva que, estando equipado com um monóculo sofisticado, proporcionou a todos os que por ali passaram momentos de satisfação e beleza.
Segundo o guia, aquele quetzal tinha comido recentemente o seu petisco preferido, abacate, que engole inteiro, após o que fica pousado numa árvore durante algum tempo, até digerir o alimento.
De facto, tivemos a fortuna de poder observar aquela belíssima ave, com penas de cores fortes, e longas plumas na cauda, durante mais de meia hora, até que, por acaso, reparei que o nosso alvo cuspiu algo, que caiu alguns metros à minha frente. Rapidamente, apanhei o objecto cuspido, que estava quente, para apurar tratar-se do caroço dum abacate. Na verdade, os abacates que servem de alimento a estas aves são de tamanho pequeno, diferentes dos que nós encontramos nas lojas.
Felizes pela sorte suprema de vermos um quetzal, decidimos fazer novo passeio pelas florestas húmidas, desta vez num outro parque, conhecido sobretudo pela característica de possuir pontes suspensas, através das quais os visitantes caminham, a várias dezenas de metros de altura, observando a floresta dum nível superior, algumas vezes acima das copas das árvores.
O Parque Selvatura (http://www.selvatura.com/) tem um percurso pedestre com cerca de 3 km de extensão, com oito pontes suspensas, a mais longa das quais tem 170 metros de comprimento.
Para além deste atractivo, o parque tem ainda ao dispor dos visitantes uma enorme estufa de borboletas, outra com repteis, um jardim com colibris, no qual centenas destas pequenas aves voavam incessantemente, e um museu de insectos.
No dia em que deixámos a região de Monteverde, por acaso, passámos em frente a uma casa que vende artesanato, Souvenir Rosewood, que decidimos visitar.
A especialidade desta loja é o trabalho em madeiras exóticas da Costa Rica, feito pelo proprietário, Jose Luís, que tem a oficina no local.
Ao entrarmos, fomos calorosamente acolhidos pela Danis, casada com o Jose Luís, e pela Mónica, a filha mais nova. Para além das peças expostas, a Danis proporcionou-nos orgulhosamente, uma visita guiada ao seu jardim, no qual cultivam inúmeras espécies de plantas, principalmente árvores de frutos e uma colecção de orquídeas. Numa das árvores, está um pequeno ninho de colibris, com duas aves recém nascidas.
O que seria à partida uma simples visita a mais uma loja de artesanato, revelou-se uma experiência humana rica, pela extrema simpatia das pessoas.
O destino deste dia foi a vila de Sámara, situada à beira do oceano Pacífico, onde chegamos depois de mais um percurso por más estradas.
Aqui, ficamos alojados no Hotel Belvedere ( http://www.belvederesamara.net/ ), propriedade dum casal de alemães que reside na Costa Rica há quinze anos.
Da vila de Sámara não há nada a dizer, pobre como todas as outras localidades destas paragens. Já as praias merecem nota de realce, particularmente a de Puerto Carrillo, com uma extensa baía em forma de ferradura, bordejada por coqueiros, e areia cinzenta muito macia.
De Sámara, partimos para norte, passando a área de Tamarindo, reduto popular para os norte-americanos, na América Central chamados vulgarmente de “gringos”, o que significa excesso de construção no litoral.
Seduzidos pela beleza da praia Conchal, decidimos ficar nas imediações desta, na Praia Potrero, no Hotel Bahia del Sol ( http://www.bahiadelsolhotel.com/ ) situado sobre a mesma. Entretanto, satisfeitos com o local, decidimos aqui ficar alguns dias, até viajarmos para a Nicarágua.
Neste hotel, para além de alguns hóspedes que se revelaram pessoas interessantes, pudemos apreciar o trato da quase totalidade dos empregados, com destaque para o Guillermo, empregado de mesa do restaurante, mas acima de tudo um ser humano pensante, com vocação para filósofo, consciente do mundo em que vivemos.
Durante este tempo, dedicamo-nos a conhecer as praias da região, constatando que aqui, como em Portugal e muitos outros países, as áreas costeiras são alvo de operações imobiliárias e outras actividades, que visam objectivos económicos, prejudicando o ambiente.
Neste caso, o litoral desta região é de uma beleza invulgar mas, tem o destino traçado, pela forma como as pessoas estão a interferir com o ambiente, a troco dos interesses do turismo.
Por exemplo, a praia Conchal, de invulgar beleza, próxima duma reserva natural onde as maiores tartarugas marinhas ainda vêm a terra para desovarem, é devassada por viaturas motorizadas que percorrem o areal, e barcos que deslizam pelas águas, para além da existência de construções a poucos metros da praia.
A própria Reserva da Praia Grande, onde as tartarugas marinhas desovam, está devassada por construções edificadas a poucos metros da praia, para além da existência de loteamentos recentes que promovem futuras construções.
Chegado o dia de partirmos para a Nicarágua, viajámos no carro alugado até à cidade de Liberia, onde o entregámos, depois de percorridos cerca de 1.000 km, desde o início do aluguer.
No mesmo dia, a partir de Liberia, viajámos num autocarro público para a cidade de Granada, já na Nicarágua.
09 dezembro 2006
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1 comentário:
Olá Fernando
Que bom voltar a ler as tuas descrições e saber-te desta vez acompanhado por uma Amiga a Dina.
Espero que tambèm ela tenha gostado desse passeio.
Espero que estejas jà no Brasil em Araxá e que descanses e possas fazer um pouco de companhia a Tua Mãe, que deve ter muito que escutar.
Fica bem e um abraço
Xico
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