URUGUAI – BREVE VISITA
Entre o Brasil e Argentina, respectivamente os quinto e oitavo maiores países do mundo, em termos de dimensão territorial, situa-se o Uruguai, pequeno país, com menos de 4.000.000 de habitantes.
A fronteira entre a Argentina e o Uruguai, na área de Buenos Aires, é o larguíssimo rio da Prata, pelo que o atravessei de barco rápido, em menos de uma hora, para chegar à pequena cidade de Colonia del Sacramento.
Esta travessia fluvial fez-me lembrar a que se faz entre o sul de Espanha, Tarifa ou Algeciras, e o norte de Marrocos, Tanger, com idêntica duração.
De resto, as semelhanças ficam por aí já que, enquanto que aqui na América do Sul impera a ordem, quer no que respeita aos procedimentos de embarque e desembarque, quer na vida a bordo, entre a Europa e África, é a confusão generalizada.
Diferentes culturas, diferentes modos de vida!
A escolha de Colonia del Sacramento tem a ver com o facto de ser uma cidade fundada por portugueses, no último quartel do século XVII, onde existe património arquitectónico português, e cujo centro histórico é hoje património da humanidade.
Chego a Colonia com frio e chuva, e é esse o tempo que me acompanha durante a minha estada de dois dias.
A cidade parece triste, as ruas estão semidesérticas, alinhadas por grandes plátanos que foram radicalmente podados, o que me faz pena.
Aliás, no que ao povo uruguaio diz respeito, a ideia com que fico, depois de breves dias de visita, é de que é um povo simpático, despretensioso, triste, e descrente nas suas capacidades. No geral, faz-me lembrar os portugueses.
A estada em Colonia é passada em passeios solitários, a fugir da chuva e do frio, visitando alguns museus, pequenos e modestos. Destes, destaco o Museu Português, condignamente instalado numa pequena construção do século XVIII, graças ao apoio expresso da Fundação Calouste Gulbenkian.
No que ao património arquitectónico do período colonial diz respeito, a comparação com o que vi no Brasil, remete Colonia para um plano secundário.
Num dos restaurantes onde comi, encontrei um empregado de mesa com uma personalidade e comportamento verdadeiramente invulgares. O Restaurante Viejo Barrio é pequeno, e a comida que serve não é de guardar na memória. No entanto, o Ruben, o único empregado de mesa da casa, apresenta-se aos clientes com uma indumentária extravagante, composta por um avental repleto de “pins”, e com chapéus de estilos diversos, que vai mudando ao longo do serviço.
Para além desses acessórios, quando apresenta a conta aos fregueses, ainda utiliza um fantoche com o qual fala, com muita graça.
Enfim, uma forma diferente de estar e trabalhar, que diverte os clientes.
Neste mesmo restaurante, travei conhecimento com a Carmen e o Raul, espanhóis de Madrid, que emigraram recentemente para a Argentina, por estarem cansados da vida europeia. A Carmen está a frequentar um curso de cinema, e o Raul é actor de teatro.
Vivem em Buenos Aires, e ficamos de nos encontrar lá, quando eu regressar à capital argentina, antes de partir para o Chile.
Com nevoeiro, deixo Colonia de autocarro, em direcção a Montevideu, viagem que dura cerca de 3 horas, com muitas paragens.
No percurso, numa das paragens, senta-se ao meu lado uma jovem, com a qual converso. A Ana, é professora primária, e trabalha numa escola pública nos arredores de Montevideu, que dista mais de 100 km de sua casa, pelo que faz esta viagem todos os dias.
Fala-me da vida no Uruguai, da família e da área em que vive, eminentemente rural.
Quando lhe pergunto qual o salário que tem, a resposta é de ser baixo, o equivalente a cerca de 200 euros, pelo que a gestão do orçamento familiar exige bastantes sacrifícios. A Ana é casada com um padeiro, têm casa própria, e um computador em casa, onde ainda não têm ligação à Internet, por ser demasiado cara.
Montevideu, situada também à beira do Rio da Prata, apresenta-se como uma cidade capital de um país em crise não apenas económica mas, também social. Ouço vários habitantes expressarem os seus lamentos pelas dificuldades vividas, e também pela degradação do clima social, com o consequente aumento da delinquência urbana.
A cidade parece sombria, até porque está em vigor uma restrição ao consumo de energia eléctrica, ao que me dizem devido a uma seca, que provoca uma diminuição da capacidade de produção nacional de energia eléctrica.
Calcorreio as ruas do centro urbano, e particularmente da chamada cidade velha, pequena área situada junto ao porto, e ao rio.
Aqui, nota-se uma revitalização urbana, com consequências positivas, quer pela recuperação de património degradado, quer pelo acréscimo da oferta comercial.
É próximo desta área que se situa a principal sala de espectáculos de Montevideu. Refiro-me ao Teatro Solís, inaugurado precisamente há 150 anos, efeméride que agora é comemorada com dignidade, depois de uma correcta recuperação do imóvel, que se encontrava fechado há já vários anos.
Uma visita ao interior do Solís permite descobrir um espaço elegante e acolhedor, cuja sala de espectáculos, com capacidade para mais de 1.000 espectadores, me pareceu pequena, comparativamente com a grandiosa sala do Colón, de Buenos Aires.
Aproveitando o tempo disponível em Montevideu, assisto a um espectáculo de música, integrado no Festival designado como Encontro da Guitarra Uruguaia.
Realizado no auditório da Biblioteca Nacional, permite-me descobrir um pouco da música uruguaia, através de dois dos seus intérpretes, os guitarristas Adriana Balboa e Ramiro Agriel.
No que à gastronomia diz respeito, no Uruguai impera a parrilla, com carnes variadas, tal como na Argentina. A qualidade das carnes servidas é igualmente excelente.
Dos restaurantes visitados, e carnes à parte, merece triplo destaque o Restaurante La Corte, onde jantei por duas vezes. Na primeira, fui recebido à porta pela recepcionista, Eugenia, que me brindou com o sorriso mais bonito que vi nos últimos tempos.
O espaço do restaurante é muito interessante do ponto de vista estético, e a comida é de muito boa qualidade, sendo da responsabilidade do Chefe de Cozinha Tomas, uruguaio, que teve a gentileza de falar comigo no final do seu trabalho.
Quanto ao preço do meu jantar, constituído por um prato, sobremesa e uma água, foi de cerca de 12 euros.
Quando deixo Montevideu de barco, está finalmente um dia bonito, luminoso.
Regresso a Buenos Aires, só para apanhar um voo para o norte da Argentina, para Salta, 1.600 km distante da capital.
Finalmente, vou ver montanhas de grande envergadura, na cordilheira dos Andes.
14 agosto 2006
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4 comentários:
Ola Fernando,
Estive agora a ler os teus relatos fantasticos e partilho da mesma opiniao que tu, Buenos Aires é uma cidade muito bonita e boa de ser visitada. Embora tu não o digas directamente aconselho todos os amigos a visitarem a cidade e o país.
Estive ausente 1 semana pois fui para Masai Mara 5 dias admirar aquela manifestação incrivel da natureza que é a migração anual dos gnus e ao mesmo tempo respirar um pouco de Africa, vital para o meu bem estar.
Continua pela Americas, bem com saude e sorte que mereces.
A tua mae esteve aqui comigo e achei-a muito bem
Beijinhos e ate um dia destes ...
Orlanda
yOla Fernando, que bom saber-te de volta.
Estive a ver o teu relato do Uruguai e não me pareces-tes tão animado, quanto a tua estada na Argentina.
Espero que agora a ida as montanhas te faça passar um bom tempo de férias.
Eu estive esta semana a trabalhar em Port Sunlight perto de Liverpool, para onde volto esta semana. Este fim se semana estou em Lisboa.
A tua Mãe pergunta por ti.
E que tal os hoteis no Uruguai ?
Bom Fernando continua caminhando e vai dando noticias.
Um abraço
Xico
Ola Fernando
espero que o teu passeio pelas montanhas te tenha corrido bem.
Os amigos e familiares, querem saber de ti, não podes ou melhor não deves deixar-nos tanto tempo sem noticias.
Continua a divertir-te, mas vai dando noticias
Um abraço
Xico
Fernando,
Fiquei surpreendida com a tua afirmação "aqui na América do Sul impera a ordem, quer no que respeita aos procedimentos de embarque e desembarque, quer na vida a bordo". Tinha uma imagem contrária - que para essa bandas reinava a bagunça!!
bjs
susana
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