08 agosto 2006

BUENOS AIRES – BONS ARES E BOA VIDA

Na etapa anterior, em Iguaçu, estava um tempo quase de verão, com temperaturas diurnas próximas dos 30º centígrados.
De repente, ao chegar a Buenos Aires, bastante mais a sul, encontro os “porteños” (assim são chamados os naturais de Buenos Aires) a tiritar de frio.
Pela primeira vez, desde que estou na América do Sul, sinto o rigor do Inverno. Há uma massa de ar frio vindo da Antárctica, que alcança a região de Buenos Aires, onde as temperaturas nocturnas rondam os 0º. Nada comparado com os mais de 20º negativos registados no sul do país.

Buenos Aires é hoje uma das grandes metrópoles da América do Sul, e do mundo, com mais de 13.000.000 de habitantes.
Localizada na margem sul do rio da Prata, que aqui tem cerca de 45 km de largura, e a mais de 100 km da foz do rio, a cidade espraia-se por uma vasta área, essencialmente plana.
Tendo decidido permanecer na cidade um mínimo de uma semana, optei por alugar um pequeno apartamento (http://www.alsolbaires.com/departamentos.asp?codigo=rec099), situado no bairro Recoleta, uma das áreas residenciais mais credenciadas de Buenos Aires. O custo diário é inferior a 40 €.
Depois de me instalar, saio para conhecer a cidade. A área onde resido é claramente ocupada pelas classes sociais mais abastadas, e as casas comerciais destinam-se a essa freguesia endinheirada.
Mais tarde, tomo conhecimento de que, o antigo presidente da Argentina Juan Perón, e a sua mulher Eva, mais conhecida como Evita, residiram na mesma rua em que eu me encontro.
No primeiro jantar em Buenos Aires, decido testar a famosa carne de bovino argentina. Procuro um restaurante de qualidade, Piegari – Vitello e dolce, situado a cerca de 10 minutos a pé de casa, e ao ser atendido, informo o empregado que aquele era o meu primeiro jantar em Buenos Aires e que, não conhecendo a famosa carne argentina, gostaria de ter essa experiência.
O empregado respondeu-me que, se assim era, ele se encarregaria de me proporcionar esse prazer, não me dizendo o que me iria servir.
Passado o tempo necessário para a confecção do meu jantar surpresa, depois de me servir uma boa salada verde com queijo, traz-me um magnífico naco de carne bovina, com cerca de 400 gramas, que dá pelo nome de bife de “chorizo”.
Deliciei-me com o bife, o melhor que os meus dentes trincaram até hoje.
Quanto ao custo desta refeição, servida num bom restaurante, foi de cerca de
15 €. Esta informação serve apenas para aferir quão baixo é, para nós, “pobres” portugueses, o custo de vida actual na Argentina.
Esta situação favorável a visitantes de origens diversas, devida a uma recessão económica extrema, acompanhada de uma forte desvalorização do peso argentino, faz com que a Argentina esteja na moda, em termos turísticos.
A presença de visitantes é sentida com facilidade, sobretudo os vizinhos brasileiros que, mesmo dizendo mal dos argentinos, aqui vêm em grande número.

Ainda no que à gastronomia diz respeito, sabendo de antemão que aqui se fazem alguns dos melhores gelados do mundo, dediquei-me a comprová-lo, apesar do frio.
Ao longo da minha estada na cidade, experimentei quatro casas de marcas diferentes. As minhas preferidas são a
Freddo (http://www.freddo.com.ar), e a
Un’Altra Volta (http://www.unaltravolta.com.ar/).
Para além de cada uma destas marcas oferecer dezenas de sabores de gelado, com predominância para os chocolates e doces de leite, este último um doce muito popular na Argentina, têm casas atraentes e confortáveis, sobretudo a Un’Altra Volta. Hoje, sábado, estive numa destas, onde comi dois gelados.
Tendo conversado com alguns dos empregados, perguntei a que horas é que iriam encerrar a casa. A resposta foi, … às quatro horas da madrugada.
Recordo apenas que estamos no Inverno.

À parte a oferta de restauração que é excelente, Buenos Aires tem igual nível no comércio em geral.
Particularmente, chamou-me a atenção a grande quantidade de livrarias, nos vários bairros por onde andei. Há-as para todos os gostos, grandes e pequenas, e todas são bastante frequentadas, por adultos e crianças, o que denuncia um hábito de leitura generalizado.
De todas as livrarias da cidade, uma merece destaque especial, pela localização, dimensão e qualidade. Refiro-me à El Ateneo, situada na Avenida Santa Fe.
Esta livraria ocupa um edifício do primeiro quartel do século XX, construído na época para servir de cine-teatro, com o nome Grand Splendid. Na época, com capacidade para cerca de 500 espectadores, recebeu muitos nomes importantes da cena musical argentina. Mais tarde, entrou em decadência e foi abandonado. Resgatado para a sua nova função, o espaço é magnífico. A livraria/discoteca é constituída por cinco pisos, sendo três deles galerias que circundam o piso térreo. No espaço que antigamente serviu de palco, existe um café confortável, do qual se tem uma vista soberba sobre a plateia e galerias, repletas de prateleiras com livros e música.
Esta é seguramente, uma das livrarias mais bonitas do mundo!

A minha estada em Buenos Aires foi também marcada pelo reencontro com a Anna, amiga e ex-vizinha de São João do Estoril, que está agora a residir no Rio de Janeiro, onde já nos tínhamos encontrado. Casualmente, a Anna veio passar uns dias a Buenos Aires, pelo que passeámos juntos num dos dias.
Outros dois encontros casuais merecem destaque: um dia, passeava eu num parque, onde se encontra uma escultura invulgar, metálica, que representa um flor, de escala gigantesca, chamada Floralis Genérica, quando me cruzei com uma jovem mulher brasileira que, tal como eu, passeava sozinha. Naturalmente, aproveitámos a presença de ambos para nos fotografarmos frente à escultura.
Após as fotografias, ao apresentarmo-nos, deu-se a casualidade da Cristina estar a regressar ao Brasil, depois de ter estado a viver e trabalhar durante cerca de meio ano na, … Nova Zelândia.
Esta coincidência foi suficiente para estimular a minha curiosidade, pelo que passámos algum tempo juntos, aproveitando para visitar algumas áreas de Buenos Aires.
A Cristina, nascida e criada em São Paulo, a grande metrópole do Brasil, depois de se licenciar em Engenharia Alimentar, descontente com a sua vida profissional no Brasil, partiu para a Nova Zelândia, para lá trabalhar numa empresa vinícola.
Embora tivesse apreciado a experiência, resolveu regressar agora ao Brasil, e a São Paulo. A Cristina sabe que, depois de ter vivido num país como a Nova Zelândia, regressar à sua cidade natal envolve alguns riscos, pelo que considera outras alternativas externas ao Brasil.
O segundo encontro que merece destaque deu-se num restaurante popular que se situa em frente ao edifício onde residi em Buenos Aires, numa noite em que lá jantei.
Ao meu lado sentou-se um casal de idade avançada, vestido de modo elegante. Rapidamente começámos a falar, apresentando-nos mutuamente.
A Vilma e o Oscar residem no bairro em que estamos, e são clientes habituais da casa.
O Oscar refere uma viagem que fez a Portugal, com os pais e irmãos, em 1941. Mostra-se muito interessado na minha presença na Argentina, e oferece-se para me acompanhar num passeio a combinar.
Por interesse mútuo, voltamos a encontrar-nos, primeiro em casa do casal, e depois para um passeio que o Oscar conduz pelo bairro em que vivemos, Recoleta, durante o qual ele se revela não só um guia interessante mas, também um amante das artes visuais, particularmente de pintura, que também pratica, como amador.
O Oscar, com 77 anos de idade, é professor de educação física aposentado, e tem uma saúde física invejável.
O bairro Recoleta, como outros que visitei, tem vários jardins com árvores magníficas, algumas centenárias, e muitas estátuas, maioritariamente dedicadas a personalidades importantes da nação.
Nestes espaços, particularmente neste bairro, habitado por pessoas abastadas, vemos com frequência pessoas que passeiam cães, aos molhos. Na verdade, são profissionais que cumprem um programa de passeios higiénicos com os cães dos seus clientes, pessoas atarefadas. A curiosidade é que, cada pessoa circula normalmente com vários cães (cheguei a ver um que conduzia, sem se atrapalhar, uma dúzia deles).
Estes sinais de vida desafogada coincidem com outros de sinal contrário, que denunciam as dificuldades económicas sentidas por muitos dos residentes. Os mais significativos são, os pedintes, particularmente crianças e mulheres, e os “cartoneiros”, pessoas que percorrem as ruas, vasculhando nos caixotes de lixo, para apanharem papel e derivados, para reciclagem.
Apesar destes contrastes sociais e económicos, a vida em Buenos Aires é bastante segura, pelo menos se comparada com o que sucede nas principais metrópoles do Brasil.

Um dos símbolos culturais de Buenos Aires, e da Argentina, é o Tango, estilo musical enraizado na cidade, mas com muitos adeptos estrangeiros.
Não sendo eu um apreciador particular deste género musical, e muito menos um bom dançarino, quis sentir o pulsar musical do Tango em Buenos Aires.
Para isso, fui a um local onde se efectuam as chamadas milongas, que são bailes destinados a quem quer dançar, havendo muitos professores disponíveis, e onde também actuam músicos.
O local, a Confiteria Ideal, é um café tradicional do século XIX, actualmente em decadência. Na noite em que o visitei, pude apreciar excelentes dançarinos, tal como principiantes (de várias nacionalidades), que dançavam ao som de música gravada até que, já depois da meia-noite, a música passou a ser tocada por uma orquestra de tango.
Numa outra noite, dei-me à extravagancia de ir ao famoso Teatro Colón, que em breve irá cumprir o seu primeiro centenário, para assistir a um espectáculo comemorativo do cinquentenário da orquestra do maestro, e executante de “bandoneon”, Leopoldo Federico, um dos nomes mais importantes da história do Tango.
A sala estava quase cheia, sobretudo de argentinos, e ao meu lado sentou-se, casualmente, um casal de italianos, de Milão, que se mostrou impressionado com a grandeza do Colón, maior que o La Scala. A sala tem um pé direito altíssimo, onde cabem sete níveis de galerias, maioritariamente com camarotes.
O espectáculo foi de grande qualidade musical e sobretudo, emocionante, pelo carinho partilhado entre os músicos participantes, incluindo o maestro homenageado, e o público.

Depois de nove dias passados em Buenos Aires, deixo a cidade e o país, ao qual regressarei dentro de uma semana, para fazer uma curta visita ao Uruguai, país vizinho, que está na margem norte do Rio da Prata.
A Buenos Aires ainda regressarei antes de deixar definitivamente a Argentina, no inicio de Setembro, o que acontecerá com muito prazer, já que apreciei bastante esta minha primeira visita à capital da Argentina.




3 comentários:

Anónimo disse...

Olá Fernando
Como é que tens passado ? bem pelos vistos. Espero que assim continues.
Pronto esta bem, pela tua descrição irei a Buenos Aires numa proxima oportunidade, não só para passear, mas para ir a esse tal bar do "Tango", pois sempre foi um genero de musica que me encantou e que gostaria de saber dançar bem.
Por isso vou pensar sériamente em fazer uma visita a essa cidade.
Lembro-me que a Pim e o Bebeto foram a Buenos Aires de Lua de Mel e também vieram encantados.
Por isso vou pôr na minha agenda, Buenos Aires, como um dos proximos destinos.
Continuo a ir para Castellon aos fins de semana.
Chego 6-Feira as 14:00 e ás 16:00 já estou a disfrutar do Jet Ski, do mar e das aguas fantasticas.
Neste momento o Betito e familia ainda lá continuam e estam a gostar, estam também 2 amigas minhas a passarem umas férias e eu e a Susana vamos aos fins de semana. Este fim de semana também chegam para passarem 15 dias os meus amigos franceses, Alain, Fabiene e Diana, que conheces-tes em Lisboa. Estamos todos no mesmo Hotel, temos passado bons momentos.
Um grande abraço, para ti. Fica bem e continua a divertir-te, que nós por aqui vamos tentando.
Um abraço
Xico

Anónimo disse...

Caro Fernando,

Depois desta crónica só me resta mesmo ir a Buenos Aires!
Eu acrescentaria um ponto à tua visita que seria participar activamente nas milongas com a contratação dum "professor disponível".

Agora vou de férias e volto ao contacto daqui a 15 dias.

Beijinhos
susana

Paulo Salvador disse...

Olá Fernando.

A minha irmã mostrou-me o caminho até ao teu blog e às tuas fotos. Fantásticas. Estás a fazer aquilo que qualquer pessoa deseja e que só alguns conseguem levar em frente. Ainda bem que está tudo a correr bem. Nada como o Mundo para nos abrir ao Mundo.
Eu continua a viajar quando posso, mas por enquanto volto às imagens de Angola e vou lançar um novo livro. Pena que cá não estejas, mas quando regressares logo verás.
Gostei muito das tuas crónicas sobre Chile e Argentina. Eu tb fiquei louco com Buenos Aires. Que cidade. O casamento de Paris com Barcelona.
ps: Cabana las Lilas, um restaurante a experimentar em Puerto Madero.

Um abraço

Paulo Salvador