BRASIL – Maranhão – Parque dos Lençóis Maranhenses
No Maranhão, a cerca de 250 km da cidade de São Luís, encontra-se o Parque dos Lençóis, região remota do litoral norte do Brasil.
Este Parque é a maior atracção turística do estado do Maranhão, logo a seguir à sua capital, São Luís.
O que desperta a atenção dos visitantes é sobretudo a coexistência de dunas de areia com lagoas de água doce, fenómeno raro, senão mesmo único no mundo.
Para lá chegar, viajei por estrada num autocarro confortável, na companhia de novos amigos, a Silvana (brasileira), o Hans (suíço), casal residente em Florianópolis, e o Marc (francês), amigo deles.
A paisagem observada da estrada é verdejante, sobressaindo várias espécies de palmeiras, a saber: buriti (a espécie emblemática da região), ariri, babaçu, carnauba, dendê (dendem em Angola), jussara e tucum.
Chegados a Barreirinhas, principal porta de acesso ao Parque dos Lençóis, deparamo-nos com uma pequena cidade sem eira nem beira, onde imperam os serviços dirigidos aos visitantes do Parque, sobretudo as “Toyotas”, como aqui são chamadas as viaturas todo-o-terreno, utilizadas para o transporte de pessoas na região, e não apenas os visitantes.
Efectivamente, este meio de transporte está monopolizado pela marca Toyota, com os “velhinhos” Land Cruiser, fabricados no Brasil até 2001.
Consultámos um agente de viagens local, Off Road (recomendável), a quem comprámos duas viagens: uma de Toyota às dunas, e outra descendo o rio Preguiças, de barco.
De imediato partimos para as dunas, acompanhados pelo motorista da Toyota e pelo guia, Arnaldo, jovem de 16 anos de idade.
O percurso até ao inicio da área de dunas demora cerca de 50 minutos, em caminho arenoso, sinuoso e alagado, dado estarmos no final da época da chuva ou seja, a melhor altura do ano para se visitar o Parque dos Lençóis.
A perícia do condutor é posta à prova num terreno difícil, feito sem falhas.
O Parque dos Lençóis ocupa uma área total de 155.000 hectares, da qual cerca de 75% são dunas e lagoas.
Chegados à orla das dunas, descemos da viatura e caminhamos. A paisagem é deslumbrante: dunas, não muito altas, a perder de vista, intercaladas com lagoas de água doce, proveniente da chuva, de dimensões variáveis.
As sensações de prazer são diversas: silêncio quase absoluto, apenas interrompido por aves que vivem na área, areia branca e fina como pó, macia e não muito quente, água das lagoas transparente e excelente para nos banharmos, com temperatura ideal para o meu corpo.
Nalgumas lagoas vivem nenúfares, rãs e pequenos peixes que, estes últimos, quando mergulhamos, vêm inspeccionar o nosso corpo, sem receio.
Caminhamos durante algumas horas, brincamos, fotografamos, e despedimo-nos dos Lençóis depois do pôr-do-sol.
Pernoitámos numa Pousada (Sossego do Cantinho – recomendável) à beira rio, fora de Barreirinhas, propriedade de um suíço, há anos residente no Brasil. Sem preconceitos, a verdade é que neste local, embora modesto, existe uma ordem que talvez possa ser atribuída à origem do seu proprietário.
No dia seguinte, partimos cedo, rio abaixo, numa “lancha voadeira”, barco com o casco em alumínio, motor potente (90 cv), com capacidade para 12 passageiros, mais o piloto.
Este é o meio de transporte utilizado apenas pelos visitantes, devido ao preço.
A alternativa para os locais, e para alguns visitantes, são os “barcos de linha”, embarcações em madeira, de porte razoável, que demoram cerca de 4 horas “de relógio” (como se diz por aqui) a percorrer o leito do rio, de Barreirinhas até à foz.
O percurso rio abaixo, ou acima, é muito bonito. O leito do rio tem uma largura que varia entre uns 50 a 150 metros, à excepção de dois atalhos que percorremos lentamente, pela pouca profundidade e por serem estreitos.
Nas margens de vegetação densa, imperam os mangais e palmeiras das mesmas espécies já vistas.
Paramos várias vezes, e numa delas, junto a dunas, também elas com lagoas, local ao qual chamam os Pequenos Lençóis, encontramos quatro meninas que acompanham os visitantes, como guias, na esperança de que aqueles lhes possam proporcionar uma vida menos difícil. A Ana Cléia, a Cleilce, a Marilene e a Maria Helena têm entre 9 e 13 anos de idade, embora fisicamente todas aparentem ser mais jovens.
Emociono-me com elas, particularmente com a Ana Cléia, com a qual estive mais em contacto. Histórias tristes de vida, em local tão belo!
Em Caburé, já próximo da foz do rio, despeço-me dos meus companheiros de viagem, que regressariam a Barreirinhas e a São Luís no próprio dia.
Eu decidi ficar em Atins, povoado nos confins do litoral norte do Brasil, na foz do rio Preguiças.
O que me faz escolher Atins é a vontade de conhecer melhor o Parque dos Lençóis, e o desejo de estar num local isolado, junto ao mar.
Para chegar a Atins, viajo num bote de um pescador, que trajava uma camisola do Futebol Clube do Porto, movido por um motor de 7 cv, ruidoso.
Cerca de uma hora depois de termos saído de Caburé, já farto do barulho do motor, e do sol abrasador, chegámos ao outro lado do rio, perto de Atins.
Caminhámos até chegar ao povoado, primitivo e desinteressante.
Valeu-me a Pousada Rancho dos Lençóis (recomendável), fora da povoação, local aprazível, despretensioso, tal como o seu proprietário, Buna, maranhense de São Luís, aqui refugiado há muitos anos.
No dia seguinte, na companhia de três outros viajantes, jovens, chego novamente à conclusão que o mundo está transformado numa aldeia global ou melhor, numa miríade delas.
Aqui estava eu, num local ermo do norte do Brasil, com uma australiana, um israelita e um estónio (este de uma espécie rara, já que os estónios são pouco mais que um milhão de seres humanos). Os três encontraram-se em Jericoacoara, área há muito divulgada como um paraíso de praia tropical no Ceará (que julgo ser um logro).
Vai daí, resolveram continuar a viagem juntos, creio que para pouparem algum dinheiro.
Este trio acompanhou-me numa visita guiada pelo Buna, ao volante da sua Toyota, pelo lado marítimo do Parque dos Lençóis.
Desde já recomendo que, se ao visitarem este Parque magnifico não tiverem tempo para o fazer em ambos os lados, escolham o lado do mar, a partir de Atins.
O percurso desde a Pousada do Buna até ao Parque é feito por terreno plano, aberto e alagado, nesta época do ano.
Em cerca de meia hora atingimos a verdadeira foz do rio, num areal imenso, onde só os pescadores chegam.
No carro não conseguimos chegar junto ao mar, pelo que retrocedemos, para nos dirigirmos para as dunas, situadas a cerca de 1 km de distância do mar.
Antes de lá chegar, paramos num restaurante local (recomendável), da D. Luzia, conhecido pelo carácter dela e pelos magníficos camarões que ela prepara para os clientes (segundo o Buna, os camarões desta área são os melhores do Brasil).
A D. Luzia revelou-se uma mulher interessante. Quando lhe pedi que escrevesse no meu bloco de notas o seu endereço, ela resolveu escrever muito mais e, entre outras frases, terminou, escrevendo que “este é um pidacinho do céu”.
Depois de nos regalarmos com os justamente famosos camarões, demos corda aos pés, descalços, e fomos para as dunas.
Lá chegados, o mesmo espectáculo já visto no outro lado do Parque: dunas e mais dunas, de areia branca e macia, pontilhadas por lagoas tentadoras para o banho.
O valor acrescentado deste lado do Parque é, ter menos visitantes, e estarmos em contacto visual com o mar que, embora longe, está presente.
Chegado o dia do regresso a São Luís, empreendi o mesmo percurso da ida, utilizando uma barcaça de um pescador de Atins, maior que o bote utilizado para lá chegar, para ir até Caburé, onde me encontrei com a “lancha voadeira” que me levou até Barreirinhas.
O curioso é que, tendo eu contratado o barco do pescador para me levar ao outro lado do rio, acabámos por levar mais 16 passageiros, residentes em Atins, que iam a um lugarejo próximo, para participarem numa festa do dia dos namorados, comemorado no Brasil a 12 de Junho.
Notas de rodapé: se passarem em Barreirinhas, não deixem de provar as broas de mandioca, espécie de biscoito feito com mandioca e açúcar. Parecem-se vagamente com os suspiros, até pela cor, e são deliciosas.
As que comi, comprei a um menino na rua, por um preço ridículo, para os nossos padrões.
Disse-me que são feitas pela mãe, a quem enderecei os meus parabéns.
Hoje, 13 de Junho, dia de Sto. António, começam oficialmente as Festas Juninas em São Luís do Maranhão. Por isso, ficarei por cá até ao próximo sábado, quando partirei para Minas Gerais. Antes disso, irei a Alcântara num dos próximos dias. Não, não é a Alcântara de Lisboa mas sim uma cidade histórica do Maranhão, situada a cerca de 1 hora de viagem de barco de São Luís.
Hoje também, o Brasil irá iniciar a sua participação no Mundial de Futebol, na caminhada para o hexa, como dizem, plenos de confiança, os brasileiros.
O jogo começará às 16 horas locais, pelo que os serviços públicos e o comércio, com excepção dos bares e restaurantes, irão encerrar ao fim da manhã.
É uma outra festa!
Pela primeira vez desde que saí de Portugal, estou a utilizar o meu computador num local público, com uma ligação ADSL. O preço por hora é inferior a 1 €.
13 junho 2006
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7 comentários:
Ola Boa Tarde, Fernando
Que bom saber-te de volta a escrita.
Assim também nos proporcionas um pouca da tua viagem. Eu tenho tentado acompanhar-te pelo Google, mas esse tal de Barreirinhas, é dificil de localizar.
Por email vou enviar-te algo, que fiz para ti, no Google.
Agora, tal como tu vou preparar-me para ver o jogo do Barsil.
Outra coisa que te pedia, era se entando tu nos hoteis, nos poderias informar os numeros do telefone, pois pelo VoipBuster poderiamos falar contigo sem pagarmos. Pensa nisso.
Continua bem, aqui em Rotterdam está um calor incrivel.
E que tal, Fernando estas a gostar deste teu inicio de viagem, tem valido a pena ? Tens achado as coisas caras ou a bom preço?
Também nos podias ir informando os preços das coisas, para que possamos fazer uma ideia, para as nossas futuras férias.
Fica bem e continua a divertir-te.
Um abraço
Xico
Olá Fernando
Olá Fernando.
Estou fascinado com a tua descrição sobre esses locais maravilhosos que tens visitado, bem como as pessoas que tens conhecido.
Espero que tudo esteja a correr como esperado.
Hoje, feriado em Portugal, com um tempo cinzento e chuvoso onde é que eu poderia estar?????.
Obviamente no escritório.
Acabei de falar com o xico pelo MSN, e fiquei deveras admirado, pois ele interrompeu a conversa dizendo que tinha que ir ver um jogo de futebol na televisão???!!.
Estou muito preocupado com ele, pois algo se passa???.
Voltando á tua viagem, seria interessante, um dia poder ver publicado um livro sobre a mesma.
Pensa nisto.
Desejo-te a continuação de optima viagem.
Um abraço.
Zé Carlos.
Olá Fernando,
Concordo com o Zé Carlos! Pensa lá em reunir todos estes textos para um livro. O pormenor das tuas descrições dão vida a estas crónicas.
E hoje é 6ª feira, dia 16, e continuamos com um tempo chuvoso. Mas devo dizer que estou contente porque fico com o jardim bem regado..
Beijinhos
susana
Ola Fernando
Ontem Angola empatou com o México (0:0) e hoje Portugal ganhou ao Irão (2:0), por isso estou a festejar.
E amanhã não te esqueças de ver o Brasil-Austrália ai em Belo Horizonte.
Espero que a tua viagem de S. Luís a Belo Horizonte te tenha corrido bem.
Aqui em Rotterdam estamos com um dia maravilhoso.
Falei agora com a tua Mãe e ela esta boa e manda-te um beijo.
Diverte-te por ai e vai dando noticias.
Fica bem
Xico
Fernando, tu estas mesmo de ferias, pois nao nos da noticias desde o dia 13 e hoje ja estamos a 20.
Espero que estejas bem por BH e que te estejas a divertir.
Eu de maravilha, por Rotterdam.
Um abraco
Xico
Ola, Fernando !
A 2ª cronica ja me estou a ver a ler o livro que vais publicar quando ca chegares/voltares. Nao podes privar-nos desse prazer! So tu e quem te conhece pode perceber e avaliar a riqueza das experiencias relatadas .Ainda agora essa grande viagem começou ! Força, continua e conta-nos !É preciso coragem mas realmente o que armazenaras dentro de ti ninguem te poderá tirar
A foto do por-do-sol !...
A Varig tera parado hoje mas ja te safaste .
Aguardamos. Um abraço
Orlanda
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