04 outubro 2005

EUROPA OCIDENTAL – Semana de 27 de Setembro a 2 de Outubro

Segunda-feira, fico em casa, para trabalhar. Isso mesmo, o facto de eu ter declarado que estou a caminho da reforma, não impede que trabalhe, ocasionalmente.
Em viagem, se queremos ter uma vida organizada, é necessário dedicar algum tempo a tarefas relacionadas com planeamento e controlo. Para além disto, como sabem, assumi o compromisso de publicar semanalmente no meu blog o relato deste passeio pela Europa Ocidental. Para cumprir este objectivo, para além da escrita diária ou quase, tenho que fazer o trabalho de transferência do texto e das fotografias para o blog.
Se este trabalho fosse feito a partir do meu computador portátil, ligado à Internet, seria coisa para me ocupar no máximo, uma hora por semana. Contudo, tenho constatado que nas casas de amigos que me têm alojado, e que têm ligação à Internet, não consigo utilizar o meu computador. Assim, para evitar deslocar-me a um local público onde o possa fazer, resta-me utilizar o computador da casa.
Nada mais fácil, dada a amabilidade dos meus amigos mas, como acontece em França e na Bélgica, os computadores de série estão equipados com teclados diferentes dos nossos, o que nos baralha.

Terça-feira, vou para Paris, utilizando os transportes públicos que servem a área onde resido. Isto significa cerca de uma hora divididas em três etapas (pedestre, autocarro e comboio), para cada lado.
Passeio-me por áreas já minhas conhecidas: Les Halles, Ile de la Cité, Ile de Saint-Louis e St. Germain. Delicio-me a observar as pessoas, lojas e todos os detalhes que fazem de Paris uma cidade especial, para mim.
Deleito-me com um gelado da casa Amorino, do mesmo nível que os do Santini, em Cascais.

Quarta-feira, tenho o dia reservado para cuidar do meu carro, levando-o a uma oficina, para a revisão dos 60.000 Km. Sendo o meu “companheiro” de viagem um Mercedes, esperava encontrar uma oficina grande e pomposa. Pelo contrário, dou com um pequeno concessionário, num subúrbio desfavorecido de Paris.
Feita a revisão ao carro, que está bem de saúde, aproveito para apreçar o mesmo modelo de carro, novo, em França. Sem me conhecer de lado nenhum, o vendedor apresentou-me um valor inferior em 5.590 € ao que eu paguei há quase três anos em Portugal, sendo que na ocasião me fizeram um preço especial, devido a uma relação de amizade. Nem vou agora dissertar acerca desta e outras incongruências da vida em Portugal, versus noutros países da União Europeia.
O jantar de hoje é em casa do Miguel e da Karine, também com a presença do Rafael, irmão do Miguel, e da companheira deste, Bérangère. Aqui temos dois bons exemplos de integração social: dois jovens de origem portuguesa, que vivem com francesas, em França. Ambos os casais parecem estar bem, também no plano profissional.

Quinta-feira, dedico o dia a passear a pé entre as duas margens do rio Sena, em Paris. Entre as duas margens do rio, encontram-se duas das áreas mais encantadoras da cidade: as pequenas ilhas, Ile de la Cite e Ile de Saint-Louis.
Na primeira está a igreja de Notre Dame, um dos monumentos mais visitados de Paris. Na segunda, entre casas de habitação para milionários e pequenas lojas à moda antiga, situa-se a casa de gelados provavelmente mais famosa de Paris, a Berthillon. Já a conhecia de visita anterior mas, não resisti ao apelo da gula. Embora este templo do gelado tenha hoje forte concorrência, louvo o excelente gelado de chocolate com que me deliciei.
Tive ainda tempo para fazer mais uma descoberta, visitando pela primeira vez a área próxima da Gare ferroviária de Lyon, chamada Viaduc des Arts. Trata-se de uma construção antiga de um viaduto, entretanto reabilitada para espaços comerciais de caracteristicas artesanais. Na cobertura foi instalado um magnifico passeio pedestre ajardinado, o qual se interliga com vários outros espaços urbanos adjacentes ao viaduto. Em suma, um belissimo trabalho de recuperação e integração urbanistica.

Sexta-feira, tenho mais um longo passeio a fazer em Paris. Começo pelo Grand Palais, imponente edifício construído no final do século XIX, para a exposição universal realizada em Paris, em 1900. Este monumento encontrava-se encerrado há cerca de 12 anos, por problemas estruturais, e está a ser alvo de uma recuperação total, a qual só estará concluída em 2007. Custo total do investimento previsto: cerca de 101.000.000 de euros.
Temporariamente, durante cerca de duas semanas, o edifício foi apresentado ao público, praticamente vazio, à excepção de dois magníficos globos terrestres construídos na segunda metade do século XVII, pelo geógrafo veneziano Vincenzo Coronelli, por encomenda francesa. Cada uma das peças tem aproximadamente quatro metros de diâmetro, encontrando-se expostas, suspensas por duas gruas, a poucos metros do chão, com espelhos em cima e em baixo, para melhor serem apreciados.
Para além destas duas magnificas peças, que a partir de 2006 serão definitivamente expostas na Biblioteca de Paris, o gigantesco espaço interior do Grand Palais estava iluminado a preceito (o que pude apreciar numa segunda visita nocturna, com o António), e os visitantes eram brindados com uma banda sonora bastante interessante.
Só para percebermos melhor qual a capacidade que a cidade de Paris tem para atrair público, soube que este acontecimento teve cerca de 20.000 visitantes por dia. Pelo que eu pude observar, cerca de metade destes eram não residentes.
É oportuno dizer que Paris é por si só um íman que atrai permanentemente visitantes dos quatro cantos do mundo, que misturados com a sua já bastante heterogénea população residente, transformam o espaço urbano numa riquíssima rede multicultural.
Um outro exemplo deste fenómeno testemunhei-o numa das galerias subterrâneas do metropolitano (que aproveito para dizer, nos leva a todo o lado, sempre com excelente sinalização), quando fui atraído por música tocada ao vivo, não por um ou dois músicos, mas por um grupo de cinco que tocava animadamente desde um clarinete até um contrabaixo.
Para além dos músicos, ainda estava presente uma acompanhante que seduzia os espectadores espontâneos, como eu, para comprarem CD com música do grupo, profissional da Ucrânia.
Ao fim do dia, o António foi ter comigo à cidade, para jantarmos. Ao acaso, acertámos num restaurante de um português, George Opera, onde comemos e pagámos bem.

Sábado, despeço-me do António e de Paris, definitivamente uma das poucas grandes metrópoles do mundo onde tenho prazer em estar.
Decidi passar mais alguns dias em França, sem a companhia de amigos. Escolhi a região do rio Loire, entre as cidades de Orleans e Tours. Para além de não conhecer esta região, lembro-me que a Ana ficou encantada quando, há muitos anos atrás, antes de nos conhecermos, teve a oportunidade de visitar a mesma, na companhia dos pais e creio, da irmã.
Infelizmente, apesar dela me referir várias vezes o seu encanto pela região do Loire, não pudemos visitá-la juntos. Agora, mais uma vez, levo-a no meu pensamento.
Dirijo-me primeiro à cidade de Orleans mas, é demasiado grande para o meu modelo de bem-estar. Escapo-me rapidamente para o campo, até chegar à pequena cidade de Beaugency, onde procuro abrigo. Encontro-o num pequeno hotel, Le Relais des Templiers, agradável por várias características, de entre as quais a natural simpatia do casal proprietário do hotel.
Para jantar, aceitei uma sugestão dos meus anfitriões e fiquei plenamente satisfeito com a refeição no restaurante Le Relais du Chateau.
Depois de jantar, passeei pelas ruas da povoação e, sem intenção, fui identificando os vários restaurantes locais. Desde franceses a italianos, passando por chineses e outros asiáticos, até marroquinos e turcos, encontrei nesta pequena cidade. Apenas mais um sinal da tendência para a diversificação cultural que varre o mundo.

Domingo, vou fazer um passeio de carro pela região do rio Loire, em direcção à cidade de Blois. Encontrei-a quase deserta, talvez pelas condições meteorológicas adversas. Depois do necessário passeio de reconhecimento, saí de Blois a caminho do Castelo de Chambord, provavelmente o mais prestigiado dos castelos desta região.
Propriedade do estado francês, o castelo situa-se numa vasta propriedade de cerca de 5.500 hectares, dos quais cerca de 1.000, podem ser visitados pelo público, sobretudo a pé e de bicicleta. Próximo do palácio, existe uma aldeia com cerca de 200 habitantes, todos trabalhadores na propriedade.
O palácio em si, para além da sua grandiosidade, reflexo dos gostos e poderes da realeza e seus seguidores, não tem nada a ver com as praças-fortes a que, em Portugal, chamamos castelos.
Antes de regressar ao hotel, pude acercar-me de uma das margens do rio Loire, manso, como quase todos os principais rios europeus, pela acção das barragens.
Pude ainda aperceber-me da existência de uma central de energia nuclear nesta área. Segundo o proprietário do hotel em que me encontro, esta central tem um núcleo com 25 anos de vida, já desactivado, que está a ser “desmontado”. Esta operação é delicada, estando a ser ensaiadas técnicas inovadoras, que poderão vir a ser utilizadas posteriormente noutras centrais.
Vou jantar ao restaurante Le Petit Bateau, onde me delicio com ostras e um petisco que me faz lembrar a minha infância: rim grelhado.

A minha rota leva-me para sul, passando por Toulouse, cidade que ainda não conheço.
Tenciono chegar a Portugal no próximo fim-de-semana, por necessidade e não por vontade.


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