13 fevereiro 2011
21 janeiro 2011
17 janeiro 2011
RECORDAR O PASSADO
Depois de uma longa ausência, devido a outros afazeres e à falta de inspiração para escrever sobre acontecimentos recentes, volto a este caderno de notas para publicar alguns apontamentos da minha vida, concretamente do período inicial vivido em Angola.
Foi lá, naquela terra distante mas tão próxima, que nasci em 1956.
Em Angola, sobretudo em Luanda, vivi os primeiros 18 anos de vida, com alguns intervalos passados na metrópole, em Portugal, em períodos de férias mais prolongadas dos meus pais.
Concretamente, tenciono publicar a partir de agora algumas fotografias tiradas pelo meu pai, Eduardo, o qual também nasceu em Angola.
O meu pai dedicou-se desde cedo à Fotografia, tendo tido uma carreira profissional nos Serviços Geográficos e Cadastrais de Angola, primeiro como fotógrafo aéreo e posteriormente como responsável pelo laboratório de Fotografia da instituição.
Paralelamente, o meu pai também se dedicou à Fotografia a título pessoal, tendo desenvolvido uma obra bastante diversificada.
03 setembro 2009
CASA VITA
MOMENTO DE VIDA PARTICULARMENTE SABOROSO
O final do dia estava cálido e, também por isso, apetecia jantar ao ar livre. Por sugestão da nossa anfitriã, poderíamos encontrar um restaurante de boa comida, com uma esplanada com vista para Ourense (Galiza, Espanha), a curta distância da casa onde iríamos pernoitar.
De carro, lá encontrámos o lugar, Casa Vita, à porta do qual se encontravam dois homens à conversa.
Eram 21 horas quando chegámos ao restaurante e, um dos homens que estavam à porta saúda-nos e convida-nos a entrar. Lá dentro, não vimos ninguém, nem clientes nem empregados.
Na sala em que nos encontramos, vemos uma série de travessas com comida, por confeccionar, alinhadas por detrás de um balcão de vidro, que separa a área pública da cozinha, à vista.
Pela conversa, rapidamente percebemos que o homem que nos acompanha, Elvio, é o proprietário do restaurante. Pela forma apaixonada e graciosa como fala do restaurante e da sua actividade profissional, suspeito que o Elvio é também a alma deste lugar.
Feitas as escolhas gastronómicas, amêijoas, empada galega, pimentos de Arnoia (grandes e saborosos, mas não picantes, contrariamente aos seus parentes de Padrón, estes mais populares), e petingas fritas (aqui chamadas de xoubas ou parrochas), procuramos em vão a esplanada com vista para Ourense.
Intrigados, inquirimos o nosso guia, que nos aponta para o outro lado da rua, onde existe de facto um amplo terraço, propriedade da casa, com mesas e cadeiras, e uma vista panorâmica para a cidade de Ourense.
Lá, somos os primeiros a sentar-nos e, vamos descobrindo os pormenores da Casa Vita, pela boca do Elvio e, logo a seguir, também por um dos seus colaboradores e filho, Juan Carlos.
O Elvio diz-nos que a sua taberna (o termo é dele …) nasceu ali mesmo, do zero, há mais de 40 anos. Na altura, tudo era feito por ele e pela esposa, Maria Carmen (esta na cozinha). Com o passar do tempo, chegaram cinco filhos, que à medida que foram crescendo, foram aprendendo as artes de bem servir e cozinhar, tornando-se membros activos da equipa do restaurante.
Hoje, todos os filhos têm outras actividades profissionais, o que não os impede de ajudar os pais nas horas vagas. Esta noite, para além dos dois fundadores da casa, estão também presentes dois filhos (no serviço de mesas) e duas filhas e uma nora (na cozinha).
À medida que o tempo passa, as mesas vão sendo ocupadas por clientes que parecem ser habituais, e o ambiente é descontraído e festivo.
Estando nós no lado oposto da rua àquele onde se encontra a cozinha do restaurante, observamos o trajecto feito pelos empregados da casa que, com travessas nas mãos, cruzam a rua com naturalidade, apesar do movimento esporádico de carros.
A comida vai chegando à nossa mesa, e deliciamo-nos com tudo, boa matéria-prima e excelente confecção, repetindo ainda os pimentos e as petingas. Acompanhamos a refeição com um vinho tinto da casa, de produção própria.
No final, somos brindados com um prato de doces, gentil oferta da casa.
Pela hospitalidade com que fomos recebidos, e pelo excelente jantar que nos foi servido, não podíamos partir sem antes agradecer este serão inesquecível.
Ainda para mais, o Elvio confessou-nos que muito provavelmente ele e a esposa irão reformar-se em breve e, quando isso acontecer, a Casa Vita fechará as portas para sempre, já que os descendentes não querem continuar com a actividade de restauração.
É uma pena se tal acontecer. Como não sabemos se teremos outra oportunidade de cá voltar a tempo de rever a família Vita, convoco todos os presentes, pessoal da cozinha incluído, para uma fotografia.
Afinal, a vida tem momentos de felicidade.
22 junho 2009
BULGÁRIA
UMA AMOSTRA DA CHAMADA EUROPA DE LESTE
Começo por explicar as razões desta minha viagem à Bulgária. Há alguns anos, em Portugal, conheci uma família búlgara, que lá viveu durante alguns anos, como emigrante.
Hoje, já não vivem em Portugal, embora o pai da família ainda esteja emigrado. A mãe, Ayshe, já regressou à Bulgária, onde vive com as duas filhas, Julia e Aiylin. A elas liga-me uma forte amizade e tenho pelas filhas em particular, uma ternura especial. Diria que, não tendo filhos, estas duas meninas poderiam ser as minhas filhas, se tal se proporcionasse.
Pois bem, tendo combinado com a Carmen viajarmos para a Turquia, aproveitei para passar uns dias na Bulgária, na companhia destas minhas amigas.
De Lisboa sigo para Frankfurt, na Alemanha, e daqui para Sofia, já na Bulgária. Enquanto o aeroporto de Frankfurt fervilha de vida, com pessoas dos quatro cantos do Mundo, no de Sofia circulam poucas pessoas e o ambiente é tranquilo.
Dos poucos estrangeiros que por lá andavam, cruzo-me com a Yuri, japonesa, residente em Viena de Áustria. A Yuri é maestrina de música clássica, e viaja também para Bourgas, onde irá dirigir uma orquestra, que irá em breve actuar na principal sala de espectáculos da cidade.
Este concerto irá decorrer em data posterior à minha estada em Bourgas, pelo que não poderei aceitar o convite que a Yuri me dirige, para a ele assistir.
O voo de Sofia para Bourgas é um pouco mais longo do que seria desejável, porque tem uma escala em Varna.
Chegado a Bourgas, tenho à minha espera as minhas amigas. A Ayshe, já não a via há cerca de um ano e meio, quando ela esteve em Portugal para tratar de assuntos pessoais, e as filhas, essas já não as via há cerca de três anos.
Naturalmente, sendo crianças, observo que cresceram. A Julia está em plena adolescência, e a Aiylin para lá caminha. De resto, continuam a ser duas belas meninas!
Do aeroporto a casa das minhas amigas, é uma curta viagem.
Sou convidado a ficar em casa delas, pelo que estaremos mais próximos durante a minha estada em Bourgas.
Esta minha vista à Bulgária é curta – pouco mais de quatro dias – pelo que tenho alguma dificuldade em caracterizar um país que me era desconhecido.
Durante a minha estada, tenho a oportunidade de conhecer familiares e amigos das minhas amigas, que me dispensam bastante atenção e afecto.
A cidade de Bourgas, a segunda mais populosa da costa do Mar Negro, na Bulgária, a seguir a Varna, tem nesta época do ano, inicio da Primavera, um aspecto pacato, sendo poucos os visitantes.
Em geral, a cidade é pouco atraente, apesar da relação de proximidade com o Mar Negro.
A arquitectura urbana, salvo raras excepções, é de fraca qualidade, com predominância de edifícios do período de influência soviética, que não são propriamente do meu agrado, em termos de estética.
Nalgumas das árvores da cidade, em flor, descubro umas pequenas fitas bicolores, sempre vermelhas e brancas, penduradas nos ramos floridos das árvores. Estes adornos despertam a minha curiosidade, pelo que a Ayshe me conta a história dos mesmos.
Trata-se de uma tradição búlgara, chamada “Baba Marta” (avó Marta, em português), celebrada no primeiro dia de Março. Neste dia, as pessoas oferecem entre si pulseiras de cores branca e vermelha, em lã (?), chamadas “martenitsa”. Estas são usadas pelas pessoas, até que, quando se observa uma cegonha, de regresso do seu refúgio de Inverno, a pulseira é então pendurada no ramo de uma árvore em flor, como desejo de fertilidade.
Um amigo da família, proprietário de uma empresa de transportes para turistas (autocarros), prontifica-se a levar-nos a duas localidades próximas de Bourgas, reconhecidas pela sua beleza, e pelo património histórico e cultural.
Sozopol, a sul de Bourgas, é uma vila piscatória que se encontra quase deserta no dia em que a visitamos. O tempo húmido e frio que se faz sentir não convida a passeios à beira-mar.
Caminhando pelas ruas da povoação, apercebo-me da arquitectura característica da região, constituída por casas em madeira.
De qualquer forma, sendo esta a primeira vez que saio de Bourgas, começo a aperceber-me da construção desenfreada que alastra pelo litoral do Mar Negro e, a avaliar pelas fachadas dos edifícios, a esmagadora maioria das construções recentes é de má qualidade.
Vêem-me à memória casos análogos de especulação imobiliária desenfreada que conheço, no litoral de Portugal, particularmente no Algarve, e na costa mediterrânica de Espanha.
A natureza e os objectivos dos promotores imobiliários é a mesma, cá como lá.
No fundo, o sonho de uma casa próxima do mar, se possível com vista, é universal.
A norte de Bourgas, situa-se Nesebar, cidade balnear, cujo centro histórico, alcandorado sobre o mar, está classificado pela Unesco como Património Mundial.
Sendo esta região povoada há milhares de anos, e tendo aqui vivido gente de várias civilizações, Nesebar tem um património arquitectónico e cultural rico, e um museu de muito interesse.
Esta minha viagem leva-me agora para sul, até Istambul, na Turquia.
Como as minhas amigas se mostram interessadas em visitar Istambul, apenas por um fim-de-semana, decidimos viajar juntos, de autocarro, já que existem ligações diárias a partir de Bourgas.
Assim, partimos numa bela manhã de sol, para percorrer os 340 km que separam Bourgas de Istambul. No autocarro, confortável, quase todos os passageiros são búlgaros e turcos.
Aliás, no caso das minhas amigas, elas são búlgaras, de origem turca. Este caso não é raro, já que a Bulgária pertenceu no passado, ao Império Otomano, que posteriormente deu origem à Turquia. Por esta razão, e porque são dois países vizinhos, a Bulgária tem uma percentagem importante de cidadãos de origem turca.
Voltando à viagem para Istambul, as primeiras duas horas são passadas em território búlgaro, em estradas antigas, por entre campos agrícolas e florestais, e poucas povoações.
Chegados à fronteira, em zona montanhosa e isolada, somos controlados em primeiro lugar pelas autoridades búlgaras, procedimento rápido, e logo a seguir pelas autoridades turcas, muito mais demorado.
Primeiro saímos do autocarro para ir pagar um imposto/visto de entrada no país, apenas para pessoas de algumas nacionalidades (portuguesa incluída), após o que voltamos ao autocarro para retirar toda a bagagem, que é então espalhada e aberta no exterior, para ser inspeccionada pelas autoridades turcas. Os agentes encarregues desta operação, metem literalmente as mãos no interior das malas, à procura sabe-se lá do quê.
Cá por mim, observo o espectáculo invulgar, e lembro-me de como funcionavam as fronteiras entre Portugal e Espanha, há 30 anos atrás.
Uma hora após a chegada à fronteira, porque havia pouco movimento de viajantes, seguimos viagem, agora já na Turquia.
Passados poucos quilómetros, a estrada transforma-se em auto-estrada, a paisagem também muda, passando a predominar vastos campos agrícolas, e cruzamos mais povoações, e algumas cidades. Em termos populacionais, existe uma grande diferença entre estes dois países: enquanto a Bulgária tem menos de 10.000.000 de habitantes, a Turquia tem mais de 70.000.000.
Ao fim da tarde, em plena hora de ponta, entramos em Istambul, num monumental engarrafamento. Como passámos a andar a passo de caracol, damo-nos conta de estar numa grande metrópole, imensa na sua extensão.
A cidade de Istambul tem hoje quase 15.000.000 de habitantes, e cresce a um ritmo elevado.